Marcus Accioly

Marcus Accioly

Marcus Morais Accioly, é um poeta brasileiro de Pernambuco.

1943-01-21 Aliança PE
2017-10-21 Ilha de Itamaracá
17472
0
8


Prémios e Movimentos

Jabuti 2003

Alguns Poemas

Prosação

— Senhores, vou lhes contar
Uma conversa ligeira
Que tive, faz muito tempo,
Num dia de quarta-feira
Do mês de outubro de um ano,
Do qual não me lembro a data,
Na mais agreste caatinga,
Depois da zona da Mata.
Havia fome na terra
E o povo se retirava
Levando os últimos bichos
Que a seca aos poucos matava.
Para esquecer essas coisas
Fui palestrar com Quintão,
Um cego que tinha fama
De sábio, em todo Sertão.

— "Já desde que tempo é tempo
E o mundo é mundo, que eu ouço
Muitas histórias contadas
Por retirantes, seu moço.
Histórias que falam sempre
Das secas com seus rigores,
Dos homens virando lendas
Na boca dos cantadores.
Histórias que a gente encontra
Escritas, de outra maneira,
Em verso e não mais em prosa,
Nesses folhetos de feira.
Histórias que são as mesmas
Que a gente sabe de cor,
Mas finge que nunca sabe
Para escutá-las melhor.

— Dessas estórias, lhe digo,
Me causa admiração
A vida do Padre Cícero
E a lenda de Lampião
Que tinha o corpo fechado
E um olho cego que via,
Por isso fechava o outro
Para fazer pontaria.
Pois que bastava somente
Para enxergar o perfil
Da tropa que o perseguia,
O olho do seu fuzil.
E que bastava o soldado
Sentir seu faro real,
Para vestir-se de terra
Após vestir seu punhal.

— Não sei se é lenda ou verdade,
Seu moço, falo por mim,
A lenda sempre começa
Quando uma história tem fim.
Pois se a história nos conta
Que Virgulino nasceu,
A lenda logo acrescenta
Que Lampião não morreu.
Além da história e da lenda
Existe o sonho do povo,
Que entre o que houve e não houve
Inventa tudo de novo.
Por isso a lenda é mais certa
Do que o sonho e a história,
Pois Lampião anda vivo
Dentro de cada memória.

(...)

Imagem - 01360004


Poema integrante da série Sertão-Sertões - Canto II.

In: ACCIOLY, Marcus. Nordestinados. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1978. p.118-119. (Tempoesia, 18)

NOTA: Poema composto de 13 estrofes de 16 verso

Da Prosa e da Poesia

A prosa e a poesia se diferem
pelo mistério:
a casa era sem portas e janelas (...)
isto é prosa
a casa era de vidros e silêncios (...)
isto é poesia
pela música:
era uma vez um eco que dizia (...)
isto é prosa
era uma vez a vez a vez a vez (...)
isto é poesia
pela forma:
sob a luz apagada ele dormia (...)
isto é prosa
sob o peso da treva era o seu sono (...)
isto é poesia
pelo motivo:
a infância veio visitá-lo um dia (...)
isto é prosa
a infância acordou-se nos seus olhos (...)
isto é poesia
pela pintura:
o seu rosto era branco como o mármore (...)
isto é prosa
o seu rosto era um pássaro de nuvem (...)
isto é poesia
pelo equilíbrio:
o sol estava vertical no céu (...)
isto é prosa
o sol caía sobre a própria sombra (...)
isto é poesia
pelo movimento:
a flecha arremessada pelo arco (...)
isto é prosa
a flecha além do arco era uma asa (...)
isto é poesia
pelo ritmo:
era no dia o sol — na noite a lua (...)
isto é prosa
era no sol o sol — na lua a lua (...)
isto é poesia
pela força:
a lâmina brilhou sobre seus olhos (...)
isto é prosa
a lâmina de luz cegou seus olhos (...)
isto é poesia
pelo assombro:
o chicote vibrou como uma cobra (...)
isto é prosa
o chicote vibrou como um relâmpago (...)
isto é poesia
pela imagem:
dentro do rio era canção das águas (...)
isto é prosa
dentro do rio era a canção dos peixes (...)
isto é poesia
etc etc etc
(...)


In: ACCIOLY, Marcus. Poética: pré-manifesto ou anteprojeto do Realismo Épico (época-épica). Recife: Ed. Universitária, 1977

NOTA: Poema composto de 3 partes

Predamar

Na véspera do sol
Ou antevéspera,
Deslogo quando os ventos
Soltos despertam,
O canto, céu de nuvens,
Bando de araras,
Entreabre as suas plumas
E acende as barras.

Quando a luz de verão
Do solão rubro
Na árvore do mar
Abre o seu fruto,
O canto, vela aberta
No mar de fora,
Inventa outra manhã
Dentro da aurora.

Quando o ouriço do sol
Rosa-dos-ventos
Remoinha no mar
Seus cataventos,
O canto, asa de garça,
Espuma branca,
Debruça sobre a praia
Sua varanda.

Aprendido-aprendiz
O canto escuta
A máquina do mar
Formando as lutas
As sirenes dos búzios
Os altos ventos
A voz-sempre do mar
E outros silêncios.

O canto, agulha e linha
Tecendo a rede
Com seu fio mais lógico,
Malha de peixe,
Calculando os espaços
No metro igual
Preciso e matemático
De João Cabral.

O canto, lente aquática
Que sabe as cores
Do arco-íris do sol,
Das antiflores,
Do oceano da América
E outras lembranças
Que debruçam Drummond
No mar da infância.

O canto, anzol de pesca,
Manuel Bandeira,
Arpão-fisga-espinhel,
Fruta praieira,
Flor-de-coral, cal-virgem,
Peixes marinhos,
Covos do mar, gaiolas
Sem passarinhos.

O canto, ondas diversas,
Jorge de Lima,
Piso do céu, maralto
Chovido em cima,
Vento, boca-de-barra
Que chama os rios,
Mar que devora os portos
E os seus navios

(...)


Poema integrante da série Feira de Pássaros - Canto III.

In: ACCIOLY, Marcus. Nordestinados. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1978. p.140-142. (Tempoesia, 18)

NOTA: Poema composto de 3 partes, indicadas pelo sinal de parágrafo (§), todas compostas de 4 oitavas. Referência ao poema "América", do livro A ROSA DO POVO (1945), de Carlos Drummond de Andrad
Marcus Accioly (Aliança (Engenho Laureano) PE, 1943) publicou seu primeiro livro de poesia, Cancioneiro, em 1968. No ano seguinte concluiu o curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco, em Recife PE. Em 1972 recebeu o Prêmio Recife de Humanidades pelo livro Nordestinados (1971). Publicou, em 1974, Xilografia e, em 1980, Guriatã, que ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia, concedido pela União Brasileira de Escritores. Guriatã também recebeu a Láurea Altamente Recomendável para o Jovem, concedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 1985 recebeu o Prêmio de Poesia, pelo livro Narciso (1984), concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes, e o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, também por Narciso. Sua obra poética inclui ainda Sísifo (1976), Poética (1977), Íxion (1978 ), Ó(de) Itabira (1980), P/Bara(ti)nação (1986) Érato (1990) e O Jogo dos Bichos (1990). A crítica Nelly Novaes Coelho afirmou, sobre o poeta: "Pertencendo ao grupo de escritores e artistas nordestinos que, dos anos 60 para cá, tem mergulhado nas raízes populares, de origem ibero-lusitana, latentes nos Romanceiros e Cancioneiros, na Literatura de Cordel e nas Cantorias, na Música, nas Gravuras e Esculturas primitivas, Marcus Accioly é dos poetas que hoje tentam recuperar a poesia em sua natureza primitiva: a palavra que nasceu do canto e se perpetua na voz popular".
Poetas & Prosadores - Marcus Accioly
Marcus Accioly
Marcus Accioly e Alunos - Stand By Me
Depoimento - Marcus Accioly
Romance - by Yuri Smirnov - Marcus Accioly
O Sertão - Nordestinados / Marcus Accioly e César Barreto
La Cumparsita - by G. Matos Rodriguez - Marcus Accioly
Malagueña - By Francisco Tárrega - Marcus Accioly
Bachianinha nº 02 - by Paulinho Nogueira - Marcus Accioly
La Cumparsita - by G. Matos Rodriguez - Marcus Accioly
Estudo n° 1 - by Heitor Villa-Lobos - Marcus Accioly
Marcus Accioly e César Barreto - Nordestinados: A Poesia de Accioly com Música de Barreto (1980)
Marta - by Marco Pereira - Marcus Accioly
Editor Wellington Melo lança a tetralogia poética de Marcus Accioly
Marcus Accioly e Nathaly Galdino - Tango (Por Una Cabeza)
O SERTÃO - Nordestinados
EL NEGRITO - Vals Venezolano - by Antonio Lauro - Marcus Accioly
No Cultura.com o Grande Poeta Marcus Accioly
Cego Aderaldo - Nordestinados / Marcus Accioly e César Barreto
Milonga - by Jorge Cardoso - Marcus Accioly
O Menino Condutor - Poema de Marcus Accioly musicado por Cesar Barreto.
CIRANDÂNCIA II - Nordestinados
Pedra Sobre Pedra - Nordestinados
Marcus Accioly e Nathaly Galdino - "Dançando na Rua"
Da Louvação - Sandro Guimarães e Marcus Accioly
Caixa de Fósforo (Chorinho) - by Othon G. R. Filho - Marcus Accioly
Marcus Accioly e Nathaly Galdino - My All
O editor Wellington Melo resgata a obra de Marcus Accioly
PEDRA SOBRE PEDRA - César Barreto - Marcus Accioly - VINIL
LUADORIM - Nordestinados
CANTOMILHO - Nordestinados
VIOLENTAMOR - Nordestinados
Andreina - Val Venezolano n° 2 - by Antonio Lauro - Marcus Accioly
PABLO NERUDA - Nordestinados
Marcus Accioly no SEPEEL 2011 do IFAL
Cesar Barreto - Pedra Sobre Pedra (A Poesia de Marcus Accioly com a Música de Cesar Barreto)
Marcus Accioly - O Sertão
Bolero- Larisse Brito e Marcus Accioly
Marcus Accioly e Nathaly Galdino em apresentação de bolero
Angustia
Marcus Accioly e Nathaly Galdino 'Dançando na Rua'
Cesar Barreto - Pablo Neruda (A Poesia de Marcus Accioly com a Música de Cesar Barreto)
MENINOS-CARANGUEJOS - Nordestinados
Cego-Aderaldo - Nordestinados
Cesar Barreto - Violentamor (Nordestinados - A Poesia de Marcus Accioly e a Música de Cesar Barreto)
Quinteto Agreste - Mourão (Cesar Barreto e Marcus Accioly - LugaRando Rotas - Sítio Candéia de Cima)
GEMEDEIRA - Nordestinados
Cesar Barreto - Gemedeira (A Poesia de Marcus Accioly e a Música de Cesar Barreto - Nordestinados)
Espetáculo Compassos - C&E - Tango - Mala Junta
Guitarras & Aviões

Quem Gosta

Seguidores