Amor-te
É necessário fugir do céu azulado que o amor trás. É necessário viver o cinza e tragar a fumaça para esquecer-te. Essa fumaça que invade meus poros e pulsa no meu sangue, escorrendo na cutícula ferida, na dor do metal barato, da lâmina afiada do amor que já se foi, que o fogo apagou, que o cigarro acabou e sobrou apenas fuligem e o cinza que novamente inspiro. O lento olhar, a música lenta, o amor nas lentes das câmeras fotográficas, no leito de minha morte já anunciada pela súbita pontada que senti naquela noite de maio, junho ou outra medida de tempo que já não me é mais acessível.
Estou, sobrevivendo naquela melodia tocada ao piano velho desafinado com uma voz cantando no agudo tênue entre uma nota e outra. Na bagunça, no caos, que você me faz e fez em minha adega; misturando o vinho seco, o whisky e minhas lágrimas invisíveis colocadas naquele recipiente que, na circular dança, deixaste cair.
Já está tarde, amor, logo eu me vou e a folha acaba, chega o fim, chega a morte para soar ao infinito esse finito… amor? Eu não sei o que é, esse rio que me transborda e me escapa, que desabrocha do meu peito, do seu peito, branco peito que não me pertence, que não tenho, nossa reveladora revelia.