Guilherme Coutinho

Abaporu


Abaporu vem dos termos em tupi aba(homem), pora(gente) e ú (comer), significando "homem que come gente". (de acordo com o artigo : ABAPORU da Wikipédia)

Abaporu

Tarsila do Amaral,1928 - Óleo sobre tela - 85 x 73 cm

Coleção particular

ABAPORU de Guilherme Coutinho

Escrito talvez em um fim de semana de junho de 2011





Dentro e fora

Sou eu, aquele que te devora

A troco de saciar minha fome

De te saber, conhecer não só como quem come

Uma prato barato da esquina



Me mata

Quem me impede

Ou fecha-me a boca

Sim, me maltrata



Sou eu aquele que está dentro

E está fora, que te corrói e assusta

Quem te devora e incorpora

Sua fome que tem sede

Que não cede tão cedo



Não quer vencer o medo

Do novo, sempre um segredo

Te devoro pela cabeça

Sem ter a pressa

Te devoro para que te conheça



E comunguemos não só pão e vinho sagrados

Nosso saber ou conhecer

Querer ver ou ter



Enquanto te degusto

Espero não ter mais a ânsia

De conhecer

Por que outros que tentei

Vomitei

A novidade


A grande novidade
Trajada de deusa Afrodite
Ou mortal Psique.

Quero a novidade de novo
Que a velha do ontem
é antiguidade de hoje

A novidade de tudo novo
Nova mente
De tudo de novo
Novo de ovo
Botado, chocado

A grande novidade
é velha de novo
é nova de velha
E ideal de ser inédita

A novidade,
Nada mais!
Querer tudo
Velho novo.

Ajuda de Neruda


Peço-te licença,
Caro Neruda
Empresta-me versos
Preciso de ajuda
Os meus são dispersos
Na penumbra surgida
Em um crepúsculo
O sol tornado
Menos que inteiro
Metade
Menor
Ausente

Meu coração tomado, espremido
Por entre os dedos
Desta penumbra
Restada
Sobrada
Pós-beleza

Empresta-me este verso
Que pôs cheiro nas letras
Cores nas dores
E nomes nas penas
Resta-me o socorro em ti
Meu caro, agora ausente
Grato pela ajuda
Fez-me crepúsculo insistente
Na penumbra gélida e muda.

Caleidoscópio


Cacos coloridos
Caídos de corpos doloridos
De toda sorte de dores
Sentimentos e cores

De amores roxos
Decepções amarelas
Alegrias azuis

Recolhidos aos montes
Acondicionados com cuidado
Na memória, minha história
De fantasia, linda sinfonia

Choro bom de alívio
De lágrimas opacas
Fracas, tão fracas,
Quase de força escassa
Insistentes em não se derramarem
Por saberem que estavam negras
Com medo de assustar quem as queria fora

Lágrimas de sangue...
Antes assim fossem
Sangue vivo e lavado
Mas assim escuras, levaram todas as cores
Mesmo as tristes que coloriam as dores.

você


você?

não é um pronome do caso reto.
é uma segunda pessoa,
com certeza indireta.

tuas, melhor dizendo, suas ações
são sempre através de terceiros
mas do caso reto.

se você é uma pessoa?
não...
não, com certeza não

mas substitui uma
pelo nome
pronome
que poderia ser tu

ai sim tu te tornarias uma pessoa
não agindo como uma terceira
e não nos deixando a vossa mercê.

labor ou ofício


se fosse poeta por ofício
escreveria ofícios e despachos
ou outra coisa que não precisasse escrever

se tivesse por labor ser poeta
com certeza faria versos
livres de qualquer compromisso

eu e eles!

Beijo verso


Parece-me estranho escrever o verso profundo

Que em ti chegue tão forte quanto o toque de teus lábios

Despertando em mim o silêncio do verso perfeito.