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Tu pensas que os cardeais não se masturbam, que não vêem as telenovelas, que vêem, quando muito, os filmes de Bergman e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini. Não, eles nunca lêem os livros pornográficos e nunca pensaram em ter amantes. Eles não conhecem o turbilhão das visões das figuras eróticas, eles lêem os exercícios espirituais de Santo Inácio e têm o odor da santidade e irão para o céu porque nunca pecaram, nunca acariciaram um pénis, nunca o desejaram túmido e ardente na sua boca casta. Ah os cardeais como são exemplares mesmo quando os espelhos os perseguem com os membros e órgãos de mulheres na fulguração da nudez liquida e candente! Todavia eu conheço a obstinada chama do desejo, a sua glauca ondulação, os seus olhos deslumbrados pela oceânica vertigem de um corpo embriagado pela sua simetria e pela volúvel coerência dos seus astros dispersos. Não, eu não creio na inocência imaculada dos solenes cardeais. Eu sei que a sua carne é a mesma argila incandescente e turva de que o meu corpo frágil é composto. Eles conhecem o sofrimento de ser duplos, o vazio do desejo, a violência nua das imagens monstruosas, a adolescência do fogo nos labirintos negros. Mas eu sei que os cardeais não gritam, nem levantam a voz, nem atravessam a fronteira do pudor e adormecem ao rumor das orações. É esta imagem que eu quero conservar na religiosa monotonia do meu sono.
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António Ramos Rosa
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