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Se para amar-te for mister martírios, Com que delírios saberei sofrer! Se de altas glórias for mister a palma, Talvez minha alma possa além colher. Quebrar cadeias, conquistar um nome, Que não consome o perpassar das eras; Arcar com a fúria de iracundos nortes, Sofrer mil mortes, sem morrer deveras; Nas próprias carnes apertar cilícios, Nos sacrifícios ter sereno o rosto; Pisar descalço sobre espinhos duros, Com pés seguros, com sinais de gosto; Longe da pátria, no país mais feio, De tédio em meio, para amar-te, irei Viver embora sob a zona ardente, E ali contente por te amar serei!... E a ser amado, se é mister o incenso, Que sobe denso dos salões aos tetos; Serei altivo, mas não vou de rastos Com lábios castos mendigar afetos! E se me odeias, por não ir-me às salas Dizer-te as falas de mendaz paixão, E, aos olhos de outros, profanando extremos, Dizer-te: amemos, e apertar-te a mão; Me odeia, e muito, que eu não sou da farsa, Que o mal disfarça, que desfruta e ri! Me odeia, e sempre, que eu não desço ao nível Do pó terrível, que se arrasta aí! Dá-me o teu ódio, pois não quero — escuta — Beber cicuta, procurando mel. Dá-me o teu ódio, mas num grau subido, Embora ungido de amargoso fel! Dá-me o teu ódio por fatal sentença, A indiferença me será pior. Que um sentimento por mim sintas na alma, Dá-me essa palma de um sofrer melhor!
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Pedro de Calasans
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