Deu-me (para isto)
Doem-me dois dedos descuidados, desculpa doerem-me demais. Doce dádiva daquele dia defronte do delírio, diante do desvelo da didáctica . Desejas dialectos digitais descritos de dentro deste diafragma. Descobres-me diurnas distâncias, dissecadas, desfeitas, dormentes de dramas. Doravante, deves destapar-me devagar, depois do dueto de detalhes dançados, dedilhando diâmetros desprovidos de decretos. Debruça-te, dedica-me decisões, datas, degelos. Dá-me dez degraus de deleite, dar-te-ei decotes de densidade.
39º
A temperatura a galgar o corpo
como um beijo em estado de sítio
a queimar, a queimar, a queimar
todos os poros e toda a saliva
desta febre
desta febre que explode todas as noites
a ranger como um passado de luz acesa.
Amor
O meu coração está a meio da ponte
e tem o tamanho de uma violeta por arrancar.
É vagalume no casulo das tuas mãos,
que trinca as horas e assusta o tempo.
É janela para a calçada em pedra,
que te acaricia o pé esquerdo
e dá passagem às amendoeiras
que te crescem nos olhos.
É poesia que bate no teu peito,
é coroa trifásica de flor em punho,
que se descasca e mergulha no mar
à espera de – no fundo – te encontrar.
Depois
Depois veio uma tempestade e tatuou-me nos olhos uma chuva miudinha.
Anda
Levanta-te e vem
que o resto
não me importa
quero lá saber
se o vento
traz sal
ou clorofila.