Adonay Moreira

Adonay Moreira

Adonay Ramos Moreira é formado em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão e autor de cinco livros. Foi ganhador, em 2013, do 35º Concurso Literário Cidade de São Luís, na categoria novela, com a obra "O Labirinto".

1991-01-22 SANTA QUITERIA DO MARANHAO
1984
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FRAGMENTOS








São apenas restos de flores no chão, papel picado, tinta,

algo que reluz como o fogo.

São apenas mãos que se despem, corpos que se afogam,

gritos que se silenciam,

são vozes, nada mais que vozes. É noite.

E, mesmo assim, é tão sublime.

Corpo, alma e pó andam no mesmo compasso.

Vê: é apenas a noite e a sombra que se alongam.




Mas meu grito cresce na luz.

Meu corpo vacila de medo.

Minhas mãos mortais tremem.

Meu espírito chora, ah, meu espírito chora e não consegue esquecer.




Distante, sombra, és verdadeira, crível, sublime, como uma

fera não domada que percorre os campos, como uma tempestade

que oprime o jardim, como a chama da fogueira, como o calor

que existe nos corpos nus que se entregam na madrugada.

Entanto, és passageira. À luz, teu corpo é frágil, tuas

mãos contêm rugas, teus dentes estão desgastados e velhos,

teus olhos conservam essa estranha gratidão que forma

a essência dos vidros e dos diamantes.

Entanto és passageira: fé e dúvida se exibem em tua

face maltratada, todo teu corpo é sonho, ah, um

simples e banal sonho, um vácuo, um passo no escuro.




A luz me visita. Crianças pálidas beijam servilmente as minhas mãos grosseiras,

velhas estátuas põem-se dentro

de meu quarto. Ensinai-me, Força, a não morrer.




Gramas crescem e dissimulam a morte. Algo talvez verdadeiro

foi esculpido na pedra,

há um silêncio não interpretado que corrompe os negros

olhos dos corvos,

há uma estranha chuva fina que lava os legumes, mãos que aplaudem,

sim, mãos que aplaudem o último desejo,

que gemem, exibindo um extraordinário balé

sem formas.







São corpos no chão.

São sementes.

Lodo.

Fúria.




São apenas restos de flores, papel picado, tinta,

uma sombra que reluz, um novo som que é afinal

articulado. É apenas o fogo que dança na lareira, estranhas

almas insones,

papel velho,

canetas e borrachas.

São apenas restos de flores no chão, galhos secos e retorcidos, lascívia,

pureza, nada além de vaidade, nada mais que vaidade,

e sobretudo uma grande ausência do corpo que não mais existe.



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