António Ferreira

António Ferreira

Antonio Ferreira foi um escritor e humanista português. É considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como "o Horácio português".

1528-01-01 Lisboa
1569-11-29 Lisboa
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Alguns Poemas

Carta

Fez força ao meu intento a doce e branda
Musa tua, Bernardes, que a meu peito
Dá novo espírito, novo fogo manda.

Como um juízo queres que sujeito
Viva a tantos juízos, se não guarda
De tanto riso o rosto contrafeito?

Quanto em mi mais das musas o fogo arde,
Tanto trabalho mais para apagá-lo:
Quanto o silêncio val sabe-se tarde.

A medo vivo, a medo escrevo e falo;
Hei medo do que falo só comigo;
Mais inda a medo cuido, a medo calo.

Encontro a cada passo com um inimigo
De todo bom espírito: este me faz
Temer-me de mi mesmo, e do amigo.

Tais novidades este tempo traz,
Que é necessário fingir pouco siso,
Se queres vida ter, se queres paz.

Vida em tanta cautela, tanto aviso,
Quando me deixarás? quando verei
Um verdadeiro rosto, um simples riso?

Quando a mi me creram, todos crerei
Sem dúvida, sem cores, sem enganos,
E eu, que de mi mesmo seja reis

Ali tantos dias tristes, tantos anos
Levados pelos ares em desejos
De falsos bens, e nossos tristes danos!

A quem os deixa e foge, quão sobejos
Lhe parecem mais bens que os que só bastam,
Desviar da virtude os cegos pejos.

Quantos as vidas, quantos almas gastam
Em buscar seu perigo, e sua morte,
E trás ela seus jugos cruéis arrastam

Aqueles vivem só, a que coube em sorte
Ao som da flauta, que dos ombros pende,
O mundo desprezar com espírito forte.

Toda minhalma em desejar se estende
A doce vida, que tão doce cantas,
Que quase a força quebra, que me prende.

Mas ajunta a estas forças outras tantas,
Todas quebraria eu, se asas tivesse
Com que chegasse onde me tu levantas.

Se eu pudesse, Bernardes, se eu pudesse
Ser senhor só de mi, eu voaria
Onde do vulgo mais longe estivesse.

Ali quão livremente me riria
De quanto agora choro! ali meu canto
Livre por ares livres soltaria.

Enquanto me vês preso, amigo, enquanto
Sem espírito, sem forças, não me chames
Com teus versos, que a ti só honram tanto.

Por mais que me desejes, mais que me ames,
Não empregues em mi tão cegamente
Teu canto com que é bem que heróis afames.

Mas tratarei contigo amigamente
Do conselho que pedes, juízo e lima
Tem em si todo humilde e diligente.

Quem tanto a si mesmo ama, tanto amima,
Que a si se favorece, e se perdoa,
Que espírito mostrará em prosa ou rima?

Tais são alguns a que triste a hera coroa
Roubada do vão povo ao claro espírito
Que esconder-se trabalha, e então mais soa.

Aquele dá de si público grito:
Este cala e se esconde: o tempo enfim
Uma apaga; imortal faz doutro o escrito.

A primeira lei minha é, que de mim
Primeiro me guarde eu, e a mim não creia,
Nem os que levemente se me rim.

Conheça-me a mi mesmo: siga a veia
Natural, não forçada: o juízo quero
De quem com juízo, e sem paixão me leia.

Na boa imitação e uso, que o fero
Engenho abranda, ao inculto dá arte,
No conselho do amigo douto espero.

Muito, ó poeta! o engenho pode dar-te;
Mas muito mais que o engenho, o tempo e o estudo;
Não queiras de ti logo contentar-te.

É necessário ser um tempo mudo:
Ouvir e ler somente: que aproveita
Sem armas, com fervor, cometer tudo?

Caminha por aqui. Esta é a direita
Estrada dos que sobem ó alto monte
Ao brando Apolo, às nove irmãs aceita.

Do bom escrever, saber primeiro é fonte:
Enriquece a memória de doutrina
De que um cante, outro ensine, outro se conte.

Isto me disse sempre uma divina
Voz à orelha; isto entendo e creio;
Isto ora me castiga, ora me ensina.

Cada um para seu fim, busca um meio:
Quem não sabe do ofício, não o trata;
Dos que sem saber escrevem o mundo é cheio.

Se ornares de fino ouro e branca prata
Quanto mais e melhor já resplandece,
Tanto mais val o engenho, sua arte se ata.

Não prende logo a planta, não florece
Sem ser da destra mão limpa e regada,
Co tempo e arte flor fruto parece.

Questão já foi de muitos disputada
Se obra em verso arte mais, se a natureza?
Uma sem outra val ou pouco ou nada.

Mas eu tomaria antes a dureza
Daquele que o trabalho e arte abrandou,
Que destoutro a corrente e vã presteza.

Vence o trabalho tudo; o que cansou
Seu espírito e seus olhos, alguma hora
Mostrará parte alguma do que achou.

A palavra que sai uma vez fora,
Mal se sabe tornar: é mais seguro
Não tê-la, que escusar a culpa agora.

Vejo teu verso brando, estilo puro,
Engenho, arte, doutrina: só queria
Tempo e lima de inveja forte muro.

Ensina muito, e muda um ano e um dia:
Como em pintura os erros vai mostrando
Depois o tempo, que o olho antes não via.

Corta o sobejo, vai acrescentando
O que falta, o baixo ergue, o alto modera,
Tudo a uma igual regra conformando.

Sirva própria palavra ao bom intento;
Haja juízo e regra e diferença
Da prática comum ó pensamento.

Dana ó estilo às vezes a sentença;
Tão igual venha tudo, e tão conforme,
Que em dúvida este ver qual deles vença.

Mas deligente assim a lima reforme
Teu verso, que não entre pelo são,
Tornando-o, em vez de orná-lo, então disforme.

O vício que se dá ó pintor, que a mão
Não sabe erguer da tábua, fuge: a graça
Tiram, quando alguns cuidam que a mais dão.

Roendo o triste verso, como traça
Sem sangue o deixam, sem espírito e vida:
Outro o parto sem forma traz à praça.

Há nas coisas um fim, há tal medida,
Que quanto passa, ou falta dela, é vício:
É necessária a emenda bem regida.

Necessário é, confesso, o artifício,
Não afeitado: empece a tenra planta
O muito mimo, o muito benefício.

Às vezes o que vem primeiro, tanta
Natural graça traz, que uma das nove
Deusas parece que o inspira e canta.

Qual é a língua cruel, que inda ouse e prove
Em vão ali seus fios? deixe inteiro
O bem-nascido verso, o mau renove?

Não mude, ou tire, ou ponha, sem primeiro
Vir os ouvidos do prudente esperto
Amigo, não invejoso ou lisonjeiro.

Engana-se o amor-próprio, falso e incerto
Também se engana o medo de aprazer-se;
Em ambos erro há quase igual e certo.

Para isto é bom remédio às vezes ler-se
A dois ou três amigos; o bom pejo
Honesto ajuda então melhor a ver-se.

Ali como juiz então me vejo:
Sinto quando igual vou, quando descaio,
Quando doutra maneira me desejo.

Quando eu meus versos lia ao meu Sampaio,
"Muda (dizia) e tira". Ia, e tornava:
"Inda (diz) na sentença bem não caio".

O que mais suavemente me soava,
O que me enchia o espírito, por mau tinha;
O que me desprazia me louvava.

Então conheci eu a dita minha
Em tal amigo, tão desenganado
juízo e certo, em que eu confiado vinha.

Quem dos olhos tantos lido, quem julgado
De tanto inimigo às vezes há de ser,
Convém tempo esperar, e ir bem armado.

Isto me faz, Bernardes meu, temer
No teu, como no meu: não val escusa;
Dói muito ver meu erro, e arrepender.

Quem louva o bom? quem bom e mau não escusa?
Mas tu não tens razão de temer muito,

Escritor renascentista português, natural de Lisboa. Aluno do Colégio das Artes de Coimbra e da sua Universidade, tendo aí exercido o cargo de professor substituto em 1554, convivendo directamente ou por via literária com pessoas de elevada hierarquia e de igual ou semelhante formação (entre os quais Diogo de Teive e Sá de Miranda), António Ferreira terá sido, dos escritores do século XVI, um dos que tiveram mais regular e completa educação e dos que melhor exprimiram alguns dos ideais característicos do humanismo. Foi, ainda, desembargador da Casa do Cível (Tribunal da Relação) em 1556. Faleceu em 1569, em Lisboa, vitimado pela peste. António Ferreira, discípulo de Sá de Miranda, influenciado por Petrarca e Horácio, foi o grande teorizador do humanismo renascentista em Portugal, no que à arte literária diz respeito. É sobretudo nas cartas, em verso branco (cuja utilização defendia, em carta a D. Simão da Silveira, por estar mais perto da versificação clássica), que dirigiu a vários dos seus contemporâneos, que se encontra a defesa dos valores da razão humana e de outros tópicos renascentistas e horacianos, como a busca, através do estudo e da imitação dos escritores clássicos, da perfeição formal (carta a D. Simão da Silveira); a necessidade de criação de uma epopeia nacional (cartas a Pero Andrade de Caminha e a António Castilho) ou a defesa da aurea mediocritas, elogio da vida calma, feliz e sem sobressaltos do campo, em contraste com vida na cidade, movida pela ambição, pela desonestidade e pela hipocrisia (cartas a Manuel Sampaio e a D. João de Lencastre). O escritor cultivou os vários géneros poéticos do classicismo literário (sonetos, odes, elegias, epigramas), destacando-se, sobretudo, pela sua tentativa de introduzir em Portugal o teatro clássico. Assim, e para além das comédias Bristo (escrita em 1552) e Cioso (escrita entre 1552 e 1556), publicadas ambas em 1622, juntamente com as de Sá de Miranda, e reeditadas, apesar de escritas em prosa, com a segunda edição dos poemas do autor, escreveu a tragédia Castro (1587), a sua primeira obra impressa, considerada a mais admirável obra dramática do classicismo português e que tem como tema os amores de D. Pedro e D. Inês de Castro, já anteriormente tratado por Garcia de Resende nas Trovas à Morte de D. Inês de Castro, inseridas no Cancioneiro Geral e que permanecia e permanece vivo na tradição popular e literária, como o comprova o elevado número de obras nacionais (que se estende até aos nossos dias, com poemas como Até ao Fim do Mundo, de Natália Correia, Gotas de Ar, de António Ramos Rosa, Morte de Inês, de Joaquim Pessoa ou Soneto de Inês, de José Carlos Ary dos Santos) e estrangeiras (veja-se por exemplo The Broken Heart, de John Ford, de 1663, primeiro tratamento não peninsular do tema, ou La Reine Morte, de Henry de Montherlant, de 1942), baseadas neste tema, paradigmático das histórias de amor contrariado e infeliz. Esta obra põe ainda em jogo o conflito entre a razão de Estado e o sentimento de justiça, visível nas hesitações do rei D. Afonso IV. António Ferreira foi ainda um defensor acérrimo do purismo da língua portuguesa, que usou exclusivamente, condenando o hábito, que havia na altura, entre os escritores portugueses, de escreverem tanto em português, como em castelhano. São seus os célebres versos, em carta a Pero Andrade de Caminha: «Floreça, fale, cante, ouça-se e viva A portuguesa língua! E já onde for, Senhora vá de si, soberba e altiva.» De estilo puramente clássico, por vezes duro e pouco fluente, afastando-se totalmente, quer da tradição lírica medieval portuguesa, quer da poesia barroca, o humanista reuniu a sua obra poética (um epitalâmio, um poema lírico-narrativo sobre a história lendária de Santa Comba dos Vales, sonetos, elegias, éclogas, epigramas e odes) num volume, Poemas Lusitanos, editado pelo seu filho em 1598. São de salientar, na sua produção lírica, as elegias, cujo tom se adequa facilmente ao temperamento propenso à reflexão e ao desencanto do poeta, sobretudo as dirigidas a Francisco Sá de Meneses (por ocasião da morte do Príncipe D. João, de quem aquele fora aio e camareiro-mor), a Sá de Miranda (aquando da morte em campanha de seu filho) e as consagradas à morte do seu amigo Diogo de Betancor e da sua mulher, D. Maria Pimentel. Nas odes, género de que António Ferreira é o introdutor em Portugal, encontramos quer composições de tom heróico e laudatório, quer reflexões de carácter político e social sobre a sua época ou de carácter mais filosófico, moralista, sobre a fugacidade do tempo, a mudança e a ambição humana, a que se contrapõe a defesa da cultura e da arte. O lirismo amoroso de António Ferreira, expresso sobretudo nas éclogas e nos sonetos, é claramente de influência petrarquista, com os convencionalismos próprios, visíveis sobretudo nas éclogas, em que apresenta uma visão bucólica da Natureza, com figurações mitológicas, numa linguagem próxima, até do ponto de vista vocabular, de Virgílio. Se nas éclogas o próprio sentimento do amor surge de forma convencional, mais como pretexto para jogos de palavras e de conceitos, os sonetos, sobretudo os que foram dedicados a sua mulher, D. Maria Pimentel, depois da morte desta, revelam uma adaptação mais pessoal do modelo petrarquista a circunstâncias da vida sentimental do autor.
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