Gilberto Mendonça Teles

Gilberto Mendonça Teles

Gilberto Mendonça Teles é um poeta e crítico literário brasileiro, conhecido, principalmente, pelos seu importantes estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia, tendo produzido trabalhos ...

1931-01-01 Bela Vista de Goiás GO
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Estórias

1.

— Casião eu viajava distraído
na boquinha da noite.
O cavalo era aquele pedrês
que foi do compadre Quelemente,
que os ciganos roubaram.

Graças a Deus, nunca viajei armado.
Só o canivete solingen
de picar fumo.

Foi então que a canguçu apareceu
e logo desapareceu,
uivando fino,
já sem rabo entre as pernas.

2.

— Era no tempo da quaresma
e os cachorros latiam a noite inteira.
O homem cada dia ficava amarelo.
Não senhor, não era de medo, não.
Dizia-se que era de maleita.

Um dia a mulher encontrou ele
dormindo entre os porcos.
Era para curar a maleita,
o homem explicou.

Na sexta-feira-santa,
nem no chiqueiro estava mais.
Ainda de resguardo, a mulher foi dormir
na casa da mãe.

No caminho, surgiu um porco muito grande,
que andava em pé, feito um homem.

A mulher subiu num pé-de-pau, assustada.
O porco tentou alcançá-la com a boca,
mas só conseguiu mastigar as pontas
da flanela do menino.

No outro dia o marido voltou cedo:
tinha os dentes cheios de fiapos
de flanela vermelha.

(...)


In: TELES, Gilberto Mendonça. Saciologia goiana. 3. ed. Goiânia: Cerne, 1986. p. 74-75. Poema integrante da série Sombras da Terra.

NOTA: Poema composto de 4 parte
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