Elian (Nane)

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA



A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego
Frases de clichês
Feito água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
A alma empedernida
É quando desanuvia
Valores subjetivos
E o presente é vivido
Sem passado ou futuro
É ver a beleza
Da pedra no caminho
E agradecer a oportunidade
De ter como retirá-la
Regar a planta amortecida
E perceber no dia a dia
O desabrochar da flor revigorada
Pela água embebida
Sentir a liberdade no frescor
Do voar de um passarinho
Sem se preocupar
Onde ou quando irá pousar
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego
Ensina a seguir
Sem olhar para trás
Deixando no caminho
Sementes de amor
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que somos peregrinos
Em constante migração
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que nada temos e temos tudo
O que ela (a vida) nos oferece
A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego...
(Nane-27/04/2015)
*Arte de Marcos Xenofonte

O voo da Gaivota



Viajei em meus sonhos
Alcei voo...
Sobrevoei o mar
E vi no silêncio do meu voo
A sua imensidão de calmaria...
Voei tão alto...o mais que eu podia
Planei sem preocupação
Alto...bem distante do chão...
Deixei o vento me levar
Por onde ele fosse passar
Voei sem destino nenhum
Em busca de nada e de tudo
Dei asas a minha liberdade
E voei para longe daqui
O calor do sol
Subi, subi, subi...
Veio a vertigem
Embrulhou-me o estômago
Pesou-me o corpo
A asas se fecharam
Mergulhei no vazio
A terra se aproximando
Depressa demais
Os olhos turvos
Parafuso no ar
Sangue na areia
Gaivota caída
Não voo mais
Nem mesmo de avião

Mulher acordada
Sonho perdido
Realidade exposta
Começa outro dia...

(Elian-19/03/2012)

Opostos




O que temos em comum
Além desse querer
Oposto que se atraem...
Eu gosto e você não
Se é você à gostar
Não gosto não...
Você é dia
Eu sou a noite
Eu sou a lua
Você o sol
Você fala inglês
E eu, mal o português
E mesmo assim
Estou em você
E você em mim...
Você se cala
Enquanto eu grito
Fala macio
Eu esbravejo
Me dá bom dia
Te mando pro inferno
Você é luz
Sou fio desencapado
Você é brisa
E eu o vendaval
E mesmo assim
Estou em você
E você em mim...
Nada temos em comum
Além desse querer
Opostos que se atraem...

(Elian-16/05/2012)

Malandro que é malandro


Malandro que é malandro


Malandro que é malandro, não morre de amor
Levanta, sacode a poeira em plena boemia
E faz nascer da sua dor, uma letra pra compor
Um samba com muita poesia

E a noite carioca ajuda o poeta
A acalmar seu coração
Na Lapa tudo é festa
E Madureira...berço do samba-canção

Vila Isabel tem sua magia
É a terra de Noel
Tem bamba a noite inteira
Compondo samba de primeira

Não importa de onde você seja
Mas se quer esquecer de um amor
Vem comigo, viva, sinta e veja
Nas noites cariocas o que é calor

Não dramatize um final
Faça dele um bom sinal
Olha quanta vida há na noite
Deixa o samba te envolver
E esqueça o seu sofrer

Senta numa mesa com os bambas
E aprenda com eles a compor
A letra de um novo samba
Zombando da sua antiga dor

Malandro que é malandro, não morre de amor...

(Nane-05/05/2012)

A QUEDA DA RAINHA


A Dama de Copas caiu
Na hora da batida
O coringa prevaleceu
E a Dama de Copas caiu
Seu jogo era limpo
E a canastra, real
Mas o coringa se infiltrou
E o jogo, foi sujo
A carta estava na manga
A Dama de Copas não sabia
Seu jogo foi sempre tão limpo
E a Dama de Copas caiu
O Rei usou de subterfúgios
Guardando a Dama de Copas
Enquanto flertava com o coringa
Uma carta na manga
Deixou ela pensar que reinava
No seu próprio reino
Mas era o coringa quem dava as cartas
E por isso a Dama de Copas caiu
Ao Rei isso pouco importa
Bateu e o jogo acabou
Por tão pouco tempo durou o reinado
Da Dama de Copas que caiu
O Rei agora é garboso
E desfila com o coringa risonho
Na carruagem nova de abóbora
Luzindo e se expondo
A Dama de Copas queria
Andar de carruagem também
Mas o Rei só tinha uma carroça
E a Dama de Copas caiu
Rainha morta
Rainha posta
O Rei usou o coringa
E seu reino agora é de outra
(Nane-13/-2/2015)

Lua mulher




Lua mulher
De fases
Imensa e sutil
Pequena e pueril
Feminina e menina
Clareando a noite
Em alvos lençóis
Num halo de luz
Que seus olhos seduz
Num acasalar de eclipse
Do sol e da lua
É fogo e paixão
Na cama nua
Que se confunde
Com a imensidão
Mulher e lua
De fases
Que atenua
Seu brilho pleno
Durante o dia
De correria
Lua mulher
De fases
Faz cegar com seu brilho
Ao dar prazer
Ao ter prazer
No anoitecer
Mulher e lua
De fase
Se confundem
Se fundem...

(Elian-18/05/2012)

O seu diário




Escreva em mim
Os seus segredos
Serei seu diário
Guardarei em mim
Cada palavra que disseres
Cada sentimento que expressares
Cada sonho que sonhares
Deixarei gravado em mim
As decepções que tiveres
As alegrias vividas
As paixões descabidas
Os amores proibidos
Os desejos escondidos
As vontades contidas
Perdidas no tempo
Escreva em mim
Tudo o que quiseres
Sem nada limitar
Sem nada perder
Guardarei a sete chaves
Os momentos que me confiares
Para que quando, um dia
Resolveres me abrir
Se veja integralmente
Dentro de mim...

(Elian-19/05/2012)

PORQUÊS



Há tantos porquês

E tão cheios de regras

Com e sem acentos

Em começos e fins

Que já nem sei do certo

Nem tão pouco do errado

Será você o certo

No acento circunflexo

Ou errado no junto

Que julguei separado

E por isso tirei o chapéu

No final da linha

Entre tantos porquês

Perguntei a mim mesma

Por que será

O porquê de não mais ter

O porquê da minha vida

Perdido em meus porquês...

(Nane-09/05/2015)

Três em uma




Vem, mulher nua
Dispa-se das suas vergonhas
Se olhe no espelho
Se ame...se goste
Deixe que o mundo se dane
Viva e faça a sua vida
Dispa-se dos seus medos
Sem medo de ser feliz
Escancara a sua diversidade
De santa, de puta, mulher...
Deite na sua cama
Com o desejo que tiver
Com quem você quiser
Se entregue e se ame
E resplandeça em sua face
O prazer de fêmea em gozo...
Vem, mulher nua
Dispa-se de seus bloqueios
Avance todos os sinais
Aflore seus anseios
Jogue fora seus receios
Ame e se deixe amar
Sem nenhum pudor
Sem muito pensar
Com muito amor
A santa está em ti
A puta mora aí
E podem sim, bem conviver
Posto que és...mulher

(Elian-16/05/2012)

O PIADO DA CORUJA




Cansada no meu cansaço
Surto a cada anoitecer
Quando pia a coruja
Um piado de mau agouro

O copo ainda cheio
Espuma acima do dourado
Subindo bolinhas borbulhantes
Embora quentes, num canto

Os dedos estalados a todo instante
Dançando num teclado sem grafite
Sabendo o lugar exato de tocar
Sem ser preciso olhar

Ouvindo o lamento no quarto ao lado
Enquanto as palavras salpicam na tela
Buscando um sentido qualquer
Na cabeça aparvalhada de cerveja

A brasa consome o dorso
Enquanto os dedos seguem inquietos
Aguardando o comando
Pensante e desordenado

Misturam-se as dores
Cabeça e tronco
Na frente e atrás
Enquanto os dedos deslizam

Ditam as palavras
A cerveja e o cigarro
Interrompe o pensamento
O triste lamento

Poesia inacabada
Nascida na hora errada
Abortada no peito inflado
De tanta inquietude

Nem a merda do futebol
Dá vazão a pressão
De como acabar as estrofes
Engasgadas nos gargomilos

E esses dedos inquietos
Teclando a esmo
Tentando poetizar
O que a cabeça não consegue rimar

Cansada no meu cansaço
Sem conseguir descansar
Ouvindo a coruja piar
E tendo que ir deitar

É hora de parar...

(Nane-22/03/2015)

Mulher caramujo




Sou mulher
Fui caramujo
Saí sim, do meu casulo
Mas deixei rastros em meu caminho

A repulsa por mim mesma
Criou gosma aderente
Denunciando os meus passos
Trôpegos e incertos

Fui morte em plena vida
Num recluso impiedoso
Fiz um parto do meu útero
Renascendo de mim mesma

Experimentei a escuridão
No túnel da minha própria reclusão
Me rastejei e deixei marcas
Da vida, quese por mim extirpada

Afundei no meu mergulho
Presa no meu visgo
Lutei comigo mesma
E pari eu de mim, assim

Deixei o caramujo
Sou mulher de novo
Já não tenho mais o visgo
Que tanta repulsa me causou

Num banho de chuva de verão
Tirei toda a gosma que restou
Eis que surge a mulher exposta
Para a vida que se renova

(Nane-04/01/2012)

Gôndolas de Aveiro




Aveiro de Bragança
Bragança de Aveiro
Fecharam- se as portas do porto
Desencontraram-se o rio e o mar
Imigraram seus filhos
Ao infante a muralha
Protegida e solitária
Aveiro e Veneza
De gôndolas passeiam
Espelhando as cidades
De Aveiro e Veneza
Na história distante
A Nova Bragança
Recusada morreu
Trazendo à tona
Aveiro mais forte
Não é só Veneza
Se faz serenata
Ao amor verdadeiro
Nas noites de lua
Sob as estrelas
Nas gôndolas de aveiro

(Elian-17/05/2012)

*Uma homenagem aos Lusitanos
que com frequência visitam meu blog.

DE CASA NOVA



Instala-se a poesia
No bailar dos dedos
Frenéticos e sem freios
No tamborilar das teclas
Já não tem mais a tinta
À borrar a folha branca
No pingar das lágrimas
Que reveste a poesia
Já não enche o cesto
O papel escrito e reescrito
Amassado e embolado
Para depois ser descartado
Basta o toque do dedo
Sem a nostalgia do escritor
Para na tela fria colar
Seus sentimentos em versos
Ainda tenho guardado
Um caderno velho amarelado
Literalmente rabiscado
Com meus garranchos indecifrados
Restou a fumaça do cigarro
E o copo sempre cheio
Enquanto a poesia experimenta
Sua nova moradia
(Nane - 13/04/2015)

A alma do mar



Quanta vida vive no oceano
Quanta vida deixa a vida no oceano
São algas e peixes, flora e fauna
O mar é fonte de tudo...
Nas águas que banham os corpos
Que brincam alegres e mergulham
São as mesmas águas que levam embora
Os sonhos de quem vê partir lá distante
O barco que navega rumo ao horizonte
O amor perdido que vai embora
São águas que levam pro fundo
O corpo perdido de quem se afoga
E esconde os mistérios dos náufragos
Que passam pra história da morte
No fundo remanso do oceano...
O mar esconde na escuridão
As águas bravias da noite
Que deixa só o relfexo da lua
Iluminar paralela como uma rua
Num facho de luz a brilhar
É esse oceano de tantos mares
De tantas praias e lugares
De tanta gente presente
Que fascina e deslumbra
Por seus encantos e mistérios
Mar de alma feminina
Com o poder do prazer
E da total destruição...

(Nane-27/12/2011)

SONHANDO EM SER CRIANÇA



Fizeram-me homem
De fuzil nas mãos
Precocemente empedernado
Na sobrevivência
Lacraram num ataúde
As quimeras e fantasias
Dos meus sonhos de menino
Brutalmente emancipado
A tal maioridade
Cospe fogo e mata
Para que eu não morra
E sucumba com a infância
Na solitude de um descanso
O tremor de um ruflar insiste
Em me elevar por sobre a miséria humana
Nas asas da esperança de criança
Sobrevoo inerente de segundos
Sustentado pelas asas da liberdade
Abertas em meio à podridão
De uma guerra dita santa
Vislumbro brincadeiras e cirandas
E outras crianças de etnias
Diversas e tão afins
No sorriso ímpar infantil
O ranger da tampa do ataúde
Recolhe minhas asas podadas
No estampido seco de um rifle
E o menino vira homem de matar
(Nane-08/04/2015)

DALÍ AQUI



A arte de viver
Numa tela de Dalí
Onde o real é su
Sem mentiras e nem verdades
A arte de sorrir
Numa poesia de Dos Anjos
Onde o negro se faz branco
Num sentimento Augusto
A arte de cantar
O amor imorredouro
Disfarçado de mutante
Nos versos da beleza fundamental
A arte de chorar
Toda a dor que há no mundo
Quando no meu céu não brilha
A estrela que me guia
A arte de escrever
Todos os meus desassossegos
Nas entrelinhas do destino
Destilado no meu sangue
A arte do não saber
O que me vai pela cabeça
Enquanto escrevo o que sai
Sem perceber o que fica
A arte de existir
Quando já não mais importa
Viver só por viver
E continuar a escrever
A arte de preencher
De cores a tela em branco
No surrealismo delirante
De quem não precisa se fazer entender
A arte do arco-íris
Das sete cores e tons
Ironicamente perdido
No brilho do próprio ouro
A arte da mentira
Transformada em verdade
Pagando o preço inflacionado
De ser uma eterna ilusão
A arte de ser só arte
Quando se é vida
Sem nenhuma arte
Mas ainda surreal
(Nane- 14/03/2015)

DESNUDANDO A HIPOCRISIA



Em pleno dia da poesia, alguém muito 'pudica'
denunciou a página 'Asas da vida' da poeta e amiga
Adriane Lima. Suas poesias são doces e maravilhosas
e ela sempre teve e tem o bom gosto de ilustrá-las com
imagens de nu artístico. Isso ofendeu a visão do (a)
puritano em questão. Provavelmente eu serei a próxima,
já que a partir de agora só ilustrarei meus rabiscos com o
nu (nem tão artístico) em protesto contra o facebook.
Até que o 'Asas da vida' seja desbloqueado.
E tenho dito.

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Desnuda a poesia

De suas vergonhas
Mostra seu corpo
Em palavras obscenas
Toma do cálice
Da pouca vergonha
E solta sem preconceitos
Seu corpo nu
Ah poesia...
És vestes de tantos poetas
Que se mostram nus
E por isso são considerados
Deplorados, depravados
Denunciados, achincalhados
Feito um dragão monstruoso
As espátulas giratórias
Castra sem piedade
Censurando como nos velhos idos
A arte poética
Do(a) ousado(a) poeta
Que despe palavras
Na imagem proibida
Pelos olhos pudicos
Da inveja mundana
Dispo-me na rede
Não por desafio
Mas por solidariedade
À arte censurada
E por mandar às favas
Os hipócritas resguardados
Por covarde privacidade
(Nane-23/04/2015)

AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA



Santa Maria
Mãe de Deus
Me disseram um dia
Que de tanto eu pedir
Me atenderias
Me ensinaram a rezar
O terço Mariano
Na hora do Ângelus
Insistindo no pedido
Que eu tanto queria
Pedi, pedi e pedi
Numa ladainha incessante
Que a Santa Maria não ouviu
Por estar muito ocupada
Com outros pedidos bem rezados
Danou-se e me ferrei
O terço está guardado
Se bem que nunca o ganhei
E o fiz de feijões estragados
Sem força nas orações
Ainda hoje eu peço
Sem terço e sem fé
Me perco nas ladainhas
E esqueço da fala vindoura
Ou da conta a seguir
Ave Maria
Cheia de graça
Agora só o que peço
Me deixa dormir sossegada
(Nane-23/05/2015)

Mulher de verdade




Não quero parecer mais jovem
Não quero patrocínio de beleza
Não quero pelejovem.com
Quero o direito às minhas rugas
E a minha face nua e crua
Sem máscara ou maquiagem
Que caem e borram
E me transformam em espectros
De um passado que não volta
Não quero a ilusão da juventude
Na pele esticada e pesada
Por produtos enganadores
E propagandas mentirosas
Quero sim as minhas marcas
Esculpidas pela vida
Tal qual as ondas do mar
Que esculpem as pedras sem cessar
Não quero me olhar no espelho
Sem poder gargalhar
Para não correr o risco
De algum ponto arrebentar
Quero poder tirar minha blusa
E ver que o tempo passa
Olhar meus seios já caíndo
Sem silicone, sem plástica
Sem nenhuma falsidade
Quero a beleza da natureza
Posto que sou flor mulher
Que nasce, cresce e envelhece
E quando o meu tempo houver passado
E o meu sino tiver tocado
Que se escreva em minha lápide
Aqui jaz uma mulher de verdade

(Elian-05/04/2012)

Brincando nas estrelas


Caminho sem pressa nenhuma
Pelo rastro de luz da lua
Sem uma direção determinada
Brincando com as estrelas
Em cada uma delas
Um pedacinho de você
Vem brincar comigo
No frescor da noite enluarada
Seus olhos piscam diferenciados
Em meio a constelação de capricórnio
Enquanto os meus, em virgo
Se fecham para contar o 21
Você bem que tenta se esconder
Mas se destaca entre as estrelas
E eu corro para o seu abraço
Sem medo de te perder
A fase não importa
Se cheia, minguante ou se nova
É crescente sempre o meu amor
E por ele vou sempre ao céu
Somos crianças e amantes
Brincando e nos amando
Na minha insana poesia
Que me permite ter...Você
(Nane-28/10/2014

É seu


É seu o meu amor primaz
Que me faz ser quem sou
E me permite viver
É seu o meu amor maior
Que move todos os outros amores
Viventes em mim
É seu o amor delirante
Que faz ferver meu sangue
Enquanto percorre minhas veias
É seu esse amor tranquilo
Que me envolve em mansidão
E se torna inspiração
É seu esse amor que ilumina
E acende a luz do meu viver
Como o sol que faz brilhar o dia
É seu esse amor que faz da noite
A hora em que toda a magia
Te faz ser minha mais linda poesia
É seu esse amor que impulsiona
E me faz ser poeta
Em meio a tantas dores
É seu esse amor que incendeia
Num simples piscar dos seus olhos
Provocando meus instintos
É seu esse amor suplicante
Que implora pelo som da sua voz
Sussurando em meus ouvidos
É seu esse amor incondicional
Que não se importa por saber
Não ser meu o seu amor...
(Nane-29/10/2014)


Ao som de uma canção




As minhas mãos...
O tato na sua pele
Elas podem sentir
Mas você não está aqui...
Já vai alta a noite
A minha cama vazia...fria
Adivinho o seu cheiro
Mas você não está aqui...
Eu te vejo sorrindo pra mim
Abrindo seus braços e me chamando
Eu te vejo sorrindo pra mim...
Tem um vento que sopra lá fora
Algumas buzinas de carros
Gente na noite perdidas
Outras que se encontram
Camas que gemem
E eu...te vejo sorrindo pra mim...
Ouço bem baixinho, uma canção
A letra não entendo
Vem de algum lugar distante
Uma melodia instrumental
Um Pearl Jam talvez
Não consigo definir
Mas providencial
Enquanto te vejo assim
Sorrindo pra mim...
A noite já vai alta
A minha cama está vazia...fria
Você não está aqui
Mas eu continuo a te ver...sorrindo pra mim

(Elian-02/06/2012)

O CORVO E A COTOVIA



O atrito notável
Corrói peça por peça
Entre lamentos e xingamentos
Da máquina psíquica
Relevantes sensações
De irrelevantes razões
Destroçam no encéfalo
A inteligência da hora
Pretextos inverossímeis
Transformando em débeis
Lamúrias e queixas
Cobranças envenenadas
Patativa sem asas
Presa no leito
Enquanto deixa voar
Lembranças soltas
Corvo cansado
Espreita no topo
De um tronco qualquer
O voo da patativa
Sensações diversas
De culpas e fadigas
De dois seres estagnados
Ceifados da liberdade
No horizonte brilha o sol
Escondido sob as nuvens
Patativa voa baixo
Enquanto o corvo observa
Um dia voarão
Numa mesma direção
E se unirão num só ponto
Sem nenhuma distinção
É fábula sem final feliz (?)
De pássaros inversos
Estereotipados pela massa
Do que é bom e do que é mau
(Nane- 18/03/2015)

Câncer da alma



O câncer da alma se prolifera
Em metástases que contamina
Multiplicam-se as células
A alma cresce além do corpo
Ultrapaça os espaços contidos
Se aperta...faz doer...quer se libertar
Corpo inócuo e impávido
Não percebe o perigo
Da alma que se rebela
E tenta fugir...liberta
Na metástase que cresce
E faz romper os músculos
Já sem muita resistência
Sem elasticidade...
É alma rebelde em corpo insano
Querendo fugir sem saber pra onde ir
Mas não querendo ficar
No corpo que a abriga sem nenhuma briga...
A metastase se prolifera
E devasta como fera
Tentando de todas as formas
Romper o elo que prende
A alma aflita no corpo
De quem não mais almeja
Nada que seja de corpo
Nada...que seja daqui...

(Elian-19/03/2012)

Um dia difícil



Num céu azul de carneirinhos
Vou contando quantas formas
Passam por meus olhos
Nessa tarde de primavera (verão)
O som do celular me tráz de volta
Ao sol escaldante que bronzeia minha pele
E parece torrar meus neurônios
No choque térmico da notícia
A voz do outro lado engasga
A minha se cala...emudece
O suor salgado respinga dentro do olho
Que arde feito fogo no coração

Em segundos revivo uma vida
Repenso alguns valores
Desfaço de outros
Entonteço

O cérebro frita sob o sol
Um frio invade a alma
Os carneirinhos se foram
O céu está nublado
No peito, algo incomoda
Uma pressão que não passa
O celular se calou também
E eu...fraquejei
Ainda torpe, sigo em frente
O dia já se despede
O crepúsculo se aproxima
Enquanto a alma se agiganta

Feito uma galinha choca
Aninho os pintinhos sob as asas
Cansadas e pendentes
Vamos descansar....

(Nane- 05/11/2014)

Coringa real



E numa mesa de carteado
Faço paralelo da vida
Onde os sonhos são coringas
Prontos para o jogo decidir
No momento exato da batida
E dar um xeque-mate na vida
Cartas que se não bem usadas
Faz nossos sonhos se dissiparem
E os tornam pesadelos
Por seguirmos utopias
E esquecermos o plausível
Que pulsa ao nossso lado
E se esvaem aos nossos olhos
Que quando de fato se abrem
O jogo estará perdido
E o coringa desperdiçado
Dos sonhos que sonhamos
Corra atrás do que é possível
Deixe a utopia voar sem direção
Para que o jogo não seja perdido
E o seu coração vencido
Saiba usar com maestria
Os coringas da sua vida
A cartada bem colocada
Te faz vencer essa batalha
Que numa mesa de carteado
Pode ser traçada a estratégia
De uma vida sem pesadelos
Nas cartas de um jogo embaralhado...

(Elian-01/04/2012)

PARQUE DE DIVERSÕES



E Deus criou o céu e a terra
Gostou disso, mas faltava alguma coisa
Então criou o dia e a noite
E também gostou disso
E Deus criou o mar e os rios
E separou a água da terra
Então criou os astros e as estrelas
Para enfeitar o firmamento
E Deus criou os animais
Para que se proliferassem
(inclusive as muriçocas)
E os separou (ou juntou)
Entre machos e fêmeas
E Deus finalmente criou o principal
Para diverti-lo no seu circo triunfal
Criou o ser humano volúvel
Pronto à desafiá-lo
Soltou no 'paraíso' o casal
Homem, mulher e a serpente
E acionou seu joystick
Brincando à revelia
A cada fase que passava
Deu-se uma medalha
E fez do homem herói do jogo
Ou simples perdedor
Brincou de guerras e amores
E o homem saiu do 'paraíso'
Foi à lua e voltou
Mas nunca se encontrou
Deus é pai e ele (homem) espera
Tirar da cara a maquiagem
De palhaço divertidor
No circo do criador
Deus na sua ânsia de vitória
Criou até seu antagônico
E o diabo nele se inspirou
Ao criar seu próprio play station
Que vença o melhor...
(Nane-21/04/2015)

Tela de poesia


Se um pintor eu fosse
Seriam minhas poesias telas
E quantos quadros teria para pintar
Quantas cores para misturar

Com certeza não teria um só estilo
Pintaria o surrealismo colorido
Quando meus rabiscos sem rimas e sem métricas
Fluíssem do fundo de minha alma

Retrataria o bucólico na tela
Quando minhas mãos escrevessem
Sobre estar apaixonada
Em poesia dedicada a pessoa amada

E faria exposição do gótico
Quando a ira me invadisse
Num rabisco sem lirismo
Na loucura mergulhada

Exporia minhas telas num museu
Como um livro fechado na estante
Onde só quem poderia ver
Seria quem 'soubesse' ler

Se eu fosse um pintor
Jamais pintaria o rosto seu
Pois foi tanto que te rabisquei
Que as cores, com as dores... misturei

Hoje a tela está vazia
E não vejo mais a poesia
O pintor perdeu a mão
E o poeta...o coração

(Nane-30/12/2011)

A MORTE DE UM SONHO



Meu sonho adormeceu
No seu silêncio devastador
E entorpecido liberou
A realidade que me compete
Pede coragem a vida
E outros sonhos vislumbram
Enquanto no limiar da loucura
Descansa o principal
Pedem passagem os novos
Para alimentar a vida
Enquanto adormecido o fatal
Não liquida com a mesma
É briga de foice
Da ilusão com a realidade
E não só adormecer
Um é preciso morrer
Ou o sonho mata a vida
Ou a vida mata o sonho
Deixá-lo apenas adormecido
É transformá-lo em pesadelo
E sonho que não pode ser sonhado
Pede adaga afilada
Cravada com força nas entranhas
Enquanto entorpecido
(Nane-31/03/2015)

ORAÇÃO PELAS MÃES ÓRFÃS



Nossa Senhora
Guarda o menino
E aplaca a dor
De quem, como vós
Perdeu seu menino
Nossa Senhora
Na ponta dos dedos
Rezando o vosso terço
Todas as órfãs mães
Acariciam os rostos dos
seus filhos idos
Nossa Senhora
Mãe suprema
Abraça e conforta
As dores das mães
Saudosas e nostálgicas
Das suas sementes
Nossa Senhora
Nesse dia melancólico
De tantas lembranças
Aninha seus filhos
Com vossos braços
De Santa Mãe
E vossas filhas
Por certo agradecidas
Sentirão vosso conforto
Na lágrima derramada
Pelas faces das mães
Reconhecidas da vossa proteção
Nossa Senhora
Mãe bendita
De mães e filhos
Guarda convosco
Os filhos das mães
Que à ti os confia

E que essa saudade

Seja a certeza
Da vossa bondade
No cuidar dos filhos
E do certeiro reencontrar
Que assim seja
Nossa Senhora...
(Nane - 17/04/2015)
*Arte de Teresa Prado

Protótipo de mim


Ser forte
Seguro
Ser que temem
Invejam
Ser que pensa
Resolve
Ser que respeitam
Escutam
Ser que sabe o que fazer
Ampara
Ser que abraça
Protege
Ser quase supremo
Altivo

Ser tão fraco
Perdido
Ser que grita
Em silêncio
Ser com a mente voltada
Num só propósito
Ser que pede socorro
Sem que escutem
Ser que caminha sem rumo
Abismo
Ser que pede carinho
Mas se fecha
Ser pronto para não ser
Mais ser nenhum
(Nane - 03/09/2014)

Mea culpa


Na madrugada silenciosa
Teus gemidos sobressaem
Tuas dores se agigantam
Teu corpo reclama
Ah velha senhora
Dona de tanta força
Doi mais em mim as Tuas dores
Pode acreditar
Minha impotência neste instante
Faz de mim covarde
Finjo não acreditar
Nas dores que te consome
Choras silenciosa
Contendo as lágrimas teimosas
Sedo-te com analgésicos
Correndo todos os riscos

A sapiência do tempo
O torna frio e cruel
Sufoca-me a culpa por me flagrar
Desejando o teu descanso
Teu Deus tão soberano
Sabe o que tá fazendo
Eu, na minha ignorância
Perco a paciência
Vamos velha senhora
Encarar mais uma noite
Onde todos os gatos são pardos
E nós duas...companheiras
(Nane-30/10/2014)

ENTRANHAS EM DESASSOSSEGO



Quisera ser indiferente
À tua indiferença
Mas esse desassossego na alma
Incomoda...
Quisera arrancar você de mim
Como a um dente careado
Que faz falta por instantes
E depois é esquecido e substituído
Quisera tanta coisa impossível
Que já nem sei se quero mais
Já que nada mais faz sentido
Nos quereres que eu quisera
Quisera não ter um passado
E começar tudo do zero
Apagar todas as letras
E reescrever minha poesia
Resta-me apenas o ato
De amassar os meus papéis
E jogar fora minhas rimas
Nos versos que te fiz
Resta matar a poesia
Antes que ela me mate
Num surto desesperado
Das entranhas que quisera...
(Nane - 23/03/2015)

Mais uma noite


Nas sombras da noite
Refaço o dia passado
Revejo todos meus atos
E imagino o que poderia ter sido

Me deixo levar pela imaginação
Sonho com o que não tive (ou não fiz)
Aperta uma dor no coração
Enquanto o dia se aproxima

No quadrado do meu quarto escuro
Uma canção fala com tristeza
De um amor não concretizado
Feito o meu que já foi o seu
Escuto com atenção e me pergunto
Onde foi que te perdi
E vem em meus ouvidos a tua voz fria
Me perguntando se um dia eu te tive
Fecho os olhos, tentando adormecer
Mas tua imagem teima em aparecer
Feito um fantasma me assombrando
Em plena madrugada
Rezo à Deus para tirar você de mim
E o meu martírio ter um fim
A droga é que não sei rezar
E ele parece não me escutar

Posso ouvir tua respiração

Escutar tua gargalhada
Tudo isso dentro de mim
Quimeras...ilusão
Os primeiros raios do sol
Apontam em minha janela
O cansaço vence minha resistência
Vou dormir e sonhar... com você
(Nane-31/10/2014)

Amor eterno


Te vi assim
Tão sublime
Tão fatal
Tão em mim...
Refiz em mim
Todos os sentidos
Que pensei perdidos
Ou mesmo nunca nascidos
E foi você
Quem despertou em mim
Entre o desejo e a paixão
Um grande e derradeiro amor
(Nane-23/10/2014)

Férias de Deus


Por onde anda Deus?
Talvez de férias na Bahia.
Ou quem sabe na boemia da Lapa?
Não sei...mas tá de folga.

Chamei e clamei por ele,
mas não me ouviu...
Deve ter tomado um porre
e agora dorme o sono dos justos.

Deixou seu tridente nos 220
e queimou meu traseiro.
Se foi por castigo, não sei,
mas o cheiro foi de enxofre.
Dormiu em pleno plantão,
e isso há que se levar em conta.
Que porra de Deus é esse
que não gosta de bater cartão?

Eu só queria conversar,
não iria pedir nada.
Rezar a Ave maria
não estava nos meus planos
Mas se ela é a mãe de Deus
deveria educá-lo
para quando um filho seu
dele precisasse.

Hoje o dispenso.
Durma ele com a mãe.
Vou dormir com a cerveja
e sonhar com as estrelas...
(Nane-01/11/2014)

Virginiana



Tudo em mim vai além
Sou virginiana...detalhista
Dou sempre o meu tudo
Sem me importar se colho o nada
Faço e refaço quando preciso
Na tentativa de ser sempre o meu melhor
Os outroos até podem não gostar
Mas eu procuro em mim...o meu melhor
Não gosto de ser só mais uma
Vou em busca de ser a uma
Não gosto de imitar
Prefiro ser copiada...
Não sou desaforada
Só gosto de ser notada
E para isso...tem que ser bem feito
O que quer que eu vá fazer
Senão corro o risco de iludida
Me passar por ridícula

(Elian-08/02/2012)

ACENO DO ADEUS



Caminho só
Sem o toque da sua mão
Segurando a minha
Trêmula
Mas não parei
É preciso seguir
Ainda que sem o esteio
Da sua mão
O caminho é turbulento
Cheio de pedras e espinhos
Mas caminho
Sem a sua mão
Não por querer
Mas por ser preciso
Caminhar até chegar
A hora de parar
A estrada é longa
Sem parada para o descanso
Mas agora estou calçada
E sigo andando só
Ainda sinto no tato
O calor da sua mão
Que se soltou da minha
Sem me avisar
Meus passos ainda trôpegos
Vão se firmando aos poucos
Nesse caminhar solitário
Mas preciso
Chegará o dia
Em que o meu caminhar
Não mais precisará
Da sua mão
Mas levarei comigo
A eterna gratidão
Do aprender a andar
Que começou com a sua mão
E passado todas as dores
Olharei o caminho percorrido
E acenarei com a minha mão
À sua mão deixada lá atrás...
(Nane-23/03/2015)

O verme



O verme corrói a alma torturada
Tal qual dilacera o corpo de carne
Enquanto apodrece na tumba fechada...

Mas a alma é viva
E sente a laceração
Com o cheiro da podridão...

O verme não se cansa
Abre túneis por onde passa
Lacerando o corpo inteiro...

A alma se aflige
A dor é intensa
Em mais nada pensa...

O verme persiste
Luta por si
Sobrevive da decomposição

A alma desiste
A dor a consumiu
Se entrega ao verme

O corpo acaba
O verme se sacia
A alma não descansa

Um outro verme
Corrói a alma
Agora sem corpo

Que fétida se desespera
No enxofre do inferno
Onde foi depositada...

O verme a corrói
Lentamente...a corrói
Mas a alma...não morre

(Nane - 09/01/2012)

Aparições





Meus fantasmas me rondam
Cada vez mais concretos
Todas as noites me assustam
No afã de me drogarem
Aflitos e perdidos
Gritam em meus ouvidos
Palavras desconexas
Que me assustam
Tentam influenciar
Meus instintos entorpecidos
Distraem minhas vontades
Destroem os meus sonhos

Medonha a noite
Custa a passar
Ardem meus olhos
Dói minha cabeça

Sombras insinuantes
Dançam em meu quarto
No escuro refletido
Das minhas retinas

Sombrios sonhos me aguardam
Não quero adormecer
Mas eles me embalam
Num balanço infernal

Sem alternativa
Fecho meus olhos
E vou pro inferno
Junto com eles...

(Nane-13/12/2014)

Te falo de mim



Sou apenas alguém que gosta do belo
Do belo que apenas os belos veem
Da beleza de ser despertada pelo canto
dos pássaros (ainda que pardais)
E de ver desabrochar no jardim a flor
manhosa
Sou quem gosta dos pingos da chuva que
cai mansamente ao entardecer
Como gotas de ouro que brilham no contraste
do sol poente
Da serenidade do orvalho que cobre
ousadamente a grama macia
De sentir os primeiros raios do sol que
desponta a cada novo dia
Sou quem 'perde' o tempo observando
o vai e vem das ondas
E gestando em cada uma, uma nova canção
ou poesia
Sou quem busca enternecer com carinhos
meus amigos
Levando sempre que possível
(e ainda que virtual) a eles uma flor
Sou também o ombro que se precisares,
te ofereço
Mas que prefere te ver sorrir
Sou apenas alguém que te admira
Por ter enxergado em ti a beleza interior
Sou apenas alguém que gosta do que é belo
E por isso eu gosto de você...

(Nane - 24/02/2010)

Silêncio sombrio



Uma única vontade
Nas sombras da lua sob as núvens
Sombria e sem limiar
É tempo de espera
Portas cerradas
Calor incômodo
Nada importa
Faço das sombras
Espectros lunares
Desenhados na imaginação
Do meu cérebro ainda pulsante
Se confrontando em raios
Feito tempestades de verão
Passa o tempo
Que enfraquece o colágeno
Pressionado pelo fumo
Exposto no espelho
Onde a pele acinzentada
Se dobra em rugas
Delatoras em excesso
De uma idade mentirosa
Que nem sei se é pra menos
Mas que parece bem mais
Ressecada pelo álcool
Lagartixando sob o sol
Mais um dos meus prazeres
A contenda que me resta
Me deixa sem perspectivas
Nada quero além disso
Só ver passar o tempo
Sem com mais nada me preocupar
Além do que está por vir
Quando meus olhos se fecharem
E não mais se abrirem
Ficará uma só certeza
Num derradeiro e sincero pensamento
Ninguém além de nós há de saber
Que junto à mim se encerrará o gosto amargo
Do meu amor nunca poder anunciar
(Nane - 04/09/2014)

Cerveja gelada


Visto a mortalha
Que eu mesma escolhi
Para a viagem
Mas não embarco (ainda)
Por covardia ou coragem
Fico e aguardo
O final se aproxima
Ainda estão abertas as cortinas
Finjo ser necessária
Insubstituível
É só o medo do imponderável desconhecido
Vou ficando...
Uns goles na cabeça
Pode ser que amanhã tenha coragem
Se a covardia se for
E a embriaguês não passar
A roupa está pronta
Pendurada no cabide
Talvez eu parta nua
Zombando da frieza
A cerveja está gelada
Tanto quanto a minha vontade
A pedra não esquenta
A fumaça (do meu cigarro) me faz viajar

(Nane-24/10/2014)

Amor verdadeiro



O amor não pede nada em troca
Nasce, cresce, e ama
Ser amado...nem sempre
Mas ama porque ama
Sem nada pedir
Com muito a desejar
Nos sonhos e devaneios
Nem sempre realizados

É assim o amor
Inteiro e real
Amor de verdade
Que aguarda paciente
A entrega total
Que se não acontece
Não deixa de amar
Tão pouco de sonhar
Adormece silencioso
Guardado e aguardando
O amor florecer

O amor verdadeiro
Transpassa espaços
Segue infinito
Nos espaços da vida
Sabendo esperar
A hora do reencontro
Das almas escolhidas
E por 'instantes' perdidas
Simplesmente por saber
Que é amor de verdade

(Elian-31/03/2012)

Chamado


Esse desejo incólume me persegue
Sem que eu possa detê-lo
Dizem ser pecado
Mas não posso evitar
Nada aqui me dá prazer
Se vou pagar
Se vou morrer
Se vou reviver...
Simbiose utópica
Da qual retiro o H2O
Loucura dos neurônios
Que se julgam pensadores
E no entanto...só fazem sentir
Meus olhos gulosos
Fitam a lua
Sem nada saberem
Um lado escuro
Negro e sem luz
Me chama...me chama
Talvez eu vá...amanhã
Agora preciso ir dormir...
(Nane - 04/09/2014)

Porta aberta



A porta do inferno está aberta
Lá dentro um par de olhos me atraem
Me chama e eu tento resistir...mas é uma força incontrolável
Que me arrasta e me empurra de encontro à porta...

Não tenho onde me segurar...
A força do mal me puxa determinada
A cabeça parece explodir....vai se espatifar em pedaços
Dormir é impossível...o cansaço me enfraquece
A vontade se perdeu em distorcidos pensamentos
Que vagam sem em nada fixar...nem lembrar...

O inferno mandou me buscar
Alguém veio me arrastar...mas não o vejo
Não sei quem é...que me obriga a caminhar
De encontro a porta aberta que me suga...eu vou
Não tenho porque lutar...nada mais importa
O tempo é escasso aqui e talvez não seja eterno lá...

O gongo da vida ou da morte está soando
O bem e o mal mediram forças
A luz e as trevas lutaram com justiça
Ao vencedor é entregue o prêmio
É justo que assim seja...a porta está aberta...

(Nane - 09/01/2012)

Duas ou mais




Nas faces que tenho
Sou duas ou mais
Anjo e demônio
Vadia e santa
Blasfemo e rezo
Depende da hora
Me faço de vítima
Mas sou algoz
Me dispo de pudores
Me cubro de vergonhas
E se acalento
Também jogo ao vento
Porque sou dúbia
E por vezes acéfala
Grito em silêncio
E silencio berrando
Rezo aos santos
E acordo com o diabo
Que tenta e me atenta
E eu me deixo tentar
Porque sou duas ou mais
Sem saber onde vou parar
Enquanto procuro por mim
Nas noites escuras e sem fim
Ou nos dias de sol escaldante
Queimando meus neurônios inconstantes
E porque sou dúbia
Estouro e explodo
Xingo e praguejo
E peço desculpas
E deixo partir
Quem não sabe sentir
Que sou duas ou mais
E não sei voltar atrás...

(Elian-05/04/2012)

Se eu morrer



Se eu morrer...
Quero comemoração
Não o clima de velório
Quero fogos de artifícios
Um samba canção me homenageando
Cerveja gelada para acompanhar
Uma bandeira do meu time para eu levar
Brincadeiras a minha volta a me velar
E sorrisos por finalmente eu me libertar...

Se eu morrer...
Não se deixe entristecer
Nem ouse por mim chorar
Porque estarei sorrindo e cantando
Por onde a morte me levar...

Se eu morrer...
Estarei partindo feliz
Por saber que aqui não é meu lugar
Porque aqui nunca fui feliz
E me sinto egoísta por não agradecer
A vida que eu tenho e que me cobram
Louvar a Deus a todo instante
Pela minha saúde constante...

Se eu morrer...
Terá enfim chegado ao fim
A grande misão que me foi destinada
E com a qual fui predestinada
A viver num tempo que não gosto
E por isso me confundem com amarga...

Se eu morrer...
Não faça drama por mim
Porque o morto é reposto
No novo que vai nascer
E o tempo te fará me esquecer...

(Nane - 07/01/2011)

PASSEANDO À BEIRA MAR



As estrelas estão lá
Apesar do céu nublado
Escondidas sobre as nuvens
Com vergonha de você
Salpicam a areia da praia
Tentando se duplicarem
Para verem se ofuscam
O brilho do seu olhar
Algumas mais afoitas
Fingem cair adentro ao mar
Só para desviar a atenção
Quando te veem passar
A lua se rendeu e te serviu
De holofote na ribalta
Focando seu caminhar
Na noite à beira mar
O sol vem todo dia
Dourar sua pele macia
E resplandecer quando você
Escancara seu sorriso
Rendem-se astros e estrelas
Aos seus encantos de sereia
Desfilando na areia
E banhando-se no mar
Rende-se o próprio mar
Que amansa suas águas bravias
Só para fingir ser rio a desaguar
E de alguma forma te abraçar
Se mulher ou entidade
Curvam-se às suas vontades
O céu, a terra e o mar
Odoyá Yemanjá
(Nane-18/03/2015)

Berlinda


Se é Deus o criador
Não cabe à mim (criatura)
Questionar decisões
Por ele tomadas

Resta-me aceitar
E por vezes até chorar
Quando meu coração não entender
O que ele vai fazer

Blasfemo intimamente
Gritando em meu silêncio
Que além de mim, só ele escuta
A miséria em que me sinto
Mas ele, Deus onipotente
Tudo vê e tudo sabe
Também a tudo perdoa
E há de me entender
Sou polêmica por natureza
Filha do pai que me criou
E se é assim que eu sou
Foi Deus quem deixou

Hoje, na berlinda
Essa vida, dita tão linda
Perturba minha inteligência
E acirra minha arrogância

Te louvam e idolatram
E por prêmio...ajoelham
Questiono e te desafio
E sigo ilesa

Se por mim ou por mais alguém
Não sei...
O fato é que te pergunto
Até quando...Deus

(Nane-10/11/2014)

O silêncio do poeta



Seu olhar está distante
Num ponto nenhum
A mente divaga sem destino
Por onde andará...vai saber
As mãos parecem inquietas
Sem 'estrada' para percorrer
Esquálidas, suadas, desajeitadas
Ele apenas observa à sua volta
Não conversa com ninguém
Nem mesmo vê o que se passa
Parece uma estátua
Tão só...tão solitário
Por onde andará seu pensamento...
Seu silêncio parece arrogância
Aos que com ele falam, sem respostas
Mas no fundo é só um transe hipnótico
Que sem aviso, arrasta a sua alma
Deixando o corpo inanimado assim...calado
Quanto tempo levará...ninguém sabe
Mas o tempo necessário
De um poeta operário...
É uma ausência que se impõe
Na sua busca eterna por inspiração
E só sua respiração
Diz que ele está bem, vivo
Deixem o poeta em seu casulo
É só a sua paz que ele busca
Nas palavras que procura
Para expressar a sua arte
Não o julguem arrogante
Ou tão pouco em agonia
O silêncio do poeta
É o prefácio da poesia...

(Elian-02/06/2012)


Fórmula de viver


A vida te ensina
As mazelas da vida
Em cada esquina
Uma vertente perigosa

Segue teu rumo
Sem temer a morte
Porque ela espreita
E nos faz refém
Viva cada dia
Como se outro não houvesse
O amanhã é incerto
O hoje...presente (de Deus)
Sorria, ainda que banguela
Dos desatinos do destino
Perdoe teus perseguidores
Desate teus nós

A solidão é tua casa
Ninguém é de ninguém
O pó é teu destino
A soberba a armadilha

Viva sem desculpas
Todas as tuas culpas
Deixe viver sem preconceitos
A vida do alheio

A vida me iludiu
Com a realeza na infância
A vida me mostrou
A dura realidade
Aproveite cada instante
E viva intensamente
O amanhã é uma incógnita
Sem fórmula definida

(Nane-22/10/2014)

WhatsApp


Venho te olhar a todo instante
Em busca de um sorriso
E no teu silêncio estático
O meu...sente o salgado molhado
Tão perto de mim...
Nunca ao meu alcance
Tão distante
Tão dentro
As vezes sinto o teu olhar
Mas nunca soube definí-lo
Por vezes tão carinhoso
Por outras tão gélido
E mesmo que não venha te olhar
Te vejo em todo canto
No céu em forma de estrela
No mar em forma de imensidão
No final do meu dia
Foi tão pouco o tempo
Para os tantos sonhos que vivi
Nos pensamentos com você

Mas o teu silêncio estático
É meu maior martírio
E eu sigo vindo te olhar
Sem nada mais esperar

(Nane-26/10/2014)

Intento ao vento



Faz tempo que eu tento
Faz tempo que meu intento
Junta tudo dentro de mim
Acumula meus centros

Ahh...
Faz tanto tempo que eu tento
Correndo atrás desses meus intentos
Que perdi a noção de quanto tempo
Eu juntei intentos dentro de mim

E foi por tão pouco tempo
Que eu senti realizar os meus intentos
Não falo de justiça e nem merecimento
Mas eu queria muito meus intentos

Vi tudo de dissipar ao vento
Sonhos e desejos se corroendo
Não importa mais o tempo
Deixa ele passar assim...lento

Estive tão pertinho...
Nada mais restou desse intento
Foi levado pelo vento
É tudo coisa que eu invento

Deixa ele ir...
No tempo...
No vento...
Partir...

(Elian-22/03/2012)

Um pedido


Ah, te peço
Não me deixe tão só
Sou menina
Me dê a tua mão
Viajo no teu espaço
Vivo no teu seio
Respiro no teu ar
Sem ti...sou meio
Ah, te peço
Não me deixe tão só
Um só (teu) sorriso me basta
Não desfaça os meus sonhos
Basta um (teu ) estalar de dedos
Para que meu sorriso aflore
E o meu dia mergulhe
Na claridão do sol
Ah, te peço
Só um oi, mais nada
Para que eu saiba que pensas em mim
E que nem tudo teve fim
Te esquecer é impossível
Viver sem ti, um suplício
Te ver e te saber com um outro amor
É arder no inferno sem morrer

Ah, te peço
Só um pouco de carinho
Para que eu possa sobreviver
Mesmo sabendo que nunca terei...você

(Nane-21/10/2014)

A roteirista



Hoje, sou roteirista da minha própria história
Nas teclas do computador, vou escrever
A vida que quero para mim...será assim

No meu roteiro vou em busca de novos sonhos
Com lugares e gente diferentes
Mergulhar em aventuras imaginadas
E viver novas experiências

Me embrenhar em conquistas e paixões
Sem me preocupar com o que vai acontecer
Quero ser a protagonista da minha vida
E viver intensas emoções

Quero sentir o toque das mãos
O cheiro e o gosto de um beijo
De alguém que há de chegar
E que eu, no meu roteiro, vou buscar

Quero lutar para conquistar
O espaço onde vou me encontrar
E profissionalmente me realizar

Hoje, sou roteirista da minha própria hstória
E desde já vou escrevê-la com garra
Sem poupar nenhuma das minhas vontades
Vou à luta por cada sonho que tiver

Hoje, sou roteirista de mim mesma
E as lágrimas deixei no passado
Vou conquistar com a força dos meus braços
O meu merecido e certo...espaço

Hoje, sou eu quem escrevo a minha história
E vou de qualquer jeito buscar minha vitória...

(Nane-01/01/2012)



TIGRESA





Tigre enjaulado
Encarcerado e limitado
Ruge bem alto
Tentando provar
Que ainda vive
Deita e dorme
Sobre o cimento aquecido
Acomodado por seu destino
De fera presa
Presa que namora
No piscar dos olhos
Correndo livre
Tão fora do alcance

A brisa orvalhada
De outros tempos e cheiro
Agora se assemelha a sauna
Fedendo à desinfetante
Tigre enjaulado
No centro da cidade
Exposto à curiosidade
Sem mais nenhum propósito
(Nane-11/12/2014)

In...Grata




Sou grata ingrata
Que faz da gratidão
Castigo, prisão...
Persona non grata
Na gratidão do coração
Na paz do meu espírito
Que vaga ingrato
Sem a grata sensação
De se sentir grato
Em sua imensa vastidão
De espírito ingrato...
Sou ingrata sem graça
Que não sabe ser grata
E sente o peso da gratidão
Se impondo em minhas costas
E gritando aos quatro ventos
Que a minha ingratidão
É o preço à pagar
Pela minha liberdade
Que mais tarde virar cobrar
A ingratidão que me fuzila
Por não saber ser grata
À quem por mim foi grata...
A gratidão me cobra
O preço da ingratidão
E eu...ingrata pago
Por não saber ser...grata

(Elian-05/04/2012)

POETA DE LATRINA



Maldita a hora em que me fiz poeta
De esquina
Nas saídas dos bares
Nas madrugadas
Agasalhando no peito
As dores do mundo
Apiedando nas palavras
Da própria insignificância
Por não conseguir sorrir
Das desgraças embriagantes
Num copo interminável de cerveja
Escrevo aos amantes
Palavras adocicadas
Zombando da imbecilidade
De quem nelas acreditam
Sem perceberem que se esvaem
Na mais branda das brisas
Que sopra ao luar
Cúmplice nas enganações
Que todo poeta rabisca
Mais por ego que por convicção
À quem se presta à lê-lo
Então equilibro meus escritos
Entre dores e amores
Sem deixar vazar a verdade
Contida nas entrelinhas
Lidas e não entendidas
Pelos amantes da poesia
Induzidos pelo proxeta
Que lhes escreve sem pudor
Feito um famigerado gigolô
Prostituindo sua vítima
Em troca de seu ego
(Nane-03/07/2015)

SINA DE MÃE



Rasga teu ventre ensanguentado
Cuspindo a semente germinada
Entre amnióticos líquidos
Jorrados de tuas entranhas
Beija a cabeça coroada
Pelos dejetos abençoados
No instante supremo
Do teu grito lacerante
Aconchega em teus braços
Fazendo silenciar
O choro de estranheza
Do despejado de teu ventre
Sirva-lhe ainda quente
O néctar da vida
Da glândula em flor
Desabrochada em teus seios
Cortaram-lhe o cordão
E já não mais está em ti
Paristes teu filho
Mas não o teu destino
Proteja-o sob as tuas asas
Até quando puder
Mas quando aprender a voar
Entregue-o ao Criador
E reze...
(Nane-25/03/2015)

Genes indivisíveis



Mãe...
Porque não me ensinou a ser como você?
Porque não dividiu comigo seus genes todos?
Ah...mãe, se tivesse feito isso...
Hoje eu seria outra...e não sofreria tanto
Seria agradecida e generosa como você
E cantaria cânticos de louvores por todas as minhas dores
Teria a paciência e a sapiência que você tem
E não me deixaria afetar por coisas que magoam...

Mas você não soube dividir comigo, mãe
Os genes preciosos...
Guardou-os todos pra você
Se fez mártir do seu Deus
E calmamente aguarda no seu sofrer
A hora da sua libertação...

E quando isso acontecer, mãe
Mas perdida ainda eu vou ficar
Porque não vou ter mais com quem reclamar
A culpa por não saber me comportar
E tão pouco aceitar
O meu jeito estúpido de ser
E a falta dos genes que te fazem ser
Essa mulher extraordinária que aceita
Com toda tranquilidade o seu viver...

Ah...mãe
Isso não dá para eu perdoar...

(Nane - 07/01/2012)

Yin e Yang








Eu sou
Eu fui
Eu sei
Eu tudo
Na real, eu nada...
O que sei de mim
Não sei
Pensei saber
Me conhecer
Mas nada sei
Me idealizei
E não me apresentei
Tenho atos e ações
Gestos e palavras
Sentimentos e vontades

Que nunca pensei
Pudesse ter
Faço coisas que não faria
Se fosse eu, de fato eu
A pessoa que conheço
E acreditava ser eu...
Idealizei o que eu queria ser
Na essência do meu ser
E descobri que para me conhecer
Não basta o meu querer
Sou céu
Sou terra
Sou parte da humanidade
Meu Yin e meu yang
Tanta estrada para rodar
Tanta coisa para aprender
Tanto eu...para conhecer
Eu sou
Muito do que não sei
Ou nada...do que pensei

(Elian-19/05/22012)

LEVADA POR UM VENDAVAL



Me deixei levar no vendaval
Sem eira e nem beira
Levada por sentimentos
Revirada pelo avesso
Perdida num temporal
Mas foram tão intensos
Cada um dos segundos
Eu vi brilho no seu olhar
E fiz de cada um (dos segundos)
A nossa eternidade
É verdade que acabou
E sequer a poeira restou
Mas nas estrelas
Ainda vivem os rastros
Em fachos coloridos
Me deixei levar no vendaval
Mas vivi como poucos um amor
Que deixou marcas no universo
Do meu céu e do meu inferno
Vividos intensamente
Hoje passou o vendaval
E te levou para outro lugar
Mas deixou em forma de brisa
Um carinho na lembrança
De um amor adormecido
Outros ventos vão soprar
E trazer outros amores
Também inesquecíveis
Mas perder-me num temporal
Não vou mais...
(Nane-18/03/2015)

PENSAMENTOS CONFUSOS



Já não esconde mais seu lamento
Que chora e grita em meus ouvidos
Quando deito a cabeça no travesseiro
Em busca do sono perdido
Embriagada pelo não adormecer
A cabeça não pensa direito
Os sentimentos se misturam
Num limiar de portais inebriantes
Uma culpa em dissonância
Faz de mim Iscariotes
Em sábado de aleluia
De chibatadas e pedradas
Um adeus inevitável
Entre lágrimas e sorrisos
Se confundem num alívio
Entre o bem e o mal
Uma menina chora a sua falta
Uma mulher te quer ver livre
Um médico e um monstro
Numa só carcaça
O cansaço alucinógeno
Corrompendo a sanidade
Na pergunta que não quer calar
Do que é certo ou errado
Deus do céu ou do inferno
E eu tenho que ter fé
Me destes um cobertor
Mas eu morro de frio
Não sei mais o que fazer
Na angústia dos lamentos
Das dores sem refresco
Que escuto noite e dia
As vezes uma vontade
Bate forte e sem sentido
De correr sem direção
Para lugar nenhum
E nesse desespero
A loucura me assedia
Feito uma bala perdida
No alvo certeiro
A sua incoerência
A minha incongruência
Vidas entrelaçadas
Num adeus
(Nane-05/04/2015)
*Arte de: Marcos Coimbra

Semente




Morrer jamais...
Somos um eterno ir e vir
Renascemos da própria morte
Ou morremos da própria vida
Somos amálgama de nós mesmos
Em constante mutação
Fazemos da semente
A árvore da nossa sustentação
A semeadura é livre
Mas a colheita...obrigatória
Cabe à nós plantar bom fruto
Ou colher veneno puro
A seara se prepara
E somos nós os responsáveis
Pela plantação à germinar
A semente nunca mente
É só o resultado de quem plantou
Quem planta nuvem
Colhe tempestade
Mas na escolha da semente
O agricultor fica à vontade
Não morreremos jamais
Iremos e voltaremos eternamente
A semente vai sempre germinar
E é você quem irá plantar
O que fatalmente irá colher...

(Elian-05/02/2012)

Avesso



Sou o extremo
Me mostro e me rasgo
Vivo em erupção
Tal qual lava do vulcão

Sou criticada
Por me por tão a mostra
Mas não sei ser diferente
Não gosto de lastimar coisas ausentes

Me dispo inteira nos versos
Me ponho nua nas palavras que rabisco
Sou inteira sem metades
Sou meu avesso posto a mostra

Meus limites são meus horizontes
Caminho sempre para buscá-los
Ainda não os encontrei
Talvez por isso ainda não parei

Se choro e sofro por uma dor
Derramo todas as lágrimas que tenho
Mas a mágoa que faz corroer o coração
Essa eu mando embora na torrente de minhas lágimas

Sou assim...
Impulsiva e direta
Me jogo, rasgo e falo
Me acalmo, me entrego
Me olho e me vejo num rabisco...

(Nane-30/06/2010)

A pecadora



Peco por falar
Por me expor
Por me deixar transparecer
Por mostrar quem sou


Peco quando amo
Ou mesmo se desamo
Peco por dizer a que vim
Por não mandar recado

Peco se dou carinho
Ou se ignoro
Peco por gostar
Peco por demonstrar

E quando não gosto
Também peco
Porque se não destrato
Deixo claro o que é fato

E peco apenas por pecar
A cada vez que amo
Que encanto
Que tento
Que faço
Que desfaço
Que mostro
Que não escondo

Peco porque vivo
Por não ser o que esperam
Por desapontar
Por não sofrer
Por pouco me lixar
Por nada me importar
Com o que de mim vão achar

E aí...eu peco...

(Nane-17/06/2010)

MAIS QUE O MUNDO (e mais um pouquinho)



Subjetivo amor
Muito além daqui
Onde o sexo é reflexo
E a ternura amplidão
Maior de todos os amores
Rompendo o sepulcro frio
Em direção ao universo infinito
Perene em seus mistérios
Pisando em estereótipos
Vislumbrando a essência
De outras histórias
Redivivas
Com as bençãos de Platão
E na cabeça a confusão
De outra dimensão
Sem nenhuma exatidão
A certeza de ser
Ainda que sem poder ter
O certo de um errado
E a conta a pagar
Passe o tempo que passar
Venha quem vier
Meu subjetivo amor
Há de perdurar
(por toda a eternidade)
(Nane-08/04/2015)

É só poesia




De que poesia falo eu
Quando escrevo meu silêncio
Escoado em palavras
Não ditas...
Talvez dos céleres poemas
Fugazes e indecentes
Que vagueiam pela mente
E morrem ao despertar
De que poesia falo eu
Quando espero na madrugada
O encontro com ela (a inspiração)
E a vejo num limiar
Entre a vida e a morte
Entre o céu e o inferno
Entre o lúdico e o nefasto
E me perco nas palavras
Tentando decifrar
De que poesia falo eu
Que me cobra e me obriga
Sem nunca me oprimir
Sem ditar regras ou me policiar
Quando sopra seus espectros
E eu transformo em emoção
Gerando lágrimas ou suspiros
Dos mais loucos do que eu
Que perdem seu tempo ao (me) lerem
De que poesia falo eu...
(Nane-15/12/2012)

Poeta Obsoleto


Era só um poeta
Medíocre, de rimas pobres
Em poesias profanas
Para a musa idealizada
Se achava o tal
E era feliz em seu mundinho
Bastava-lhe o amor
Da que lhe dava inspiração
Mas seus sonhos ruíram
Implodidos num conto
De um infante contador
Infanto juvenil
O bom moço contador
Com porte de príncipe
Profanou todas as poesias
Do poeta cabisbaixo
Abandonou-lhe a inspiração
E a musa encantada
Pelos contos estampados
No peito do contador
Sem mais forças pra rimar
O poeta ultrapassado
Silenciou a poesia
Restando-lhe chorar
Suas noites insones
Outrora rabiscadas
Agora são testemunhas
Das lagrimas derramadas
O infante conta a alegria
Com mistérios e magias
Enquanto o velho poeta
Obsoleto, vê nascer o dia
Sem amor e sem humor
Silencia sua poesia
Para que não nao revele mais a sua dor
Em palavras rimadas e escritas
(Nane-24/10/2014)

STAND BY




Amor, estou aqui
Aguardando você voltar
Porque sei que vai voltar
Quando cansar de brincar de amar
É meu o seu amor
Ainda que você não saiba
Estou de prontidão
Na minha solidão
Vá sim, viver seus amores
Divirta-se a valer
E quando voltar
Aninhe-se em meus braços
Sou eu quem te espera
Por toda a vida
Não tenha pressa de chegar
Eu vou te esperar
Até mesmo por não ter outra opção
Sou seu stand by
Um dia você vai perceber e entender
Que só eu eu amo você
Então, finalmente virá
E eu torcerei como nunca
Para que nesse dia
Você possa...me encontrar

(Nane-09/12/2014)

Arte no sentir




Nada há para ser entendido
Tudo deve ser sentido
Posto que se perde o sentido
Daquilo que é entendido

Olhe com olhos de ver
A beleza do sentir
E sinta com a sensação
De ver com o coração

Esqueça os 'porquês'
Libere os 'sentidos'
Não procure explicação
Flua só a emoção

A arte se supera
Encanta e desencanta
Aos que dela esperam
Sentir ou entender

Arte é sublime
Suprema e indolente
Se mostra, se expõe
E manda às favas julgamentos

Não queira compreender
Sinta apenas
A arte de viver
Sem ter que entender

(Elian-17/05/2012)

ESTRANHA SENSAÇÃO



Estranha a sensação
Quando nossos olhos não veem
Mas nossa alma sente
A presença de uma outra
Estranha sensação
Por vezes de paz
Por outras de intempéries
De saudades egoístas
Estranha sensação
Quando nos pegamos
Sorrindo ao seu sorriso
Desenhado na retina
Estranha a sensação
Da nossa insegurança
De não saber por onde anda
O espírito tão querido
Estranha sensação
De subjetividade
Quando antes tão concreto
O abraço e o beijo
Estranha sensação
Da vida e da morte
Separando por dimensões
Seres tão afins
Estranha a sensação
Desse amor tão imenso
Quando não mais é possível
Dizer que eu te amo
(Nane-13/04/2015)

SAUDOSISMO



Posso ser estranha por não gostar da vida,
por me sentir enclausurada,
Por não ter expectativas...
Vi tantas lutas por ela (vida)!
Pessoas começando a viver e já batendo

na porta do céu (?).
Gente querendo sobreviver (e não 'viver') a qualquer preço
num corredor gélido que mais parece matadouro.
Vi crianças esfaceladas, sorrindo e chorando.
Mães inconformadas e até uma índia rezando
para que Tupã a livrasse do filho doente e 'estragado'.
Não vejo a morte como o fim, mas uma volta
ao seu verdadeiro lar.
Sofro sim a falta dos meus que me antecederam
nessa viagem repleta de mistérios, mas aguardo,
sem pressa a minha hora de também ir (de preferência
sem despedidas). Sei também e tento me preparar
(mesmo sabendo que de nada adianta) para o dia
que minha mãe se for (e torço muito para que seja
antes de mim).
Posso ser estranha por não gostar dessa vida aqui,
mas não me tomem por louca.
Sou apenas alguém que sente saudades de casa...

Não necessariamente sou triste por não gostar
da vida aqui.

(Nane-09/12/2014)

É PRECISO CONTAR ESTÓRIAS



Surreal estória
Nascida no bastidor
Onde um homem é mulher
E uma mulher finge um amor
Surreais vidas
Onde admira o amante
O marido não traído
Mas corno manso
Surreal loucura
De gente que se diz sã
E por baixo do 'pano'
Se mostra louca
Surreal romance
De sereia e caramujo
Num Reino Unido
Com sotaque nordestino
Surreal relacionamento
De vidas inventadas
Vividas dentro da tela
De um computador ligado
Surreal sentimentos
Que evaporam ao vento
Quando a tomada é puxada
E a bateria descarregada
Surreal musa
Surreal escritor
Surreal marido
Surreal amante
(Nane-27/03/2015)
*Arte de: Fátima Ayche

Carolina




Choro meus dias amargurados
Enclausurados na rotina
Que faz deles tédio
Num acinzentar do sol
Lamento o tempo perdido
No tic e tac do relógio
Que tal ácido devora
Meus tímpanos incomodados
Enquanto a vida lá fora
Passa com voraz pressa
E os calos me fazem marcas
Nos cotovelos enraizados na janela
Clamo a tal liberdade
Mas me perco na indecisão
De voar rumo ao horizonte
E não saber voltar
Passam os dias
Passam as noites
Gente que vai
Gente que vem
Não me chamo Carolina
Mas meu tempo se esvai na janela...

(Elian-18/05/2012)

Perdão


Perdoa
Esse amor insano
Que por uma mentira
Tornou-se gigante
Perdoa
Se nunca fui quem disse
E no entanto sou quem fui
Na minha própria imaginação
Perdoa
Se em meus devaneios
Te sufoco e te cobro
O que não me é de direito
Perdoa
Se choro ao te lembrar
E nunca te esqueço
Em todos os meus instantes
Perdoa
Se te amo sem medidas
E não meço meus limites
Invadindo teus espaços
Perdoa
Enfim, meu desatino
Que por força do destino
Prendeu-se e perdeu-se (à) por você
(Nane-13/10/2014)

E agora



E agora...
O que faço com o que restou
Os suspiros que me assaltam sem querer
As lágrimas que rolam pela face sem avisar
O pensamento que foge até te encontrar
A saudade que queima e teima em não passar
E agora...o que faço com isso....

Só o tempo vai me curar, eu sei
Mas e enquanto ele não passa
O que faço com tudo isso
Que parece querer me dizimar...

Se até meu coração parece suspirar
Descompassado em arritmias
Parece querer falhar...parar...

Mas ninguém morre de amor
Foi o que eu sempre ouvi dizer
Mas e de tristeza....será que se pode morrer...

E agora...
O que faço com a falta que sinto de você

(Nane - 08/01/2012)

O 5º ato



Nuvens que passam
Formas que formam
Imagens que veem
Olhos que olham
O que não existe
E no vento se desfaz

Danço na chuva
Lavo a alma
Encharco o corpo
Rodopio na rua
Me sinto nua
Sorrio de mim mesma
E ouço a música

Ergo um castelo
Na beira do mar
Sabendo que a onda
O irá levar
Mas é tão lindo
Que me deixo enfeitiçar
E dentro dele sonhar

Sou o resumo da ópera
Que aplaudem sem entender
E que até dormem
No ato final
No acorde mais alto
Do barítono que canta
Mas nem a todos encanta

O vento espalha
A nuvem se desmancha
A areia vira um monte
A cortina se fecha
E eu...adormeço...

(Elian-05/03/2012)

ÁRVORE



Mascaro a brandura
Na casca dura que me reveste
Por não saber me entregar
Por não querer me estragar
Cada escolha é minha
E a consequência também
O sorriso represa a lágrima
Que afoga sonhos natimortos
Quando ousei sonhar
Vi o pesadelo tomar forma
Recolhi meus sonhos
E me vesti de casca
Feito árvore cascuda
Que pinga seiva na ferida
Fincada por sobre raízes
Assumo escolhas
O fruto nem sempre é bom
E a semente nem sempre frutifica
Árvore exposta aos raios
Que a tempestade trás
Mascaro a madeira de lei
No coração forjado à canivete
Na casca grosa de um tronco
Carapaça dos meus anseios
(Nane-23/03/2015)

Nerd estina


Baiana de óculos
Olhar fixo em um ponto qualquer
Pensamentos fervilhando
Solução encontrada

A poesia é seu lazer
A cultura seu habitat
A beleza sua natureza
A precisão sua decisão
Baiana dos Orixás
E de todos os santos
De fé inabalada
No rosário da virgem
Baiana perfeita
Com todos os defeitos
Sou fã de carteirinha
Da nerd da Bahia
(Nane-27/10/2014)

AMOR PERFEITO



Quero nosso amor assim
Exposto e esparramado
Gritado livremente
Aos quatro ventos

Quero mostrar ao mundo

O maior dos meus sentimentos
Sem ter que esconder
Teu nome de ninguém

Ah...e me pedes segredo

Não permites fotos
Torna-te invisível
Quimera minha

Foi só brincadeira

Da tua parte
Amor escondido
Desejos incontidos

Num mundo só nosso

Sem nenhum vestígio
Que por causa do meu querer
Desmoronou, acabou

Inventamos demais

Amamos demais
Cobrei demais
E você brincou demais

Não quero mais nada

Que não seja concreto
Firmado e cimentado
Na calmaria segura

(Nane - 17/06/20145)


*Arte de: Luis Videira

Viajantes


Tem tantas luzes lá fora
E no entanto me acostumei à penumbra
Elas (as luzes) me irritam os olhos
Cegam-me o olhar
O egoísmo me fez refém
Não me importo com nada e nem ninguém
Minhas lágrimas não se fundem com outras
E meu sorriso é contido...sumido

Acostumei-me com minha solidão
E as pessoas me incomodam
Houve um tempo em que as flores e os bichos me encantavam
Agora não mais...não mais

Não há mais espaço para lamentações
Não há lugar para expectativas
A praticidade virou meta
Pouco importa o que dizem (ou pensam)

A vida é bela sim
Mas não pra mim
Não gosto dela
E nem ela de mim

Nos suportamos como viajantes
Presas numa mesma poltrona
Aguardando o ponto para dar o sinal
No desembarque fatal
Lá fora tem um céu cheio de estrelas
No meu céu...só a escuridão da noite
Mas eu gosto da noite
Mas eu gosto da penumbra...
(Nane-23/10/2014)

Dá-me o teu amor


Dá-me o teu amor
Ainda que por meros instantes
Tão preciosos
Dá-me o teu amor
Não é ele só meu
Que importância tem isso
Se minhas entranhas te querem
Sem motivo algum
Nas noites em que não durmo
Seu nome e sua imagem
Desfilam em minha mente
Feito bálsamo relaxante

Dá-me o teu amor
Sem interesse algum
Sem toque nenhum
Apenas em teu olhar

Dá-me o teu amor
Para que eu não morra
Nada peço que não não dou
Só a quimera da ternura em teu olhar

Dá-me o teu amor
Tatuado em forma de flor
Na alma de minha vivência
Na prova final da minha dor

Dá-me por caridade o teu amor...

{Nane-12/10/2014

REFLETINDO






Se joga poeta
Em teus versos simples
Sem medo de semideuses
Literatos

Deixa fluir teus sentimentos
Ainda que sem rimas
Mas tão dançantes nas palavras
Expondo tua vida

Escreve poeta
Sem preocupação nenhuma
Já que a poesia está em ti
Sem nunca ter sido tua

E se te faltar inspiração
Deixa em branco a tua folha
Pois refletes poesia
Na tua alma de poeta...

(Nane-19/12/02014)

Cansaço do nada



Bateu um cansaço
Que o corpo não justifica
Mas parece retorcer
Em todas as suas fibras
Suspiros profundos
Soluços indevidos
Olhares perdidos
Vontades esquecidas
Ecoou um silêncio
Rugiu um absolutismo
Um vazio tão oco
Nada mais importa
Um menino brinca numa poça de lama
Um sorriso furtivo no canto da boca
Um olhar perdido no espaço
Adentrando no portal do passado
Os olhos piscam marejados...cansados
Abruptamente separam-se as dimensões
O menino na lama se suja e molha
A realidade nua e crua volta à tona
Entre quatro paredes na noite fria
Uma TV não prende o raciocínio
O cansaço do nada persiste
A dor sem analgésico insiste
Suspiros profundos
Soluços indevidos
Olhares perdidos
Vontades...esquecidas
(Nane-17/11/2014)

Num só instante



Um instante...
Apenas um instante
Tão pouco e tão muito
Um instante derradeiro
Onde tudo acontece
Não passa de um instante
O instante derradeiro
Se nasce e se morre
Se ama e se odeia
Em apenas um instante
Que é tempo derradeiro
De tudo se fazer...

É só um instante
Para tudo transformar
Ou nada mudar
E tudo continuar
É um instante derradeiro
De falsos e verdadeiros...

Instantes vividos
Tempos perdidos
Amores esquecidos
Vontades vencidas
Sonhos desfeitos...

Instantes vividos
Tempos sonhados
Amores sacramentados
Vontades satisfeitas
Sonhos realizados...

(Elian-19/03/2012)

O mergulho do sol



Juntei sonhos e planos
Num horizonte plano
Onde sua imagem eu enxerguei
E tentei dela me aproximar

Sei que de alguma forma
Te alcancei e te marquei
Mas não foi o bastante
E seu horizonte ficou distante

Desenhei em nuvens douradas
Do crepúsculo enfeitiçado
O seu nome emoldurado
Com o ouro do sol poente

E caminhei por sobre o mar
Na esperança vã de te alcançar
Mas bastava eu me aproximar
Para o seu horizonte se afastar

Enfrentei ondas sobre ondas
Mergulhei no mar bravio
Remei contra a maré
Até a exaustão

Foi o seu nome bordado
Em nuvens emolduradas
Que escrevi sem medo
Na moldura que eu criei

Eu queria te entregar
Junto com o meu coração
O presente no instante
Que alcançasse o seu horizonte

Mas não consegui chegar
Por mais que eu remasse
Vi seu nome no horizonte
Junto com o sol, no crepúsculo,se afogar...

(Elian-22/03/2012)

Reis e rainhas


Tantos meninos
Tantas meninas
Crianças inocentes
Num mundinho tão simples
Miram o mar
Brincam de navegar
Correm ao vento
Sem preconceitos
Contam estórias
De faz de conta
Acreditam nas fadas
Guardam os dentinhos

Pulam as estrelas
Sorriem com o sol
Apagam as luzes
Da lua cheia

Tão bom ser criança
Tão bom ter esperança
Acreditar no papai noel
Pensar que o limite é o céu

São reis e rainhas
Encantando seus súditos
Com artes e estrepolias
Tesouros dos pais, avós e tios
Tão simples a vida
De felicidade plena
Tão sábias crianças
Deliciosas lambanças...
(Nane-13/10/2014)

Três minutos de viagem



Embarquei na astronave
Sem saber para onde ir
Viajando pelo espaço
Em branco...em branco
Na cabeça só viagens
Sem mapas, sem portos
Estrêlas sem brilho
Passaram por mim
Me deixei levar assim
No infinito espacial
Envolvida no silêncio
Do espaço sideral

Lá nada pode me atingir
Vou viajando sem saber
Por onde hei de ir
Subindo sem destino
Indo pra lugar nenhum
Apenas seguindo
Sem saber se vou voltar
Esquecendo de você
E de mim
Apenas viajar...

Quanto tempo vai levar
Pouco importa
Eu quero viajar
Sem destino de pousar
A nave vai me levar
E em algum lugar há de pousar
E se por acaso se perder
Na deriva do espaço
Eu vou sobreviver
Enquanto puder respirar

(Elian-23/03/2012)

UMA BREVE DESPEDIDA



Sorriu um sorriso maroto
Disse um até breve
E se foi...
Sabia que no dia seguinte
Era inevitável o reencontro
Seus olhos também sorriram
Num apertar acompanhado
Do alargar dos lábios
Como fazia todos os dias
Quando se despedia
Me acostumei tanto à cena
Que já nem mais aplaudia
Simplesmente devolvia o sorriso
No balançar da cabeça
Firmando um compromisso
Quando o sol surgiu na alvorada
Acordei com os trinados da passarada
E aguardei como todo dia
A sua chegada no quintal
Para o rotineiro bom dia
As nuvens esconderam o sol
E a chuva não tardou a cair
Pensei com meus 'botões'
Que o frio outonal era o culpado
Pelo atraso no seu chegar
O dia se arrastou fechado
Tristonho e melancólico
E sem me dizer o motivo
Ao nosso encontro faltou
Pela primeira vez
Eu, sem saber o que fazer
Pude perceber a importância
Na falta do seu bom dia
E da monótona rotina
Me vi conservadora
Já ao anoitecer veio a notícia
De que o seu sorriso se fechou
E o seu bom dia se calou
Seu até breve se fez longo
E o dia seguinte...aguarda
(Nane-02/04/2015)

TELHADO DE VIDRO



Chamam de mentira
A verdade inventada
E tão acreditada
Que foi vivida
E feita verdade
Mas tão cobrada e vingada
Por nascer mentira
Contorcida na metamorfose
De aparência horrenda
Que a transformou em verdade
E sobreviveu
Pelo tempo determinado
Na durabilidade
Da vingança ou piedade
Pelo ser que a pariu
Pouco importa a verdade
Vade retro Satanás
Posto que serás mentira
Enquanto viva for
E ao inferno não sucumbir
O fato é que morreu
Sem ser prematura
Ainda que verdade
Nasceu mentira
E morreu sem velório
A pedra atirada
Matou a verdade
Vingou a mentira
Da alma limpa
Que a lançou
Sem telhado de vidro
Nada quebrou
Apenas a verdade
Deixou de ser verdade
Por não mais interessar


(Nane-23/03/2015)

Grito do silêncio


Quando você vai entender
Que sem você não sei viver
Olha só um pouquinho pra mim
Não deixa eu acabar assim

Você fez de mim um turbilhão
Me colocou culpas nas costas
Me fez viver coisas que não sei explicar
Me ensinou a amar...e a me acabar

Hoje não valho o pão que como
Me perdi na estrada que tracei pra mim
E numa linha retilínea e sem fim
Consegui me perder de mim

E pensar que um dia
Sem nenhuma malícia
Era eu quem tinha as rédeas
E ditava as regras

Quando será que vai me perdoar
E esquecer todo esse mal
Te juro, pensei que te fazia bem
Te compensei apenas por te amar

Você me derrubou
Me fez te amar e te querer
Não sei se é só por teu prazer
Mas você sabe me fazer sofrer

Me deixa te deixar
Me deixa te esquecer
Não me deixa terminar
Insana...sem você

Isso é um S.O.S
Não faz assim comigo
Escuta meu grito silencioso
Antes que seja muito tarde
E então...me esqueça de verdade

(Nane-30/12/2011)

LAVA-DA ALMA


Lava-da alma




Não tenho a passividade dos que tem fé
Nem a conformidade dos que creem
Não tenho a aceitação dos que esperam
O prêmio de consolação
Por vezes até tento ter
Mas fala alto meus instintos
Explosivos e repentinos
Que me fazem blasfemar (ou cobrar)
O que a vida fez de mim
Ou o que eu fiz da vida
São paralelas tão minhas
Tenho que encarar
No despertar de todo dia
As cobranças em brasas ditas
Queimando o leito facial
Feito lavas salgadas da alma
Que tantas dívidas a serem pagas
Por estranhas criaturas
Colocadas num mesmo espaço
Confinadas num abraço
O amor é latente
As brigas presentes
A morte indigente
Os corpos...pressentem
(Nane-11/12/2014)

VIDA POST MORTEM






Terá valido a vida
Se depois de mim
Alguém (quem quer que seja) recitar
Uma escrita minha
É sim, pura vaidade
E mais forte ainda, vontade
De ficar aqui
Depois da morte

Não preciso de um livro capa dura
Nem fazer parte de alguma academia
Só quero minha palavra ao vento
Sem repousar na sepultura

Não morrerei por um bom tempo
Enquanto um só leitor
Despejar na memória as palavras
Que um dia ousei rabiscar
(Nane-30/12/2014)

Sulcos


Por entre as sementes que planto e cuido
Procuro raízes que penso fincar
Mas vem a seca e teima em matar
O fruto que pensei colher
Em meio à plantação
O mato cresce sem distinção
Abafando meus sonhos semeados
Na terra que arei com tanto cuidado
Os sulcos do solo
Se confundem com minhas rugas
Ambos criados sob o sol escaldante
E de péssimas aparências

Sou princípio do mesmo chão
Que aguarda mansamente por mim
E cava sulcos sem distinção
Em mim e no chão
Chão esse que há de me engolir
E para sempre me silenciar
E quem sabe, com sorte, fazer de mim
Adubo de minhas próprias sementes


(Nane-10/11/2014)

Entrelinhas



O tempo todo
Do meu amor
E por falar assim
Talvez tente te ouvir
Também nas entrelinhas
Mas não sou poliglota
E você fala outro idioma
Que por mais que eu tente
Não consigo entender
Penso às vezes
Ser para mim
Mas quebro a cara
Nunca é
E quando é
Não gosto da tradução
Te falo nas entrelinhas
É verdade
Mas tão claro
Quanto um dia de sol
Tento ter o tal 'altruísmo'
Difícil demais
Não falo de morte
Mas de minha subjetividade
Morrendo em ti
Quando não mais me quiseres
Te falo da minha surrealidade
Que de tão intensa
E insana
Te faz achar
Que não é verdade
Não tenho ponto
Vírgula
Interrogação
Exclamação
A minha relação
Em relação a ti
Vive eternamente
De reticências...
E embora
Um tanto abstrato
O que de mais concreto
Pode existir
É o louco amor
Que trago no peito
Absorto e absurdo
Não sei ler suas entrelinhas
Mas nas minhas
Só seu nome
Está escrito
Até quando
Ou enquanto
Existir o amor
E eu...
(Nane* 02/2012)

PASSAPORTE PARA A ETERNIDADE



Ah, se tivesses noção
Do estrago causado
Pela ausência tua
Virias à mim
Ah, se tivesses
A noção da dor
Que esmaga o peito
E escorre nos olhos
Ah, se sentisses
Um mínimo que fosse
Da saudade opressora
Que sufoca o ar
Ah, se pudesses
Me ver agora
Entenderias melhor
O que fizestes
Ah se entendesses
Do amor verdadeiro
Saberias que a morte
Não me mete medo
Ah, se tivesse sobrado
Só um pouco de verdade
Entenderias que a eternidade
Sou eu e é você...

(Nane-27/03/2015)

*Arte de: Luiz Eduardo Lomba Rosa

MASTURBAÇÃO


Brinda a alma à luxúria
Entorpecida num corpo
Hoje esquálido e envelhecido
Resistindo ao tempo que lhe cabe
Vibram cada um dos neurônios sob a pele
Desejosos do prazer do sexo
Feito a puta de aluguel subentendida
E revestida do véu da devotada

A velha enxerga no espelho embaçado
A fogosa mulher fatal de outros tempos
Goza dos desfrutes pecaminosos
Escondida em seu próprio disfarce

Pisca a vulva delirante sob o pano úmido
Como se penetrada fosse
Espasmos de um prazer alucinógeno
Contorcem os músculos já flácidos

A vergonha embriagante e melancólica
Faz do prazer, culpa pecaminosa
Transformando o orgasmo alcançado
Em mera e puta pieguice

(Nane-10/12/2014)

O Execrado




Sou eu quem passo e ninguém vê
Grito, mas não me ouvem
Se falo..., não escutam
Sou a sombra que o chão não reflete
Sou o projeto de borboleta
Que o casulo enforcou
Sou o ser que não vingou
Mas que todos veem a silhueta
Queria gritar e ser ouvido
Mas minha garganta estanca
De que me vale ser franco
Se minha verdade se dilapida
Estou em busca de uma vontade
De ir ou de ficar
Mas só consigo animosidade
E só faço me calar
Sou o projeto quase perfeito
Que alguém desenvolveu
Mas que ficou tempo demais no leito
Da gaveta e meu sentido se perdeu
Sou a asa que não voou
Sou a vela que se apagou
O perdão que não foi dado
A mentira mal contada
Sou apenas quem espera
Que o tempo passe em vão
A vontade que o dia acelera
Sou o ponto de exclamação
Sou aquilo que chamam execrado
O nada a ser aproveitado
A vontade de ir e de ficar
O sonho de viver e de amar
Eu sou o ponto final.

(Nane/Elian- 05/01/2010)

CORAÇÃO PENSANTE



Dê ao seu coração
Para que ele tenha sobrevida
Um cérebro
Deixe que ele pense
E não haja por impulso
Feito menino mimado
Querendo o que não pode
Dê ao seu coração
A real dimensão
Do que lhe é permitido
E não o deixe decidir
Sem que esteja atrelado
À quem de fato sabe
O que é o certo e errado
Dê ao seu coração
A medida exata da sua liberdade
De escolher a quem amar
Pesando os prós e os contras
Das consequências vindouras
Por decisões tomadas
Sem o equilíbrio necessário
Dê ao seu coração
Se preciso for
A ordem de só amar
Quem também te ama
Para que ele não pereça
E tão pouco refugue
Num pulsar arrítmico
Dê ao seu coração
O diploma de formando
Na faculdade da vida
Que ensina que o amor
Nada mais é do que o costume
De ter alguém ao lado seu
Dê ao seu coração
A verdade, ainda que dolorida
De que o amor é uma ilusão
Momentos de paixão
E só o que conta é a verdade
Da paz criada na sinceridade
De um amor totalmente programado
(Nane-18/06/2015)

UMA PONTE PARA O HORIZONTE



O azul absurdo do céu de maio
Sem uma nuvem sequer
Numa efêmera abóbada ilusória
Feito um abstrato sentimento
Beleza sutil e admirável
Que a gente não se cansa de olhar
Em busca de uma (também ilusória) ponte
Que nos leve ao (inalcançável) horizonte
A claridade refletida no azul
Límpida, sem sombra nenhuma
Empresta ao dia uma plenitude
Digna dos contos de fadas
Corre o riacho mansamente
Sem pressa de chegar
Por saber que o mar
Está a lhe esperar
Gestam seus frutos que virão
Na certa estação, as árvores
Também sem pressa nenhuma
Por saberem que o tempo virá
Toda a efemeridade concreta
Faz da vida, poesia
Pronta a ser vivida
E lida assim, num simples dia
O azul absurdo do céu de maio
Se despede majestoso
Encantado e encantando
Feito um abstrato e tão concreto sentimento
(Nane - 29/05/2015)

Espelhos de mim


Me confundo em meus rabiscos
Não sei se os escrevos ou se me descrevem
A folha ainda em branco, vazia
Faz de mim mera expectativa
De um poema inesquecível
Nascendo em palavras soltas ao vento
Que na folha vão preenchendo
E na vida...dando sentido...

Me faço rabisco de amor
Me sinto menina em flor
Me vejo em folhas rebuscadas
De flores, mares, perfumes e magias
Faço de mim poesia
E decido então nas entrelinhas
Se serei ou não um poema de alegria...

No soluçar de meus anseios
Descrevo a dor e a saudade
Ponho nas palavras minhas verdades
E deixo espelhar minhas vontades
Em versos simples e sem maldades
Em desejos quase sempre irrealizáveis
Mas que me permito imaginar
E de ilusões, em meus poemas viver...

(Elian-08/02/2012)

SENTIDOS






Faço e desfaço
Caio e levanto
Num mesmo instante
Sem muito refletir
Procuro em vão
Um porto seguro
Perdido nas sombras
Da névoa espessa
Vago na noite escura
Sem referência
De direção
Por opção
É tanta vida
Em cada sentido
Que duvido
Se vou morrer
A dor me consome
Mas é sentido
É vida também
Me faz reagir
A lua brilha
E eu vejo
Também é sentido
Me dizendo que é vida
A morte chega
Sem mais aviso
Trazendo a tristeza
Da vida que continua
São tantas perguntas
Tão poucas respostas
A vida é morte
E a morte é vida
Se o preto é branco
O certo é errado
Eu acordo e vivo
E se durmo...eu morro
Já não tenho pressa
Cansei de correr
Caminho sem me preocupar
Onde vou chegar
Lá fora venta frio
Aqui dentro faz calor
Sou eu e meu interior
Refazendo ( a todo instante ) meus sentidos
(Nane-24/12/2014)

Numa nova estrada


Amor maior não houve
E sei, não haverá
Mas é tempo de seguir em frente
Mesmo sem ter você
A vida não permite parada
É uma pista de alta velocidade
Parar é sinônimo de acidente
Há que se ter postura de vencedor

Você será sempre a lembrança
Do melhor que o amor pode ser
Viverá eternamente em mi'alma
Enquanto ela (é imortal) existir

Mas agora tenho que seguir
Rumo a minha própria vida
Pelas curvas do meu destino
Na estrada que me foi destinada

Só saiba que eu vou te levar
Por onde quer que eu vá
Se nossas estradas (de novo) vão se cruzar
Só o tempo dirá
Mas vale o que ficou
Um amor assim não se acaba
Quem sabe se numa outra estrada
Caminharemos de braços dados
Por tudo isso acredito
Que amor maior não houve
Resta seguir em frente e aguardar
a hora de te reencontrar
(Nane-05/11/2014)

Psiu



Entre bem devagarinho
Não faça barulho
A minha dor adormeceu
Não quero despertá-la
A saudade foi na esquina
Enquanto a alma repousa
O coração serenou
E ouço a chuva que cai
Pise bem de mansinho
Minha noite está tranquila
O amanhã...não sei
Faça silêncio, por favor
Minha dor adormeceu...

(Nane-06/11/2014)

Deus e as muriçocas



Porque cada vez que eu tento
Algo dá errado
Destrambelha tudo
A vida perde o reio
O cabresto envieza
O cavalo perde o rumo
Sente o arreio frouxo
Me derruba da sela sem ferrolho
E trota livre sem direção
Rumo ao desconhecido
Me deixando assim, no chão...

E vejo sonhos desfeitos
Objetivos perdidos
Lutas vencidas
Lágrimas derramadas
Luzes apagadas
Músicas emudecidas
Poesias sem rimas
Telas borradas
Desejos contidos
Gritos calados
Viagens interrompidas...

E me pergunto a todo instante
O que é certo e o que é errado
Se persisto ou se paro
Se acredito ou duvido
Das promessas de um cara
Barbudo e onipotente
Que se diz protetor da gente
E me testa o tempo inteiro...

Ou sou o seu inferno
Ou estou no meu inferno
Um dia, por mais distante
Eu vou te encontrar
E aí...vou te perguntar
Olhando na sua cara
Para-quê servem as muriçocas ?

(Elian-26/03/2012)

ALUCINAÇÃO



Cheira a morte o recinto
Num odor agridoce agradável
Seduz meu olfato já pouco apurado
Pelo vício da fumaça inalada
Embriaga meus sentidos já embriagados
Pela cevada gélida na garganta
Rompendo sinapses no corpo inteiro
Relegado ao estado entorpecido
As paredes borradas de cores
Confundem e atraem os meus olhos
Num redemoinho em espiral
Num mergulho perene...caindo
Paulatinamente figuras
Se formam na minha mente
Vou mais fundo na embriaguez
Quase num êxtase lacônico
Nada me é conhecido
Além do cheiro inebriante
Dançam espectros sombrios
Como num ritual fúnebre
A escuridão se confunde com a luz
Que cega do mesmo jeito
O estrondo ensurdecedor se faz
E o suor frio escorre molhando a cama
Por hoje acabou o mergulho
Os olhos esbugalhados revelam
Que o pesadelo não tem fim
Foi só mais um capítulo...
(Nane-28/03/2015)

DESAFIANDO A PREGUIÇA



Da janela do meu quarto observo
O dia que passa marrento
E vejo o sol com preguiça
Por ser sol de outono
Lá fora, correm galinhas e patos
No terreiro mesclado pelo cimento
Onde descansam os cachorros e os gatos
Também preguiçosos
Me chamam as tarefas diárias
Mas a preguiça é contagiante
Nesse dia de sol indolente
Que parece estagnar a gente
Da janela do meu quarto observo
O quintal sem menino correndo
Ta tudo tão silencioso
Que parece natureza morta na tela
Vejo mato, cimento e ribeirão
E casas de vizinhos fechadas
Só a minha está aberta
Por preguiça minha de fechar
Deixa passar esse dia
Enquanto eu aceito o desafio
E vou fazendo poesia
Com preguiça e um assobio
(Nane-15/05/2015)

*Obra de Rui de Paula

O uivo do lobo



Para quem piscam as estrelas
Nas noites enluaradas
Senão para mim
Que vagueio noite adentro

E se tento dormir
O brilho delas, atrapalha
Insistem em ofuscar
Meus sonhos em devaneios

Piscam para quem como eu
Espera nesse lume misterioso
Com um quê de melancolia
Um pouco de poesia
Dizem que esse brilho
Nada mais é
Do que o olhar lacrimejante
De um amor não correspondido
Por isso o lobo solitário
Uiva nas noites enluaradas
Chamando sua amada
Sabendo que ela não responderá

Para quem piscam as estrelas
Senão para mim
Que me deixei seduzir
E me tornei loba....assim
(Nane-08/11/2014)

O QUE FICOU DE NÓS



O que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)
O que ficou na réstia
De mágoas e detritos
É restrito à mim
(Finito)
Vivemos de lirismo
Por um bom tempo
Sem deixar resíduos
(Destintos)
Apagada a lousa
Foi intensa a aula
E o aprendizado, perene
(Infindo)
Durou uma eternidade
Finita como tantas
Decantada em poesia
(E rimas)
O luar por testemunha
Calou-se nublado
Por nuvens escuras
(Escondido)
Mas o que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)
(Nane-17/03/2015)

O RABISCO DO UIRAPURU



Rabisco meu canto escrito
E não ouvido
Canto de lamento
Por muitos lido
Mas para ti...invisível
Canto de ave notívaga
Perdida na floresta densa
Escondida no dia claro
Por não poder cantar o dia
E por todos ser ouvida
Canto rabiscado de melancolia
Revestido de beleza
Que por ironia
Não se faz ser ouvido (lido)
Por quem deveria
O uirapuru esmorecido
Segue a sua sina de cantor
Enquanto eu rabisco a minha dor
Que em comum com a dele
Se perde numa mesma solidão
(Nane-17/03/2015)

A DANÇA DAS PALAVRAS



Dançam na mente as palavras
Que fogem e se recusam enfileirar
Na poesia que eu queria escrever
E ao mundo, mostrar
Divertem-se comigo as palavras
Que mostram-me a poesia
Mas deixam claro que são delas (palavras)
A supremacia da autoria
Aí bate o cansaço
E me irrito na impotência
De não saber traduzir
A beleza da poesia escondida
Dançam a dança lírica
Enquanto eu apenas vivo
A poesia oculta
Em mim segredada
Isso faz do poeta
Refém de si mesmo
E das palavras, potentado
Do meu mundo não revelado
(Nane - 30/05/2015)

ACERTO DERRAMADO



O que fazer com a incerteza
Do certo e do errado
Quando o seu certo se derrama
E se mostra todo errado
Cavar na areia um buraco
E enfiar lá a cabeça
Deixando a respiração sufocada
Morrendo enterrada
Ou adormecer por longo tempo
E despertar no esquecimento
De um novo tempo
Sem ares ou ventos de lembranças
Deixar a cabeça na guilhotina
E decepar todas as decepções
Sem carrasco ou extrema-unção
Talvez seja a solução
Correr por uma longa estrada
Até cair exaurido
De cara no pó do chão
Destruído ou de tudo destituído
Enquanto não vem a resolução
A incerteza permanece
E o errado prevalece
Sobre o certo derramado
(Nane-05/05/2015)


APENAS UM LEGADO



Queria te deixar
De legado o meu amor
Que se mal me fez
Me mostrou o paraíso
Tal qual o príncipe hebreu
Não me foi dado o direito
Da terra que emana mel
Por todos os meus defeitos
Mas ainda assim
Queria te deixar
De legado o meu amor
Que é eterno e sem fim
Só uma coisa, mais que o meu amor
Eu queria te deixar
A certeza do desejo
Da felicidade plena
Meus olhos já não veem
Mas o coração ainda sente
E se eu soubesse rezar
Pediria para Deus te abençoar
Queria te deixar
De legado o meu amor
E agradecer o infinito
Nos momentos em que tive
Um pouquinho do teu amor


(Nane-08/06/2015)

LINDA ME GUIA



Linda, lá vem você
Me lembrar o que esqueci
Linda, no seus trejeitos
Lindos de baiana
No céu o seu sorriso
Ilumina a noite escura
Num eclipse iluminado
De um sol da meia noite
Linda mulher de inspiração
Tão cedo recolhida
De São Salvador
Pelas mãos do criador
Linda a presença que sinto
A me cobrar entre lembranças
Um rabisco nesta data
Que me acostumei a rabiscar
Linda sem nunca te ver
E tanto te admirar
Por ser mãe e amiga
Sem nunca parir
Linda no sonho de tanto brilho
Enfeitada por teus quereres
Miçangas e balangandãs
Terços e guias
Linda me guia
Nas minhas poesias
E onde quer que esteja
Linda...sorria
(Nane - 21/03/2015)

POESIA SENTIDA



Adormece em mim
A poesia
Latente e em ebulição
Falando somente à mim
Palavras não ditas
Mas sentidas
Só minhas
E de mais ninguém

Prefácio de vida
Num sono entediante
De uma vida sem graça
A espera da vida além da vida
Ah poeta
Dê asas ao teu dom
E (d)escreva o amor
Sem jamais o viver
Sois feito Moisés
Eleito por Deus
Conduzas teus leitores ao amor
Mas na terra prometida, não entres
Deixa que teus sonhos se refaçam
Em cada nova poesia
E entenda que o azul da cor do mar
Não passa de mera razão para sonhar
(Nane-18/08/2015)

LOUCURAS







Onde está você?
Senão dentro de mim
Entranhado em minhas vísceras
Exposto no meu corpo
Fazendo parte de mim toda
Me amando, me odiando
Tão lindo e tão meu
Amante e amigo
Louco e desesperado
Querido e idolatrado
Amado e desejado

Me deixa te amar
Sem mais nada te pedir
Amanhã na madrugada
Me afasto, vou embora
Te deixo adormecido
Sem saber se sou real
Se sonho ou pesadelo
Apenas imaginação
De uma louca ilusão...

(Nane-25/05/2011)

FELIZ DE QUEM DEU MILHO AOS POMBOS



Afunde seu derrière no sofá macio

Ajeite suas costas na fofa almofada

Conecte-se com o mundo lá fora

Enquanto passa indolente a sua vida

Feliz de quem deu milho aos pombos

Posto que viram os pombos em bandos

E ouviram seu revoar ao saciarem a fome

E viram o poeta fazer disso, canção

Agora, tudo isso acontecendo

E você aí...afundado num sofá

Teclando no seu celular

Conectado ao mundo inteiro

Protestando contra o sistema

Dos coxinhas e dos truculentos

Entre foices e martelos

Sem sair do seu lugar

Feliz de quem deu milho aos pombos

E viu que eles são reais

Hoje você voa tão alto quanto eles

No seu mundo virtual

Grita bem alto em seu perfil

Esse seu jeito de herói varonil

Enquanto do seu lado o silêncio

Afasta todos os seus amigos

Afunde seu derrière no sofá macio

E deixa morrer de fome os pombos na praça

Enquanto os tiros dos canhões disparados

Atingem seu alvo real

(Nane-19/05/2015)

Mundo real



Poeta não mente
Inventa
Faz da fantasia
A sua realidade
E da sua tristeza
Poesia
Poeta é assim
Não se conforma
Com o fim
E dá asas a imaginação
Na esperança vã
De abrandar seu coração
Poeta enfeita
Com palavras a vida
Que de tão vivida
Torna-se ferida
Em chagas visíveis
Poeta é um grande
Fazedor de novas vidas
Inconformado com a real
Cria no seu mundo ideal
A sua felicidade
E ninguém pode dizer
Que seu mundo é irreal
Pois poeta não mente
Inventa...

(Elian-22/02/2012)

DANÇA CONTURBADA



Toca Pearl Jam
Enquanto eu olho o céu
Danço
Conforme a música
Envolta no branco
Da folha vazia
A alma tatuada
Traz lavas cuspidas
E cinzas espalhadas
Tapando o sol
E o céu em mim
Enegrecido
O furacão no vulcão
Faz em mim insensatez
No amálgama entupido
Disposto a explodir
E mandar tudo às favas
Num surto desequilibrado
Toca Pearl Jam
Enquanto eu escuto
E danço
A dança destilada
Que evapora de mim
Enquanto eu me acalmo
O céu ainda está negro
O amor não é brinquedo
Tem estrelas lá em cima
Não no meu céu
Mas estão lá
E eu me recolho
(Nane- 26/03/2015)
Arte de Henrique Dias - 'Dança'

Vislumbrando a eternidade




Decidi deixar na eternidade
O que é da eternidade
A vida é aqui e agora
E de viver aqui...é a hora

Deixar que a aurora da eternidade
Amanheça na sua hora da verdade
Importa agora é seguir nesse jardim
Que eu mesma plantei pra mim

Fluir a vida que eu tenho
Alimentar os sonhos que eu sonho
Amar os entes queridos
E atravessar a caminhada sem reclamar

A vida aqui é uma passagem
Em que o tempo é mínimo
Diante da eternidade que me espera
Para os reencontros planejados

Olho lá adiante o horizonte
E vislumbro meu novo caminhar
Deixa a eternidade atrás dos montes
É hora dessa vida aqui, tocar

(Elian-04/02/2012)

No meu abraço



Vem comigo...
Deita em meu colo a sua cabeça
Fecha os olhos e escuta a canção
Deixa voar o pensamento
Sonha com o que você quiser
Enquanto acaricio seus cabelos...
Estou aqui para te confortar
Sou sua amiga...sua irmã
E posso te afagar até amanhã...de manhã
Vem...vai passar essa agonia
Que tira dos seus olhos
O brilho intenso que inveja
A lua e as estrelas lá no céu...
Eu vou cuidar de ti
Senta aqui perto de mim
Deixa ficar lá fora
Tudo o que te incomoda
Não diga nada agora
O seu silêncio revelador
Tem meu regaço acolhedor...
Se aninhe em meus braços
Não diga nada
Apenas deposite nesse abraço
O seu cansaço...

(Nane)

O TEU ESPAÇO EM MIM



O encanto se desfez
A realidade foi ilusão
Não foi de verdade
Durou tão pouco
E esse vazio que ficou
Tão real em mim
Sem saber que também é parte
Daquela doce ilusão
O fechar dos teus olhos
Sorrindo para mim
Enquanto teus lábios maliciosos
Piscavam num canto qualquer (da boca)
Valeu cada segundo
Valeu toda a ilusão
Que fez de mim imensidão
Quando julgava já, finitude
Esse vazio que ficou
Tão cheio de lembranças
Vai comigo por onde eu for
Ocupando o teu espaço em mim
(Nane-30/05/2015)
*ARTE DE PAULO STOCKER

Seus olhos


Seus olhos tão claros
Tão límpidos
Tão expressivos
Tão frios, tão lindos

Seu olhos que falam
Que sabem dizer
Que me fazem sofrer
Que me dizem não mais querer

Seus olhos são o espelho
De tudo o que és
De tudo o que diz
Sem a boca abrir

Seus olhos são como o lume
Que se apagaram pra mim
Não refletem mais o carinho
Que sentias por mim

Seus olhos são flechas
Que fincam no peito
Fazendo sangrar
Até meu coração dilacerar

Seus olhos que antes
Sorriam pra mim
Me dizem agora
Friamente que é o fim

Seus olhos tão belos
Fecharam para mim
A esperança da vida
Me deixando assim

Seus olhos...
Não me olham mais

(Nane-26/12/2011)

POETA EM CHAMAS






Pouco me importa a exposição
Mostro sem reservas minhas vísceras
Sangrentas, apodrecidas ou à mostras
Prontas para fotografarem minhas feições
Ao inferno os pudores
Dos que passam maquiagem
São meras imagens bonitas
Nas fotos para a posteridade

Meus fantasmas e minhas rugas
Caminham em minha face
Fazendo dela, morada
Esculpida e escarrada

Sou branda, e sem espartilho
Respiro sem pressão
Mas se me tiram o ar
Explodem todas as minhas vísceras

Quanto mais eu 'causo'
Melhor me sinto
Quanto mais entendem
Mais vomito

Tenho as unhas dos pés encravadas
E quando pisam nelas...esparramo
Doem dentro dos sapatos
Resta-me rugir...feito fera (ferida)

(Nane-23/12/2014)

*Imagem e título gentilmente cedido(?) pelo
meu amigo querido Antenor Emerich.

PROFANANDO O RITUAL





Rompeu a semente
Num ritual quase profano
Do germinar em folhas
Das fezes da cotovia

Chamada à ser flor
Recusou-se, não quis
Virou mulher rainha
Da noite e do dia

Trouxe consigo a tristeza
Da flor sem desabroxar
Da árvore tombada precocemente
Do tudo que não se entende

Na sua mudez
Soube tudo dizer
E buscou incansavelmente
O que não há

Dama da noite
Rainha do dia
Na Flor Mulher
Sobressai na tela...a poesia

(Nane-16/04/2015)


* Rainha da Noite e do Dia

O Ritual da Flor que não abriu porque não quis...
A minha tristeza é uma flor morta, uma árvore tombada...
Um sei dizer, ainda muda, o que não se entende,
um buscar o que não há...

(Teresa Prado)


UMA TRISTE POESIA



Chora mãe
Todas as suas dores
Enquanto eu
Na minha frieza
Tento não escutar
Xaropes e unguentos
De nada mais adiantam
E seu Deus todo poderoso
Parece não te escutar
Mas não precisa se preocupar
Chora mãe
Todas as suas dores
Misturadas com as minhas
Que por centésimos de segundos
Você percebe, e esquece
Chora mãe
Todas as suas dores
Sem cura ou anestesia
Enquanto eu faço poesia
Das nossas lágrimas escondidas
Chora mãe
Por mim e por ti
E deixa guardado lá no passado
O tempo dos carinhos correspondidos
Sem tantas mágoas e tristezas
Chora mãe
Todas as suas dores
E todos os seus lamentos
Nas madrugadas insones
Para mim e para você
Chora mãe
Todas as suas dores
Posto que as minhas
Eu choro nas palavras
E faço delas (tristes) poesias
(Nane-19/04/2015)

NARCÓTICO



A saudade aperta
Sem dizer de quem
Talvez de mim mesma
Em outra época
Quando eu era mais eu
Sem nenhuma dependência
Dos vícios adquiridos
O fumo e a bebida
Matando aos poucos
Mas nada comparado
À pressa de morrer
Pela falta de você
Amor unilateral
Jogado no despenhadeiro
Subjugado e escravizado
Restrito a imaginação
Que faz pulsar ainda o coração
Friamente executado
Crack na alma alojada
Impulsionando o pouco da vida
Num bem de um mal constante
Na eterna espera da hora
Em que se fará presente
O maior de todos os meus vícios
O tom de cinza nos dias
De tantas cores alheias
Fogem ao meu sentido visor
Lavado e levado nas águas
Que escorrem na surdina
Do meu delírium tremens
(Nane - 01/04/2015)

Dentro de nós



Entre erros e acertos
A gente se completou
E de certa forma
Viveu um grande amor
Agora é passado
Se não fui perfeição
Você também não foi solução
Guarde de mim o melhor
Que eu também levarei o seu
E esqueçamos o pior
Deixemos o passado adormecer
Vou levar você na mente
Por onde quer que eu vá
Mas é preciso te fazer adormecer
Dentro de mim
Para que em outras bocas
Eu não beije a sua
Para que em outros corpos
Eu não ame o seu
Então vou te fazer adormecer
Dentro de mim
Vou levar o seu melhor
E quando eu tiver que partir
Me guarde na lembrança
Pois mesmo adormecida
Viverei dentro de ti

(Elian-23/03/2012)

De volta ao passado (Reedição)




Enquanto escrevo observo
O olhar de minha mãe
Antes brilhantes
E por vezes fulminantes
Mas sempre ternos
Acompanhando estrepolias
da sua filharada...
Agora ela apenas olha
Um programa na tv
Seu olhar parece cansado
Seu brilho de outrora
Transformou-se em cataratas
Ela já não enxerga quase nada
Apenas olha...e nem sempre vê
Em seus olhos anuviados
Uma história de bravura
Se esconde e adormece
Ela viaja em seu passado
E o olhar perdido
por instantes,
Reluz no seu verde esfuziante
Uma lágrima teimosa aparece
Ela a seca com seu lenço
Volta a olhar a tv ligada
Volta a olhar e a não ver...

Nane
(06/02/2010)

Eterno amor



Amor, estranho amor
Que me faz sentir o seu olhar
Nos olhos de outro alguém
A me observar

Amor que não se manifesta
Finge me ignorar
E eu finjo não perceber
Que também estás a sofrer

Amor que não é pra mim
Mas que me ama mesmo assim
E mesmo sabendo que no fim
Só nos restará os acordes de um bandolim

Amor que eu vou pra sempre amar
Ainda que não possa nunca te tocar
Por outros braços me deixarei abraçar
Mas é contigo que eu sempre vou estar

Amor, eterno amor
Chama, vontade e dor
Viverei sonhando com o seu sabor
Aguardando eternamente sentir o seu calor

Amor...eterno amor...

(Elian-26/01/2012)



Fatos&fotos




As vezes as fotos são fatos de fato
As vezes os fatos são fotos sem fato
E nesse vai e vem se misturam coisas
Numa efemeridade de fatos
Que fotos não provam os fatos
Nem fatos posam para as fotos
A subjetividade dos fatos
Também faz as fotos efêmeras
Já que a verdade de hoje
Se torna fugaz amanhã
E deixa de ser verdade
Sem nunca ter sido mentira
Apenas fotos efêmeras
De fatos que nunca foram de fato
Montagens que a vida se encarrega
De fazer e desfazer, de unir e separar
Na subjetividade efêmera
De fatos e de fotos
De fotos e de fatos
Sem fatos de fato
Montagens grosseiras
Que a vida interliga
E rasga a foto no meio
Colocando de fato
Cada um no seu lugar
São fotos sem fato
Verdades sem mentiras
Fotos sem fato...

(Elian-31/03/2012)

INTERCESSÃO DE MARIA



Tão lentamente
Devagar...é verdade
Mas saindo
Indo embora
Verdade seja dita
Eu nunca estive em ti
E você tão forte em mim
Agora, lentamente se vai
Uma perda
E toda perda dói
Mas você, enfim se vai
Saindo, devagar, de mim
Aplacou a ansiedade
Só por, enfim eu aceitar
Que você está indo embora
E isso é preciso
Já não te procuro mais
E mesmo ainda tendo a primazia
Do primeiro e o último dos meus pensamentos
Já não o domina o tempo inteiro
Nas contas contadas nos dedos
Insisto no pedido da reza
E ela, cansada de tanto me escutar
Parece, resolveu me atender
Não é ladainha
É teimosia
E o melhor pra mim
É te deixar sair de mim
Bem devagar
Mas firme em meu propósito
Vou me despedindo de você
Transformando em carinho o que ficou

(Nane-29/26/2015)

*Arte de: Cimara Cláudia

SORVENDO POESIAS EM NOITE DE LUA CHEIA



Um chopp num bar
À meia luz na Lapa
Onde fervilham gente
Que vem e vai
De encontro a outras
Tão ou mais perdidas
Num mesmo espaço
Observo absorta
A poesia diluída
No copo espumado
O que pensam e o que querem
Os notívagos da boemia
Que escondem nos semblantes
Que os sorrisos estampam
Histórias e tristezas
De amores que os transformaram
Em solitários caçadores
De afagos e ternuras
E de um sexo em desafogo
Homens e mulheres
Se encontrando em desencontros
Se encantando em desencantos
Se atracando sem atracas
Despidos de compromissos
Em noite de lua cheia
Feito vampiros de aconchego
Depois do entorpecimento
Pelo líquido etílico
Dos sentidos verdadeiros
Tão absorta estou
Que não percebo a presença
De quem me observa
E me oferece mais um chopp
Aceito, brindamos e conversamos
Estampo um sorriso camuflado
Sorvo em goles a poesia
Notívagos veem e vão
De mãos dadas caminhamos
Pela madrugada de lua cheia
Buscando o desafogo
Do nosso desassossego...
(Nane-09/04/2015)

EXAUSTÃO



Sem pudor me entrego
Ao deleite nos teus braços
Gozando a cada um dos teus afagos
Perdida em nossos tremores
Entre gemidos e uivos
Feito animais no cio
Despudorados e acelerados
Sufocados de prazer
Provo o néctar dos deuses
Na tua boca provocante
Que entreaberta mordisca
Meus seios intumescidos
Entre nossas quatro paredes
Somos assumidos depravados
Desbravando todos os poros
Suados e arrepiados
Nossos pelos eriçados
Nossos flancos encaixados
Nossos sexos incendiados
Nossos sons desconexados
Desmaiamos de prazer
Sem mais forças para o amor
É preciso adormecer
É preciso descansar...
(Nane-23/04/2015)

Uma cena do passado




A cena na infância longínqua está gravada na memória...minha mãe cuidando de seu jardim, entre rosas e margaridas, palmas e hortências...eu sentada no alpendre da varanda, entre bonecas e livros, que ela mesma me ensinou à lê-los. A conversa girando sobre o futuro que viria...o que seria de mim...o que seria eu...Por ela, como quase todas as mães, médica de branco, doutora Elian! Mas eu, já de pequena, sonhava escrever e contar histórias...dizia pelos quatro ventos que seria escritora. Como as mulheres que escreviam os livros que eu lia. Lia os homens também, mas naqueles tempos de tantas desigualdades, eu já admirava as mulheres escritoras, embora tenha sido um escritor quem marcou a minha iniciação nas leituras. O primeiro livro que li foi 'O meu pé de laranja lima' de José Mauro de Vasconcelos. E foi aí que me encantei com a literatura. Minha mãe contava as histórias de Monteiro Lobato para nós (a sua filharada), mas na época não tínhamos livros disponíveis, e ouvíamos a sua narrativa imaginando as cenas.
Naquele dia, em que ela cuidava do seu jardim, tão admirado pela vizinhança, minha mãe me dizia que quando ela envelhecesse, seria colocada num asilo. Ela dizia que esse era o destino dos pais. Que era comum isso, já que os filhos certamente teriam seus compromissos profissionais e familiares, e ela estava preparada para isso. Eu a olhava admirada e retrucava: ...Jamais mãe! Eu nunca vou deixar que você vá para um asilo. Vou cuidar da senhora enquanto a senhora viver mãe. Ela apenas sorria um sorriso de quem não acreditava...e continuava plantando suas flores.
Hoje é o futuro...minha mãe está aqui, comigo...envelhecida, frágil, deficiente...estou cumprindo minha promessa daquele dia...tão distante. Eu não virei uma médica, mas vesti o branco da enfermagem. Também não me transformei numa escritora, mas virei rabiscadora...e o futuro daquele tempo... é o meu presente de hoje.

(Elian-17/03/20112)

O PALHACINHO FREDERICO



Era uma vez um menino
Que adorava os palhaços
Lá da televisão
Tinha tanto medo o menino
Dos palhaços de verdade
Que preferia observá-los
De longe...bem de longe
Pensava mesmo que eles tinham
Aquelas caras pintadas
Dia e noite, noite e dia
Mas ainda assim gostava deles...
Veio o dia então
Que o menino percebeu
Que o palhaço era homem
E medo não precisava ter
Palhaço agora, ele queria ser...
A vó, que palhaça também era
Pintou sua carinha
E o menino no espelho
Se viu como um lindo palhacinho!
Tão feliz ele ficou
Que não quis tirar a máscara
Os flashs pipocaram
E para todos ele posou
Com um sorriso de felicidade
Do palhaço Frederico...
Adormeceu o palhacinho
E sonhou com as palhaçadas
Acordou de cara limpa
Contando pra todo mundo
Que fora palhaço por um dia
E que isso, por certo virou poesia.

(Nane/11/05/2015)

DÉJÁ VU



É normal
Eu te amar
Feito anormal
Que ama sem sentido
É normal te amar
Feito quem ama
Como animal irracional
E abana o rabo
E teu rosto esculpido
Nos poros da minha pele
Sorrindo e rindo
Do meu rosto enfadado
É normal teu escárnio
Ao meu amor supremo
Jogado fora
Na soberba da tua certeza
É normal tua indiferença
Ao caos da minha sobrevivência
Diante da felicidade
Dos amantes que te invade
É normal tua risada
Escancarada ecoando
Debochando de um sentimento
Incompreensível e não sentido
É normal não entender
O déjá vu vivido
E tomara, não perdido
Em mim... ou em você
(Nane-12/07/2015)

MARIA NA FRENTE



Passa na frente Mãe Celestial
E toma para Vós a minha dor
E torna minha a vossa fé
No aplacar da saudade maior
Embale em vosso manto
A esperança no meu pranto
E toma a minha mão
Guiando os meus passos
Divida comigo a vossa força
Na aflição dolorida da separação
Do tão amado ser
Por algum motivo, levado
Seque, com vossos ósculos
As lágrimas teimosas que rolam
Quando chora o coração
Nos momentos de aflição
Passa na frente Mãe Celestial
E abra todos os caminhos
Para que eu sinta (com certeza) a segurança
Do meu filho em Vosso regaço
E que eu faça de minhas lágrimas
Gotas de luz sob o brilho do sol
Num arco-íris colorindo
O sorriso do meu menino
(Onde quer que ele esteja)
*Para alguém muito especial.
(Nane-17/04/2015)

MEU ACONCHEGO





É no seu corpo que eu viajo
E me perco nos seus braços
Onde me sinto segura
Dominante e dominada
Sou mulher, sou menina
Eterna apaixonada
É no seu corpo que me realizo
Extasiada de prazer
E adormeço enternecida
Por seus braços protegida
E no carinho das suas mãos
Desperto em meio a emoção
De te ter ao lado meu
De me sentir inteira sua
É no seu corpo que eu me revigoro
E me torno sua amante
No clímax de um encaixe perfeito
Que me prende no seu peito
Onde escuto descompassado seu coração
Pulsar como numa explosão
De amor...de puro prazer
É no seu corpo que tremo
Me avolumo e me acho
Me completo e me desfaço
E só termino quando durmo
No abraço dos seus braços

(Nane- 10/05/2011)

O SILÊNCIO DE UMA SAUDADE




Quase uma criança

Num remoto anoitecer

Feito uma bomba atômica

Você partiu...

Eu nunca havia experimentado

A estranha sensação

De ver alguém sair

Da minha vida assim

A dor foi amortecida

Pelo conformismo do tempo

Que se não causou o esquecimento

Aplacou o desespero

As lembranças ainda permitem

O desenho na retina

Na sua face juvenil

Do seu sorriso sem graça

A voz se apagou da (minha) memória

Restaram algumas palavras

Sem o timbre usado

Guardadas na saudade

Não me furto a imaginar

Como seria hoje

Te olhar face a face

Envelhecido

Décadas se passaram

Você foi o primeiro

Veio um segundo

Veio um terceiro

Não sei onde está

Mas saiba que está aqui

Onde bate meu coração

E ainda, por você, chama

(Nane-18/03/2014)

POESIA ATEMPORAL



Escrevo de um tempo
Sem mais tempo
Quando todo o nosso tempo
Era o tempo de nós dois
Busco um tempo
No tempo que tenho
O tempo ido
Por tanto tempo perdido
Já não tenho o tempo
Que tive em outro tempo
Quando o tempo de bonança
Fazia poesia do tempo
É tempo do adeus
Ao tempo do amor
E sem ele não vale o tempo
Dessa vida sem tempo
Nesse espaço de tempo
Meu tempo tem muito espaço
Para relembrar do tempo
Que o tempo apagou
E o seu tempo se espalhou
No vento que o tempo trouxe
Meu tempo se perdeu
E no tempo...parou
(Nane-04/05/2015)

Sou eu assim



Se dia ou noite
Se frio ou calor
Se grande ou pequena
Se muito ou pouco

Sou eu assim
Dubiamente dúbia
Sem nunca me esconder
Da minha dualidade

Se bela ou se fera
Se brisa ou furacão
Se sol ou se lua
Se vestida ou se nua

Sou eu no meu estilo
Voltando ao meu encontro
Que por algum motivo
Me perdi de mim

Se triste ou se feliz
Se insana ou serena
Se feia ou bonita
Se leiga ou doutora

Sou eu em meus delírios
Devaneios sem os quais não vivo
Rabiscando minhas dúvidas
Nas certezas que eu crio

Se anjo ou demônio
Se preta ou se branca
Se louca ou se mansa
Se boa ou se má

Sou eu em meus caminhos
De flores e espinhos
Em busca de mim mesma
Pela estrada que tracei

Se perto ou se longe
Se real ou virtual
Se tanto e tão pouco
Se é ou se não é

Sou eu em meus anseios
Vivendo a minha vida
Dúbia, mas não perdida
Na minha própria dualidade

(Nane-04/01/2012)

Expectativas



Deitei sem vontade de dormir
Mas o sono chegou sem avisar
E quando dei por mim
O sonho me embalou
Atravessei o arco-íris
Em busca do El Dourado
Onde o que contava
Era a tal felicidade
Potes e potes de ouro apareceram
Mas não os quis
Procurei em vão no meu devaneio
Pelo valor dos meus anseios
O ouro de tolo jorrou
No sonho que não sonhei
Tentei fugir da minha realidade
Mas sonhei que estava acordada

Todas as minhas expectativas
Deixei no sonho que não sonhei
Tentei fugir do mundo
Mas a vida continua...
(Nane-07/11/2014)

Onde está



Onde está a sua mão
Que me acostumei a segurar
Nas horas de aflição
Onde está seu ombro
Que me servia de conforto
Quando eu me apavorava

Não sinto mais o calor do seu abraço
Nem vejo a luz do seu olhar
Por onde você está

Onde está você
Que esteve ao meu lado
Por todo esse tempo

Quando mais precisei da sua mão
Quando mais precisei do seu ombro
Quando mais precisei do seu abraço
Quando mais precisei da sua luz
Quando mais precisei de você
Me sinto só...
(Nane-05/11/2014)

Poesia perdida


Ah poesia...
Onde foi que eu te perdi?
Já não consigo rabiscar
Com prazer, com alegria...

Ah minha poesia...
Não passas de um amontoado
De palavras sem rimas
Que nada querem mais dizer

Vou rabiscando só por rabiscar
Mas não encontro mais prazer
Nas rimas que não sei fazer
Com as palavras do verbo amar

Olha quantas coisas vãs
Inúteis e vazias
Não são coisas de mente sã
Falta na poesia, a alegria

Vou seguindo rabiscando
Simplesmente por ser hábito
Mas a magia está se acabando
São rabiscos quase metálicos

Me surpreenda poesia
E traga-me de volta por companhia
A vontade e a magia
De rabiscar com alegria

Ou talvez, quem sabe
Me faça de tudo esquecer
Faça com que não tenha mais vontade
De fingir que estou a escrever

(Nane-26/12/2011)

QUE TEUS OLHOS POSSAM VER



Olha teus olhos a pureza
Despida da maldade

Qual a veste da tua alma

Senão teu nu exposto

Fez Deus a criatura

Sem nada a acobertar

Olha teus olhos a pureza

Despida da hipocrisia

O nu é tua essência

Gritando liberdade

Vomita tua perfídia

Expõe tuas vergonhas

Olha teus olhos a pureza

Do teu próprio ser

Quem sabe se depois de te conhecer

Entenderás o que é ser nu

Dispa-te da ignorância

Inunda-te da arte

Olha teus olhos a pureza

Do nu na beleza da poesia...

(Nane-24/04/2015)

VELHAS CRIANÇAS RANZINZAS



O grande Criador ordenou:
Honrarás teu pai e tua mãe

Seja como for
Honrarás teus progenitores
Velhas crianças ranzinzas
Teimosas e sem medidas
Por saberem que são pais
Dos pais virados agora
Ah, por vezes falta a paciência
Mas fala mais alto o sangue
E ruge a 'mãe' da mãe por sua cria
De outras estratosferas
Sobe a ira ao ver na TV
Maus-tratos de filhos ou de terceiros
Que fazem com a criança velha
Indefesa e sem esperança
O físico e o psicológico
Já tão penalizado
Pelo tempo e pela estrada
Estampado no olhar anuviado
A tristeza contida
No corpo limitado
Aguarda com dignidade
A liberdade da alma
O grande Criador ordenou:
Honrarás teu pai e tua mãe

E um filho da puta (que também é mãe) qualquer
Ignora e não cumpre
(Nane-15/05/2015)
*Arte de Ivan Gomes

Noite de lua cheia



Porque tanta dor assim
Porque esse vazio em mim
Eu tento mudar tudo
Mas a lua vem me atiçar
Olho para ela lá fora
Está linda à brilhar...
As estrelas dançam ao seu redor
Um halo clareia o azul à sua volta
Porque você não veio até à mim...
A noite está quente
Eu sem sono
Escuto as músicas que falam de você
São lamentos...sou eu a te falar
Da falta que você me faz
Hoje a noite me tirou para dançar
Em meio a multidão
De estrelas piscantes em volta da lua
Eu olho lá atrás...e não te vejo
Onde está você em meio a multidão...
Já não falo mais com a lua
Já não caminho a beira-mar
Deixa como está...
Tudo isso vai passar
A vida há de me ensinar
Tudo isso vai passar

(Elian-08/02/2012)


DIVISÃO



Destoo de mim
Do que fui
E não mais sou
Faço e refaço
Os caminhos traçados
Em busca de mim
Em que esquina da vida
Me repliquei
E não me achei
O espelho me diz
É você mesma
Envelhecida
A razão me dita
As regras a serem seguidas
Ainda que em mão única
O coração embriagado
Destoa da razão
Batendo descompassado
Em que esquina da vida
Peregrina o meu outro eu
Nômade
Errante da vida
Dividida em duas
A certa e a errada
Destoada e perdida
Cética e tao crente
Refletida num espelho...quebrado
(Nane-16/03/2015)

Papel em branco



Se tu não vens
Por que insistir
E persistir
Choram meus versos
Por não poderem
Rimar o amor
Poeta sem inspiração
É feito sangue sem coração
Estático à podridão
Deixar de escrever
Não consigo
Escrevo saudades
Triste a sina
De poeta ferido
Na alma
Se tu não vens
Escrevo o vazio
Do papel em branco
(Nane - 02/02/2014)

O DIA DO AMOR



Hoje é dia do amor
Como se o amor
Tivesse um dia só
Parva mania de 'dias'
Que tem a humanidade
Em honra à negociata
Frágeis amores
Que precisam desse dia
Para se imporem
Sábios animais
Que amam sem apego
Por saberem amar
Tolos dos homens
Que sofrem por amor
Que nunca faz sofrer
Tolos os filósofos
Que ditam teorias
E se matam em suas práticas
Tola a autora
Que finge ao escrever
O que não sabe viver
(Nane-25/04/2015)

SONHO E PESADELO



As vezes bate um cansaço
Tão grande e desanimador
As vezes bate a frustração
É quando o sonho se faz pesadelo...

No hospital o enfisema ameaça
O amigo escapa por pouco
O cigarro está proibido
Se comigo, melhor fosse morrer

Cinco décadas passadas
Outra metade vivida
Olhar para frente de cabresto
Seguir o ruflar do tambor

Cobranças de tantas dívidas
Impotência no pagar
A glote fechando acordada
O ar mergulhando num mar sem o²

Orações e rezas em vão
A prece desviada no espaço
O espaço tão finito e apertado
A morte na fumaça do cigarro

Correria em debandada
Vida sem sentido
Servindo sem servir
Para o que há de vir

O cansaço resfria
Todos os sentidos
Santo nenhum ajuda
Pro diabo meus medos

(Nane-17/04/2015)

*Arte de Egas Francisco

Foto de Elian Vieira Silva.

O autista



Meu olhar vagueia
E incomoda
Me julgam alheio
Não sabem do meu mundo
Onde sou rei
Me acham diferente
E não percebem
O quanto diferem de mim
E são estranhos (pra mim)
Preocupam-se com outras vidas
Falam de outras pessoas
Escondem sentimentos
Ensinam o que não fazem
E mesmo assim...me julgam diferente
Ser normal para eles
É fazer o que fazem
E ordena a sociedade
Ser normal para mim
É fazer o que eu quero
E quando eu quero
Sentem pena de mim
Por me acharem diferente
Mas o que não sabem
É que eu, na minha indiferença
Sinto pena deles todos
(Nane-06/11/2014)

EFÊMERA EXISTÊNCIA



E essa estranha sensação
De que você é só uma lembrança
Uma miragem, imaginação
E na realidade, nunca existiu
É tão grande a saudade
Que parece mais o oásis
Em meio ao deserto escaldante
Intocável, impossível
O som da tua voz
Ainda tão intacta em meus ouvidos
Talvez nada mais seja
Do que o vento sibilando
E toda a nossa história
Gravada no passado
Já parece o conto de um livro
Fechado e terminado
O toque das tuas mãos
Já não sentidas pelas minhas
Restando só um calor perdido
E tão pouco aproveitado
A vida é tão sem sentido
Que só o que conta é o próprio sentido
Que a gente quase nunca percebe
O tempo certo de sentir
Então chega o grand finale
E o concreto se desfaz
Subjetivamente fazendo desabrochar
O efêmero (in)existente
(Nane-03/06/2015)

Incertas certezas


Quisera eu ser leiga
Na fé que me foge
E por isso, não me conforta
Quisera poder crer cegamente
E ter uma mão forte a segurar a minha
Nos momentos de aflição

Quisera mandar às favas minhas certezas
E me embalar nas promessas vindouras
Do todo poderoso
Quisera enfim, piamente acreditar
Nos milagres sacrossantos
E minhas lágrimas secar
Ceticismo não mora em mim
Mas a fé cega também não
E pago caro por isso
Refugio minhas dores
Nos braços do Altíssimo
Sem contar com os milagres
Espero além daqui
As respostas desencontradas
Dessa vida embaralhada
Que seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
E dai-nos a sapiência de aceitá-la
(Nane-11/11/2014)

MULHER DE CARGA



Mulher culpada
Da culpa de ter
A marca na alma
De ser mulher
Carrega seu fardo
No corpo nu
Em plenas avenidas
Do país que te oprime
Mulher de cargas
Pesadas e à mostras
Para quem tem olhos
De ver e entender
Mulher coragem
De expor seu corpo
Aos olhares curiosos
Que quase sempre não veem
Mulher bonita
Em todas as suas formas
De alma livre
No corpo atada
Mulher de carga
Altamente explícita
Na força explosiva
Da sua ARTE
(Nane- 11/05/2015)
*Foto de: Bárbara Avelino

SONHANDO ACORDADA






Seu olhar quase sempre alheio
ao tempo, parece tristonho.
A memória, do agora pouco
lembra, e no entanto é tão
pródiga do passado.
A vida parece ter ficado
guardada num cantinho
onde só ela vê...e (re)vive.
O esquecimento tornou-se escudo
protegendo-a das amarguras,
das dores e decepções.
Ela sonha acordada
e adormece para a vida.
Resigna-se com seu destino
enclausurada em seu aleijão.
Mantida na horizontal o tempo
(quase) inteiro, faz do quarto
seu mundo imenso.

Quando flagro uma lágrima acocorada
no fundo dos olhos encovados, diz
na maior displicência ser o 'soro'
jogado para refrescá-los.

Já há muito não anda.
Vocifera quando fala.

Se entristece quando falam.
Abnegação e paciência, há muito
a deixaram. Forças para lutar, não
mais as tem. Melhor adormecer
enquanto a vida não se extingue
e continuar sonhando (solitária)
acordada.
(Nane-30/12/2014)

MENINO TRAVESSO



Com sentimentos não se brinca

Nem tão pouco se manipula

O destino é o senhor

E Cupido só um menino

Brincalhão e sem escrúpulos

Flecha corações à revelia

De um que ama o outro

E do outro que ama algum

Faz salada de sentimentos

E se diverte com a confusão

Causa dores aos corações

Deixando marcas nos espíritos

Em seu caminho um rastro de desilusão

Costuma adoecer de tristeza

Quem antes sabia sorrir

Sem mágoas e nem paixões

Cupido é narcótico

Viciante e fatal

Faz vibrar e delirar

Para depois, sem dó, matar

Não adianta aconselhar

A vítima fascinada

Mas se você puder

Não se deixe acertar

Com sentimentos não se brinca

Nem tão pouco se manipula

O destino é o senhor

E Cupido só um menino

(Nane-05/05/2015)

VINGANÇA ARTICULADA





Que pretensão a minha
Acreditar no amor
Fruto de uma mentira
Semente de uma verdade
Que ingenuidade a minha
Não perceber que a vingança
Se camuflou de sentimento
E mais do que a mentira, enganou
Que fragilidade a minha
Ao me deixar envolver
No visgo pernicioso
Que sufoca e faz doer
Que tristeza a minha
Não conseguir me desvencilhar
Não deixar de amar
Quem de mim só quis zombar
Que loucura a minha
Desse jeito me entregar
E ver passar a vida
Sem conseguir nada mudar
Que vingança a sua
Pensada, pausada e articulada
Com toda a maestria
De um mestre vingador
Que triunfo o seu
Que no mais vil dos sentimentos
Conseguiu matar em mim
A vontade de viver
(Nane-25/05/2015)
*ARTE DE: ISABEL PADRÃO
TÍTULO; A VINGANÇA SERVE-SE FRIA - 2011

DIEGO FREDERICO



E num dia (noite) sete
Num mês de maio
Três anos atrás
Cercado de ansiedades
Dos pais, avós e tios
Chegou o menino...
E sem pedir licença
Invadiu corações
Tomou posse da gente
Assumiu o seu trono
Virou rei menino
Coroado de alegrias
Fez do quintal
O seu reinado
Onde em dia de sol
Brinca sob a chuva
Se sujando na lama
Planta e colhe
Brincando e contando estórias
Nas suas reinações
De menino real
Correndo pelo quintal

Marrento menino
Que anda de skate
E faz manobras radicais
Ralando os joelhos
E roxeando a bundinha
Mas sem nunca desistir
Da manobra completar
Hoje é o teu dia
E eu te deixo de presente
A minha poesia
Para quando você for homem
Morrer de vergonha
Da vó que te escrevia
Meu pequeno parceiro
De jogos e brincadeiras
De vida e da eternidade
Vovó te abraça
E deseja de coração
Toda e a mais completa felicidade
♪♪ Parabéns pra você... ♪♪
(Nane/vovó-07/05/2015)

SEGREDO SEPULTADO




Quem é você
Que arrebata meus sonhos
Ditando meus desejos
Jogando fora a adrenalina
Sangrando as glândulas surreais
Quem é você
Aflorando meu drama
Tragicômico e desmedido
Num palco sem plateia
De uma peça shakespeariana
Quem é você
Que num silêncio devastador
Estoura meus tímpanos sem pudor
Com palavras em flechas certeiras
No mortal ato do desengano
Quem é você
Que exerce esse poder maligno
Mesmo sem saber
Enterrando fantasias e aspirações
Sem ao menos sentir culpa
Quem é você
Que insiste em não perceber
O vazio do meu mundo
Sem cores nem anseios
Pela falta de você
Quem é você
Que escarna meu cadáver
Sob os devidos sete palmos
Num sorriso de alívio
Pelo segredo sepultado

(Nane-16/06/205)
*Arte de: Áurea Seganfredo

JOGADA AO VENTO



E na minha loucura me perdi
Dos meus próprios devaneios
Transformando-os em esperanças vazias
De quem já não pensa em nada
Foram-se as quimeras
E os sonhos da imaginação
Sobrou o vazio de uma mente oca
Sem mais nenhuma expectativa
Num solo estéril
Semeei a podridão
De grãos infecundos
Jogados ao léu
A frieza do nada me envolve
E nada mais faz sentido
Homens e mulheres
Crianças e velhos
Só o vazio me preenche
De um nada sem importância
O que será ou o que virá
Não faz mais diferença
De bom, dentro de mim
Resta pouco ou quase nada
Os sonhos fundiram-se aos pesadelos
E as noites aos dias
O bem e o mal são tão efêmeros
Como a vida e a morte
E essa maldita dualidade
Me faz ser quem não sou
Talvez amanhã eu esteja eufórica
E escreva palavras bonitas
Talvez amanhã eu nem acorde
E durma o meu sono derradeiro
Na minha loucura me perdi
E por que cargas d'águas não consigo
Preencher esse vazio que restou
E fez de mim...nada
(Nane-14/05/2015)

SÓ UMA ENTREVISTA



Soltam faíscas meus olhos
Despudorados de desejos
Arrancam num só piscar
As cortinas de teu corpo
Flui libertária a imaginação
Alimentando meu tesão
Enquanto minhas mãos passeiam
Brincando em tua pele
O desejo faz seu apelo
Transformando em loba
Salivando de vontades
A insana, a louca
Te prendo em minhas garras
Te devoro com volúpia
Em espasmos contraídos
Te levo ao paraíso
Murmuras gemidos em meus ouvidos
Lambuzas meu ventre com saliva
No ápice do meu clímax
A explosão do meu gozo
Teu 'ham, ham' me assusta
Teu sorriso e a pergunta
Se está tudo bem
Me traz de volta
Vestido e tão distante
De tudo o que vivi
Nos segundos que sonhei
Com teu corpo no meu corpo
(Nane-24/04/2015)

E se...



E se o amanhã não vier
Como será o meu amanhecer

E se meus olhos não se abrirem
E se eu não respirar
E se tudo em mim se apagar
E nada mais restar
Para onde eu irei
O que acontecerá
E se você me perder
Será que vai chorar
Um pouquinho, talvez
Mas logo passará
E se nada mais houver
Além dessa malfadada vida
Onde nunca fui feliz
E nunca ninguém me quis
E se o amanhã se acabar
E de mim nada mais restar
Então saiba que vou levar
Você dentro de mim
Para onde quer que eu vá...
(Se é que vou lembrar)
(Nane - 09/11/20132)

LATENTE LOUCURA



Ferem-me os sentidos
Revividos num instante
De sanidade latente
Acabrunhada...
Doce loucura
Que me priva do verossímil
Conduzindo mi'alma
Sem amarras ou grades
Viajante espectro
Livre de acepção
Mergulhando em rios
Correndo pros mares
A culpa destoa
Da santa loucura
Quando emerge do nada
A mais (ainda) louca sanidade
Ferrolhos trancafiados
Pesando na alma
Aflita que vaga
Encarcerada no corpo
Sou meio e tudo
De um inteiro partido
Na luta perdida
Do certo e o errado
Vago na minha sanidade
Contida em meus desejos
Enquanto na minha loucura
Vivo o meu bem querer
(Nane-16/05/2015)

PENSA NISSO



De todas as porradas da vida
Nenhuma doeu mais
Que a de te ver jogando a toalha
Se humilhando por nada
Seus gestos soberbos
Seu olhar inquisidor
Sua pompa no falar
Jogados no ralo
Valeu toda essa dicotomia?
Se expor em total evidência
Correndo riscos desnecessários
Doeu mais que o findo
A imagem desfeita
A carência sabida
O saber tanto de você
O reconhecer do nada
Quem sabe vale a pena
Quem sabe te botaram no prumo
Quem sabe tua crista
Se dobrou ao amor
Mas saiba que doeu
Te ver jogando a toalha
Por saber que até nisso
Finges o que não sente
É só o desejo da vingança
Falando mais alto que a dor
Quando, por fim, detonares esse amor
Rirás o sorriso vingativo
Triste sina a tua
De não deixar em paz
Quem cai na besteira de te amar
E não ter como (por isso) pagar
(Nane-15/04/2015)

Encontro com Deus


Gritei teu nome aos quatros ventos
Se me ouviu...fez ouvido de mercador
Pedi a tua interferência
Mas o silêncio está absoluto
Talvêz eu não saiba pedir
É o meu jeito de falar (contigo)

Olha a sua volta
É justo esses caminhos
Pelos quais passamos
Sem conseguir caminhar

O nexo em tuas leis
Me inebria os pensamentos
Entontece meus sentidos
E neles não consigo ver sentido
E se te faz feliz e adianta
Me ajoelho e imploro
É uma vida bem mais preciosa
Que te rende louvores
Deixa ela ficar
Percebe a sua luta
Pra que ceifar a semente boa
E deixar crescer a erva daninha
A noite está tensa, vou deitar
O amanhã à ti pertence
Um dia a gente vai se encontrar
E vou te perguntar: pra que serve as muriçocas
(Nane-12/11/2014)

ESPERANDO





Ainda te quero
Com a mesma força da paixão
Avassaladora de um temporal
E com a brandura do carinho
De uma brisa no litoral

Ainda sonho
Com as quimeras vividas
Na ilusão da perfeição
Do encontro de nós dois
Num instante de magia

Ainda espero
A maré trazer nas ondas
De seu eterno ir e vir
O amor que se dispersou
À deriva na correnteza

Ainda escrevo
Todo dia para você
Mesmo sabendo que não lê
Mas com a certeza de saber
Que é só por você que continuo a escrever

Ainda espalho
Palavras pelo ar
Na esperança que o vento as soprem
De encontro aos seus ouvidos
Para que por mais um só instante
Você volte a me amar

Ainda...

(Nane-04/05/2015)

TURBILHÃO DE PENSAMENTOS



Zumbidos na cabeça
Turbilhão de pensamentos
Olhos marejados
Coração pulsando forte
Mãos trêmulas e frias...
A sensação do vazio
O nada preenchido
O importante perdido
O sentimento petrificado
A lágrima derramada pela vida
A paz já não faz falta
Os sonhos são pesadelos
A loucura feito um verme
Mantem vivo o corpo
Cuja alma já partiu
Nada faz sentido
Ninguém é importante
O amanhecer é suplício
O anoitecer traz a certeza
De que um dia tudo se acabará
Suicidas vozes clamam
Mas nem isso importa
Azar de quem foi fraco
E agora queima no inferno
Não sou ave. Não tenho pena
A noite está fria
Eu também...
No corpo e na alma
Quando amanhecer
Será só mais (ou menos) um dia
(Nane-002/07/2015)

Onde está você?


Onde está a sua mão
Que me acostumei a segurar
Nas horas de aflição
Onde está seu ombro
Que me servia de conforto
Quando eu me apavorava

Não sinto mais o calor do seu abraço
Nem vejo a luz do seu olhar
Por onde você está

Onde está você
Que esteve ao meu lado
Por todo esse tempo

Quando mais precisei da sua mão
Quando mais precisei do seu ombro
Quando mais precisei do seu abraço
Quando mais precisei da sua luz
Quando mais precisei de você
Me sinto só...
(Nane-05/11/2014)

MUMIFICAÇÃO



Cerraram-se os olhos
Que outrora fascinaram-me
Calou-se a voz
Que palavras de amor
Um dia me falou
Então te olho
Sem conseguir ver
Nenhuma expressão
Frieza total
Sentimentos mumificados
Setenta eram os dias
Que os egípcios levavam
Setenta vezes sete
Vidas encarnadas
Talvez leve eu
A amargura tirânica
Em doses balanceadas
Consumindo e transformando
A alegria de viver
Numa tsuname do Nilo
Mumifiquei meus sentimentos
E desenhei seu rosto
No sarcófago faraônico
Largado e esquecido
Numa pirâmide perdida
Já não há mais sofrimento
Nem mesmo há curiosidade
Só a frieza no semblante eternizado
E a amargura nas palavras ditadas
Pela múmia da desventura
(Nane - 17/06/2015)

*Arte: Lucia Momia Lucia

Me dá a tua mão


E se tua falta eu sinto
Finjo não perceber
O frio na alma congela
A dor que teima em doer
Chorar não me leva a nada
Lamentar tua ausência, tão pouco
Meu amanhã está nublado
Seu brilho escondido sob as nuvens
Estou e sou só
E é melhor que seja assim
Você se foi numa poesia
Que eu não soube escrever

Embora tenha te escrito o tempo inteiro
Você não me soube ler
Ou talvêz tenha preferido
Fingir para não ter que entender
Precisei mais do que nunca de você
Mas não consegui te encontrar
Onde quer que você esteja
Esta poesia foi feita pra você
(Nane-13/11/2014)

PORTAL DE LIMIARES



O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita
Vocifero todas as heresias
Batendo na porta do umbral
Limiar do inferno e do céu
Nas minhas entranhas decompostas
As palavras abortam em minha boca
Feito feto cuspido na latrina
Ensanguentando meu karma
Destituído de qualquer missão
Pesa-me nas costas o preto velho
Agarrado feito filhote indesejado
Nos anos que se arrastam nas trevas
Do que seria a minha vida
Os remédios condutores do sono
Postados inertes na prateleira
Como um convite do abrir da porta
Do umbral limiar do meu inferno ou do meu céu
O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita
(Nane-20/05/2015)

Turbilhão de sentimentos




Amor e ódio se misturam
Andam juntos e se confundem
São irmãos de primeiro grau
Bons por ora, por ora maus

Caminham lado a lado na eternidade
Trocam de vestimenta quando querem
Reviram de ponta à cabeça a realidade
Não pensam no que fazem

Amor e ódio se encontram
Na tênue linha do destino
Se completam em paralelas
Ao longo do caminho

Tão pertos e tão distantes
São ímpares e profundos
Quem é quem nesse instante
Cabe à nós decifrar

Amor que faz doer
Ódio que faz fortalecer
Sentimentos que se embaralham
Quem é que vai saber

Se te amo ou se te odeio
O que explode no meu seio
Turbilhão sem nenhum nexo
De um sentimento tão complexo

Te amo e te odeio
Em momentos diversos
Te amo quando te odeio
E te odeio por te amar

(Elian-06/02/2012)

SÃO JORGE GUERREIRO



Jorge da Capadócia
Perdeu a cabeça
E virou Santo
Guerreiro
Reis e rainhas
Se ajoelharam
E converteram sua fé
Em monumentos à Jorge
Padroeiro das Cruzadas
O Santo guerreiro
Protegia os soldados
Nas conquistas do Reisado
Roubou do dragão
A princesa prometida
E virou lenda lunar
Para onde foi morar
Se Oxossi ou se Ogum
O fato é que joga o jongo
Na igreja e na macumba
O Santo protetor
Okê Arô Oxossi
Ogunhê Ogum
Salve Jorge da Capadócia
E viva o feriado
(Nane-23/04/2015)

INTRÍNSECA


INTRÍNSECA

A febre intermitente
Não vai, não fica
Frita meus neurônios
Cozinha minhas ideias
As vísceras, essas
Sarapatéis baianos
Prontas à serem devoradas
Pelos corvos de Allan Poe
Intrinsecamente revirada
Sinto o enjoo da ressaca
Jogada no mar revolto
Da minha própria enseada
Levada de encontro à pedra
Deixada deitada na areia
Vomitando disparidades
Dos pensamentos fritados
Lavas de fel abrandadas pelo mel
Mareando o estômago cozido
E queres que eu escreva o que
Além dessas minhas mazelas
Um fio tênue separando
Realidade e devaneio
Embriagados num mesmo espaço
Do cérebro viciado
Sirvo-me aos corvos de Allan Poe
Expondo meu corpo à milanesa
Extenuado e sem preconceito
Para que me comam e devorem
Antes que eu mesma me refaça
E deles me sirva
Comendo-os vivos e empenados
Quando a febre for embora (de vez)
(Nane-19/05/2015)

ONDE ESTÃO OS MEUS FANTASMAS



Onde estão as vozes
Que se calaram
E já não me questionam
Nos meus lapsos de memória
Dos devaneios que me faziam
Escrever poesias
E as sombras que dançavam
Alheias as minhas vontades
Pelas madrugadas frias
E que de alguma forma
Me faziam companhia
E os delírios nos desejos
Que eu gostava de cultivar
Para que me sentisse ainda viva
Mesmo que fossem só quimeras
Impossíveis de se realizarem
E a capacidade de a tudo isso transformar
Em palavras rimadas
Dando a falsa impressão
De que eu era poeta
No vale da minha imaginação
Por onde ando eu
Que vago entre a ilusão
E a dura realidade
De um despertar sem expectativas
De nada ver mudar
E essas linhas que se embaraçam
Formando teias que enclausuram
E sufocam minha mente
Num emaranhado latente
Sem palavras vigentes
Os meus fantasmas se foram
Me deixando sozinha
Na realidade fria e sem opção
De sonhos ou medos
Ou nenhuma outra sensação
Calaram-se as vozes
Sumiram as miragens
Foram-se as vontades
Restou um branco na escuridão
Do meu caminhar
(Nane - 01/06/2015)
*Arte de: José Pagano

O PEQUENO CONTADOR DE ESTÓRIAS



Hoje me dispus a observar
A esperteza e a malemolência
Do pequeno 'grande' Fred
No seu mundo de imaginação
Deu-me de presente algumas pedras
E me disse para guardá-las
Pois as trouxera de muito longe
Apenas para me ofertar
Sorrindo, as guardei nas mãos
Mas ele não se contentou
Disse que eu as pusesse na gaveta
Que era mais seguro
Assim fingi que fiz
E ele se foi para novas estrepolias
Mais tarde, veio me dizer
Que viu um helicóptero vermelho
Sobrevoando nossa horta
Jogando nela sementes
E que agora vai nascer
Muitas verduras fresquinhas
Vindas do céu para a gente plantar
E comer no jantar
Surpreendi-o falando sozinho
Sentado num cantinho do quintal
Ele então me apresentou
Seu amigo invisível
Nome não tinha
Era apenas o 'amigo'
Que quando se cansou
Despediu-se e saiu
A noite 'acordou'
E a gente precisa ir dormir
Um banho quentinho ele tomou
E começou a cochilar
Antes de adormecer
Me disse bem baixinho
'Vovó, guarda bem o seu presente
Que são pedrinhas de estorinhas'
Ajeitei-o na caminha
E corri lá no quintal
Juntei algumas pedras
E guardei-as na gaveta.
(Nane- 03/05/2015)

FELIZ DIA DAS MÃES



É o dia hoje
Amanhã não mais
O mundo me toma
E eu me jogo de cabeça nele
A merda toda
É ver meu filho
Fazendo o mesmo
E me deixando de lado
Choram os filhos
Que já não têm mães
Presentes olhados
Nos shoppings não comprados
Choram as mães
Que não ganham presentes
Por não terem os filhos
Presentes partidos
Hoje é o dia
Das mães comerciais
Em doze vezes facilitadas
As prestações creditadas
Filho de meu ventre
Filho de minha alma
Se sou mãe de um dia
Não sou mãe sua
No dia das mães
Sou filha fundida
No ser e no estar
Do antes e o depois
E se bem isso faz
Que seja feliz
Esse dia infeliz
De um só dia
(Nane-09/05/2015)

LAPSOS DE MEMÓRIAS



Olhando um nada tão distante
Procuro por um só ponto
Que me traga de volta
As lembranças de mim.
Um vazio tão cheio
Circunda meu ser
Perdido num nada
Vagando sem esteios
Feito alma penada
Em meio à pessoas
Tão ansiosas como eu
E desconhecidas.
Já fui alguém
Que amou e foi amado
E que agora apagou da memória
Toda a sua história.
A infância perdida
Embora vivida
Guardada em algum lugar
Que não na memória
Ativa em mim.
A mocidade com amigos
Quem sabe, com amantes
Ou mesmo, amores
Também escondida
Num canto qualquer
Da falha memória.
O espelho me diz
Que meu tempo se acaba
Na curva descendente
Do semblante envelhecido
E das mãos enrugadas
Pela maturação presente
E a memória ausente.
Lapsos incandescentes
Feito estrelas cadentes
Passam e deixam rastros
Dizendo ser aquelas pessoas
Quem dizem que são
Na minha vida vazia
E sem raiz nenhuma.
Demência ou loucura
Sumiu meu legado
Ainda em vida...
(Nane-28/04/2015)

I want to go back there (Eu quero voltar pra lá)



Aqui não é o meu lugar
Deslocada e sem rumo
Tento me encontrar
Mas não consigo me achar
E quem é que pensa em mim
Se eu não penso em ninguém
Quem é que espera por mim
Se de mais ninguém estou a fim
Quem um dia pensou
Já não tem mais tempo
Pensa agora em outro alguém
E de mim, não se lembra mais
Vou em busca do amanhã
Que meu hoje virou ontem
Se aqui não dá pra ser feliz
Vou tentar ser lá
(Nane-06/11/2014)

RAZÃO DE MERDA NENHUMA



Dá-me a tua razão
E te mando a merda
Razão nenhuma interessa
Quando a vida se dispersa
Do alto da minha razão
Deflorei a árvore inteira
Deixando nua as aves abrigadas
E os frutos apodrecidos
O frio e o calor
Queimaram todas as folhas
E o outono se fez inverno
Sem primavera ou verão
Razão nenhuma me faz santa
Até por estar mais para a puta
Cospe meus pecados escancarados
A face deliciosamente satisfeita
Encrua meu semblante taciturno
Em meu corpo inexplorado
Pelo toque do pecado original
Que abranda e faz brilhar a tez
Razão de merda nenhuma
Quero a culpa da libido
Aflorada pelo fogo
Queimando a razão
Viver o sonho dos ilícitos
Nas quimeras da minha própria fronte
Sem sentir o ardor do fogo
No toque real da pele
Razão de merda nenhuma
Quando o abrir dos olhos
Revelam no reflexo do espelho
A vida passada e não vivida
Resta então dizer a sua imagem
Que o tempo não volta atras
Passou, perdeu, não viveu
Azar o seu...
(Nane-01/05/2015)

SENTIMENTOS DISTORCIDOS



Vim de tão longe
Sem saber o que me esperava
Além do amor
Ao qual me dediquei
Da janela olho
Meu olhar vazio
Onde anda a prole
Que tanta rugas me custou
São tantos contratempos
Minha mãe se despediu
Mas eu não ouvi
E agora tento gritar adeus
Deus
Minha prole não escuta
E eu preciso ir
Antes do amanhecer
Meu olhar turvo não permite
Que eu veja essas coisas
E a cabeça gira sem rotação
Apenas por girar
Um leito feito prisão
Um pássaro ferido
E o longe tão perto
E o perto tão distante
Quem é quem nessa cidade
Mãe e filho, filho e mãe
Distorcidas imagens refletidas
No espelho da dignidade
Lá fora faz frio
É o que eu sinto aqui
Nem sei se estou dentro
Mas calor, só de vergonha
Dia e noite misturados
E eu nunca acerto a hora certa
Lágrimas e soro se misturam
É sal, é sol, é sul, sem norte
A janela é inalcançável
Talvez tenha uma lua lá fora
Ou quem sabe o sol brilhe
Mas não volto de onde vim
Lá longe minha mãe se foi
E eu nem a ouvi
Vou de encontro a ela
Bem mais velha do que era (ela)
A prole se cala
Talvez me abrace na despedida
O soro e a lágrima secaram
E sorrio livre
(Nane-22/08/2015)

PLATÔNICA DEMÊNCIA



Na loucura dos meus dias
Insisto em te procurar
Nas molduras do infinito
Linear do céu com o mar
O horizonte me oferece
Teu rosto no crepúsculo
Enquanto a alvorada
Traz tua voz no canto da passarada
Demência ou paixão
Loucura ou razão
Pouco importa
É só o meu jeito de ter você
Na noite e no dia
Em tempo integral
O pensamento é meu
E nele mando eu
Você tão distante
Ainda mora em mim
Mesmo não querendo
É teu meu coração
Platonicamente eu digo
Que poeta nunca fui
Mas o amor, esse demente
Me fez enlouquecer...e te escrever
Que importa o toque
Se teu cheiro está em mim
Que importa se não me amas
Se o meu amor esta em ti
(Nane-22/05/2015)

VÍSCERAS MISTURADAS



Exponho as vísceras
No meu desespero
Que grita teu nome
No meu silêncio
Dentro de mim
Se fez tsunami
Sacolejando meus órgãos
Misturados e sem lugar
Esvaindo o sangue
Jorrado em lágrimas
Salgadas e adocicadas
Com cheiro nauseabundo
O pulmão enegrecido
Comprimindo o coração
Perdidos no fog da fumaça
Do cigarro companheiro
Bate nas costas e cabeça
Não sei se cérebro ou coração
Só sinto o pulsar insano
Da saudade do teu corpo
Rasgo com minhas unhas a minha pele
Na esperança de ver aliviar
A pressão dessa dor que me consome
E fugir da tua opressão
O peito já não sangra mais
Na cirurgia da triste poesia
Só não sei o que deve ser extirpado
Pra tirar você de mim
Onde está meu coração
Nessa arritmia dos meus órgãos
Atrás da penumbra dos pulmões
Ou no cérebro ensandecido
Pouco importa isso agora
Sou retalho do que fui
Exposta e a venda na xepa
Dos mortos vivos por amor
(Nane-11/05/2015)
*ARTE: Espuma, latex e acrílica s/ papel de:
Bárbara Avelino

RODA TUA BAIANA SALVADOR





Salvador, Salvador
O que é feito de ti
És filha do grande Criador
E teu nome te conduz
Cidade de puro sincretismo
Respira por teus becos e vielas
Tuas ruas e avenidas
Todas irmanadas religiões
Salvador, Salvador
Porque fostes castigada
Com tanta severidade
E tantas vidas perdidas
Que fizestes Salvador
Teu povo é só amor
Foi aviso da mãe natureza
Para cuidar da tua beleza
Ah Salvador...
Que teu povo seja confortado
Por todos os Santos que em ti moram
E que sejam (também) por eles ensinados
Que teus dirigentes se orientem
No respeito ao meio ambiente
E te reestruturem com o mesmo fervor
Dos fiéis filhos de São Salvador
(Nane-20/05/2015)

PENSA NISSO



De todas as porradas da vida
Nenhuma doeu mais
Que a de te ver jogando a toalha
Se humilhando por nada
Seus gestos soberbos
Seu olhar inquisidor
Sua pompa no falar
Jogados no ralo
Valeu toda essa dicotomia?
Se expor em total evidência
Correndo riscos desnecessários
Doeu mais que o findo
A imagem desfeita
A carência sabida
O saber tanto de você
O reconhecer do nada
Quem sabe vale a pena
Quem sabe te botaram no prumo
Quem sabe tua crista
Se dobrou ao amor
Mas saiba que doeu
Te ver jogando a toalha
Por saber que até nisso
Finges o que não sente
É só o desejo da vingança
Falando mais alto que a dor
Quando, por fim, detonares esse amor
Rirás o sorriso vingativo
Triste sina a tua
De não deixar em paz
Quem cai na besteira de te amar
E não ter como (por isso) pagar
(Nane-15/04/2015)

MENTIRA VERDADEIRA



Por que te amo
Nada me é permitido
Além do desejo
De te ter
E por te amar
Nada há de ser limitado
Dentro do meu querer
Mesmo sem poder
E por nada ser verídico
Insisto em te amar
Mesmo que nunca te tenha
Além do pensamento
E por seres só uma mentira
Te faço de verdade
Em todos os meus desejos
Não realizáveis
E por não existires
Tornas-te meu maior desejo
E vives em meus devaneios
Tornando-te real em mim
E por seres meu maior amor
Me entrego e morro
Quando percebo que és mentira
E eu a tua verdade
Perdoa meus desatinos
E entenda de uma vez por todas
Que de uma tola mentira
Fiz minha maior verdade
(Nane-17/05/2015)

FANTASMAS DA MADRUGADA



É sempre na calada da noite
Que sobrevoam sobre mim
Os fantasmas insinuantes
Bailando nas sombras
De encontro à fosca luz
Que transpassa na cortina
Esvoaçante...

Suas vozes melancólicas
Incompreensíveis para mim
Incomodam o meu sono
Conturbado e confuso

Já me acostumei a eles
E o medo, em mim, não faz morada

Perturbam minha mente delirante
Moldando sempre uma só imagem
Do rosto que zombou de mim
Com gargalhadas escancaradas
Aos gritos de 'iludida'
Por ter acreditado no amor

Insone, viro e reviro
Tentando não ver
O rosto que quero esquecer
E meus fantasmas não deixam
Estuprando meu cérebro com imagens
E vozes incompreensíveis

As luzes da cidade logo se apagarão
E a aurora anunciará um novo dia
Descansarei enfim, na labuta diária
Dos teus olhos frios que me olham
Moldados pelos fantasmas que me rondam
Todas as madrugadas...

(Nane-18/05/2015)