JoseSilveirinha

JoseSilveirinha

No princípio era o Verbo.

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Alguns Poemas

Olho de Hórus

Olho de Hórus

Vejo-te, olho direito

Enorme do tamanho de um navio de alto mar

Estou no teu cantinho de fora

Começo a subir os degraus das tuas pestanas

Uma a uma, lentamente

Olho egípcio, olho de cristal

Olho mortiço, olho em pedestal

Olho de vincos negros de carvão

Que nascem numa mão e terminam

No coração

Vou subindo lentamente

Uma a uma

Por ti acima, olho direito

Agarro a pestana de cima

Anelar nas minhas mãos de impressões digitais

Sou pequeno, tão pequeno, na escadaria das tuas pestanas

olho direito...

Estou na oitava pestana, e paro um pouco para observar

O panorama

Vejo ao longe um pássaro

Voando pelo ar

Um pássaro arcaico feito de penas

Que pousa numa pedra armilar

Olho para ele e segredo-lhe um pensamento:

Pássaro amigo, como estás?

Voas tão bem, e és tão bonito

Que fazes tu aí aonde estás?

Para onde vais meu amigo de nunca mais ?

E o pássaro com a sua telepatia milionar

Observa e ouve os meus pensamentos

E me responde voando pelo ar

Meu amigo humano

Há tanto tempo que não via

Alguém como tu

Inteligente e sábio

Capaz de destrinçar em nós

O silêncio dos voos rasos

E os gritos nos olhos lassos...

Vou por aí

Voando o mínimo possível porque voar

Consome muita energia e no teu mundo urbano

Os edifícios tapam o caminho do vento

E as nossas asas têm de fazer um grande esforço para vencer

A inércia do ar suspenso e esconso

Voas bem, meu amigo pássaro

Sê feliz para onde vais.

Adeus, meu amigo humano

Que a vida te traga momentos doces e azuis de felicidade

E de novo continuo a subir os degraus das pestanas do olho egípcio

Olho enorme, gigantesco

do tamanho de um palácio enorme e arabesco

Do olho observo agora as planícies de pedra e de areia do deserto

As colunas de rocha empedernida e as colinas de areia fervente

As dunas de pirâmides e triângulos

As lagoas dos oásis de palmeiras ressequidas.

Olho, meu olho egípcio de Cleópatra

Olho côncavo e convexo a crescer

Dilatas a côr e o canto do pássaro

Nesta manhã de vento sibilante

Que traz consigo a voz do mar

A tortura da água ondulante...

Olho egípcio, olho egípcio

Não te feches, por favor

Nunca mais

Deixa-te ficar assim aberto

Sem pestanejar

Para que eu possa subir

Os teus degraus

Até lá acima

Onde o céu começa

E não acaba mais.

Olho egípcio

Meu olho lindo

És tão bonito de mirar

Ainda estou na tua pestana

Número dezasseis

E dela já vejo, ao longe

O lento estremecer branco

Da espuma das ondas do mar.

Olho egípcio

Deito-me nas tuas pestanas

E olho para baixo

E noto que cresceste

Tanto tanto

Que já não sei

Se o que vejo lá em baixo

São montes ou montanhas cobertas

De neve ou de flores de jasmim...

Olho egípcio meu amor

Deixa-me ficar assim

Envolto na tua aura

Inebriado de langor

Hipnotizado pelo brilho

Infinito da tua íris

Inebriado pela clareza

Da tua pupila

Estonteado pela beleza

Do curvo plano branco

Alvo da tua íris

Olho egípcio

Cleopátrico

Acompanho os vincos

Negros nos dois traços curvilíneos

Da tua pálpebra superior

E vou rastejando agora

sobre as tuas pestanas

curvilíneas

Com cuidado acrescido

Para não cair.

Olho egípcio

Meu amor

Olho egípcio

A quem me quero agarrar

Deixa-me ficar aqui assim

Para sempre

Enlevado no teu langor

Dormente e extasiado

Cheio de sol e de lua

E de torpor

Meu olho egípcio

Cresces demais

Abarcas agora as montanhas

Dos Himalaias

Estou abismado

Deitado

Nas tuas pestanas

Vejo lá em baixo

O rio Ganges

O Rio Amarelo

O Rio Yang Tsé

O rio Mekong

O rio Bramaputra

O rio Indus

E vejo-te a crescer

Deitado nas tuas pestanas

Vejo-te a crescer, crescer crescer

Do tamanho do sistema solar

Do tamanho da Via Láctea

Do tamanho do Universo

Do tamanho do Criador

Do tamanho do Céu

Do mundo onde vive o Criador

Do tamanho das montanhas

do mundo onde vive o Criador

Do tamanho do sistema solar

Do mundo onde vive o Criador

Do tamanho da nebulosa galáxia

Do mundo onde vive o Criador

Do tamanho do Universo

Do mundo onde vive o Criador

E vejo-te a crescer

Até ficares

Do teu tamanho infinito

olho egípcio

Cleopátrico

Onde não há tempo

Nem dor

Nem ódio

Nem amor

Nem Criador...

Onde só há um

Mórbido langor

Um sono cheio de torpor

Um êxtase vazio de tudo

Preenchido pelo nada

E pleno de um vinco negro

De outro vinco negro

Em tuas pálpebras

meu olho egípcio

Que adoro e amo

Que me faz feliz

E me extasia

Num orgasmo infinito

De langoroso torpor...

Meu olho egípcio

Meu olho

Meu olho egípcio

Meu olho

Meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu Olho Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meumeu olho meu olho meu Olho meu olho meu Olho olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olhomeu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho Olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu olho meu olho meu Olho olho Olho Olho meu olho meu olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu Olho Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho meu olho meu Olho meu olho meu olho

meu Olho egípcio de Hórus.

03.03.2014

Poema extraído do livro
A Realidade e a Estrela Perdida
publicado em Mar Azul
www.josesilveirinha.com



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