Elian (Nane)
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego
Frases de clichês
Feito água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
A alma empedernida
É quando desanuvia
Valores subjetivos
E o presente é vivido
Sem passado ou futuro
É ver a beleza
Da pedra no caminho
E agradecer a oportunidade
De ter como retirá-la
Regar a planta amortecida
E perceber no dia a dia
O desabrochar da flor revigorada
Pela água embebida
Sentir a liberdade no frescor
Do voar de um passarinho
Sem se preocupar
Onde ou quando irá pousar
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego
Ensina a seguir
Sem olhar para trás
Deixando no caminho
Sementes de amor
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que somos peregrinos
Em constante migração
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que nada temos e temos tudo
O que ela (a vida) nos oferece
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego...
(Nane-27/04/2015)
*Arte de Marcos XenofonteO voo da Gaivota
Viajei em meus sonhosAlcei voo...Sobrevoei o marE vi no silêncio do meu vooA sua imensidão de calmaria...Voei tão alto...o mais que eu podiaPlanei sem preocupaçãoAlto...bem distante do chão...Deixei o vento me levarPor onde ele fosse passarVoei sem destino nenhumEm busca de nada e de tudoDei asas a minha liberdadeE voei para longe daquiO calor do sol Subi, subi, subi...Veio a vertigemEmbrulhou-me o estômagoPesou-me o corpoA asas se fecharamMergulhei no vazioA terra se aproximandoDepressa demaisOs olhos turvosParafuso no arSangue na areiaGaivota caídaNão voo mais
Nem mesmo de aviãoMulher acordadaSonho perdidoRealidade expostaComeça outro dia...(Elian-19/03/2012)Opostos
O que temos em comumAlém desse quererOposto que se atraem...Eu gosto e você nãoSe é você à gostarNão gosto não...Você é diaEu sou a noiteEu sou a luaVocê o solVocê fala inglêsE eu, mal o portuguêsE mesmo assimEstou em você E você em mim...Você se calaEnquanto eu gritoFala macioEu esbravejoMe dá bom diaTe mando pro infernoVocê é luzSou fio desencapadoVocê é brisaE eu o vendaval E mesmo assimEstou em vocêE você em mim... Nada temos em comumAlém desse quererOpostos que se atraem...(Elian-16/05/2012)Malandro que é malandro
Malandro que é malandro
Malandro que é malandro, não morre de amorLevanta, sacode a poeira em plena boemiaE faz nascer da sua dor, uma letra pra comporUm samba com muita poesiaE a noite carioca ajuda o poetaA acalmar seu coraçãoNa Lapa tudo é festaE Madureira...berço do samba-cançãoVila Isabel tem sua magiaÉ a terra de NoelTem bamba a noite inteiraCompondo samba de primeiraNão importa de onde você sejaMas se quer esquecer de um amorVem comigo, viva, sinta e vejaNas noites cariocas o que é calor Não dramatize um finalFaça dele um bom sinalOlha quanta vida há na noiteDeixa o samba te envolverE esqueça o seu sofrerSenta numa mesa com os bambasE aprenda com eles a comporA letra de um novo sambaZombando da sua antiga dorMalandro que é malandro, não morre de amor...(Nane-05/05/2012)A QUEDA DA RAINHA
A Dama de Copas caiu
Na hora da batida
O coringa prevaleceu
E a Dama de Copas caiu
Seu jogo era limpo
E a canastra, real
Mas o coringa se infiltrou
E o jogo, foi sujo
A carta estava na manga
A Dama de Copas não sabia
Seu jogo foi sempre tão limpo
E a Dama de Copas caiu
O Rei usou de subterfúgios
Guardando a Dama de Copas
Enquanto flertava com o coringa
Uma carta na manga
Deixou ela pensar que reinava
No seu próprio reino
Mas era o coringa quem dava as cartas
E por isso a Dama de Copas caiu
Ao Rei isso pouco importa
Bateu e o jogo acabou
Por tão pouco tempo durou o reinado
Da Dama de Copas que caiu
O Rei agora é garboso
E desfila com o coringa risonho
Na carruagem nova de abóbora
Luzindo e se expondo
A Dama de Copas queria
Andar de carruagem também
Mas o Rei só tinha uma carroça
E a Dama de Copas caiu
Rainha morta
Rainha posta
O Rei usou o coringa
E seu reino agora é de outra
(Nane-13/-2/2015)Lua mulher
Lua mulherDe fases Imensa e sutilPequena e puerilFeminina e menina Clareando a noiteEm alvos lençóisNum halo de luzQue seus olhos seduzNum acasalar de eclipseDo sol e da luaÉ fogo e paixãoNa cama nuaQue se confundeCom a imensidão Mulher e luaDe fasesQue atenuaSeu brilho plenoDurante o diaDe correriaLua mulherDe fasesFaz cegar com seu brilhoAo dar prazerAo ter prazer No anoitecerMulher e luaDe fase Se confundemSe fundem... (Elian-18/05/2012)O seu diário
Escreva em mimOs seus segredos Serei seu diárioGuardarei em mimCada palavra que disseresCada sentimento que expressaresCada sonho que sonharesDeixarei gravado em mimAs decepções que tiveresAs alegrias vividasAs paixões descabidasOs amores proibidos Os desejos escondidosAs vontades contidasPerdidas no tempoEscreva em mimTudo o que quiseresSem nada limitarSem nada perderGuardarei a sete chavesOs momentos que me confiaresPara que quando, um diaResolveres me abrirSe veja integralmenteDentro de mim...(Elian-19/05/2012)PORQUÊS
Há tantos porquês
E tão cheios de regras
Com e sem acentos
Em começos e fins
Que já nem sei do certo
Nem tão pouco do errado
Será você o certo
No acento circunflexo
Ou errado no junto
Que julguei separado
E por isso tirei o chapéu
No final da linha
Entre tantos porquês
Perguntei a mim mesma
Por que será
O porquê de não mais ter
O porquê da minha vida
Perdido em meus porquês...
(Nane-09/05/2015)
Três em uma
Vem, mulher nua
Dispa-se das suas vergonhas
Se olhe no espelho
Se ame...se goste
Deixe que o mundo se dane
Viva e faça a sua vida
Dispa-se dos seus medos
Sem medo de ser feliz
Escancara a sua diversidade
De santa, de puta, mulher...
Deite na sua cama
Com o desejo que tiver
Com quem você quiser
Se entregue e se ame
E resplandeça em sua face
O prazer de fêmea em gozo...
Vem, mulher nua
Dispa-se de seus bloqueios
Avance todos os sinais
Aflore seus anseios
Jogue fora seus receios
Ame e se deixe amar
Sem nenhum pudor
Sem muito pensar
Com muito amor
A santa está em ti
A puta mora aí
E podem sim, bem conviver
Posto que és...mulher
(Elian-16/05/2012)
O PIADO DA CORUJA
Cansada no meu cansaço
Surto a cada anoitecer
Quando pia a coruja
Um piado de mau agouro
O copo ainda cheio
Espuma acima do dourado
Subindo bolinhas borbulhantes
Embora quentes, num canto
Os dedos estalados a todo instante
Dançando num teclado sem grafite
Sabendo o lugar exato de tocar
Sem ser preciso olhar
Ouvindo o lamento no quarto ao lado
Enquanto as palavras salpicam na tela
Buscando um sentido qualquer
Na cabeça aparvalhada de cerveja
A brasa consome o dorso
Enquanto os dedos seguem inquietos
Aguardando o comando
Pensante e desordenado
Misturam-se as dores
Cabeça e tronco
Na frente e atrás
Enquanto os dedos deslizam
Ditam as palavras
A cerveja e o cigarro
Interrompe o pensamento
O triste lamento
Poesia inacabada
Nascida na hora errada
Abortada no peito inflado
De tanta inquietude
Nem a merda do futebol
Dá vazão a pressão
De como acabar as estrofes
Engasgadas nos gargomilos
E esses dedos inquietos
Teclando a esmo
Tentando poetizar
O que a cabeça não consegue rimar
Cansada no meu cansaço
Sem conseguir descansar
Ouvindo a coruja piar
E tendo que ir deitar
É hora de parar...
(Nane-22/03/2015)
Mulher caramujo
Sou mulherFui caramujoSaí sim, do meu casuloMas deixei rastros em meu caminhoA repulsa por mim mesmaCriou gosma aderenteDenunciando os meus passosTrôpegos e incertosFui morte em plena vidaNum recluso impiedosoFiz um parto do meu útero Renascendo de mim mesmaExperimentei a escuridãoNo túnel da minha própria reclusãoMe rastejei e deixei marcasDa vida, quese por mim extirpadaAfundei no meu mergulhoPresa no meu visgoLutei comigo mesmaE pari eu de mim, assimDeixei o caramujoSou mulher de novoJá não tenho mais o visgoQue tanta repulsa me causouNum banho de chuva de verãoTirei toda a gosma que restouEis que surge a mulher expostaPara a vida que se renova(Nane-04/01/2012)Gôndolas de Aveiro
Aveiro de BragançaBragança de AveiroFecharam- se as portas do portoDesencontraram-se o rio e o marImigraram seus filhosAo infante a muralhaProtegida e solitáriaAveiro e VenezaDe gôndolas passeiam Espelhando as cidadesDe Aveiro e VenezaNa história distanteA Nova Bragança Recusada morreuTrazendo à tonaAveiro mais forteNão é só Veneza Se faz serenataAo amor verdadeiro Nas noites de luaSob as estrelasNas gôndolas de aveiro(Elian-17/05/2012) *Uma homenagem aos Lusitanosque com frequência visitam meu blog.DE CASA NOVA
Instala-se a poesia
No bailar dos dedos
Frenéticos e sem freios
No tamborilar das teclas
Já não tem mais a tinta
À borrar a folha branca
No pingar das lágrimas
Que reveste a poesia
Já não enche o cesto
O papel escrito e reescrito
Amassado e embolado
Para depois ser descartado
Basta o toque do dedo
Sem a nostalgia do escritor
Para na tela fria colar
Seus sentimentos em versos
Ainda tenho guardado
Um caderno velho amarelado
Literalmente rabiscado
Com meus garranchos indecifrados
Restou a fumaça do cigarro
E o copo sempre cheio
Enquanto a poesia experimenta
Sua nova moradia
(Nane - 13/04/2015)A alma do mar
Quanta vida vive no oceanoQuanta vida deixa a vida no oceanoSão algas e peixes, flora e faunaO mar é fonte de tudo...Nas águas que banham os corposQue brincam alegres e mergulhamSão as mesmas águas que levam emboraOs sonhos de quem vê partir lá distanteO barco que navega rumo ao horizonteO amor perdido que vai emboraSão águas que levam pro fundoO corpo perdido de quem se afogaE esconde os mistérios dos náufragosQue passam pra história da morteNo fundo remanso do oceano...O mar esconde na escuridãoAs águas bravias da noiteQue deixa só o relfexo da luaIluminar paralela como uma ruaNum facho de luz a brilharÉ esse oceano de tantos maresDe tantas praias e lugaresDe tanta gente presenteQue fascina e deslumbraPor seus encantos e mistériosMar de alma femininaCom o poder do prazerE da total destruição...(Nane-27/12/2011)SONHANDO EM SER CRIANÇA
Fizeram-me homemDe fuzil nas mãosPrecocemente empedernadoNa sobrevivênciaLacraram num ataúde
As quimeras e fantasias
Dos meus sonhos de menino
Brutalmente emancipado
A tal maioridade
Cospe fogo e mata
Para que eu não morra
E sucumba com a infância
Na solitude de um descanso
O tremor de um ruflar insiste
Em me elevar por sobre a miséria humana
Nas asas da esperança de criança
Sobrevoo inerente de segundos
Sustentado pelas asas da liberdade
Abertas em meio à podridão
De uma guerra dita santa
Vislumbro brincadeiras e cirandas
E outras crianças de etnias
Diversas e tão afins
No sorriso ímpar infantil
O ranger da tampa do ataúde
Recolhe minhas asas podadas
No estampido seco de um rifle
E o menino vira homem de matar
(Nane-08/04/2015)
DALÍ AQUI
A arte de viver
Numa tela de Dalí
Onde o real é su
Sem mentiras e nem verdades
A arte de sorrir
Numa poesia de Dos Anjos
Onde o negro se faz branco
Num sentimento Augusto
A arte de cantar
O amor imorredouro
Disfarçado de mutante
Nos versos da beleza fundamental
A arte de chorar
Toda a dor que há no mundo
Quando no meu céu não brilha
A estrela que me guia
A arte de escrever
Todos os meus desassossegos
Nas entrelinhas do destino
Destilado no meu sangue
A arte do não saber
O que me vai pela cabeça
Enquanto escrevo o que sai
Sem perceber o que fica
A arte de existir
Quando já não mais importa
Viver só por viver
E continuar a escrever
A arte de preencher
De cores a tela em branco
No surrealismo delirante
De quem não precisa se fazer entender
A arte do arco-íris
Das sete cores e tons
Ironicamente perdido
No brilho do próprio ouro
A arte da mentira
Transformada em verdade
Pagando o preço inflacionado
De ser uma eterna ilusão
A arte de ser só arte
Quando se é vida
Sem nenhuma arte
Mas ainda surreal
(Nane- 14/03/2015)
DESNUDANDO A HIPOCRISIA
Em pleno dia da poesia, alguém muito 'pudica'
denunciou a página 'Asas da vida' da poeta e amiga
Adriane Lima. Suas poesias são doces e maravilhosas
e ela sempre teve e tem o bom gosto de ilustrá-las com
imagens de nu artístico. Isso ofendeu a visão do (a)
puritano em questão. Provavelmente eu serei a próxima,
já que a partir de agora só ilustrarei meus rabiscos com o
nu (nem tão artístico) em protesto contra o facebook.
Até que o 'Asas da vida' seja desbloqueado.
E tenho dito.
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Desnuda a poesiaDe suas vergonhasMostra seu corpoEm palavras obscenasToma do cáliceDa pouca vergonhaE solta sem preconceitosSeu corpo nuAh poesia...
És vestes de tantos poetas
Que se mostram nus
E por isso são considerados
Deplorados, depravados
Denunciados, achincalhados
Feito um dragão monstruoso
As espátulas giratórias
Castra sem piedade
Censurando como nos velhos idos
A arte poética
Do(a) ousado(a) poeta
Que despe palavras
Na imagem proibida
Pelos olhos pudicos
Da inveja mundana
Dispo-me na rede
Não por desafio
Mas por solidariedade
À arte censurada
E por mandar às favas
Os hipócritas resguardados
Por covarde privacidade
(Nane-23/04/2015)AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA
Santa Maria
Mãe de Deus
Me disseram um dia
Que de tanto eu pedir
Me atenderias
Me ensinaram a rezar
O terço Mariano
Na hora do Ângelus
Insistindo no pedido
Que eu tanto queria
Pedi, pedi e pedi
Numa ladainha incessante
Que a Santa Maria não ouviu
Por estar muito ocupada
Com outros pedidos bem rezados
Danou-se e me ferrei
O terço está guardado
Se bem que nunca o ganhei
E o fiz de feijões estragados
Sem força nas orações
Ainda hoje eu peço
Sem terço e sem fé
Me perco nas ladainhas
E esqueço da fala vindoura
Ou da conta a seguir
Ave Maria
Cheia de graça
Agora só o que peço
Me deixa dormir sossegada
(Nane-23/05/2015)Mulher de verdade
Não quero parecer mais jovemNão quero patrocínio de belezaNão quero pelejovem.comQuero o direito às minhas rugasE a minha face nua e cruaSem máscara ou maquiagemQue caem e borramE me transformam em espectrosDe um passado que não voltaNão quero a ilusão da juventudeNa pele esticada e pesadaPor produtos enganadoresE propagandas mentirosasQuero sim as minhas marcasEsculpidas pela vidaTal qual as ondas do marQue esculpem as pedras sem cessar Não quero me olhar no espelhoSem poder gargalharPara não correr o riscoDe algum ponto arrebentarQuero poder tirar minha blusaE ver que o tempo passaOlhar meus seios já caíndoSem silicone, sem plásticaSem nenhuma falsidadeQuero a beleza da naturezaPosto que sou flor mulherQue nasce, cresce e envelhece E quando o meu tempo houver passadoE o meu sino tiver tocado Que se escreva em minha lápideAqui jaz uma mulher de verdade(Elian-05/04/2012)Brincando nas estrelas
Caminho sem pressa nenhuma
Pelo rastro de luz da lua
Sem uma direção determinada
Brincando com as estrelas
Em cada uma delas
Um pedacinho de você
Vem brincar comigo
No frescor da noite enluarada
Seus olhos piscam diferenciados
Em meio a constelação de capricórnio
Enquanto os meus, em virgo
Se fecham para contar o 21
Você bem que tenta se esconder
Mas se destaca entre as estrelas
E eu corro para o seu abraço
Sem medo de te perder
A fase não importa
Se cheia, minguante ou se nova
É crescente sempre o meu amor
E por ele vou sempre ao céu
Somos crianças e amantes
Brincando e nos amando
Na minha insana poesia
Que me permite ter...Você
(Nane-28/10/2014
É seu
É seu o meu amor primaz
Que me faz ser quem sou
E me permite viver
É seu o meu amor maior
Que move todos os outros amores
Viventes em mim
É seu o amor delirante
Que faz ferver meu sangue
Enquanto percorre minhas veias
É seu esse amor tranquilo
Que me envolve em mansidão
E se torna inspiração
É seu esse amor que ilumina
E acende a luz do meu viver
Como o sol que faz brilhar o dia
É seu esse amor que faz da noite
A hora em que toda a magia
Te faz ser minha mais linda poesia
É seu esse amor que impulsiona
E me faz ser poeta
Em meio a tantas dores
É seu esse amor que incendeia
Num simples piscar dos seus olhos
Provocando meus instintos
É seu esse amor suplicante
Que implora pelo som da sua voz
Sussurando em meus ouvidos
É seu esse amor incondicional
Que não se importa por saber
Não ser meu o seu amor...
(Nane-29/10/2014)
Ao som de uma canção
As minhas mãos...O tato na sua peleElas podem sentirMas você não está aqui...Já vai alta a noiteA minha cama vazia...friaAdivinho o seu cheiroMas você não está aqui...Eu te vejo sorrindo pra mimAbrindo seus braços e me chamandoEu te vejo sorrindo pra mim...Tem um vento que sopra lá foraAlgumas buzinas de carrosGente na noite perdidasOutras que se encontram Camas que gememE eu...te vejo sorrindo pra mim...Ouço bem baixinho, uma cançãoA letra não entendoVem de algum lugar distante Uma melodia instrumentalUm Pearl Jam talvezNão consigo definirMas providencialEnquanto te vejo assimSorrindo pra mim...A noite já vai altaA minha cama está vazia...friaVocê não está aquiMas eu continuo a te ver...sorrindo pra mim(Elian-02/06/2012)O CORVO E A COTOVIA
O atrito notável
Corrói peça por peça
Entre lamentos e xingamentos
Da máquina psíquica
Relevantes sensações
De irrelevantes razões
Destroçam no encéfalo
A inteligência da hora
Pretextos inverossímeis
Transformando em débeis
Lamúrias e queixas
Cobranças envenenadas
Patativa sem asas
Presa no leito
Enquanto deixa voar
Lembranças soltas
Corvo cansado
Espreita no topo
De um tronco qualquer
O voo da patativa
Sensações diversas
De culpas e fadigas
De dois seres estagnados
Ceifados da liberdade
No horizonte brilha o sol
Escondido sob as nuvens
Patativa voa baixo
Enquanto o corvo observa
Um dia voarão
Numa mesma direção
E se unirão num só ponto
Sem nenhuma distinção
É fábula sem final feliz (?)
De pássaros inversos
Estereotipados pela massa
Do que é bom e do que é mau
(Nane- 18/03/2015)
Câncer da alma
O câncer da alma se proliferaEm metástases que contaminaMultiplicam-se as célulasA alma cresce além do corpoUltrapaça os espaços contidosSe aperta...faz doer...quer se libertarCorpo inócuo e impávidoNão percebe o perigoDa alma que se rebelaE tenta fugir...libertaNa metástase que cresceE faz romper os músculosJá sem muita resistênciaSem elasticidade...É alma rebelde em corpo insanoQuerendo fugir sem saber pra onde irMas não querendo ficarNo corpo que a abriga sem nenhuma briga...A metastase se proliferaE devasta como feraTentando de todas as formasRomper o elo que prendeA alma aflita no corpo De quem não mais almejaNada que seja de corpoNada...que seja daqui...
(Elian-19/03/2012)
Um dia difícil
Num céu azul de carneirinhos
Vou contando quantas formas
Passam por meus olhos
Nessa tarde de primavera (verão)
O som do celular me tráz de volta
Ao sol escaldante que bronzeia minha pele
E parece torrar meus neurônios
No choque térmico da notícia
A voz do outro lado engasga
A minha se cala...emudece
O suor salgado respinga dentro do olho
Que arde feito fogo no coração
Em segundos revivo uma vida
Repenso alguns valores
Desfaço de outros
Entonteço
O cérebro frita sob o sol
Um frio invade a alma
Os carneirinhos se foram
O céu está nublado
No peito, algo incomoda
Uma pressão que não passa
O celular se calou também
E eu...fraquejei
Ainda torpe, sigo em frente
O dia já se despede
O crepúsculo se aproxima
Enquanto a alma se agiganta
Feito uma galinha choca
Aninho os pintinhos sob as asas
Cansadas e pendentes
Vamos descansar....
(Nane- 05/11/2014)
Coringa real
E numa mesa de carteadoFaço paralelo da vidaOnde os sonhos são coringasProntos para o jogo decidirNo momento exato da batidaE dar um xeque-mate na vidaCartas que se não bem usadasFaz nossos sonhos se dissiparemE os tornam pesadelosPor seguirmos utopiasE esquecermos o plausívelQue pulsa ao nossso ladoE se esvaem aos nossos olhosQue quando de fato se abremO jogo estará perdidoE o coringa desperdiçadoDos sonhos que sonhamosCorra atrás do que é possívelDeixe a utopia voar sem direçãoPara que o jogo não seja perdidoE o seu coração vencidoSaiba usar com maestriaOs coringas da sua vidaA cartada bem colocadaTe faz vencer essa batalhaQue numa mesa de carteadoPode ser traçada a estratégiaDe uma vida sem pesadelosNas cartas de um jogo embaralhado...(Elian-01/04/2012)
PARQUE DE DIVERSÕES
E Deus criou o céu e a terra
Gostou disso, mas faltava alguma coisa
Então criou o dia e a noite
E também gostou disso
E Deus criou o mar e os rios
E separou a água da terra
Então criou os astros e as estrelas
Para enfeitar o firmamento
E Deus criou os animais
Para que se proliferassem
(inclusive as muriçocas)
E os separou (ou juntou)
Entre machos e fêmeas
E Deus finalmente criou o principal
Para diverti-lo no seu circo triunfal
Criou o ser humano volúvel
Pronto à desafiá-lo
Soltou no 'paraíso' o casal
Homem, mulher e a serpente
E acionou seu joystick
Brincando à revelia
A cada fase que passava
Deu-se uma medalha
E fez do homem herói do jogo
Ou simples perdedor
Brincou de guerras e amores
E o homem saiu do 'paraíso'
Foi à lua e voltou
Mas nunca se encontrou
Deus é pai e ele (homem) espera
Tirar da cara a maquiagem
De palhaço divertidor
No circo do criador
Deus na sua ânsia de vitória
Criou até seu antagônico
E o diabo nele se inspirou
Ao criar seu próprio play station
Que vença o melhor...
(Nane-21/04/2015)Tela de poesia
Se um pintor eu fosse
Seriam minhas poesias telas
E quantos quadros teria para pintar
Quantas cores para misturar
Com certeza não teria um só estilo
Pintaria o surrealismo colorido
Quando meus rabiscos sem rimas e sem métricas
Fluíssem do fundo de minha alma
Retrataria o bucólico na tela
Quando minhas mãos escrevessem
Sobre estar apaixonada
Em poesia dedicada a pessoa amada
E faria exposição do gótico
Quando a ira me invadisse
Num rabisco sem lirismo
Na loucura mergulhada
Exporia minhas telas num museu
Como um livro fechado na estante
Onde só quem poderia ver
Seria quem 'soubesse' ler
Se eu fosse um pintor
Jamais pintaria o rosto seu
Pois foi tanto que te rabisquei
Que as cores, com as dores... misturei
Hoje a tela está vazia
E não vejo mais a poesia
O pintor perdeu a mão
E o poeta...o coração
(Nane-30/12/2011)A MORTE DE UM SONHO
Meu sonho adormeceu
No seu silêncio devastador
E entorpecido liberou
A realidade que me compete
Pede coragem a vida
E outros sonhos vislumbram
Enquanto no limiar da loucura
Descansa o principal
Pedem passagem os novos
Para alimentar a vida
Enquanto adormecido o fatal
Não liquida com a mesma
É briga de foice
Da ilusão com a realidade
E não só adormecer
Um é preciso morrer
Ou o sonho mata a vida
Ou a vida mata o sonho
Deixá-lo apenas adormecido
É transformá-lo em pesadelo
E sonho que não pode ser sonhado
Pede adaga afilada
Cravada com força nas entranhas
Enquanto entorpecido
(Nane-31/03/2015)ORAÇÃO PELAS MÃES ÓRFÃS
Nossa Senhora
Guarda o menino
E aplaca a dor
De quem, como vós
Perdeu seu menino
Nossa Senhora
Na ponta dos dedos
Rezando o vosso terço
Todas as órfãs mães
Acariciam os rostos dos
seus filhos idos
Nossa Senhora
Mãe suprema
Abraça e conforta
As dores das mães
Saudosas e nostálgicas
Das suas sementes
Nossa Senhora
Nesse dia melancólico
De tantas lembranças
Aninha seus filhos
Com vossos braços
De Santa Mãe
E vossas filhas
Por certo agradecidas
Sentirão vosso conforto
Na lágrima derramada
Pelas faces das mães
Reconhecidas da vossa proteção
Nossa Senhora
Mãe bendita
De mães e filhos
Guarda convosco
Os filhos das mães
Que à ti os confia
E que essa saudade
Seja a certeza
Da vossa bondade
No cuidar dos filhos
E do certeiro reencontrar
Que assim seja
Nossa Senhora...
(Nane - 17/04/2015)
*Arte de Teresa Prado
Protótipo de mim
Ser forte
Seguro
Ser que temem
Invejam
Ser que pensa
Resolve
Ser que respeitam
Escutam
Ser que sabe o que fazer
Ampara
Ser que abraça
Protege
Ser quase supremo
Altivo
Ser tão fraco
Perdido
Ser que grita
Em silêncio
Ser com a mente voltada
Num só propósito
Ser que pede socorro
Sem que escutem
Ser que caminha sem rumo
Abismo
Ser que pede carinho
Mas se fecha
Ser pronto para não ser
Mais ser nenhum
(Nane - 03/09/2014)Mea culpa
Na madrugada silenciosa
Teus gemidos sobressaem
Tuas dores se agigantam
Teu corpo reclama
Ah velha senhora
Dona de tanta força
Doi mais em mim as Tuas dores
Pode acreditar
Minha impotência neste instante
Faz de mim covarde
Finjo não acreditar
Nas dores que te consome
Choras silenciosa
Contendo as lágrimas teimosas
Sedo-te com analgésicos
Correndo todos os riscos
A sapiência do tempo
O torna frio e cruel
Sufoca-me a culpa por me flagrar
Desejando o teu descanso
Teu Deus tão soberano
Sabe o que tá fazendo
Eu, na minha ignorância
Perco a paciência
Vamos velha senhora
Encarar mais uma noite
Onde todos os gatos são pardos
E nós duas...companheiras
(Nane-30/10/2014)ENTRANHAS EM DESASSOSSEGO
Quisera ser indiferente
À tua indiferença
Mas esse desassossego na alma
Incomoda...
Quisera arrancar você de mim
Como a um dente careado
Que faz falta por instantes
E depois é esquecido e substituído
Quisera tanta coisa impossível
Que já nem sei se quero mais
Já que nada mais faz sentido
Nos quereres que eu quisera
Quisera não ter um passado
E começar tudo do zero
Apagar todas as letras
E reescrever minha poesia
Resta-me apenas o ato
De amassar os meus papéis
E jogar fora minhas rimas
Nos versos que te fiz
Resta matar a poesia
Antes que ela me mate
Num surto desesperado
Das entranhas que quisera...
(Nane - 23/03/2015)
Mais uma noite
Nas sombras da noite
Refaço o dia passado
Revejo todos meus atos
E imagino o que poderia ter sido
Me deixo levar pela imaginação
Sonho com o que não tive (ou não fiz)
Aperta uma dor no coração
Enquanto o dia se aproxima
No quadrado do meu quarto escuro
Uma canção fala com tristeza
De um amor não concretizado
Feito o meu que já foi o seu
Escuto com atenção e me pergunto
Onde foi que te perdi
E vem em meus ouvidos a tua voz fria
Me perguntando se um dia eu te tive
Fecho os olhos, tentando adormecer
Mas tua imagem teima em aparecer
Feito um fantasma me assombrando
Em plena madrugada
Rezo à Deus para tirar você de mim
E o meu martírio ter um fim
A droga é que não sei rezar
E ele parece não me escutar
Posso ouvir tua respiração
Escutar tua gargalhada
Tudo isso dentro de mim
Quimeras...ilusão
Os primeiros raios do sol
Apontam em minha janela
O cansaço vence minha resistência
Vou dormir e sonhar... com você
(Nane-31/10/2014)
Amor eterno
Te vi assim
Tão sublime
Tão fatal
Tão em mim...
Refiz em mim
Todos os sentidos
Que pensei perdidos
Ou mesmo nunca nascidos
E foi você
Quem despertou em mim
Entre o desejo e a paixão
Um grande e derradeiro amor
(Nane-23/10/2014)Férias de Deus
Por onde anda Deus?
Talvez de férias na Bahia.
Ou quem sabe na boemia da Lapa?
Não sei...mas tá de folga.
Chamei e clamei por ele,
mas não me ouviu...
Deve ter tomado um porre
e agora dorme o sono dos justos.
Deixou seu tridente nos 220
e queimou meu traseiro.
Se foi por castigo, não sei,
mas o cheiro foi de enxofre.
Dormiu em pleno plantão,
e isso há que se levar em conta.
Que porra de Deus é esse
que não gosta de bater cartão?
Eu só queria conversar,
não iria pedir nada.
Rezar a Ave maria
não estava nos meus planos
Mas se ela é a mãe de Deus
deveria educá-lo
para quando um filho seu
dele precisasse.
Hoje o dispenso.
Durma ele com a mãe.
Vou dormir com a cerveja
e sonhar com as estrelas...
(Nane-01/11/2014)
Virginiana
Tudo em mim vai alémSou virginiana...detalhistaDou sempre o meu tudoSem me importar se colho o nadaFaço e refaço quando precisoNa tentativa de ser sempre o meu melhorOs outroos até podem não gostarMas eu procuro em mim...o meu melhorNão gosto de ser só mais umaVou em busca de ser a umaNão gosto de imitarPrefiro ser copiada...Não sou desaforadaSó gosto de ser notadaE para isso...tem que ser bem feitoO que quer que eu vá fazerSenão corro o risco de iludidaMe passar por ridícula(Elian-08/02/2012)ACENO DO ADEUS
Caminho só
Sem o toque da sua mão
Segurando a minha
Trêmula
Mas não parei
É preciso seguir
Ainda que sem o esteio
Da sua mão
O caminho é turbulento
Cheio de pedras e espinhos
Mas caminho
Sem a sua mão
Não por querer
Mas por ser preciso
Caminhar até chegar
A hora de parar
A estrada é longa
Sem parada para o descanso
Mas agora estou calçada
E sigo andando só
Ainda sinto no tato
O calor da sua mão
Que se soltou da minha
Sem me avisar
Meus passos ainda trôpegos
Vão se firmando aos poucos
Nesse caminhar solitário
Mas preciso
Chegará o dia
Em que o meu caminhar
Não mais precisará
Da sua mão
Mas levarei comigo
A eterna gratidão
Do aprender a andar
Que começou com a sua mão
E passado todas as dores
Olharei o caminho percorrido
E acenarei com a minha mão
À sua mão deixada lá atrás...
(Nane-23/03/2015)
O verme
O verme corrói a alma torturadaTal qual dilacera o corpo de carneEnquanto apodrece na tumba fechada...Mas a alma é vivaE sente a laceraçãoCom o cheiro da podridão...O verme não se cansaAbre túneis por onde passaLacerando o corpo inteiro...A alma se afligeA dor é intensaEm mais nada pensa...O verme persisteLuta por si Sobrevive da decomposiçãoA alma desisteA dor a consumiuSe entrega ao vermeO corpo acabaO verme se saciaA alma não descansaUm outro vermeCorrói a almaAgora sem corpoQue fétida se desesperaNo enxofre do infernoOnde foi depositada...O verme a corróiLentamente...a corróiMas a alma...não morre(Nane - 09/01/2012)Aparições
Meus fantasmas me rondamCada vez mais concretosTodas as noites me assustamNo afã de me drogaremAflitos e perdidos
Gritam em meus ouvidos
Palavras desconexas
Que me assustam
Tentam influenciar
Meus instintos entorpecidos
Distraem minhas vontades
Destroem os meus sonhos
Medonha a noite
Custa a passar
Ardem meus olhos
Dói minha cabeça
Sombras insinuantes
Dançam em meu quarto
No escuro refletido
Das minhas retinas
Sombrios sonhos me aguardam
Não quero adormecer
Mas eles me embalam
Num balanço infernal
Sem alternativa
Fecho meus olhos
E vou pro inferno
Junto com eles...
(Nane-13/12/2014)
Te falo de mim
Sou apenas alguém que gosta do belo
Do belo que apenas os belos veem
Da beleza de ser despertada pelo canto
dos pássaros (ainda que pardais)
E de ver desabrochar no jardim a flor
manhosa
Sou quem gosta dos pingos da chuva que
cai mansamente ao entardecer
Como gotas de ouro que brilham no contraste
do sol poente
Da serenidade do orvalho que cobre
ousadamente a grama macia
De sentir os primeiros raios do sol que
desponta a cada novo dia
Sou quem 'perde' o tempo observando
o vai e vem das ondas
E gestando em cada uma, uma nova canção
ou poesia
Sou quem busca enternecer com carinhos
meus amigos
Levando sempre que possível
(e ainda que virtual) a eles uma flor
Sou também o ombro que se precisares,
te ofereço
Mas que prefere te ver sorrir
Sou apenas alguém que te admira
Por ter enxergado em ti a beleza interior
Sou apenas alguém que gosta do que é belo
E por isso eu gosto de você...
(Nane - 24/02/2010)
Silêncio sombrio
Uma única vontade
Nas sombras da lua sob as núvens
Sombria e sem limiar
É tempo de espera
Portas cerradas
Calor incômodo
Nada importa
Faço das sombras
Espectros lunares
Desenhados na imaginação
Do meu cérebro ainda pulsante
Se confrontando em raios
Feito tempestades de verão
Passa o tempo
Que enfraquece o colágeno
Pressionado pelo fumo
Exposto no espelho
Onde a pele acinzentada
Se dobra em rugas
Delatoras em excesso
De uma idade mentirosa
Que nem sei se é pra menos
Mas que parece bem mais
Ressecada pelo álcool
Lagartixando sob o sol
Mais um dos meus prazeres
A contenda que me resta
Me deixa sem perspectivas
Nada quero além disso
Só ver passar o tempo
Sem com mais nada me preocupar
Além do que está por vir
Quando meus olhos se fecharem
E não mais se abrirem
Ficará uma só certeza
Num derradeiro e sincero pensamento
Ninguém além de nós há de saber
Que junto à mim se encerrará o gosto amargo
Do meu amor nunca poder anunciar
(Nane - 04/09/2014)Cerveja gelada
Visto a mortalha
Que eu mesma escolhi
Para a viagem
Mas não embarco (ainda)
Por covardia ou coragem
Fico e aguardo
O final se aproxima
Ainda estão abertas as cortinas
Finjo ser necessária
Insubstituível
É só o medo do imponderável desconhecido
Vou ficando...
Uns goles na cabeça
Pode ser que amanhã tenha coragem
Se a covardia se for
E a embriaguês não passar
A roupa está pronta
Pendurada no cabide
Talvez eu parta nua
Zombando da frieza
A cerveja está gelada
Tanto quanto a minha vontade
A pedra não esquenta
A fumaça (do meu cigarro) me faz viajar
(Nane-24/10/2014) Amor verdadeiro
O amor não pede nada em trocaNasce, cresce, e amaSer amado...nem sempreMas ama porque amaSem nada pedirCom muito a desejarNos sonhos e devaneiosNem sempre realizadosÉ assim o amorInteiro e realAmor de verdadeQue aguarda pacienteA entrega total Que se não aconteceNão deixa de amarTão pouco de sonharAdormece silenciosoGuardado e aguardandoO amor florecerO amor verdadeiroTranspassa espaçosSegue infinitoNos espaços da vidaSabendo esperarA hora do reencontroDas almas escolhidasE por 'instantes' perdidasSimplesmente por saberQue é amor de verdade(Elian-31/03/2012)Chamado
Esse desejo incólume me persegue
Sem que eu possa detê-lo
Dizem ser pecado
Mas não posso evitar
Nada aqui me dá prazer
Se vou pagar
Se vou morrer
Se vou reviver...
Simbiose utópica
Da qual retiro o H2O
Loucura dos neurônios
Que se julgam pensadores
E no entanto...só fazem sentir
Meus olhos gulosos
Fitam a lua
Sem nada saberem
Um lado escuro
Negro e sem luz
Me chama...me chama
Talvez eu vá...amanhã
Agora preciso ir dormir...
(Nane - 04/09/2014)Porta aberta
A porta do inferno está abertaLá dentro um par de olhos me atraemMe chama e eu tento resistir...mas é uma força incontrolávelQue me arrasta e me empurra de encontro à porta...Não tenho onde me segurar...A força do mal me puxa determinadaA cabeça parece explodir....vai se espatifar em pedaçosDormir é impossível...o cansaço me enfraqueceA vontade se perdeu em distorcidos pensamentosQue vagam sem em nada fixar...nem lembrar...O inferno mandou me buscarAlguém veio me arrastar...mas não o vejoNão sei quem é...que me obriga a caminharDe encontro a porta aberta que me suga...eu vouNão tenho porque lutar...nada mais importaO tempo é escasso aqui e talvez não seja eterno lá...O gongo da vida ou da morte está soandoO bem e o mal mediram forçasA luz e as trevas lutaram com justiçaAo vencedor é entregue o prêmioÉ justo que assim seja...a porta está aberta...(Nane - 09/01/2012)Duas ou mais
Nas faces que tenhoSou duas ou maisAnjo e demônioVadia e santaBlasfemo e rezoDepende da horaMe faço de vítimaMas sou algozMe dispo de pudoresMe cubro de vergonhasE se acalentoTambém jogo ao ventoPorque sou dúbiaE por vezes acéfala Grito em silêncioE silencio berrandoRezo aos santosE acordo com o diaboQue tenta e me atentaE eu me deixo tentarPorque sou duas ou maisSem saber onde vou pararEnquanto procuro por mimNas noites escuras e sem fimOu nos dias de sol escaldanteQueimando meus neurônios inconstantesE porque sou dúbiaEstouro e explodoXingo e praguejoE peço desculpasE deixo partirQuem não sabe sentirQue sou duas ou maisE não sei voltar atrás...(Elian-05/04/2012)Se eu morrer
Se eu morrer...Quero comemoraçãoNão o clima de velórioQuero fogos de artifíciosUm samba canção me homenageandoCerveja gelada para acompanharUma bandeira do meu time para eu levarBrincadeiras a minha volta a me velarE sorrisos por finalmente eu me libertar...Se eu morrer...Não se deixe entristecerNem ouse por mim chorarPorque estarei sorrindo e cantandoPor onde a morte me levar...Se eu morrer...Estarei partindo felizPor saber que aqui não é meu lugarPorque aqui nunca fui felizE me sinto egoísta por não agradecerA vida que eu tenho e que me cobramLouvar a Deus a todo instantePela minha saúde constante...Se eu morrer...Terá enfim chegado ao fimA grande misão que me foi destinadaE com a qual fui predestinadaA viver num tempo que não gostoE por isso me confundem com amarga...Se eu morrer...Não faça drama por mimPorque o morto é repostoNo novo que vai nascer E o tempo te fará me esquecer...(Nane - 07/01/2011)PASSEANDO À BEIRA MAR
As estrelas estão lá
Apesar do céu nublado
Escondidas sobre as nuvens
Com vergonha de você
Salpicam a areia da praia
Tentando se duplicarem
Para verem se ofuscam
O brilho do seu olhar
Algumas mais afoitas
Fingem cair adentro ao mar
Só para desviar a atenção
Quando te veem passar
A lua se rendeu e te serviu
De holofote na ribalta
Focando seu caminhar
Na noite à beira mar
O sol vem todo dia
Dourar sua pele macia
E resplandecer quando você
Escancara seu sorriso
Rendem-se astros e estrelas
Aos seus encantos de sereia
Desfilando na areia
E banhando-se no mar
Rende-se o próprio mar
Que amansa suas águas bravias
Só para fingir ser rio a desaguar
E de alguma forma te abraçar
Se mulher ou entidade
Curvam-se às suas vontades
O céu, a terra e o mar
Odoyá Yemanjá
(Nane-18/03/2015)Berlinda
Se é Deus o criador
Não cabe à mim (criatura)
Questionar decisões
Por ele tomadas
Resta-me aceitar
E por vezes até chorar
Quando meu coração não entender
O que ele vai fazer
Blasfemo intimamente
Gritando em meu silêncio
Que além de mim, só ele escuta
A miséria em que me sinto
Mas ele, Deus onipotente
Tudo vê e tudo sabe
Também a tudo perdoa
E há de me entender
Sou polêmica por natureza
Filha do pai que me criou
E se é assim que eu sou
Foi Deus quem deixou
Hoje, na berlinda
Essa vida, dita tão linda
Perturba minha inteligência
E acirra minha arrogância
Te louvam e idolatram
E por prêmio...ajoelham
Questiono e te desafio
E sigo ilesa
Se por mim ou por mais alguém
Não sei...
O fato é que te pergunto
Até quando...Deus
(Nane-10/11/2014)
O silêncio do poeta
Seu olhar está distanteNum ponto nenhumA mente divaga sem destinoPor onde andará...vai saberAs mãos parecem inquietasSem 'estrada' para percorrerEsquálidas, suadas, desajeitadasEle apenas observa à sua voltaNão conversa com ninguémNem mesmo vê o que se passaParece uma estátuaTão só...tão solitárioPor onde andará seu pensamento...Seu silêncio parece arrogância Aos que com ele falam, sem respostasMas no fundo é só um transe hipnóticoQue sem aviso, arrasta a sua almaDeixando o corpo inanimado assim...caladoQuanto tempo levará...ninguém sabeMas o tempo necessárioDe um poeta operário...É uma ausência que se impõeNa sua busca eterna por inspiraçãoE só sua respiraçãoDiz que ele está bem, vivoDeixem o poeta em seu casuloÉ só a sua paz que ele buscaNas palavras que procuraPara expressar a sua arteNão o julguem arroganteOu tão pouco em agonia O silêncio do poetaÉ o prefácio da poesia...(Elian-02/06/2012) Fórmula de viver
A vida te ensina
As mazelas da vida
Em cada esquina
Uma vertente perigosa
Segue teu rumo
Sem temer a morte
Porque ela espreita
E nos faz refém
Viva cada dia
Como se outro não houvesse
O amanhã é incerto
O hoje...presente (de Deus)
Sorria, ainda que banguela
Dos desatinos do destino
Perdoe teus perseguidores
Desate teus nós
A solidão é tua casa
Ninguém é de ninguém
O pó é teu destino
A soberba a armadilha
Viva sem desculpas
Todas as tuas culpas
Deixe viver sem preconceitos
A vida do alheio
A vida me iludiu
Com a realeza na infância
A vida me mostrou
A dura realidade
Aproveite cada instante
E viva intensamente
O amanhã é uma incógnita
Sem fórmula definida
(Nane-22/10/2014)
WhatsApp
Venho te olhar a todo instante
Em busca de um sorriso
E no teu silêncio estático
O meu...sente o salgado molhado
Tão perto de mim...
Nunca ao meu alcance
Tão distante
Tão dentro
As vezes sinto o teu olhar
Mas nunca soube definí-lo
Por vezes tão carinhoso
Por outras tão gélido
E mesmo que não venha te olhar
Te vejo em todo canto
No céu em forma de estrela
No mar em forma de imensidão
No final do meu dia
Foi tão pouco o tempo
Para os tantos sonhos que vivi
Nos pensamentos com você
Mas o teu silêncio estático
É meu maior martírio
E eu sigo vindo te olhar
Sem nada mais esperar
(Nane-26/10/2014) Intento ao vento
Faz tempo que eu tentoFaz tempo que meu intentoJunta tudo dentro de mimAcumula meus centrosAhh...Faz tanto tempo que eu tentoCorrendo atrás desses meus intentosQue perdi a noção de quanto tempoEu juntei intentos dentro de mimE foi por tão pouco tempoQue eu senti realizar os meus intentosNão falo de justiça e nem merecimentoMas eu queria muito meus intentosVi tudo de dissipar ao ventoSonhos e desejos se corroendoNão importa mais o tempoDeixa ele passar assim...lentoEstive tão pertinho...Nada mais restou desse intentoFoi levado pelo ventoÉ tudo coisa que eu inventoDeixa ele ir...No tempo...No vento...Partir...(Elian-22/03/2012)Um pedido
Ah, te peço
Não me deixe tão só
Sou menina
Me dê a tua mão
Viajo no teu espaço
Vivo no teu seio
Respiro no teu ar
Sem ti...sou meio
Ah, te peço
Não me deixe tão só
Um só (teu) sorriso me basta
Não desfaça os meus sonhos
Basta um (teu ) estalar de dedos
Para que meu sorriso aflore
E o meu dia mergulhe
Na claridão do sol
Ah, te peço
Só um oi, mais nada
Para que eu saiba que pensas em mim
E que nem tudo teve fim
Te esquecer é impossível
Viver sem ti, um suplício
Te ver e te saber com um outro amor
É arder no inferno sem morrer
Ah, te peço
Só um pouco de carinho
Para que eu possa sobreviver
Mesmo sabendo que nunca terei...você
(Nane-21/10/2014)
A roteirista
Hoje, sou roteirista da minha própria históriaNas teclas do computador, vou escreverA vida que quero para mim...será assimNo meu roteiro vou em busca de novos sonhosCom lugares e gente diferentesMergulhar em aventuras imaginadasE viver novas experiênciasMe embrenhar em conquistas e paixõesSem me preocupar com o que vai acontecerQuero ser a protagonista da minha vidaE viver intensas emoçõesQuero sentir o toque das mãosO cheiro e o gosto de um beijoDe alguém que há de chegarE que eu, no meu roteiro, vou buscarQuero lutar para conquistarO espaço onde vou me encontrarE profissionalmente me realizarHoje, sou roteirista da minha própria hstóriaE desde já vou escrevê-la com garraSem poupar nenhuma das minhas vontadesVou à luta por cada sonho que tiverHoje, sou roteirista de mim mesmaE as lágrimas deixei no passadoVou conquistar com a força dos meus braçosO meu merecido e certo...espaço Hoje, sou eu quem escrevo a minha históriaE vou de qualquer jeito buscar minha vitória...(Nane-01/01/2012)TIGRESA
Tigre enjauladoEncarcerado e limitadoRuge bem altoTentando provarQue ainda viveDeita e dorme
Sobre o cimento aquecido
Acomodado por seu destino
De fera presa
Presa que namora
No piscar dos olhos
Correndo livre
Tão fora do alcance
A brisa orvalhada
De outros tempos e cheiro
Agora se assemelha a sauna
Fedendo à desinfetante
Tigre enjaulado
No centro da cidade
Exposto à curiosidade
Sem mais nenhum propósito
(Nane-11/12/2014)
In...Grata
Sou grata ingrataQue faz da gratidãoCastigo, prisão...Persona non grataNa gratidão do coraçãoNa paz do meu espíritoQue vaga ingratoSem a grata sensaçãoDe se sentir gratoEm sua imensa vastidãoDe espírito ingrato...Sou ingrata sem graçaQue não sabe ser grataE sente o peso da gratidãoSe impondo em minhas costasE gritando aos quatro ventosQue a minha ingratidãoÉ o preço à pagarPela minha liberdadeQue mais tarde virar cobrarA ingratidão que me fuzilaPor não saber ser grataÀ quem por mim foi grata...A gratidão me cobra O preço da ingratidão E eu...ingrata pagoPor não saber ser...grata(Elian-05/04/2012)POETA DE LATRINA
Maldita a hora em que me fiz poeta
De esquina
Nas saídas dos bares
Nas madrugadas
Agasalhando no peito
As dores do mundo
Apiedando nas palavras
Da própria insignificância
Por não conseguir sorrir
Das desgraças embriagantes
Num copo interminável de cerveja
Escrevo aos amantes
Palavras adocicadas
Zombando da imbecilidade
De quem nelas acreditam
Sem perceberem que se esvaem
Na mais branda das brisas
Que sopra ao luar
Cúmplice nas enganações
Que todo poeta rabisca
Mais por ego que por convicção
À quem se presta à lê-lo
Então equilibro meus escritos
Entre dores e amores
Sem deixar vazar a verdade
Contida nas entrelinhas
Lidas e não entendidas
Pelos amantes da poesia
Induzidos pelo proxeta
Que lhes escreve sem pudor
Feito um famigerado gigolô
Prostituindo sua vítima
Em troca de seu ego
(Nane-03/07/2015)
SINA DE MÃE
Rasga teu ventre ensanguentado
Cuspindo a semente germinada
Entre amnióticos líquidos
Jorrados de tuas entranhas
Beija a cabeça coroada
Pelos dejetos abençoados
No instante supremo
Do teu grito lacerante
Aconchega em teus braços
Fazendo silenciar
O choro de estranheza
Do despejado de teu ventre
Sirva-lhe ainda quente
O néctar da vida
Da glândula em flor
Desabrochada em teus seios
Cortaram-lhe o cordão
E já não mais está em ti
Paristes teu filho
Mas não o teu destino
Proteja-o sob as tuas asas
Até quando puder
Mas quando aprender a voar
Entregue-o ao Criador
E reze...
(Nane-25/03/2015)
Genes indivisíveis
Mãe...Porque não me ensinou a ser como você?Porque não dividiu comigo seus genes todos?Ah...mãe, se tivesse feito isso...Hoje eu seria outra...e não sofreria tantoSeria agradecida e generosa como vocêE cantaria cânticos de louvores por todas as minhas doresTeria a paciência e a sapiência que você temE não me deixaria afetar por coisas que magoam...Mas você não soube dividir comigo, mãeOs genes preciosos...Guardou-os todos pra vocêSe fez mártir do seu DeusE calmamente aguarda no seu sofrerA hora da sua libertação...E quando isso acontecer, mãeMas perdida ainda eu vou ficarPorque não vou ter mais com quem reclamarA culpa por não saber me comportarE tão pouco aceitarO meu jeito estúpido de serE a falta dos genes que te fazem serEssa mulher extraordinária que aceitaCom toda tranquilidade o seu viver...Ah...mãeIsso não dá para eu perdoar...(Nane - 07/01/2012)Yin e Yang
Eu souEu fui Eu seiEu tudoNa real, eu nada...O que sei de mimNão seiPensei saberMe conhecer Mas nada seiMe idealizeiE não me apresenteiTenho atos e açõesGestos e palavrasSentimentos e vontadesQue nunca penseiPudesse terFaço coisas que não fariaSe fosse eu, de fato euA pessoa que conheçoE acreditava ser eu...Idealizei o que eu queria serNa essência do meu serE descobri que para me conhecerNão basta o meu quererSou céuSou terraSou parte da humanidade Meu Yin e meu yangTanta estrada para rodarTanta coisa para aprenderTanto eu...para conhecerEu souMuito do que não sei Ou nada...do que pensei(Elian-19/05/22012) LEVADA POR UM VENDAVAL
Me deixei levar no vendaval
Sem eira e nem beira
Levada por sentimentos
Revirada pelo avesso
Perdida num temporal
Mas foram tão intensos
Cada um dos segundos
Eu vi brilho no seu olhar
E fiz de cada um (dos segundos)
A nossa eternidade
É verdade que acabou
E sequer a poeira restou
Mas nas estrelas
Ainda vivem os rastros
Em fachos coloridos
Me deixei levar no vendaval
Mas vivi como poucos um amor
Que deixou marcas no universo
Do meu céu e do meu inferno
Vividos intensamente
Hoje passou o vendaval
E te levou para outro lugar
Mas deixou em forma de brisa
Um carinho na lembrança
De um amor adormecido
Outros ventos vão soprar
E trazer outros amores
Também inesquecíveis
Mas perder-me num temporal
Não vou mais...
(Nane-18/03/2015)
PENSAMENTOS CONFUSOS
Já não esconde mais seu lamento
Que chora e grita em meus ouvidos
Quando deito a cabeça no travesseiro
Em busca do sono perdido
Embriagada pelo não adormecer
A cabeça não pensa direito
Os sentimentos se misturam
Num limiar de portais inebriantes
Uma culpa em dissonância
Faz de mim Iscariotes
Em sábado de aleluia
De chibatadas e pedradas
Um adeus inevitável
Entre lágrimas e sorrisos
Se confundem num alívio
Entre o bem e o mal
Uma menina chora a sua falta
Uma mulher te quer ver livre
Um médico e um monstro
Numa só carcaça
O cansaço alucinógeno
Corrompendo a sanidade
Na pergunta que não quer calar
Do que é certo ou errado
Deus do céu ou do inferno
E eu tenho que ter fé
Me destes um cobertor
Mas eu morro de frio
Não sei mais o que fazer
Na angústia dos lamentos
Das dores sem refresco
Que escuto noite e dia
As vezes uma vontade
Bate forte e sem sentido
De correr sem direção
Para lugar nenhum
E nesse desespero
A loucura me assedia
Feito uma bala perdida
No alvo certeiro
A sua incoerência
A minha incongruência
Vidas entrelaçadas
Num adeus
(Nane-05/04/2015)
*Arte de: Marcos Coimbra
Semente
Morrer jamais...Somos um eterno ir e virRenascemos da própria morteOu morremos da própria vidaSomos amálgama de nós mesmosEm constante mutaçãoFazemos da sementeA árvore da nossa sustentaçãoA semeadura é livreMas a colheita...obrigatóriaCabe à nós plantar bom frutoOu colher veneno puroA seara se preparaE somos nós os responsáveisPela plantação à germinarA semente nunca menteÉ só o resultado de quem plantouQuem planta nuvemColhe tempestadeMas na escolha da sementeO agricultor fica à vontadeNão morreremos jamaisIremos e voltaremos eternamenteA semente vai sempre germinarE é você quem irá plantarO que fatalmente irá colher...(Elian-05/02/2012)Avesso
Sou o extremo
Me mostro e me rasgo
Vivo em erupção
Tal qual lava do vulcão
Sou criticada
Por me por tão a mostra
Mas não sei ser diferente
Não gosto de lastimar coisas ausentes
Me dispo inteira nos versos
Me ponho nua nas palavras que rabisco
Sou inteira sem metades
Sou meu avesso posto a mostra
Meus limites são meus horizontes
Caminho sempre para buscá-los
Ainda não os encontrei
Talvez por isso ainda não parei
Se choro e sofro por uma dor
Derramo todas as lágrimas que tenho
Mas a mágoa que faz corroer o coração
Essa eu mando embora na torrente de minhas lágimas
Sou assim...
Impulsiva e direta
Me jogo, rasgo e falo
Me acalmo, me entrego
Me olho e me vejo num rabisco...
(Nane-30/06/2010)
A pecadora
Peco por falar
Por me expor
Por me deixar transparecer
Por mostrar quem sou
Peco quando amo
Ou mesmo se desamo
Peco por dizer a que vim
Por não mandar recado
Peco se dou carinho
Ou se ignoro
Peco por gostar
Peco por demonstrar
E quando não gosto
Também peco
Porque se não destrato
Deixo claro o que é fato
E peco apenas por pecar
A cada vez que amo
Que encanto
Que tento
Que faço
Que desfaço
Que mostro
Que não escondo
Peco porque vivo
Por não ser o que esperam
Por desapontar
Por não sofrer
Por pouco me lixar
Por nada me importar
Com o que de mim vão achar
E aí...eu peco...
(Nane-17/06/2010)
MAIS QUE O MUNDO (e mais um pouquinho)
Subjetivo amor
Muito além daqui
Onde o sexo é reflexo
E a ternura amplidão
Maior de todos os amores
Rompendo o sepulcro frio
Em direção ao universo infinito
Perene em seus mistérios
Pisando em estereótipos
Vislumbrando a essência
De outras histórias
Redivivas
Com as bençãos de Platão
E na cabeça a confusão
De outra dimensão
Sem nenhuma exatidão
A certeza de ser
Ainda que sem poder ter
O certo de um errado
E a conta a pagar
Passe o tempo que passar
Venha quem vier
Meu subjetivo amor
Há de perdurar
(por toda a eternidade)
(Nane-08/04/2015)
É só poesia
De que poesia falo euQuando escrevo meu silêncioEscoado em palavrasNão ditas...Talvez dos céleres poemasFugazes e indecentesQue vagueiam pela menteE morrem ao despertarDe que poesia falo eu
Quando espero na madrugada
O encontro com ela (a inspiração)
E a vejo num limiar
Entre a vida e a morte
Entre o céu e o inferno
Entre o lúdico e o nefasto
E me perco nas palavras
Tentando decifrar
De que poesia falo eu
Que me cobra e me obriga
Sem nunca me oprimir
Sem ditar regras ou me policiar
Quando sopra seus espectros
E eu transformo em emoção
Gerando lágrimas ou suspiros
Dos mais loucos do que eu
Que perdem seu tempo ao (me) lerem
De que poesia falo eu...
(Nane-15/12/2012)
Poeta Obsoleto
Era só um poeta
Medíocre, de rimas pobres
Em poesias profanas
Para a musa idealizada
Se achava o tal
E era feliz em seu mundinho
Bastava-lhe o amor
Da que lhe dava inspiração
Mas seus sonhos ruíram
Implodidos num conto
De um infante contador
Infanto juvenil
O bom moço contador
Com porte de príncipe
Profanou todas as poesias
Do poeta cabisbaixo
Abandonou-lhe a inspiração
E a musa encantada
Pelos contos estampados
No peito do contador
Sem mais forças pra rimar
O poeta ultrapassado
Silenciou a poesia
Restando-lhe chorar
Suas noites insones
Outrora rabiscadas
Agora são testemunhas
Das lagrimas derramadas
O infante conta a alegria
Com mistérios e magias
Enquanto o velho poeta
Obsoleto, vê nascer o dia
Sem amor e sem humor
Silencia sua poesia
Para que não nao revele mais a sua dor
Em palavras rimadas e escritas
(Nane-24/10/2014)STAND BY
Amor, estou aquiAguardando você voltarPorque sei que vai voltarQuando cansar de brincar de amarÉ meu o seu amor
Ainda que você não saiba
Estou de prontidão
Na minha solidão
Vá sim, viver seus amores
Divirta-se a valer
E quando voltar
Aninhe-se em meus braços
Sou eu quem te espera
Por toda a vida
Não tenha pressa de chegar
Eu vou te esperar
Até mesmo por não ter outra opção
Sou seu stand by
Um dia você vai perceber e entender
Que só eu eu amo você
Então, finalmente virá
E eu torcerei como nunca
Para que nesse dia
Você possa...me encontrar
(Nane-09/12/2014) Arte no sentir
Nada há para ser entendidoTudo deve ser sentidoPosto que se perde o sentidoDaquilo que é entendidoOlhe com olhos de verA beleza do sentirE sinta com a sensaçãoDe ver com o coraçãoEsqueça os 'porquês'Libere os 'sentidos'Não procure explicaçãoFlua só a emoçãoA arte se superaEncanta e desencantaAos que dela esperamSentir ou entenderArte é sublimeSuprema e indolenteSe mostra, se expõeE manda às favas julgamentosNão queira compreenderSinta apenasA arte de viverSem ter que entender(Elian-17/05/2012)ESTRANHA SENSAÇÃO
Estranha a sensação
Quando nossos olhos não veem
Mas nossa alma sente
A presença de uma outra
Estranha sensação
Por vezes de paz
Por outras de intempéries
De saudades egoístas
Estranha sensação
Quando nos pegamos
Sorrindo ao seu sorriso
Desenhado na retina
Estranha a sensação
Da nossa insegurança
De não saber por onde anda
O espírito tão querido
Estranha sensação
De subjetividade
Quando antes tão concreto
O abraço e o beijo
Estranha sensação
Da vida e da morte
Separando por dimensões
Seres tão afins
Estranha a sensação
Desse amor tão imenso
Quando não mais é possível
Dizer que eu te amo
(Nane-13/04/2015)SAUDOSISMO
Posso ser estranha por não gostar da vida,por me sentir enclausurada,Por não ter expectativas...Vi tantas lutas por ela (vida)!
Pessoas começando a viver e já batendona porta do céu (?).Gente querendo sobreviver (e não 'viver') a qualquer preçonum corredor gélido que mais parece matadouro.Vi crianças esfaceladas, sorrindo e chorando.Mães inconformadas e até uma índia rezandopara que Tupã a livrasse do filho doente e 'estragado'.Não vejo a morte como o fim, mas uma voltaao seu verdadeiro lar.Sofro sim a falta dos meus que me antecederamnessa viagem repleta de mistérios, mas aguardo,sem pressa a minha hora de também ir (de preferênciasem despedidas). Sei também e tento me preparar(mesmo sabendo que de nada adianta) para o diaque minha mãe se for (e torço muito para que sejaantes de mim).Posso ser estranha por não gostar dessa vida aqui,mas não me tomem por louca.
Sou apenas alguém que sente saudades de casa...Não necessariamente sou triste por não gostarda vida aqui.
(Nane-09/12/2014)É PRECISO CONTAR ESTÓRIAS
Surreal estória
Nascida no bastidor
Onde um homem é mulher
E uma mulher finge um amor
Surreais vidas
Onde admira o amante
O marido não traído
Mas corno manso
Surreal loucura
De gente que se diz sã
E por baixo do 'pano'
Se mostra louca
Surreal romance
De sereia e caramujo
Num Reino Unido
Com sotaque nordestino
Surreal relacionamento
De vidas inventadas
Vividas dentro da tela
De um computador ligado
Surreal sentimentos
Que evaporam ao vento
Quando a tomada é puxada
E a bateria descarregada
Surreal musa
Surreal escritor
Surreal marido
Surreal amante
(Nane-27/03/2015)
*Arte de: Fátima AycheCarolina
Choro meus dias amarguradosEnclausurados na rotinaQue faz deles tédioNum acinzentar do solLamento o tempo perdidoNo tic e tac do relógioQue tal ácido devoraMeus tímpanos incomodadosEnquanto a vida lá foraPassa com voraz pressaE os calos me fazem marcasNos cotovelos enraizados na janelaClamo a tal liberdadeMas me perco na indecisãoDe voar rumo ao horizonteE não saber voltarPassam os diasPassam as noitesGente que vaiGente que vemNão me chamo CarolinaMas meu tempo se esvai na janela...
(Elian-18/05/2012)Perdão
Perdoa
Esse amor insano
Que por uma mentira
Tornou-se gigante
Perdoa
Se nunca fui quem disse
E no entanto sou quem fui
Na minha própria imaginação
Perdoa
Se em meus devaneios
Te sufoco e te cobro
O que não me é de direito
Perdoa
Se choro ao te lembrar
E nunca te esqueço
Em todos os meus instantes
Perdoa
Se te amo sem medidas
E não meço meus limites
Invadindo teus espaços
Perdoa
Enfim, meu desatino
Que por força do destino
Prendeu-se e perdeu-se (à) por você
(Nane-13/10/2014)E agora
E agora...O que faço com o que restouOs suspiros que me assaltam sem quererAs lágrimas que rolam pela face sem avisarO pensamento que foge até te encontrarA saudade que queima e teima em não passarE agora...o que faço com isso....Só o tempo vai me curar, eu seiMas e enquanto ele não passaO que faço com tudo issoQue parece querer me dizimar...Se até meu coração parece suspirarDescompassado em arritmiasParece querer falhar...parar...Mas ninguém morre de amorFoi o que eu sempre ouvi dizerMas e de tristeza....será que se pode morrer...E agora...O que faço com a falta que sinto de você(Nane - 08/01/2012)O 5º ato
Nuvens que passamFormas que formamImagens que veemOlhos que olhamO que não existeE no vento se desfazDanço na chuvaLavo a almaEncharco o corpoRodopio na ruaMe sinto nuaSorrio de mim mesmaE ouço a músicaErgo um casteloNa beira do marSabendo que a ondaO irá levarMas é tão lindoQue me deixo enfeitiçarE dentro dele sonharSou o resumo da óperaQue aplaudem sem entenderE que até dormemNo ato finalNo acorde mais altoDo barítono que cantaMas nem a todos encantaO vento espalhaA nuvem se desmanchaA areia vira um monteA cortina se fechaE eu...adormeço...(Elian-05/03/2012) ÁRVORE
Mascaro a brandura
Na casca dura que me reveste
Por não saber me entregar
Por não querer me estragar
Cada escolha é minha
E a consequência também
O sorriso represa a lágrima
Que afoga sonhos natimortos
Quando ousei sonhar
Vi o pesadelo tomar forma
Recolhi meus sonhos
E me vesti de casca
Feito árvore cascuda
Que pinga seiva na ferida
Fincada por sobre raízes
Assumo escolhas
O fruto nem sempre é bom
E a semente nem sempre frutifica
Árvore exposta aos raios
Que a tempestade trás
Mascaro a madeira de lei
No coração forjado à canivete
Na casca grosa de um tronco
Carapaça dos meus anseios
(Nane-23/03/2015)Nerd estina
Baiana de óculos
Olhar fixo em um ponto qualquer
Pensamentos fervilhando
Solução encontrada
A poesia é seu lazer
A cultura seu habitat
A beleza sua natureza
A precisão sua decisão
Baiana dos Orixás
E de todos os santos
De fé inabalada
No rosário da virgem
Baiana perfeita
Com todos os defeitos
Sou fã de carteirinha
Da nerd da Bahia
(Nane-27/10/2014)AMOR PERFEITO
Quero nosso amor assim
Exposto e esparramado
Gritado livremente
Aos quatro ventos
Quero mostrar ao mundo
O maior dos meus sentimentos
Sem ter que esconder
Teu nome de ninguém
Ah...e me pedes segredo
Não permites fotos
Torna-te invisível
Quimera minha
Foi só brincadeira
Da tua parte
Amor escondido
Desejos incontidos
Num mundo só nosso
Sem nenhum vestígio
Que por causa do meu querer
Desmoronou, acabou
Inventamos demais
Amamos demais
Cobrei demais
E você brincou demais
Não quero mais nada
Que não seja concreto
Firmado e cimentado
Na calmaria segura
(Nane - 17/06/20145)
*Arte de: Luis Videira
Viajantes
Tem tantas luzes lá fora
E no entanto me acostumei à penumbra
Elas (as luzes) me irritam os olhos
Cegam-me o olhar
O egoísmo me fez refém
Não me importo com nada e nem ninguém
Minhas lágrimas não se fundem com outras
E meu sorriso é contido...sumido
Acostumei-me com minha solidão
E as pessoas me incomodam
Houve um tempo em que as flores e os bichos me encantavam
Agora não mais...não mais
Não há mais espaço para lamentações
Não há lugar para expectativas
A praticidade virou meta
Pouco importa o que dizem (ou pensam)
A vida é bela sim
Mas não pra mim
Não gosto dela
E nem ela de mim
Nos suportamos como viajantes
Presas numa mesma poltrona
Aguardando o ponto para dar o sinal
No desembarque fatal
Lá fora tem um céu cheio de estrelas
No meu céu...só a escuridão da noite
Mas eu gosto da noite
Mas eu gosto da penumbra...
(Nane-23/10/2014)
Dá-me o teu amor
Dá-me o teu amor
Ainda que por meros instantes
Tão preciosos
Dá-me o teu amor
Não é ele só meu
Que importância tem isso
Se minhas entranhas te querem
Sem motivo algum
Nas noites em que não durmo
Seu nome e sua imagem
Desfilam em minha mente
Feito bálsamo relaxante
Dá-me o teu amor
Sem interesse algum
Sem toque nenhum
Apenas em teu olhar
Dá-me o teu amor
Para que eu não morra
Nada peço que não não dou
Só a quimera da ternura em teu olhar
Dá-me o teu amor
Tatuado em forma de flor
Na alma de minha vivência
Na prova final da minha dor
Dá-me por caridade o teu amor...
{Nane-12/10/2014
REFLETINDO
Se joga poetaEm teus versos simplesSem medo de semideusesLiteratosDeixa fluir teus sentimentosAinda que sem rimasMas tão dançantes nas palavrasExpondo tua vidaEscreve poetaSem preocupação nenhumaJá que a poesia está em tiSem nunca ter sido tuaE se te faltar inspiraçãoDeixa em branco a tua folhaPois refletes poesiaNa tua alma de poeta...(Nane-19/12/02014) Cansaço do nada
Bateu um cansaço
Que o corpo não justifica
Mas parece retorcer
Em todas as suas fibras
Suspiros profundos
Soluços indevidos
Olhares perdidos
Vontades esquecidas
Ecoou um silêncio
Rugiu um absolutismo
Um vazio tão oco
Nada mais importa
Um menino brinca numa poça de lama
Um sorriso furtivo no canto da boca
Um olhar perdido no espaço
Adentrando no portal do passado
Os olhos piscam marejados...cansados
Abruptamente separam-se as dimensões
O menino na lama se suja e molha
A realidade nua e crua volta à tona
Entre quatro paredes na noite fria
Uma TV não prende o raciocínio
O cansaço do nada persiste
A dor sem analgésico insiste
Suspiros profundos
Soluços indevidos
Olhares perdidos
Vontades...esquecidas
(Nane-17/11/2014)Num só instante
Um instante...Apenas um instanteTão pouco e tão muitoUm instante derradeiroOnde tudo aconteceNão passa de um instanteO instante derradeiroSe nasce e se morreSe ama e se odeiaEm apenas um instanteQue é tempo derradeiroDe tudo se fazer...
É só um instante
Para tudo transformar
Ou nada mudar
E tudo continuar
É um instante derradeiro
De falsos e verdadeiros...
Instantes vividos
Tempos perdidos
Amores esquecidos
Vontades vencidas
Sonhos desfeitos...
Instantes vividos
Tempos sonhados
Amores sacramentados
Vontades satisfeitas
Sonhos realizados...
(Elian-19/03/2012)O mergulho do sol
Juntei sonhos e planos Num horizonte planoOnde sua imagem eu enxergueiE tentei dela me aproximarSei que de alguma formaTe alcancei e te marqueiMas não foi o bastanteE seu horizonte ficou distanteDesenhei em nuvens douradasDo crepúsculo enfeitiçadoO seu nome emolduradoCom o ouro do sol poenteE caminhei por sobre o marNa esperança vã de te alcançarMas bastava eu me aproximarPara o seu horizonte se afastarEnfrentei ondas sobre ondasMergulhei no mar bravioRemei contra a maréAté a exaustãoFoi o seu nome bordadoEm nuvens emolduradasQue escrevi sem medo Na moldura que eu crieiEu queria te entregarJunto com o meu coraçãoO presente no instanteQue alcançasse o seu horizonte Mas não consegui chegarPor mais que eu remasseVi seu nome no horizonteJunto com o sol, no crepúsculo,se afogar...(Elian-22/03/2012)Reis e rainhas
Tantos meninos
Tantas meninas
Crianças inocentes
Num mundinho tão simples
Miram o mar
Brincam de navegar
Correm ao vento
Sem preconceitos
Contam estórias
De faz de conta
Acreditam nas fadas
Guardam os dentinhos
Pulam as estrelas
Sorriem com o sol
Apagam as luzes
Da lua cheia
Tão bom ser criança
Tão bom ter esperança
Acreditar no papai noel
Pensar que o limite é o céu
São reis e rainhas
Encantando seus súditos
Com artes e estrepolias
Tesouros dos pais, avós e tios
Tão simples a vida
De felicidade plena
Tão sábias crianças
Deliciosas lambanças...
(Nane-13/10/2014)
Três minutos de viagem
Embarquei na astronaveSem saber para onde irViajando pelo espaçoEm branco...em brancoNa cabeça só viagensSem mapas, sem portosEstrêlas sem brilhoPassaram por mimMe deixei levar assimNo infinito espacialEnvolvida no silêncioDo espaço sideralLá nada pode me atingirVou viajando sem saberPor onde hei de irSubindo sem destinoIndo pra lugar nenhumApenas seguindoSem saber se vou voltarEsquecendo de vocêE de mimApenas viajar...Quanto tempo vai levarPouco importaEu quero viajarSem destino de pousarA nave vai me levarE em algum lugar há de pousarE se por acaso se perderNa deriva do espaçoEu vou sobreviverEnquanto puder respirar(Elian-23/03/2012)UMA BREVE DESPEDIDA
Sorriu um sorriso maroto
Disse um até breve
E se foi...
Sabia que no dia seguinte
Era inevitável o reencontro
Seus olhos também sorriram
Num apertar acompanhado
Do alargar dos lábios
Como fazia todos os dias
Quando se despedia
Me acostumei tanto à cena
Que já nem mais aplaudia
Simplesmente devolvia o sorriso
No balançar da cabeça
Firmando um compromisso
Quando o sol surgiu na alvorada
Acordei com os trinados da passarada
E aguardei como todo dia
A sua chegada no quintal
Para o rotineiro bom dia
As nuvens esconderam o sol
E a chuva não tardou a cair
Pensei com meus 'botões'
Que o frio outonal era o culpado
Pelo atraso no seu chegar
O dia se arrastou fechado
Tristonho e melancólico
E sem me dizer o motivo
Ao nosso encontro faltou
Pela primeira vez
Eu, sem saber o que fazer
Pude perceber a importância
Na falta do seu bom dia
E da monótona rotina
Me vi conservadora
Já ao anoitecer veio a notícia
De que o seu sorriso se fechou
E o seu bom dia se calou
Seu até breve se fez longo
E o dia seguinte...aguarda
(Nane-02/04/2015)
TELHADO DE VIDRO
Chamam de mentira
A verdade inventada
E tão acreditada
Que foi vivida
E feita verdade
Mas tão cobrada e vingada
Por nascer mentira
Contorcida na metamorfose
De aparência horrenda
Que a transformou em verdade
E sobreviveu
Pelo tempo determinado
Na durabilidade
Da vingança ou piedade
Pelo ser que a pariu
Pouco importa a verdade
Vade retro Satanás
Posto que serás mentira
Enquanto viva for
E ao inferno não sucumbir
O fato é que morreu
Sem ser prematura
Ainda que verdade
Nasceu mentira
E morreu sem velório
A pedra atirada
Matou a verdade
Vingou a mentira
Da alma limpa
Que a lançou
Sem telhado de vidro
Nada quebrou
Apenas a verdade
Deixou de ser verdade
Por não mais interessar
(Nane-23/03/2015)
Grito do silêncio
Quando você vai entender
Que sem você não sei viver
Olha só um pouquinho pra mim
Não deixa eu acabar assim
Você fez de mim um turbilhão
Me colocou culpas nas costas
Me fez viver coisas que não sei explicar
Me ensinou a amar...e a me acabar
Hoje não valho o pão que como
Me perdi na estrada que tracei pra mim
E numa linha retilínea e sem fim
Consegui me perder de mim
E pensar que um dia
Sem nenhuma malícia
Era eu quem tinha as rédeas
E ditava as regras
Quando será que vai me perdoar
E esquecer todo esse mal
Te juro, pensei que te fazia bem
Te compensei apenas por te amar
Você me derrubou
Me fez te amar e te querer
Não sei se é só por teu prazer
Mas você sabe me fazer sofrer
Me deixa te deixar
Me deixa te esquecer
Não me deixa terminar
Insana...sem você
Isso é um S.O.S
Não faz assim comigo
Escuta meu grito silencioso
Antes que seja muito tarde
E então...me esqueça de verdade
(Nane-30/12/2011)
LAVA-DA ALMA
Lava-da alma
Não tenho a passividade dos que tem féNem a conformidade dos que creemNão tenho a aceitação dos que esperamO prêmio de consolaçãoPor vezes até tento ter
Mas fala alto meus instintos
Explosivos e repentinos
Que me fazem blasfemar (ou cobrar)
O que a vida fez de mim
Ou o que eu fiz da vida
São paralelas tão minhas
Tenho que encarar
No despertar de todo dia
As cobranças em brasas ditas
Queimando o leito facial
Feito lavas salgadas da alma
Que tantas dívidas a serem pagas
Por estranhas criaturas
Colocadas num mesmo espaço
Confinadas num abraço
O amor é latente
As brigas presentes
A morte indigente
Os corpos...pressentem
(Nane-11/12/2014)VIDA POST MORTEM
Terá valido a vidaSe depois de mimAlguém (quem quer que seja) recitarUma escrita minhaÉ sim, pura vaidade
E mais forte ainda, vontade
De ficar aqui
Depois da morte
Não preciso de um livro capa dura
Nem fazer parte de alguma academia
Só quero minha palavra ao vento
Sem repousar na sepultura
Não morrerei por um bom tempo
Enquanto um só leitor
Despejar na memória as palavras
Que um dia ousei rabiscar
(Nane-30/12/2014)Sulcos
Por entre as sementes que planto e cuido
Procuro raízes que penso fincar
Mas vem a seca e teima em matar
O fruto que pensei colher
Em meio à plantação
O mato cresce sem distinção
Abafando meus sonhos semeados
Na terra que arei com tanto cuidado
Os sulcos do solo
Se confundem com minhas rugas
Ambos criados sob o sol escaldante
E de péssimas aparências
Sou princípio do mesmo chão
Que aguarda mansamente por mim
E cava sulcos sem distinção
Em mim e no chão
Chão esse que há de me engolir
E para sempre me silenciar
E quem sabe, com sorte, fazer de mim
Adubo de minhas próprias sementes
(Nane-10/11/2014) Entrelinhas
O tempo todoDo meu amorE por falar assim
Talvez tente te ouvir
Também nas entrelinhas
Mas não sou poliglota
E você fala outro idioma
Que por mais que eu tente
Não consigo entender
Penso às vezes
Ser para mim
Mas quebro a cara
Nunca é
E quando é
Não gosto da tradução
Te falo nas entrelinhas
É verdade
Mas tão claro
Quanto um dia de sol
Tento ter o tal 'altruísmo'
Difícil demais
Não falo de morte
Mas de minha subjetividade
Morrendo em ti
Quando não mais me quiseres
Te falo da minha surrealidade
Que de tão intensa
E insana
Te faz achar
Que não é verdade
Não tenho ponto
Vírgula
Interrogação
Exclamação
A minha relação
Em relação a ti
Vive eternamente
De reticências...
E embora
Um tanto abstrato
O que de mais concreto
Pode existir
É o louco amor
Que trago no peito
Absorto e absurdo
Não sei ler suas entrelinhas
Mas nas minhas
Só seu nome
Está escrito
Até quando
Ou enquanto
Existir o amor
E eu...
(Nane* 02/2012)PASSAPORTE PARA A ETERNIDADE
Ah, se tivesses noção
Do estrago causado
Pela ausência tua
Virias à mim
Ah, se tivesses
A noção da dor
Que esmaga o peito
E escorre nos olhos
Ah, se sentisses
Um mínimo que fosse
Da saudade opressora
Que sufoca o ar
Ah, se pudesses
Me ver agora
Entenderias melhor
O que fizestes
Ah se entendesses
Do amor verdadeiro
Saberias que a morte
Não me mete medo
Ah, se tivesse sobrado
Só um pouco de verdade
Entenderias que a eternidade
Sou eu e é você...
(Nane-27/03/2015)
*Arte de: Luiz Eduardo Lomba RosaMASTURBAÇÃO
Brinda a alma à luxúria
Entorpecida num corpo
Hoje esquálido e envelhecido
Resistindo ao tempo que lhe cabe
Vibram cada um dos neurônios sob a pele
Desejosos do prazer do sexo
Feito a puta de aluguel subentendida
E revestida do véu da devotada
A velha enxerga no espelho embaçado
A fogosa mulher fatal de outros tempos
Goza dos desfrutes pecaminosos
Escondida em seu próprio disfarce
Pisca a vulva delirante sob o pano úmido
Como se penetrada fosse
Espasmos de um prazer alucinógeno
Contorcem os músculos já flácidos
A vergonha embriagante e melancólica
Faz do prazer, culpa pecaminosa
Transformando o orgasmo alcançado
Em mera e puta pieguice
(Nane-10/12/2014)
O Execrado
Sou eu quem passo e ninguém vê
Grito, mas não me ouvem
Se falo..., não escutam
Sou a sombra que o chão não reflete
Sou o projeto de borboleta
Que o casulo enforcou
Sou o ser que não vingou
Mas que todos veem a silhueta
Queria gritar e ser ouvido
Mas minha garganta estanca
De que me vale ser franco
Se minha verdade se dilapida
Estou em busca de uma vontade
De ir ou de ficar
Mas só consigo animosidade
E só faço me calar
Sou o projeto quase perfeito
Que alguém desenvolveu
Mas que ficou tempo demais no leito
Da gaveta e meu sentido se perdeu
Sou a asa que não voou
Sou a vela que se apagou
O perdão que não foi dado
A mentira mal contada
Sou apenas quem espera
Que o tempo passe em vão
A vontade que o dia acelera
Sou o ponto de exclamação
Sou aquilo que chamam execrado
O nada a ser aproveitado
A vontade de ir e de ficar
O sonho de viver e de amar
Eu sou o ponto final.
(Nane/Elian- 05/01/2010)CORAÇÃO PENSANTE
Dê ao seu coração
Para que ele tenha sobrevida
Um cérebro
Deixe que ele pense
E não haja por impulso
Feito menino mimado
Querendo o que não pode
Dê ao seu coração
A real dimensão
Do que lhe é permitido
E não o deixe decidir
Sem que esteja atrelado
À quem de fato sabe
O que é o certo e errado
Dê ao seu coração
A medida exata da sua liberdade
De escolher a quem amar
Pesando os prós e os contras
Das consequências vindouras
Por decisões tomadas
Sem o equilíbrio necessário
Dê ao seu coração
Se preciso for
A ordem de só amar
Quem também te ama
Para que ele não pereça
E tão pouco refugue
Num pulsar arrítmico
Dê ao seu coração
O diploma de formando
Na faculdade da vida
Que ensina que o amor
Nada mais é do que o costume
De ter alguém ao lado seu
Dê ao seu coração
A verdade, ainda que dolorida
De que o amor é uma ilusão
Momentos de paixão
E só o que conta é a verdade
Da paz criada na sinceridade
De um amor totalmente programado
(Nane-18/06/2015)
UMA PONTE PARA O HORIZONTE
O azul absurdo do céu de maio
Sem uma nuvem sequer
Numa efêmera abóbada ilusória
Feito um abstrato sentimento
Beleza sutil e admirável
Que a gente não se cansa de olhar
Em busca de uma (também ilusória) ponte
Que nos leve ao (inalcançável) horizonte
A claridade refletida no azul
Límpida, sem sombra nenhuma
Empresta ao dia uma plenitude
Digna dos contos de fadas
Corre o riacho mansamente
Sem pressa de chegar
Por saber que o mar
Está a lhe esperar
Gestam seus frutos que virão
Na certa estação, as árvores
Também sem pressa nenhuma
Por saberem que o tempo virá
Toda a efemeridade concreta
Faz da vida, poesia
Pronta a ser vivida
E lida assim, num simples dia
O azul absurdo do céu de maio
Se despede majestoso
Encantado e encantando
Feito um abstrato e tão concreto sentimento
(Nane - 29/05/2015)
Espelhos de mim
Me confundo em meus rabiscosNão sei se os escrevos ou se me descrevemA folha ainda em branco, vaziaFaz de mim mera expectativaDe um poema inesquecívelNascendo em palavras soltas ao ventoQue na folha vão preenchendoE na vida...dando sentido...Me faço rabisco de amorMe sinto menina em florMe vejo em folhas rebuscadasDe flores, mares, perfumes e magiasFaço de mim poesiaE decido então nas entrelinhasSe serei ou não um poema de alegria...No soluçar de meus anseiosDescrevo a dor e a saudadePonho nas palavras minhas verdadesE deixo espelhar minhas vontades Em versos simples e sem maldadesEm desejos quase sempre irrealizáveisMas que me permito imaginarE de ilusões, em meus poemas viver...(Elian-08/02/2012)SENTIDOS
Faço e desfaçoCaio e levantoNum mesmo instanteSem muito refletirProcuro em vão
Um porto seguro
Perdido nas sombras
Da névoa espessa
Vago na noite escura
Sem referência
De direção
Por opção
É tanta vida
Em cada sentido
Que duvido
Se vou morrer
A dor me consome
Mas é sentido
É vida também
Me faz reagir
A lua brilha
E eu vejo
Também é sentido
Me dizendo que é vida
A morte chega
Sem mais aviso
Trazendo a tristeza
Da vida que continua
São tantas perguntas
Tão poucas respostas
A vida é morte
E a morte é vida
Se o preto é branco
O certo é errado
Eu acordo e vivo
E se durmo...eu morro
Já não tenho pressa
Cansei de correr
Caminho sem me preocupar
Onde vou chegar
Lá fora venta frio
Aqui dentro faz calor
Sou eu e meu interior
Refazendo ( a todo instante ) meus sentidos
(Nane-24/12/2014)Numa nova estrada
Amor maior não houve
E sei, não haverá
Mas é tempo de seguir em frente
Mesmo sem ter você
A vida não permite parada
É uma pista de alta velocidade
Parar é sinônimo de acidente
Há que se ter postura de vencedor
Você será sempre a lembrança
Do melhor que o amor pode ser
Viverá eternamente em mi'alma
Enquanto ela (é imortal) existir
Mas agora tenho que seguir
Rumo a minha própria vida
Pelas curvas do meu destino
Na estrada que me foi destinada
Só saiba que eu vou te levar
Por onde quer que eu vá
Se nossas estradas (de novo) vão se cruzar
Só o tempo dirá
Mas vale o que ficou
Um amor assim não se acaba
Quem sabe se numa outra estrada
Caminharemos de braços dados
Por tudo isso acredito
Que amor maior não houve
Resta seguir em frente e aguardar
a hora de te reencontrar
(Nane-05/11/2014)Psiu
Entre bem devagarinho
Não faça barulho
A minha dor adormeceu
Não quero despertá-la
A saudade foi na esquina
Enquanto a alma repousa
O coração serenou
E ouço a chuva que cai
Pise bem de mansinho
Minha noite está tranquila
O amanhã...não sei
Faça silêncio, por favor
Minha dor adormeceu...
(Nane-06/11/2014)Deus e as muriçocas
Porque cada vez que eu tentoAlgo dá erradoDestrambelha tudoA vida perde o reioO cabresto enviezaO cavalo perde o rumoSente o arreio frouxoMe derruba da sela sem ferrolhoE trota livre sem direçãoRumo ao desconhecidoMe deixando assim, no chão...E vejo sonhos desfeitosObjetivos perdidosLutas vencidasLágrimas derramadasLuzes apagadasMúsicas emudecidasPoesias sem rimasTelas borradasDesejos contidosGritos caladosViagens interrompidas...E me pergunto a todo instanteO que é certo e o que é erradoSe persisto ou se paroSe acredito ou duvidoDas promessas de um caraBarbudo e onipotenteQue se diz protetor da genteE me testa o tempo inteiro...Ou sou o seu infernoOu estou no meu inferno Um dia, por mais distanteEu vou te encontrarE aí...vou te perguntarOlhando na sua caraPara-quê servem as muriçocas ?(Elian-26/03/2012)ALUCINAÇÃO
Cheira a morte o recinto
Num odor agridoce agradável
Seduz meu olfato já pouco apurado
Pelo vício da fumaça inalada
Embriaga meus sentidos já embriagados
Pela cevada gélida na garganta
Rompendo sinapses no corpo inteiro
Relegado ao estado entorpecido
As paredes borradas de cores
Confundem e atraem os meus olhos
Num redemoinho em espiral
Num mergulho perene...caindo
Paulatinamente figuras
Se formam na minha mente
Vou mais fundo na embriaguez
Quase num êxtase lacônico
Nada me é conhecido
Além do cheiro inebriante
Dançam espectros sombrios
Como num ritual fúnebre
A escuridão se confunde com a luz
Que cega do mesmo jeito
O estrondo ensurdecedor se faz
E o suor frio escorre molhando a cama
Por hoje acabou o mergulho
Os olhos esbugalhados revelam
Que o pesadelo não tem fim
Foi só mais um capítulo...
(Nane-28/03/2015)DESAFIANDO A PREGUIÇA
Da janela do meu quarto observo
O dia que passa marrento
E vejo o sol com preguiça
Por ser sol de outono
Lá fora, correm galinhas e patos
No terreiro mesclado pelo cimento
Onde descansam os cachorros e os gatos
Também preguiçosos
Me chamam as tarefas diárias
Mas a preguiça é contagiante
Nesse dia de sol indolente
Que parece estagnar a gente
Da janela do meu quarto observo
O quintal sem menino correndo
Ta tudo tão silencioso
Que parece natureza morta na tela
Vejo mato, cimento e ribeirão
E casas de vizinhos fechadas
Só a minha está aberta
Por preguiça minha de fechar
Deixa passar esse dia
Enquanto eu aceito o desafio
E vou fazendo poesia
Com preguiça e um assobio
(Nane-15/05/2015)
*Obra de Rui de PaulaO uivo do lobo
Para quem piscam as estrelas
Nas noites enluaradas
Senão para mim
Que vagueio noite adentro
E se tento dormir
O brilho delas, atrapalha
Insistem em ofuscar
Meus sonhos em devaneios
Piscam para quem como eu
Espera nesse lume misterioso
Com um quê de melancolia
Um pouco de poesia
Dizem que esse brilho
Nada mais é
Do que o olhar lacrimejante
De um amor não correspondido
Por isso o lobo solitário
Uiva nas noites enluaradas
Chamando sua amada
Sabendo que ela não responderá
Para quem piscam as estrelas
Senão para mim
Que me deixei seduzir
E me tornei loba....assim
(Nane-08/11/2014)
O QUE FICOU DE NÓS
O que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)
O que ficou na réstia
De mágoas e detritos
É restrito à mim
(Finito)
Vivemos de lirismo
Por um bom tempo
Sem deixar resíduos
(Destintos)
Apagada a lousa
Foi intensa a aula
E o aprendizado, perene
(Infindo)
Durou uma eternidade
Finita como tantas
Decantada em poesia
(E rimas)
O luar por testemunha
Calou-se nublado
Por nuvens escuras
(Escondido)
Mas o que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)
(Nane-17/03/2015)
O RABISCO DO UIRAPURU
Rabisco meu canto escrito
E não ouvido
Canto de lamento
Por muitos lido
Mas para ti...invisível
Canto de ave notívaga
Perdida na floresta densa
Escondida no dia claro
Por não poder cantar o dia
E por todos ser ouvida
Canto rabiscado de melancolia
Revestido de beleza
Que por ironia
Não se faz ser ouvido (lido)
Por quem deveria
O uirapuru esmorecido
Segue a sua sina de cantor
Enquanto eu rabisco a minha dor
Que em comum com a dele
Se perde numa mesma solidão
(Nane-17/03/2015)A DANÇA DAS PALAVRAS
Dançam na mente as palavras
Que fogem e se recusam enfileirar
Na poesia que eu queria escrever
E ao mundo, mostrar
Divertem-se comigo as palavras
Que mostram-me a poesia
Mas deixam claro que são delas (palavras)
A supremacia da autoria
Aí bate o cansaço
E me irrito na impotência
De não saber traduzir
A beleza da poesia escondida
Dançam a dança lírica
Enquanto eu apenas vivo
A poesia oculta
Em mim segredada
Isso faz do poeta
Refém de si mesmo
E das palavras, potentado
Do meu mundo não revelado
(Nane - 30/05/2015)
ACERTO DERRAMADO
O que fazer com a incerteza
Do certo e do errado
Quando o seu certo se derrama
E se mostra todo errado
Cavar na areia um buraco
E enfiar lá a cabeça
Deixando a respiração sufocada
Morrendo enterrada
Ou adormecer por longo tempo
E despertar no esquecimento
De um novo tempo
Sem ares ou ventos de lembranças
Deixar a cabeça na guilhotina
E decepar todas as decepções
Sem carrasco ou extrema-unção
Talvez seja a solução
Correr por uma longa estrada
Até cair exaurido
De cara no pó do chão
Destruído ou de tudo destituído
Enquanto não vem a resolução
A incerteza permanece
E o errado prevalece
Sobre o certo derramado
(Nane-05/05/2015)
APENAS UM LEGADO
Queria te deixar
De legado o meu amor
Que se mal me fez
Me mostrou o paraíso
Tal qual o príncipe hebreu
Não me foi dado o direito
Da terra que emana mel
Por todos os meus defeitos
Mas ainda assim
Queria te deixar
De legado o meu amor
Que é eterno e sem fim
Só uma coisa, mais que o meu amor
Eu queria te deixar
A certeza do desejo
Da felicidade plena
Meus olhos já não veem
Mas o coração ainda sente
E se eu soubesse rezar
Pediria para Deus te abençoar
Queria te deixar
De legado o meu amor
E agradecer o infinito
Nos momentos em que tive
Um pouquinho do teu amor
(Nane-08/06/2015)
LINDA ME GUIA
Linda, lá vem você
Me lembrar o que esqueci
Linda, no seus trejeitos
Lindos de baiana
No céu o seu sorriso
Ilumina a noite escura
Num eclipse iluminado
De um sol da meia noite
Linda mulher de inspiração
Tão cedo recolhida
De São Salvador
Pelas mãos do criador
Linda a presença que sinto
A me cobrar entre lembranças
Um rabisco nesta data
Que me acostumei a rabiscar
Linda sem nunca te ver
E tanto te admirar
Por ser mãe e amiga
Sem nunca parir
Linda no sonho de tanto brilho
Enfeitada por teus quereres
Miçangas e balangandãs
Terços e guias
Linda me guia
Nas minhas poesias
E onde quer que esteja
Linda...sorria
(Nane - 21/03/2015)POESIA SENTIDA
Adormece em mim
A poesia
Latente e em ebulição
Falando somente à mim
Palavras não ditas
Mas sentidas
Só minhas
E de mais ninguém
Prefácio de vida
Num sono entediante
De uma vida sem graça
A espera da vida além da vida
Ah poeta
Dê asas ao teu dom
E (d)escreva o amor
Sem jamais o viver
Sois feito Moisés
Eleito por Deus
Conduzas teus leitores ao amor
Mas na terra prometida, não entres
Deixa que teus sonhos se refaçam
Em cada nova poesia
E entenda que o azul da cor do mar
Não passa de mera razão para sonhar
(Nane-18/08/2015)
LOUCURAS
Onde está você?Senão dentro de mimEntranhado em minhas víscerasExposto no meu corpoFazendo parte de mim todaMe amando, me odiandoTão lindo e tão meuAmante e amigoLouco e desesperadoQuerido e idolatrado Amado e desejadoMe deixa te amarSem mais nada te pedirAmanhã na madrugadaMe afasto, vou emboraTe deixo adormecidoSem saber se sou realSe sonho ou pesadeloApenas imaginaçãoDe uma louca ilusão...
(Nane-25/05/2011)
FELIZ DE QUEM DEU MILHO AOS POMBOS
Afunde seu derrière no sofá macio
Ajeite suas costas na fofa almofada
Conecte-se com o mundo lá fora
Enquanto passa indolente a sua vida
Feliz de quem deu milho aos pombos
Posto que viram os pombos em bandos
E ouviram seu revoar ao saciarem a fome
E viram o poeta fazer disso, canção
Agora, tudo isso acontecendo
E você aí...afundado num sofá
Teclando no seu celular
Conectado ao mundo inteiro
Protestando contra o sistema
Dos coxinhas e dos truculentos
Entre foices e martelos
Sem sair do seu lugar
Feliz de quem deu milho aos pombos
E viu que eles são reais
Hoje você voa tão alto quanto eles
No seu mundo virtual
Grita bem alto em seu perfil
Esse seu jeito de herói varonil
Enquanto do seu lado o silêncio
Afasta todos os seus amigos
Afunde seu derrière no sofá macio
E deixa morrer de fome os pombos na praça
Enquanto os tiros dos canhões disparados
Atingem seu alvo real
(Nane-19/05/2015)
Mundo real
Poeta não menteInventaFaz da fantasiaA sua realidadeE da sua tristezaPoesiaPoeta é assimNão se conforma Com o fimE dá asas a imaginaçãoNa esperança vãDe abrandar seu coraçãoPoeta enfeitaCom palavras a vidaQue de tão vividaTorna-se feridaEm chagas visíveisPoeta é um grandeFazedor de novas vidas Inconformado com a realCria no seu mundo idealA sua felicidadeE ninguém pode dizerQue seu mundo é irrealPois poeta não menteInventa...(Elian-22/02/2012)DANÇA CONTURBADA
Toca Pearl Jam
Enquanto eu olho o céu
Danço
Conforme a música
Envolta no branco
Da folha vazia
A alma tatuada
Traz lavas cuspidas
E cinzas espalhadas
Tapando o sol
E o céu em mim
Enegrecido
O furacão no vulcão
Faz em mim insensatez
No amálgama entupido
Disposto a explodir
E mandar tudo às favas
Num surto desequilibrado
Toca Pearl Jam
Enquanto eu escuto
E danço
A dança destilada
Que evapora de mim
Enquanto eu me acalmo
O céu ainda está negro
O amor não é brinquedo
Tem estrelas lá em cima
Não no meu céu
Mas estão lá
E eu me recolho
(Nane- 26/03/2015)
Arte de Henrique Dias - 'Dança'Vislumbrando a eternidade
Decidi deixar na eternidadeO que é da eternidadeA vida é aqui e agoraE de viver aqui...é a horaDeixar que a aurora da eternidadeAmanheça na sua hora da verdadeImporta agora é seguir nesse jardimQue eu mesma plantei pra mimFluir a vida que eu tenhoAlimentar os sonhos que eu sonhoAmar os entes queridosE atravessar a caminhada sem reclamarA vida aqui é uma passagemEm que o tempo é mínimoDiante da eternidade que me esperaPara os reencontros planejadosOlho lá adiante o horizonteE vislumbro meu novo caminharDeixa a eternidade atrás dos montesÉ hora dessa vida aqui, tocar(Elian-04/02/2012)No meu abraço
Vem comigo...
Deita em meu colo a sua cabeça
Fecha os olhos e escuta a canção
Deixa voar o pensamento
Sonha com o que você quiser
Enquanto acaricio seus cabelos...
Estou aqui para te confortar
Sou sua amiga...sua irmã
E posso te afagar até amanhã...de manhã
Vem...vai passar essa agonia
Que tira dos seus olhos
O brilho intenso que inveja
A lua e as estrelas lá no céu...
Eu vou cuidar de ti
Senta aqui perto de mim
Deixa ficar lá fora
Tudo o que te incomoda
Não diga nada agora
O seu silêncio revelador
Tem meu regaço acolhedor...
Se aninhe em meus braços
Não diga nada
Apenas deposite nesse abraço
O seu cansaço...
(Nane)
O TEU ESPAÇO EM MIM
O encanto se desfez
A realidade foi ilusão
Não foi de verdade
Durou tão pouco
E esse vazio que ficou
Tão real em mim
Sem saber que também é parte
Daquela doce ilusão
O fechar dos teus olhos
Sorrindo para mim
Enquanto teus lábios maliciosos
Piscavam num canto qualquer (da boca)
Valeu cada segundo
Valeu toda a ilusão
Que fez de mim imensidão
Quando julgava já, finitude
Esse vazio que ficou
Tão cheio de lembranças
Vai comigo por onde eu for
Ocupando o teu espaço em mim
(Nane-30/05/2015)
*ARTE DE PAULO STOCKERSeus olhos
Seus olhos tão clarosTão límpidosTão expressivosTão frios, tão lindosSeu olhos que falamQue sabem dizerQue me fazem sofrerQue me dizem não mais quererSeus olhos são o espelhoDe tudo o que ésDe tudo o que dizSem a boca abrirSeus olhos são como o lumeQue se apagaram pra mimNão refletem mais o carinhoQue sentias por mimSeus olhos são flechasQue fincam no peitoFazendo sangrarAté meu coração dilacerarSeus olhos que antesSorriam pra mimMe dizem agoraFriamente que é o fimSeus olhos tão belosFecharam para mimA esperança da vidaMe deixando assimSeus olhos...Não me olham mais(Nane-26/12/2011)POETA EM CHAMAS
Pouco me importa a exposiçãoMostro sem reservas minhas víscerasSangrentas, apodrecidas ou à mostrasProntas para fotografarem minhas feiçõesAo inferno os pudores
Dos que passam maquiagem
São meras imagens bonitas
Nas fotos para a posteridade
Meus fantasmas e minhas rugas
Caminham em minha face
Fazendo dela, morada
Esculpida e escarrada
Sou branda, e sem espartilho
Respiro sem pressão
Mas se me tiram o ar
Explodem todas as minhas vísceras
Quanto mais eu 'causo'
Melhor me sinto
Quanto mais entendem
Mais vomito
Tenho as unhas dos pés encravadas
E quando pisam nelas...esparramo
Doem dentro dos sapatos
Resta-me rugir...feito fera (ferida)
(Nane-23/12/2014)
*Imagem e título gentilmente cedido(?) pelo
meu amigo querido Antenor Emerich.PROFANANDO O RITUAL
Rompeu a sementeNum ritual quase profanoDo germinar em folhasDas fezes da cotovia
Chamada à ser florRecusou-se, não quisVirou mulher rainhaDa noite e do dia
Trouxe consigo a tristezaDa flor sem desabroxarDa árvore tombada precocementeDo tudo que não se entende
Na sua mudezSoube tudo dizerE buscou incansavelmenteO que não há
Dama da noiteRainha do diaNa Flor MulherSobressai na tela...a poesia
(Nane-16/04/2015)
* Rainha da Noite e do Dia
O Ritual da Flor que não abriu porque não quis...
A minha tristeza é uma flor morta, uma árvore tombada...
Um sei dizer, ainda muda, o que não se entende,
um buscar o que não há...
(Teresa Prado)
UMA TRISTE POESIA
Chora mãe
Todas as suas dores
Enquanto eu
Na minha frieza
Tento não escutar
Xaropes e unguentos
De nada mais adiantam
E seu Deus todo poderoso
Parece não te escutar
Mas não precisa se preocupar
Chora mãe
Todas as suas dores
Misturadas com as minhas
Que por centésimos de segundos
Você percebe, e esquece
Chora mãe
Todas as suas dores
Sem cura ou anestesia
Enquanto eu faço poesia
Das nossas lágrimas escondidas
Chora mãe
Por mim e por ti
E deixa guardado lá no passado
O tempo dos carinhos correspondidos
Sem tantas mágoas e tristezas
Chora mãe
Todas as suas dores
E todos os seus lamentos
Nas madrugadas insones
Para mim e para você
Chora mãe
Todas as suas dores
Posto que as minhas
Eu choro nas palavras
E faço delas (tristes) poesias
(Nane-19/04/2015)
NARCÓTICO
A saudade aperta
Sem dizer de quem
Talvez de mim mesma
Em outra época
Quando eu era mais eu
Sem nenhuma dependência
Dos vícios adquiridos
O fumo e a bebida
Matando aos poucos
Mas nada comparado
À pressa de morrer
Pela falta de você
Amor unilateral
Jogado no despenhadeiro
Subjugado e escravizado
Restrito a imaginação
Que faz pulsar ainda o coração
Friamente executado
Crack na alma alojada
Impulsionando o pouco da vida
Num bem de um mal constante
Na eterna espera da hora
Em que se fará presente
O maior de todos os meus vícios
O tom de cinza nos dias
De tantas cores alheias
Fogem ao meu sentido visor
Lavado e levado nas águas
Que escorrem na surdina
Do meu delírium tremens
(Nane - 01/04/2015)
Dentro de nós
Entre erros e acertosA gente se completouE de certa formaViveu um grande amorAgora é passadoSe não fui perfeiçãoVocê também não foi soluçãoGuarde de mim o melhorQue eu também levarei o seuE esqueçamos o piorDeixemos o passado adormecerVou levar você na mentePor onde quer que eu váMas é preciso te fazer adormecerDentro de mimPara que em outras bocasEu não beije a suaPara que em outros corposEu não ame o seuEntão vou te fazer adormecerDentro de mimVou levar o seu melhorE quando eu tiver que partirMe guarde na lembrançaPois mesmo adormecidaViverei dentro de ti(Elian-23/03/2012)De volta ao passado (Reedição)
Enquanto escrevo observoO olhar de minha mãeAntes brilhantesE por vezes fulminantesMas sempre ternosAcompanhando estrepoliasda sua filharada...Agora ela apenas olhaUm programa na tvSeu olhar parece cansadoSeu brilho de outroraTransformou-se em cataratasEla já não enxerga quase nadaApenas olha...e nem sempre vêEm seus olhos anuviadosUma história de bravuraSe esconde e adormeceEla viaja em seu passadoE o olhar perdidopor instantes, Reluz no seu verde esfuzianteUma lágrima teimosa apareceEla a seca com seu lençoVolta a olhar a tv ligadaVolta a olhar e a não ver...
Nane
(06/02/2010)
Eterno amor
Amor, estranho amorQue me faz sentir o seu olharNos olhos de outro alguémA me observarAmor que não se manifestaFinge me ignorarE eu finjo não perceberQue também estás a sofrerAmor que não é pra mimMas que me ama mesmo assimE mesmo sabendo que no fimSó nos restará os acordes de um bandolim Amor que eu vou pra sempre amarAinda que não possa nunca te tocarPor outros braços me deixarei abraçarMas é contigo que eu sempre vou estarAmor, eterno amorChama, vontade e dorViverei sonhando com o seu saborAguardando eternamente sentir o seu calorAmor...eterno amor...(Elian-26/01/2012) Fatos&fotos
As vezes as fotos são fatos de fatoAs vezes os fatos são fotos sem fatoE nesse vai e vem se misturam coisasNuma efemeridade de fatosQue fotos não provam os fatosNem fatos posam para as fotosA subjetividade dos fatosTambém faz as fotos efêmerasJá que a verdade de hojeSe torna fugaz amanhãE deixa de ser verdadeSem nunca ter sido mentiraApenas fotos efêmerasDe fatos que nunca foram de fatoMontagens que a vida se encarregaDe fazer e desfazer, de unir e separarNa subjetividade efêmeraDe fatos e de fotos De fotos e de fatosSem fatos de fatoMontagens grosseirasQue a vida interligaE rasga a foto no meioColocando de fatoCada um no seu lugarSão fotos sem fatoVerdades sem mentirasFotos sem fato...(Elian-31/03/2012)INTERCESSÃO DE MARIA
Tão lentamente
Devagar...é verdade
Mas saindo
Indo embora
Verdade seja dita
Eu nunca estive em ti
E você tão forte em mim
Agora, lentamente se vai
Uma perda
E toda perda dói
Mas você, enfim se vai
Saindo, devagar, de mim
Aplacou a ansiedade
Só por, enfim eu aceitar
Que você está indo embora
E isso é preciso
Já não te procuro mais
E mesmo ainda tendo a primazia
Do primeiro e o último dos meus pensamentos
Já não o domina o tempo inteiro
Nas contas contadas nos dedos
Insisto no pedido da reza
E ela, cansada de tanto me escutar
Parece, resolveu me atender
Não é ladainha
É teimosia
E o melhor pra mim
É te deixar sair de mim
Bem devagar
Mas firme em meu propósito
Vou me despedindo de você
Transformando em carinho o que ficou
(Nane-29/26/2015)
*Arte de: Cimara CláudiaSORVENDO POESIAS EM NOITE DE LUA CHEIA
Um chopp num bar
À meia luz na Lapa
Onde fervilham gente
Que vem e vai
De encontro a outras
Tão ou mais perdidas
Num mesmo espaço
Observo absorta
A poesia diluída
No copo espumado
O que pensam e o que querem
Os notívagos da boemia
Que escondem nos semblantes
Que os sorrisos estampam
Histórias e tristezas
De amores que os transformaram
Em solitários caçadores
De afagos e ternuras
E de um sexo em desafogo
Homens e mulheres
Se encontrando em desencontros
Se encantando em desencantos
Se atracando sem atracas
Despidos de compromissos
Em noite de lua cheia
Feito vampiros de aconchego
Depois do entorpecimento
Pelo líquido etílico
Dos sentidos verdadeiros
Tão absorta estou
Que não percebo a presença
De quem me observa
E me oferece mais um chopp
Aceito, brindamos e conversamos
Estampo um sorriso camuflado
Sorvo em goles a poesia
Notívagos veem e vão
De mãos dadas caminhamos
Pela madrugada de lua cheia
Buscando o desafogo
Do nosso desassossego...
(Nane-09/04/2015)
EXAUSTÃO
Sem pudor me entrego
Ao deleite nos teus braços
Gozando a cada um dos teus afagos
Perdida em nossos tremores
Entre gemidos e uivos
Feito animais no cio
Despudorados e acelerados
Sufocados de prazer
Provo o néctar dos deuses
Na tua boca provocante
Que entreaberta mordisca
Meus seios intumescidos
Entre nossas quatro paredes
Somos assumidos depravados
Desbravando todos os poros
Suados e arrepiados
Nossos pelos eriçados
Nossos flancos encaixados
Nossos sexos incendiados
Nossos sons desconexados
Desmaiamos de prazer
Sem mais forças para o amor
É preciso adormecer
É preciso descansar...
(Nane-23/04/2015)
Uma cena do passado
A cena na infância longínqua está gravada na memória...minha mãe cuidando de seu jardim, entre rosas e margaridas, palmas e hortências...eu sentada no alpendre da varanda, entre bonecas e livros, que ela mesma me ensinou à lê-los. A conversa girando sobre o futuro que viria...o que seria de mim...o que seria eu...Por ela, como quase todas as mães, médica de branco, doutora Elian! Mas eu, já de pequena, sonhava escrever e contar histórias...dizia pelos quatro ventos que seria escritora. Como as mulheres que escreviam os livros que eu lia. Lia os homens também, mas naqueles tempos de tantas desigualdades, eu já admirava as mulheres escritoras, embora tenha sido um escritor quem marcou a minha iniciação nas leituras. O primeiro livro que li foi 'O meu pé de laranja lima' de José Mauro de Vasconcelos. E foi aí que me encantei com a literatura. Minha mãe contava as histórias de Monteiro Lobato para nós (a sua filharada), mas na época não tínhamos livros disponíveis, e ouvíamos a sua narrativa imaginando as cenas. Naquele dia, em que ela cuidava do seu jardim, tão admirado pela vizinhança, minha mãe me dizia que quando ela envelhecesse, seria colocada num asilo. Ela dizia que esse era o destino dos pais. Que era comum isso, já que os filhos certamente teriam seus compromissos profissionais e familiares, e ela estava preparada para isso. Eu a olhava admirada e retrucava: ...Jamais mãe! Eu nunca vou deixar que você vá para um asilo. Vou cuidar da senhora enquanto a senhora viver mãe. Ela apenas sorria um sorriso de quem não acreditava...e continuava plantando suas flores. Hoje é o futuro...minha mãe está aqui, comigo...envelhecida, frágil, deficiente...estou cumprindo minha promessa daquele dia...tão distante. Eu não virei uma médica, mas vesti o branco da enfermagem. Também não me transformei numa escritora, mas virei rabiscadora...e o futuro daquele tempo... é o meu presente de hoje.(Elian-17/03/20112)O PALHACINHO FREDERICO
Era uma vez um meninoQue adorava os palhaçosLá da televisãoTinha tanto medo o meninoDos palhaços de verdadeQue preferia observá-losDe longe...bem de longePensava mesmo que eles tinhamAquelas caras pintadasDia e noite, noite e diaMas ainda assim gostava deles...Veio o dia então
Que o menino percebeu
Que o palhaço era homem
E medo não precisava ter
Palhaço agora, ele queria ser...
A vó, que palhaça também era
Pintou sua carinha
E o menino no espelho
Se viu como um lindo palhacinho!
Tão feliz ele ficou
Que não quis tirar a máscara
Os flashs pipocaram
E para todos ele posou
Com um sorriso de felicidade
Do palhaço Frederico...
Adormeceu o palhacinho
E sonhou com as palhaçadas
Acordou de cara limpa
Contando pra todo mundo
Que fora palhaço por um dia
E que isso, por certo virou poesia.
(Nane/11/05/2015)DÉJÁ VU
É normal
Eu te amar
Feito anormal
Que ama sem sentido
É normal te amar
Feito quem ama
Como animal irracional
E abana o rabo
E teu rosto esculpido
Nos poros da minha pele
Sorrindo e rindo
Do meu rosto enfadado
É normal teu escárnio
Ao meu amor supremo
Jogado fora
Na soberba da tua certeza
É normal tua indiferença
Ao caos da minha sobrevivência
Diante da felicidade
Dos amantes que te invade
É normal tua risada
Escancarada ecoando
Debochando de um sentimento
Incompreensível e não sentido
É normal não entender
O déjá vu vivido
E tomara, não perdido
Em mim... ou em você
(Nane-12/07/2015)
MARIA NA FRENTE
Passa na frente Mãe Celestial
E toma para Vós a minha dor
E torna minha a vossa fé
No aplacar da saudade maior
Embale em vosso manto
A esperança no meu pranto
E toma a minha mão
Guiando os meus passos
Divida comigo a vossa força
Na aflição dolorida da separação
Do tão amado ser
Por algum motivo, levado
Seque, com vossos ósculos
As lágrimas teimosas que rolam
Quando chora o coração
Nos momentos de aflição
Passa na frente Mãe Celestial
E abra todos os caminhos
Para que eu sinta (com certeza) a segurança
Do meu filho em Vosso regaço
E que eu faça de minhas lágrimas
Gotas de luz sob o brilho do sol
Num arco-íris colorindo
O sorriso do meu menino
(Onde quer que ele esteja)
*Para alguém muito especial.
(Nane-17/04/2015)
MEU ACONCHEGO
É no seu corpo que eu viajoE me perco nos seus braçosOnde me sinto seguraDominante e dominadaSou mulher, sou meninaEterna apaixonadaÉ no seu corpo que me realizoExtasiada de prazerE adormeço enternecidaPor seus braços protegidaE no carinho das suas mãosDesperto em meio a emoçãoDe te ter ao lado meuDe me sentir inteira suaÉ no seu corpo que eu me revigoroE me torno sua amanteNo clímax de um encaixe perfeitoQue me prende no seu peitoOnde escuto descompassado seu coraçãoPulsar como numa explosãoDe amor...de puro prazerÉ no seu corpo que tremoMe avolumo e me achoMe completo e me desfaçoE só termino quando durmoNo abraço dos seus braços
(Nane- 10/05/2011)
O SILÊNCIO DE UMA SAUDADE
Quase uma criançaNum remoto anoitecer
Feito uma bomba atômica
Você partiu...
Eu nunca havia experimentado
A estranha sensação
De ver alguém sair
Da minha vida assim
A dor foi amortecida
Pelo conformismo do tempo
Que se não causou o esquecimento
Aplacou o desespero
As lembranças ainda permitem
O desenho na retina
Na sua face juvenil
Do seu sorriso sem graça
A voz se apagou da (minha) memória
Restaram algumas palavras
Sem o timbre usado
Guardadas na saudade
Não me furto a imaginar
Como seria hoje
Te olhar face a face
Envelhecido
Décadas se passaram
Você foi o primeiro
Veio um segundo
Veio um terceiro
Não sei onde está
Mas saiba que está aqui
Onde bate meu coração
E ainda, por você, chama
(Nane-18/03/2014)
POESIA ATEMPORAL
Escrevo de um tempo
Sem mais tempo
Quando todo o nosso tempo
Era o tempo de nós dois
Busco um tempo
No tempo que tenho
O tempo ido
Por tanto tempo perdido
Já não tenho o tempo
Que tive em outro tempo
Quando o tempo de bonança
Fazia poesia do tempo
É tempo do adeus
Ao tempo do amor
E sem ele não vale o tempo
Dessa vida sem tempo
Nesse espaço de tempo
Meu tempo tem muito espaço
Para relembrar do tempo
Que o tempo apagou
E o seu tempo se espalhou
No vento que o tempo trouxe
Meu tempo se perdeu
E no tempo...parou
(Nane-04/05/2015)Sou eu assim
Se dia ou noiteSe frio ou calorSe grande ou pequenaSe muito ou poucoSou eu assimDubiamente dúbiaSem nunca me esconderDa minha dualidadeSe bela ou se feraSe brisa ou furacãoSe sol ou se luaSe vestida ou se nuaSou eu no meu estiloVoltando ao meu encontroQue por algum motivoMe perdi de mimSe triste ou se felizSe insana ou serenaSe feia ou bonitaSe leiga ou doutoraSou eu em meus delíriosDevaneios sem os quais não vivoRabiscando minhas dúvidasNas certezas que eu crioSe anjo ou demônioSe preta ou se brancaSe louca ou se mansaSe boa ou se máSou eu em meus caminhosDe flores e espinhosEm busca de mim mesmaPela estrada que traceiSe perto ou se longeSe real ou virtualSe tanto e tão poucoSe é ou se não éSou eu em meus anseiosVivendo a minha vidaDúbia, mas não perdidaNa minha própria dualidade(Nane-04/01/2012)Expectativas
Deitei sem vontade de dormir
Mas o sono chegou sem avisar
E quando dei por mim
O sonho me embalou
Atravessei o arco-íris
Em busca do El Dourado
Onde o que contava
Era a tal felicidade
Potes e potes de ouro apareceram
Mas não os quis
Procurei em vão no meu devaneio
Pelo valor dos meus anseios
O ouro de tolo jorrou
No sonho que não sonhei
Tentei fugir da minha realidade
Mas sonhei que estava acordada
Todas as minhas expectativas
Deixei no sonho que não sonhei
Tentei fugir do mundo
Mas a vida continua...
(Nane-07/11/2014)
Onde está
Onde está a sua mão
Que me acostumei a segurar
Nas horas de aflição
Onde está seu ombro
Que me servia de conforto
Quando eu me apavorava
Não sinto mais o calor do seu abraço
Nem vejo a luz do seu olhar
Por onde você está
Onde está você
Que esteve ao meu lado
Por todo esse tempo
Quando mais precisei da sua mão
Quando mais precisei do seu ombro
Quando mais precisei do seu abraço
Quando mais precisei da sua luz
Quando mais precisei de você
Me sinto só...
(Nane-05/11/2014)
Poesia perdida
Ah poesia...Onde foi que eu te perdi?Já não consigo rabiscarCom prazer, com alegria...Ah minha poesia...Não passas de um amontoadoDe palavras sem rimasQue nada querem mais dizerVou rabiscando só por rabiscarMas não encontro mais prazerNas rimas que não sei fazerCom as palavras do verbo amarOlha quantas coisas vãsInúteis e vaziasNão são coisas de mente sãFalta na poesia, a alegriaVou seguindo rabiscandoSimplesmente por ser hábitoMas a magia está se acabandoSão rabiscos quase metálicosMe surpreenda poesiaE traga-me de volta por companhiaA vontade e a magiaDe rabiscar com alegriaOu talvez, quem sabeMe faça de tudo esquecerFaça com que não tenha mais vontadeDe fingir que estou a escrever(Nane-26/12/2011)QUE TEUS OLHOS POSSAM VER
Olha teus olhos a pureza
Despida da maldade
Qual a veste da tua alma
Senão teu nu exposto
Fez Deus a criatura
Sem nada a acobertar
Olha teus olhos a pureza
Despida da hipocrisia
O nu é tua essência
Gritando liberdade
Vomita tua perfídia
Expõe tuas vergonhas
Olha teus olhos a pureza
Do teu próprio ser
Quem sabe se depois de te conhecer
Entenderás o que é ser nu
Dispa-te da ignorância
Inunda-te da arte
Olha teus olhos a pureza
Do nu na beleza da poesia...
(Nane-24/04/2015)
VELHAS CRIANÇAS RANZINZAS
O grande Criador ordenou:
Honrarás teu pai e tua mãe
Seja como for
Honrarás teus progenitores
Velhas crianças ranzinzas
Teimosas e sem medidas
Por saberem que são pais
Dos pais virados agora
Ah, por vezes falta a paciência
Mas fala mais alto o sangue
E ruge a 'mãe' da mãe por sua cria
De outras estratosferas
Sobe a ira ao ver na TV
Maus-tratos de filhos ou de terceiros
Que fazem com a criança velha
Indefesa e sem esperança
O físico e o psicológico
Já tão penalizado
Pelo tempo e pela estrada
Estampado no olhar anuviado
A tristeza contida
No corpo limitado
Aguarda com dignidade
A liberdade da alma
O grande Criador ordenou:
Honrarás teu pai e tua mãe
E um filho da puta (que também é mãe) qualquer
Ignora e não cumpre
(Nane-15/05/2015)
*Arte de Ivan GomesNoite de lua cheia
Porque tanta dor assimPorque esse vazio em mimEu tento mudar tudoMas a lua vem me atiçarOlho para ela lá foraEstá linda à brilhar...As estrelas dançam ao seu redorUm halo clareia o azul à sua voltaPorque você não veio até à mim...A noite está quenteEu sem sonoEscuto as músicas que falam de vocêSão lamentos...sou eu a te falarDa falta que você me fazHoje a noite me tirou para dançarEm meio a multidãoDe estrelas piscantes em volta da luaEu olho lá atrás...e não te vejoOnde está você em meio a multidão...Já não falo mais com a luaJá não caminho a beira-marDeixa como está...Tudo isso vai passarA vida há de me ensinarTudo isso vai passar
(Elian-08/02/2012)
DIVISÃO
Destoo de mim
Do que fui
E não mais sou
Faço e refaço
Os caminhos traçados
Em busca de mim
Em que esquina da vida
Me repliquei
E não me achei
O espelho me diz
É você mesma
Envelhecida
A razão me dita
As regras a serem seguidas
Ainda que em mão única
O coração embriagado
Destoa da razão
Batendo descompassado
Em que esquina da vida
Peregrina o meu outro eu
Nômade
Errante da vida
Dividida em duas
A certa e a errada
Destoada e perdida
Cética e tao crente
Refletida num espelho...quebrado
(Nane-16/03/2015)
Papel em branco
Se tu não vens
Por que insistir
E persistir
Choram meus versos
Por não poderem
Rimar o amor
Poeta sem inspiração
É feito sangue sem coração
Estático à podridão
Deixar de escrever
Não consigo
Escrevo saudades
Triste a sina
De poeta ferido
Na alma
Se tu não vens
Escrevo o vazio
Do papel em branco
(Nane - 02/02/2014)
O DIA DO AMOR
Hoje é dia do amor
Como se o amor
Tivesse um dia só
Parva mania de 'dias'
Que tem a humanidade
Em honra à negociata
Frágeis amores
Que precisam desse dia
Para se imporem
Sábios animais
Que amam sem apego
Por saberem amar
Tolos dos homens
Que sofrem por amor
Que nunca faz sofrer
Tolos os filósofos
Que ditam teorias
E se matam em suas práticas
Tola a autora
Que finge ao escrever
O que não sabe viver
(Nane-25/04/2015)SONHO E PESADELO
As vezes bate um cansaço
Tão grande e desanimador
As vezes bate a frustração
É quando o sonho se faz pesadelo...
No hospital o enfisema ameaça
O amigo escapa por pouco
O cigarro está proibido
Se comigo, melhor fosse morrer
Cinco décadas passadas
Outra metade vivida
Olhar para frente de cabresto
Seguir o ruflar do tambor
Cobranças de tantas dívidas
Impotência no pagar
A glote fechando acordada
O ar mergulhando num mar sem o²
Orações e rezas em vão
A prece desviada no espaço
O espaço tão finito e apertado
A morte na fumaça do cigarro
Correria em debandada
Vida sem sentido
Servindo sem servir
Para o que há de vir
O cansaço resfria
Todos os sentidos
Santo nenhum ajuda
Pro diabo meus medos
(Nane-17/04/2015)
*Arte de Egas Francisco
O autista
Meu olhar vagueia
E incomoda
Me julgam alheio
Não sabem do meu mundo
Onde sou rei
Me acham diferente
E não percebem
O quanto diferem de mim
E são estranhos (pra mim)
Preocupam-se com outras vidas
Falam de outras pessoas
Escondem sentimentos
Ensinam o que não fazem
E mesmo assim...me julgam diferente
Ser normal para eles
É fazer o que fazem
E ordena a sociedade
Ser normal para mim
É fazer o que eu quero
E quando eu quero
Sentem pena de mim
Por me acharem diferente
Mas o que não sabem
É que eu, na minha indiferença
Sinto pena deles todos
(Nane-06/11/2014)EFÊMERA EXISTÊNCIA
E essa estranha sensação
De que você é só uma lembrança
Uma miragem, imaginação
E na realidade, nunca existiu
É tão grande a saudade
Que parece mais o oásis
Em meio ao deserto escaldante
Intocável, impossível
O som da tua voz
Ainda tão intacta em meus ouvidos
Talvez nada mais seja
Do que o vento sibilando
E toda a nossa história
Gravada no passado
Já parece o conto de um livro
Fechado e terminado
O toque das tuas mãos
Já não sentidas pelas minhas
Restando só um calor perdido
E tão pouco aproveitado
A vida é tão sem sentido
Que só o que conta é o próprio sentido
Que a gente quase nunca percebe
O tempo certo de sentir
Então chega o grand finale
E o concreto se desfaz
Subjetivamente fazendo desabrochar
O efêmero (in)existente
(Nane-03/06/2015)
Incertas certezas
Quisera eu ser leiga
Na fé que me foge
E por isso, não me conforta
Quisera poder crer cegamente
E ter uma mão forte a segurar a minha
Nos momentos de aflição
Quisera mandar às favas minhas certezas
E me embalar nas promessas vindouras
Do todo poderoso
Quisera enfim, piamente acreditar
Nos milagres sacrossantos
E minhas lágrimas secar
Ceticismo não mora em mim
Mas a fé cega também não
E pago caro por isso
Refugio minhas dores
Nos braços do Altíssimo
Sem contar com os milagres
Espero além daqui
As respostas desencontradas
Dessa vida embaralhada
Que seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
E dai-nos a sapiência de aceitá-la
(Nane-11/11/2014)
MULHER DE CARGA
Mulher culpadaDa culpa de terA marca na almaDe ser mulherCarrega seu fardo
No corpo nu
Em plenas avenidas
Do país que te oprime
Mulher de cargas
Pesadas e à mostras
Para quem tem olhos
De ver e entender
Mulher coragem
De expor seu corpo
Aos olhares curiosos
Que quase sempre não veem
Mulher bonita
Em todas as suas formas
De alma livre
No corpo atada
Mulher de carga
Altamente explícita
Na força explosiva
Da sua ARTE
(Nane- 11/05/2015)
*Foto de: Bárbara Avelino
SONHANDO ACORDADA
Seu olhar quase sempre alheioao tempo, parece tristonho.A memória, do agora poucolembra, e no entanto é tão pródiga do passado.A vida parece ter ficado
guardada num cantinho
onde só ela vê...e (re)vive.
O esquecimento tornou-se escudo
protegendo-a das amarguras,
das dores e decepções.
Ela sonha acordada
e adormece para a vida.
Resigna-se com seu destino
enclausurada em seu aleijão.
Mantida na horizontal o tempo
(quase) inteiro, faz do quarto
seu mundo imenso.
Quando flagro uma lágrima acocorada
no fundo dos olhos encovados, diz
na maior displicência ser o 'soro'
jogado para refrescá-los.
Já há muito não anda.
Vocifera quando fala.
Se entristece quando falam.
Abnegação e paciência, há muito
a deixaram. Forças para lutar, não
mais as tem. Melhor adormecer
enquanto a vida não se extingue
e continuar sonhando (solitária)
acordada.
(Nane-30/12/2014)
MENINO TRAVESSO
Com sentimentos não se brinca
Nem tão pouco se manipula
O destino é o senhor
E Cupido só um menino
Brincalhão e sem escrúpulos
Flecha corações à revelia
De um que ama o outro
E do outro que ama algum
Faz salada de sentimentos
E se diverte com a confusão
Causa dores aos corações
Deixando marcas nos espíritos
Em seu caminho um rastro de desilusão
Costuma adoecer de tristeza
Quem antes sabia sorrir
Sem mágoas e nem paixões
Cupido é narcótico
Viciante e fatal
Faz vibrar e delirar
Para depois, sem dó, matar
Não adianta aconselhar
A vítima fascinada
Mas se você puder
Não se deixe acertar
Com sentimentos não se brinca
Nem tão pouco se manipula
O destino é o senhor
E Cupido só um menino
(Nane-05/05/2015)
VINGANÇA ARTICULADA
Que pretensão a minhaAcreditar no amorFruto de uma mentiraSemente de uma verdadeQue ingenuidade a minha
Não perceber que a vingança
Se camuflou de sentimento
E mais do que a mentira, enganou
Que fragilidade a minha
Ao me deixar envolver
No visgo pernicioso
Que sufoca e faz doer
Que tristeza a minha
Não conseguir me desvencilhar
Não deixar de amar
Quem de mim só quis zombar
Que loucura a minha
Desse jeito me entregar
E ver passar a vida
Sem conseguir nada mudar
Que vingança a sua
Pensada, pausada e articulada
Com toda a maestria
De um mestre vingador
Que triunfo o seu
Que no mais vil dos sentimentos
Conseguiu matar em mim
A vontade de viver
(Nane-25/05/2015)
*ARTE DE: ISABEL PADRÃO
TÍTULO; A VINGANÇA SERVE-SE FRIA - 2011
DIEGO FREDERICO
E num dia (noite) sete
Num mês de maio
Três anos atrás
Cercado de ansiedades
Dos pais, avós e tios
Chegou o menino...
E sem pedir licença
Invadiu corações
Tomou posse da gente
Assumiu o seu trono
Virou rei menino
Coroado de alegrias
Fez do quintal
O seu reinado
Onde em dia de sol
Brinca sob a chuva
Se sujando na lama
Planta e colhe
Brincando e contando estórias
Nas suas reinações
De menino real
Correndo pelo quintal
Marrento menino
Que anda de skate
E faz manobras radicais
Ralando os joelhos
E roxeando a bundinha
Mas sem nunca desistir
Da manobra completar
Hoje é o teu dia
E eu te deixo de presente
A minha poesia
Para quando você for homem
Morrer de vergonha
Da vó que te escrevia
Meu pequeno parceiro
De jogos e brincadeiras
De vida e da eternidade
Vovó te abraça
E deseja de coração
Toda e a mais completa felicidade
♪♪ Parabéns pra você... ♪♪
(Nane/vovó-07/05/2015)SEGREDO SEPULTADO
Quem é você
Que arrebata meus sonhos
Ditando meus desejos
Jogando fora a adrenalina
Sangrando as glândulas surreais
Quem é você
Aflorando meu drama
Tragicômico e desmedido
Num palco sem plateia
De uma peça shakespeariana
Quem é você
Que num silêncio devastador
Estoura meus tímpanos sem pudor
Com palavras em flechas certeiras
No mortal ato do desengano
Quem é você
Que exerce esse poder maligno
Mesmo sem saber
Enterrando fantasias e aspirações
Sem ao menos sentir culpa
Quem é você
Que insiste em não perceber
O vazio do meu mundo
Sem cores nem anseios
Pela falta de você
Quem é você
Que escarna meu cadáver
Sob os devidos sete palmos
Num sorriso de alívio
Pelo segredo sepultado
(Nane-16/06/205)
*Arte de: Áurea SeganfredoJOGADA AO VENTO
E na minha loucura me perdi
Dos meus próprios devaneios
Transformando-os em esperanças vazias
De quem já não pensa em nada
Foram-se as quimeras
E os sonhos da imaginação
Sobrou o vazio de uma mente oca
Sem mais nenhuma expectativa
Num solo estéril
Semeei a podridão
De grãos infecundos
Jogados ao léu
A frieza do nada me envolve
E nada mais faz sentido
Homens e mulheres
Crianças e velhos
Só o vazio me preenche
De um nada sem importância
O que será ou o que virá
Não faz mais diferença
De bom, dentro de mim
Resta pouco ou quase nada
Os sonhos fundiram-se aos pesadelos
E as noites aos dias
O bem e o mal são tão efêmeros
Como a vida e a morte
E essa maldita dualidade
Me faz ser quem não sou
Talvez amanhã eu esteja eufórica
E escreva palavras bonitas
Talvez amanhã eu nem acorde
E durma o meu sono derradeiro
Na minha loucura me perdi
E por que cargas d'águas não consigo
Preencher esse vazio que restou
E fez de mim...nada
(Nane-14/05/2015)SÓ UMA ENTREVISTA
Soltam faíscas meus olhos
Despudorados de desejos
Arrancam num só piscar
As cortinas de teu corpo
Flui libertária a imaginação
Alimentando meu tesão
Enquanto minhas mãos passeiam
Brincando em tua pele
O desejo faz seu apelo
Transformando em loba
Salivando de vontades
A insana, a louca
Te prendo em minhas garras
Te devoro com volúpia
Em espasmos contraídos
Te levo ao paraíso
Murmuras gemidos em meus ouvidos
Lambuzas meu ventre com saliva
No ápice do meu clímax
A explosão do meu gozo
Teu 'ham, ham' me assusta
Teu sorriso e a pergunta
Se está tudo bem
Me traz de volta
Vestido e tão distante
De tudo o que vivi
Nos segundos que sonhei
Com teu corpo no meu corpo
(Nane-24/04/2015)E se...
E se o amanhã não vier
Como será o meu amanhecer
E se meus olhos não se abrirem
E se eu não respirar
E se tudo em mim se apagar
E nada mais restar
Para onde eu irei
O que acontecerá
E se você me perder
Será que vai chorar
Um pouquinho, talvez
Mas logo passará
E se nada mais houver
Além dessa malfadada vida
Onde nunca fui feliz
E nunca ninguém me quis
E se o amanhã se acabar
E de mim nada mais restar
Então saiba que vou levar
Você dentro de mim
Para onde quer que eu vá...
(Se é que vou lembrar)
(Nane - 09/11/20132)
LATENTE LOUCURA
Ferem-me os sentidosRevividos num instanteDe sanidade latenteAcabrunhada...Doce loucura
Que me priva do verossímil
Conduzindo mi'alma
Sem amarras ou grades
Viajante espectro
Livre de acepção
Mergulhando em rios
Correndo pros mares
A culpa destoa
Da santa loucura
Quando emerge do nada
A mais (ainda) louca sanidade
Ferrolhos trancafiados
Pesando na alma
Aflita que vaga
Encarcerada no corpo
Sou meio e tudo
De um inteiro partido
Na luta perdida
Do certo e o errado
Vago na minha sanidade
Contida em meus desejos
Enquanto na minha loucura
Vivo o meu bem querer
(Nane-16/05/2015)PENSA NISSO
De todas as porradas da vida
Nenhuma doeu mais
Que a de te ver jogando a toalha
Se humilhando por nada
Seus gestos soberbos
Seu olhar inquisidor
Sua pompa no falar
Jogados no ralo
Valeu toda essa dicotomia?
Se expor em total evidência
Correndo riscos desnecessários
Doeu mais que o findo
A imagem desfeita
A carência sabida
O saber tanto de você
O reconhecer do nada
Quem sabe vale a pena
Quem sabe te botaram no prumo
Quem sabe tua crista
Se dobrou ao amor
Mas saiba que doeu
Te ver jogando a toalha
Por saber que até nisso
Finges o que não sente
É só o desejo da vingança
Falando mais alto que a dor
Quando, por fim, detonares esse amor
Rirás o sorriso vingativo
Triste sina a tua
De não deixar em paz
Quem cai na besteira de te amar
E não ter como (por isso) pagar
(Nane-15/04/2015)
Encontro com Deus
Gritei teu nome aos quatros ventos
Se me ouviu...fez ouvido de mercador
Pedi a tua interferência
Mas o silêncio está absoluto
Talvêz eu não saiba pedir
É o meu jeito de falar (contigo)
Olha a sua volta
É justo esses caminhos
Pelos quais passamos
Sem conseguir caminhar
O nexo em tuas leis
Me inebria os pensamentos
Entontece meus sentidos
E neles não consigo ver sentido
E se te faz feliz e adianta
Me ajoelho e imploro
É uma vida bem mais preciosa
Que te rende louvores
Deixa ela ficar
Percebe a sua luta
Pra que ceifar a semente boa
E deixar crescer a erva daninha
A noite está tensa, vou deitar
O amanhã à ti pertence
Um dia a gente vai se encontrar
E vou te perguntar: pra que serve as muriçocas
(Nane-12/11/2014)ESPERANDO
Ainda te quero
Com a mesma força da paixão
Avassaladora de um temporal
E com a brandura do carinho
De uma brisa no litoral
Ainda sonho
Com as quimeras vividas
Na ilusão da perfeição
Do encontro de nós dois
Num instante de magia
Ainda espero
A maré trazer nas ondas
De seu eterno ir e vir
O amor que se dispersou
À deriva na correnteza
Ainda escrevo
Todo dia para você
Mesmo sabendo que não lê
Mas com a certeza de saber
Que é só por você que continuo a escrever
Ainda espalho
Palavras pelo ar
Na esperança que o vento as soprem
De encontro aos seus ouvidos
Para que por mais um só instante
Você volte a me amar
Ainda...
(Nane-04/05/2015)
TURBILHÃO DE PENSAMENTOS
Zumbidos na cabeça
Turbilhão de pensamentos
Olhos marejados
Coração pulsando forte
Mãos trêmulas e frias...
A sensação do vazio
O nada preenchido
O importante perdido
O sentimento petrificado
A lágrima derramada pela vida
A paz já não faz falta
Os sonhos são pesadelos
A loucura feito um verme
Mantem vivo o corpo
Cuja alma já partiu
Nada faz sentido
Ninguém é importante
O amanhecer é suplício
O anoitecer traz a certeza
De que um dia tudo se acabará
Suicidas vozes clamam
Mas nem isso importa
Azar de quem foi fraco
E agora queima no inferno
Não sou ave. Não tenho pena
A noite está fria
Eu também...
No corpo e na alma
Quando amanhecer
Será só mais (ou menos) um dia
(Nane-002/07/2015)Onde está você?
Onde está a sua mão
Que me acostumei a segurar
Nas horas de aflição
Onde está seu ombro
Que me servia de conforto
Quando eu me apavorava
Não sinto mais o calor do seu abraço
Nem vejo a luz do seu olhar
Por onde você está
Onde está você
Que esteve ao meu lado
Por todo esse tempo
Quando mais precisei da sua mão
Quando mais precisei do seu ombro
Quando mais precisei do seu abraço
Quando mais precisei da sua luz
Quando mais precisei de você
Me sinto só...
(Nane-05/11/2014)
MUMIFICAÇÃO
Cerraram-se os olhos
Que outrora fascinaram-me
Calou-se a voz
Que palavras de amor
Um dia me falou
Então te olho
Sem conseguir ver
Nenhuma expressão
Frieza total
Sentimentos mumificados
Setenta eram os dias
Que os egípcios levavam
Setenta vezes sete
Vidas encarnadas
Talvez leve eu
A amargura tirânica
Em doses balanceadas
Consumindo e transformando
A alegria de viver
Numa tsuname do Nilo
Mumifiquei meus sentimentos
E desenhei seu rosto
No sarcófago faraônico
Largado e esquecido
Numa pirâmide perdida
Já não há mais sofrimento
Nem mesmo há curiosidade
Só a frieza no semblante eternizado
E a amargura nas palavras ditadas
Pela múmia da desventura
(Nane - 17/06/2015)
*Arte: Lucia Momia Lucia
Me dá a tua mão
E se tua falta eu sinto
Finjo não perceber
O frio na alma congela
A dor que teima em doer
Chorar não me leva a nada
Lamentar tua ausência, tão pouco
Meu amanhã está nublado
Seu brilho escondido sob as nuvens
Estou e sou só
E é melhor que seja assim
Você se foi numa poesia
Que eu não soube escrever
Embora tenha te escrito o tempo inteiro
Você não me soube ler
Ou talvêz tenha preferido
Fingir para não ter que entender
Precisei mais do que nunca de você
Mas não consegui te encontrar
Onde quer que você esteja
Esta poesia foi feita pra você
(Nane-13/11/2014)PORTAL DE LIMIARES
O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita
Vocifero todas as heresias
Batendo na porta do umbral
Limiar do inferno e do céu
Nas minhas entranhas decompostas
As palavras abortam em minha boca
Feito feto cuspido na latrina
Ensanguentando meu karma
Destituído de qualquer missão
Pesa-me nas costas o preto velho
Agarrado feito filhote indesejado
Nos anos que se arrastam nas trevas
Do que seria a minha vida
Os remédios condutores do sono
Postados inertes na prateleira
Como um convite do abrir da porta
Do umbral limiar do meu inferno ou do meu céu
O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita
(Nane-20/05/2015)
Turbilhão de sentimentos
Amor e ódio se misturamAndam juntos e se confundemSão irmãos de primeiro grauBons por ora, por ora mausCaminham lado a lado na eternidadeTrocam de vestimenta quando queremReviram de ponta à cabeça a realidadeNão pensam no que fazemAmor e ódio se encontramNa tênue linha do destinoSe completam em paralelasAo longo do caminhoTão pertos e tão distantesSão ímpares e profundosQuem é quem nesse instanteCabe à nós decifrarAmor que faz doerÓdio que faz fortalecerSentimentos que se embaralhamQuem é que vai saberSe te amo ou se te odeioO que explode no meu seioTurbilhão sem nenhum nexoDe um sentimento tão complexoTe amo e te odeioEm momentos diversosTe amo quando te odeioE te odeio por te amar(Elian-06/02/2012)SÃO JORGE GUERREIRO
Jorge da Capadócia
Perdeu a cabeça
E virou Santo
Guerreiro
Reis e rainhas
Se ajoelharam
E converteram sua fé
Em monumentos à Jorge
Padroeiro das Cruzadas
O Santo guerreiro
Protegia os soldados
Nas conquistas do Reisado
Roubou do dragão
A princesa prometida
E virou lenda lunar
Para onde foi morar
Se Oxossi ou se Ogum
O fato é que joga o jongo
Na igreja e na macumba
O Santo protetor
Okê Arô Oxossi
Ogunhê Ogum
Salve Jorge da Capadócia
E viva o feriado
(Nane-23/04/2015)INTRÍNSECA
INTRÍNSECA
A febre intermitente
Não vai, não fica
Frita meus neurônios
Cozinha minhas ideias
As vísceras, essas
Sarapatéis baianos
Prontas à serem devoradas
Pelos corvos de Allan Poe
Intrinsecamente revirada
Sinto o enjoo da ressaca
Jogada no mar revolto
Da minha própria enseada
Levada de encontro à pedra
Deixada deitada na areia
Vomitando disparidades
Dos pensamentos fritados
Lavas de fel abrandadas pelo mel
Mareando o estômago cozido
E queres que eu escreva o que
Além dessas minhas mazelas
Um fio tênue separando
Realidade e devaneio
Embriagados num mesmo espaço
Do cérebro viciado
Sirvo-me aos corvos de Allan Poe
Expondo meu corpo à milanesa
Extenuado e sem preconceito
Para que me comam e devorem
Antes que eu mesma me refaça
E deles me sirva
Comendo-os vivos e empenados
Quando a febre for embora (de vez)
(Nane-19/05/2015)ONDE ESTÃO OS MEUS FANTASMAS
Onde estão as vozes
Que se calaram
E já não me questionam
Nos meus lapsos de memória
Dos devaneios que me faziam
Escrever poesias
E as sombras que dançavam
Alheias as minhas vontades
Pelas madrugadas frias
E que de alguma forma
Me faziam companhia
E os delírios nos desejos
Que eu gostava de cultivar
Para que me sentisse ainda viva
Mesmo que fossem só quimeras
Impossíveis de se realizarem
E a capacidade de a tudo isso transformar
Em palavras rimadas
Dando a falsa impressão
De que eu era poeta
No vale da minha imaginação
Por onde ando eu
Que vago entre a ilusão
E a dura realidade
De um despertar sem expectativas
De nada ver mudar
E essas linhas que se embaraçam
Formando teias que enclausuram
E sufocam minha mente
Num emaranhado latente
Sem palavras vigentes
Os meus fantasmas se foram
Me deixando sozinha
Na realidade fria e sem opção
De sonhos ou medos
Ou nenhuma outra sensação
Calaram-se as vozes
Sumiram as miragens
Foram-se as vontades
Restou um branco na escuridão
Do meu caminhar
(Nane - 01/06/2015)
*Arte de: José PaganoO PEQUENO CONTADOR DE ESTÓRIAS
Hoje me dispus a observar
A esperteza e a malemolência
Do pequeno 'grande' Fred
No seu mundo de imaginação
Deu-me de presente algumas pedras
E me disse para guardá-las
Pois as trouxera de muito longe
Apenas para me ofertar
Sorrindo, as guardei nas mãos
Mas ele não se contentou
Disse que eu as pusesse na gaveta
Que era mais seguro
Assim fingi que fiz
E ele se foi para novas estrepolias
Mais tarde, veio me dizer
Que viu um helicóptero vermelho
Sobrevoando nossa horta
Jogando nela sementes
E que agora vai nascer
Muitas verduras fresquinhas
Vindas do céu para a gente plantar
E comer no jantar
Surpreendi-o falando sozinho
Sentado num cantinho do quintal
Ele então me apresentou
Seu amigo invisível
Nome não tinha
Era apenas o 'amigo'
Que quando se cansou
Despediu-se e saiu
A noite 'acordou'
E a gente precisa ir dormir
Um banho quentinho ele tomou
E começou a cochilar
Antes de adormecer
Me disse bem baixinho
'Vovó, guarda bem o seu presente
Que são pedrinhas de estorinhas'
Ajeitei-o na caminha
E corri lá no quintal
Juntei algumas pedras
E guardei-as na gaveta.
(Nane- 03/05/2015)
FELIZ DIA DAS MÃES
É o dia hoje
Amanhã não mais
O mundo me toma
E eu me jogo de cabeça nele
A merda toda
É ver meu filho
Fazendo o mesmo
E me deixando de lado
Choram os filhos
Que já não têm mães
Presentes olhados
Nos shoppings não comprados
Choram as mães
Que não ganham presentes
Por não terem os filhos
Presentes partidos
Hoje é o dia
Das mães comerciais
Em doze vezes facilitadas
As prestações creditadas
Filho de meu ventre
Filho de minha alma
Se sou mãe de um dia
Não sou mãe sua
No dia das mães
Sou filha fundida
No ser e no estar
Do antes e o depois
E se bem isso faz
Que seja feliz
Esse dia infeliz
De um só dia
(Nane-09/05/2015)
LAPSOS DE MEMÓRIAS
Olhando um nada tão distante
Procuro por um só ponto
Que me traga de volta
As lembranças de mim.
Um vazio tão cheio
Circunda meu ser
Perdido num nada
Vagando sem esteios
Feito alma penada
Em meio à pessoas
Tão ansiosas como eu
E desconhecidas.
Já fui alguém
Que amou e foi amado
E que agora apagou da memória
Toda a sua história.
A infância perdida
Embora vivida
Guardada em algum lugar
Que não na memória
Ativa em mim.
A mocidade com amigos
Quem sabe, com amantes
Ou mesmo, amores
Também escondida
Num canto qualquer
Da falha memória.
O espelho me diz
Que meu tempo se acaba
Na curva descendente
Do semblante envelhecido
E das mãos enrugadas
Pela maturação presente
E a memória ausente.
Lapsos incandescentes
Feito estrelas cadentes
Passam e deixam rastros
Dizendo ser aquelas pessoas
Quem dizem que são
Na minha vida vazia
E sem raiz nenhuma.
Demência ou loucura
Sumiu meu legado
Ainda em vida...
(Nane-28/04/2015)
I want to go back there (Eu quero voltar pra lá)
Aqui não é o meu lugar
Deslocada e sem rumo
Tento me encontrar
Mas não consigo me achar
E quem é que pensa em mim
Se eu não penso em ninguém
Quem é que espera por mim
Se de mais ninguém estou a fim
Quem um dia pensou
Já não tem mais tempo
Pensa agora em outro alguém
E de mim, não se lembra mais
Vou em busca do amanhã
Que meu hoje virou ontem
Se aqui não dá pra ser feliz
Vou tentar ser lá
(Nane-06/11/2014)
RAZÃO DE MERDA NENHUMA
Dá-me a tua razão
E te mando a merda
Razão nenhuma interessa
Quando a vida se dispersa
Do alto da minha razão
Deflorei a árvore inteira
Deixando nua as aves abrigadas
E os frutos apodrecidos
O frio e o calor
Queimaram todas as folhas
E o outono se fez inverno
Sem primavera ou verão
Razão nenhuma me faz santa
Até por estar mais para a puta
Cospe meus pecados escancarados
A face deliciosamente satisfeita
Encrua meu semblante taciturno
Em meu corpo inexplorado
Pelo toque do pecado original
Que abranda e faz brilhar a tez
Razão de merda nenhuma
Quero a culpa da libido
Aflorada pelo fogo
Queimando a razão
Viver o sonho dos ilícitos
Nas quimeras da minha própria fronte
Sem sentir o ardor do fogo
No toque real da pele
Razão de merda nenhuma
Quando o abrir dos olhos
Revelam no reflexo do espelho
A vida passada e não vivida
Resta então dizer a sua imagem
Que o tempo não volta atras
Passou, perdeu, não viveu
Azar o seu...
(Nane-01/05/2015)
SENTIMENTOS DISTORCIDOS
Vim de tão longe
Sem saber o que me esperava
Além do amor
Ao qual me dediquei
Da janela olho
Meu olhar vazio
Onde anda a prole
Que tanta rugas me custou
São tantos contratempos
Minha mãe se despediu
Mas eu não ouvi
E agora tento gritar adeus
Deus
Minha prole não escuta
E eu preciso ir
Antes do amanhecer
Meu olhar turvo não permite
Que eu veja essas coisas
E a cabeça gira sem rotação
Apenas por girar
Um leito feito prisão
Um pássaro ferido
E o longe tão perto
E o perto tão distante
Quem é quem nessa cidade
Mãe e filho, filho e mãe
Distorcidas imagens refletidas
No espelho da dignidade
Lá fora faz frio
É o que eu sinto aqui
Nem sei se estou dentro
Mas calor, só de vergonha
Dia e noite misturados
E eu nunca acerto a hora certa
Lágrimas e soro se misturam
É sal, é sol, é sul, sem norte
A janela é inalcançável
Talvez tenha uma lua lá fora
Ou quem sabe o sol brilhe
Mas não volto de onde vim
Lá longe minha mãe se foi
E eu nem a ouvi
Vou de encontro a ela
Bem mais velha do que era (ela)
A prole se cala
Talvez me abrace na despedida
O soro e a lágrima secaram
E sorrio livre
(Nane-22/08/2015)
PLATÔNICA DEMÊNCIA
Na loucura dos meus dias
Insisto em te procurar
Nas molduras do infinito
Linear do céu com o mar
O horizonte me oferece
Teu rosto no crepúsculo
Enquanto a alvorada
Traz tua voz no canto da passarada
Demência ou paixão
Loucura ou razão
Pouco importa
É só o meu jeito de ter você
Na noite e no dia
Em tempo integral
O pensamento é meu
E nele mando eu
Você tão distante
Ainda mora em mim
Mesmo não querendo
É teu meu coração
Platonicamente eu digo
Que poeta nunca fui
Mas o amor, esse demente
Me fez enlouquecer...e te escrever
Que importa o toque
Se teu cheiro está em mim
Que importa se não me amas
Se o meu amor esta em ti
(Nane-22/05/2015)
VÍSCERAS MISTURADAS
Exponho as víscerasNo meu desesperoQue grita teu nomeNo meu silêncioDentro de mim
Se fez tsunami
Sacolejando meus órgãos
Misturados e sem lugar
Esvaindo o sangue
Jorrado em lágrimas
Salgadas e adocicadas
Com cheiro nauseabundo
O pulmão enegrecido
Comprimindo o coração
Perdidos no fog da fumaça
Do cigarro companheiro
Bate nas costas e cabeça
Não sei se cérebro ou coração
Só sinto o pulsar insano
Da saudade do teu corpo
Rasgo com minhas unhas a minha pele
Na esperança de ver aliviar
A pressão dessa dor que me consome
E fugir da tua opressão
O peito já não sangra mais
Na cirurgia da triste poesia
Só não sei o que deve ser extirpado
Pra tirar você de mim
Onde está meu coração
Nessa arritmia dos meus órgãos
Atrás da penumbra dos pulmões
Ou no cérebro ensandecido
Pouco importa isso agora
Sou retalho do que fui
Exposta e a venda na xepa
Dos mortos vivos por amor
(Nane-11/05/2015)
*ARTE: Espuma, latex e acrílica s/ papel de:
Bárbara AvelinoRODA TUA BAIANA SALVADOR
S
alvador, SalvadorO que é feito de tiÉs filha do grande CriadorE teu nome te conduzCidade de puro sincretismo
Respira por teus becos e vielas
Tuas ruas e avenidas
Todas irmanadas religiões
Salvador, Salvador
Porque fostes castigada
Com tanta severidade
E tantas vidas perdidas
Que fizestes Salvador
Teu povo é só amor
Foi aviso da mãe natureza
Para cuidar da tua beleza
Ah Salvador...
Que teu povo seja confortado
Por todos os Santos que em ti moram
E que sejam (também) por eles ensinados
Que teus dirigentes se orientem
No respeito ao meio ambiente
E te reestruturem com o mesmo fervor
Dos fiéis filhos de São Salvador
(Nane-20/05/2015)
PENSA NISSO
De todas as porradas da vida
Nenhuma doeu mais
Que a de te ver jogando a toalha
Se humilhando por nada
Seus gestos soberbos
Seu olhar inquisidor
Sua pompa no falar
Jogados no ralo
Valeu toda essa dicotomia?
Se expor em total evidência
Correndo riscos desnecessários
Doeu mais que o findo
A imagem desfeita
A carência sabida
O saber tanto de você
O reconhecer do nada
Quem sabe vale a pena
Quem sabe te botaram no prumo
Quem sabe tua crista
Se dobrou ao amor
Mas saiba que doeu
Te ver jogando a toalha
Por saber que até nisso
Finges o que não sente
É só o desejo da vingança
Falando mais alto que a dor
Quando, por fim, detonares esse amor
Rirás o sorriso vingativo
Triste sina a tua
De não deixar em paz
Quem cai na besteira de te amar
E não ter como (por isso) pagar
(Nane-15/04/2015)
MENTIRA VERDADEIRA
Por que te amo
Nada me é permitido
Além do desejo
De te ter
E por te amar
Nada há de ser limitado
Dentro do meu querer
Mesmo sem poder
E por nada ser verídico
Insisto em te amar
Mesmo que nunca te tenha
Além do pensamento
E por seres só uma mentira
Te faço de verdade
Em todos os meus desejos
Não realizáveis
E por não existires
Tornas-te meu maior desejo
E vives em meus devaneios
Tornando-te real em mim
E por seres meu maior amor
Me entrego e morro
Quando percebo que és mentira
E eu a tua verdade
Perdoa meus desatinos
E entenda de uma vez por todas
Que de uma tola mentira
Fiz minha maior verdade
(Nane-17/05/2015)
FANTASMAS DA MADRUGADA
É sempre na calada da noite
Que sobrevoam sobre mim
Os fantasmas insinuantes
Bailando nas sombras
De encontro à fosca luz
Que transpassa na cortina
Esvoaçante...
Suas vozes melancólicas
Incompreensíveis para mim
Incomodam o meu sono
Conturbado e confuso
Já me acostumei a eles
E o medo, em mim, não faz morada
Perturbam minha mente delirante
Moldando sempre uma só imagem
Do rosto que zombou de mim
Com gargalhadas escancaradas
Aos gritos de 'iludida'
Por ter acreditado no amor
Insone, viro e reviro
Tentando não ver
O rosto que quero esquecer
E meus fantasmas não deixam
Estuprando meu cérebro com imagens
E vozes incompreensíveis
As luzes da cidade logo se apagarão
E a aurora anunciará um novo dia
Descansarei enfim, na labuta diária
Dos teus olhos frios que me olham
Moldados pelos fantasmas que me rondam
Todas as madrugadas...
(Nane-18/05/2015)