António Guerreiro

Haja Vontade


Meu amor, haja vontade
De agarrar com toda a força,
Mas soltar com liberdade.

Meu amor, haja vontade
De correr com alegria,
Mas parar com sabedoria.

Meu amor, haja vontade
De sorrir com o corpo todo,
Mas chorar com humildade.

Meu amor, haja vontade
De amar a cada dia,
Sem tal ser monotonia.

Meu amor haja vontade
De adormecer nos teus braços
Nos teus seios, nos teus traços
Sem moral e sem idade.

Sem vontade, meu amor,
Somos bichos de passagem...
Com amor e com vontade,
Somos eterna viagem.

Homem


Nas montanhas que subimos e nos vales que percorremos
Estão os campos de cultivo e os frutos que colhemos.
Nos amores que nos decidam e nas dores que nos recordem
Estão as possíveis certezas nesta vida de ser homem.

Homem...

Ser Homem não tem manual
Nem bússola ou GPS
É breve toque, doce sal
Que ora aquece, ora arrefece.

A vida é tudo acaso, tudo sorte,
Que em contradições desagua
Inevitavelmente na morte...

Saber viver de mudança
Sem preconceito formado
Dá-nos ânimo - mais, esperança
Nesse além anunciado.

É que sabes?

Só o ânimo, calmo e forte,
Dá alegria e conduz
Molda o acaso, muda a sorte
Transforma as sombras em luz.

Bicho


Tenho razão - ouviram? TENHO RAZÃO!
Vós tendes o mundo, o trabalho e a moral...
Pintais com cores mortas a imensidão
Das coisas, dos seres e do que é universal.

Viver convosco cansa sobremaneira
Desgasta qualquer um que só queira
Passar um tempo, beber bom vinho
E não deixar rastro nem caminho.

De Vez em Quando


De vez em quando paramos,
Deitamos fora o já velho e sem notar, recomeçamos...
Novos trilhos mais sentidos - que o sentimento é mais forte
Mais intenso e colorido. Nova arte, nova sorte.

Alteramos as rotinas, sorrimos ao acordar
Reganhamos a energia de viver e de sonhar.

De vez em quando acontece... Despertar do dia a dia.
E mal daquele que não troca
O linear pelo incerto. A tristeza pela alegria.
E o real pela fantasia.

Recuperamos o sentido. Deixamos o Sol entrar...
Sabemos, intimamente, que vale a pena mudar......

Luna


Luna, gostava de te explicar
Assim - simples e claro
Que há em todo o Amor
Um quê de estranho... e um quê de raro.

Começa tudo a brincar
Sem qualquer má intenção
Com pormenores a brilhar
No meio da multidão.
Inicia de mansinho
Sem pressas ou agitação
É uma piada. Um carinho.
Um gesto ou uma atenção.

Fica a fotografia, lá guardada na memória
Mais um detalhe ou papel no sótão da nossa História.

Não ligamos à partida...
Já passamos por aí!
Temos história, temos vida
Mais pesos e regras aqui.

Pouco tempo. Pouco espaço.
Menos paciência e fervor.
Mas não contamos com o traço
Que dá à vida o Amor.

Não fosse ele reaparecer, sem razão ou fundamento
E o Tempo aumentaria o baú do esquecimento.
Mas estranha coincidência e rara conjugação
Levam a que este baú no Amor não tenha mão.

Não querendo isto dizer
Que é destino ou está traçado,
Pois em tudo o que é viver
A Condição é o fado
Cabendo-nos apenas escolher - e nem sempre com saber
Se entra Acaso deste lado.

Dizia eu:
Após o seu doce toque
(suave som, breve sopro)
Põe o Mistério a reboque,
Chama o Azul que há no outro.

A Imaginação, o Riso, o Perigo
Unem-se a ele a brincar.
Ternura, Sorriso e Sentido
Fazem fila pra ficar.

E nesta conjugação de factores
Estranha, rara e de passagem
Renascem velhos valores
Ganham espaço, criam cores
E alteram a paisagem

Tudo joga em euforia
Quando o encontro acontece.
Tudo é a fantasia
Da Urgência e d' Alegria
No frenesim que enlouquece.

*******



Ao encontro seguem-se outros...
E outros... e outros ainda.
Todos igualmente loucos,
Cada qual com a sua rima.
Difíceis de entender,
Sem qualquer explicação
Excepto aquela de viver
Tendo o Sol como Paixão...

Na perfeita perfeição
Desta instintiva vontade
Entendemos a razão
Do Mundo e da Liberdade.

E nesta viagem única
De leveza e de prazer
Reconhecemos que a Vida
É bonita de viver...


*******

- E Depois?
Depois se verá...
Faz já parte de outra estória
Não tão forte, não tão quente,
Se não me falha a memória...

Mas Luna - fica o resto e a eterna esperança
Já cansada... meio vaga...
Que será diferente a lembrança:
Neste caminho, outra estrada.

Paradoxo Primeiro


Sou louco, se calhar.
Se calhar, sou triste.

Connosco mesmo, tudo é triste...



















E rejubila.

Épico


Construir a maior muralha.
Criar a maior sinfonia.
Pintar o entre e a falha
Com sabor a poesia.