António Ferreira

António Ferreira
Antonio Ferreira foi um escritor e humanista português. É considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como "o Horácio português".
Nasceu a 01 Janeiro 1528 (Lisboa)
Morreu em 29 Novembro 1569 (Lisboa)
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Escritor renascentista português, natural de Lisboa. Aluno do Colégio das Artes de Coimbra e da sua Universidade, tendo aí exercido o cargo de professor substituto em 1554, convivendo directamente ou por via literária com pessoas de elevada hierarquia e de igual ou semelhante formação (entre os quais Diogo de Teive e Sá de Miranda), António Ferreira terá sido, dos escritores do século XVI, um dos que tiveram mais regular e completa educação e dos que melhor exprimiram alguns dos ideais característicos do humanismo. Foi, ainda, desembargador da Casa do Cível (Tribunal da Relação) em 1556. Faleceu em 1569, em Lisboa, vitimado pela peste. António Ferreira, discípulo de Sá de Miranda, influenciado por Petrarca e Horácio, foi o grande teorizador do humanismo renascentista em Portugal, no que à arte literária diz respeito. É sobretudo nas cartas, em verso branco (cuja utilização defendia, em carta a D. Simão da Silveira, por estar mais perto da versificação clássica), que dirigiu a vários dos seus contemporâneos, que se encontra a defesa dos valores da razão humana e de outros tópicos renascentistas e horacianos, como a busca, através do estudo e da imitação dos escritores clássicos, da perfeição formal (carta a D. Simão da Silveira); a necessidade de criação de uma epopeia nacional (cartas a Pero Andrade de Caminha e a António Castilho) ou a defesa da aurea mediocritas, elogio da vida calma, feliz e sem sobressaltos do campo, em contraste com vida na cidade, movida pela ambição, pela desonestidade e pela hipocrisia (cartas a Manuel Sampaio e a D. João de Lencastre). O escritor cultivou os vários géneros poéticos do classicismo literário (sonetos, odes, elegias, epigramas), destacando-se, sobretudo, pela sua tentativa de introduzir em Portugal o teatro clássico. Assim, e para além das comédias Bristo (escrita em 1552) e Cioso (escrita entre 1552 e 1556), publicadas ambas em 1622, juntamente com as de Sá de Miranda, e reeditadas, apesar de escritas em prosa, com a segunda edição dos poemas do autor, escreveu a tragédia Castro (1587), a sua primeira obra impressa, considerada a mais admirável obra dramática do classicismo português e que tem como tema os amores de D. Pedro e D. Inês de Castro, já anteriormente tratado por Garcia de Resende nas Trovas à Morte de D. Inês de Castro, inseridas no Cancioneiro Geral e que permanecia e permanece vivo na tradição popular e literária, como o comprova o elevado número de obras nacionais (que se estende até aos nossos dias, com poemas como Até ao Fim do Mundo, de Natália Correia, Gotas de Ar, de António Ramos Rosa, Morte de Inês, de Joaquim Pessoa ou Soneto de Inês, de José Carlos Ary dos Santos) e estrangeiras (veja-se por exemplo The Broken Heart, de John Ford, de 1663, primeiro tratamento não peninsular do tema, ou La Reine Morte, de Henry de Montherlant, de 1942), baseadas neste tema, paradigmático das histórias de amor contrariado e infeliz. Esta obra põe ainda em jogo o conflito entre a razão de Estado e o sentimento de justiça, visível nas hesitações do rei D. Afonso IV. António Ferreira foi ainda um defensor acérrimo do purismo da língua portuguesa, que usou exclusivamente, condenando o hábito, que havia na altura, entre os escritores portugueses, de escreverem tanto em português, como em castelhano. São seus os célebres versos, em carta a Pero Andrade de Caminha: «Floreça, fale, cante, ouça-se e viva A portuguesa língua! E já onde for, Senhora vá de si, soberba e altiva.» De estilo puramente clássico, por vezes duro e pouco fluente, afastando-se totalmente, quer da tradição lírica medieval portuguesa, quer da poesia barroca, o humanista reuniu a sua obra poética (um epitalâmio, um poema lírico-narrativo sobre a história lendária de Santa Comba dos Vales, sonetos, elegias, éclogas, epigramas e odes) num volume, Poemas Lusitanos, editado pelo seu filho em 1598. São de salientar, na sua produção lírica, as elegias, cujo tom se adequa facilmente ao temperamento propenso à reflexão e ao desencanto do poeta, sobretudo as dirigidas a Francisco Sá de Meneses (por ocasião da morte do Príncipe D. João, de quem aquele fora aio e camareiro-mor), a Sá de Miranda (aquando da morte em campanha de seu filho) e as consagradas à morte do seu amigo Diogo de Betancor e da sua mulher, D. Maria Pimentel. Nas odes, género de que António Ferreira é o introdutor em Portugal, encontramos quer composições de tom heróico e laudatório, quer reflexões de carácter político e social sobre a sua época ou de carácter mais filosófico, moralista, sobre a fugacidade do tempo, a mudança e a ambição humana, a que se contrapõe a defesa da cultura e da arte. O lirismo amoroso de António Ferreira, expresso sobretudo nas éclogas e nos sonetos, é claramente de influência petrarquista, com os convencionalismos próprios, visíveis sobretudo nas éclogas, em que apresenta uma visão bucólica da Natureza, com figurações mitológicas, numa linguagem próxima, até do ponto de vista vocabular, de Virgílio. Se nas éclogas o próprio sentimento do amor surge de forma convencional, mais como pretexto para jogos de palavras e de conceitos, os sonetos, sobretudo os que foram dedicados a sua mulher, D. Maria Pimentel, depois da morte desta, revelam uma adaptação mais pessoal do modelo petrarquista a circunstâncias da vida sentimental do autor.