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Adiro a uma nova terra adiro a um novo corpo As palavras identificam-se com o asfalto negro o tropel das nuvens a espessura azul das árvores acesas pelos faróis o rumor verde As palavras saem de uma ferida exangue de teclas de metal fresco de caminhos e sombras da vertigem de ser só um deserto de armas de gume branco Há palavras carregadas de noite e de ombros surdos e há palavras como giestas vivas Matrizes primordiais matéria habitada forma indizível num rectângulo de argila quem alimenta este silêncio senão o gosto de colocar pedra sobre pedra até à oblíqua exactidão? As palavras vêm de lugares fragmentários de uma disseminação de iniciais de magmas respirados do odor de gérmen de olhos As palavras podem formar uma escrita nativa de corpos claros Que são as palavras? Imprecisas armas em praias concêntricas torres de sílex e de cal aves insólitas As palavras são travessias brancas faces giratórias elas permitem a ascensão das formas elevam-se estrato após estrato ou voam em diagonal até à cúpula diáfana As palavras são por vezes um clarão no dia calcinado Que enfrentam as palavras? O espelho da noite a sua impossível elipse Saem da noite despedaçadas feridas e são signos do acaso pedras de sol e sal e da sua língua nascem estrelas trituradas
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António Ramos Rosa
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