JCDINARDO

DESENCANTO


No plural éramos um,

No singular, divididos.

Hoje, universos separados,

Tentamos gravitar ao redor.

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EXISTIR


Segundo por segundo,

Escuto calado, pelas minhas entranhas,

O ritmo célere das horas tortas

E sinto a vitalidade invadir meu corpo,

Outrora morto,

E a vida fica cada vez mais sem sentido e definitiva.

Quisera poder parar o pulsar dos relógios,

Fazer uma montagem nova do drama da vida,

E assim, caminhar para um final feliz.

A existência pela existência é a saída?

Viver como já tivesse vivido e ressuscitado?

E viver então ao deixar a vida?

Titubeio confuso pelo labirinto da vida.

Talvez o sentido da vida seja nenhum.

Representamos papéis no palco da vida

E nada acrescentamos de pessoal.

Mudamos o figurino, mudaram o cenário!

Mas a trama é a mesma, afinal!

Como guerreiro encurralado, agarro-me à lança da vida

E espero atento a hora da morte!



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DECISÃO


Tem um Não dentro do Sim,

Tem um Sim dentro do Não.

Derrotados,

 Dormentes,

 À espera do Talvez.


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AMÉRICAS


América do Norte.

América sem Morte.

América da Sorte.

América sem Norte.

América com Morte.

América sem Sorte.


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DESENCONTROS


Quantas estórias,

Quantos destinos,

Entrecruzam-se

Nos caminhos

Da vida!

Quantas soluções

São perdidas,

Nos monólogos

(afônicos),

Da solidão coletiva.

Quantas oportunidades

Se vão,

Por não pararmos,

Um instante,

Nos cruzamentos

Da vida!

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MÃE ADOTIVA


Quando a ti eu procurava,

Uma parte de mim faltava.

Ao te encontrar...

Um Sol brilhou,

Dentro de mim

E clareou,

Para sempre,

Teus caminhos.

Fiz com o meu coração,

O que as outras Mães,

Fizeram com o ventre!


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DIÁLOGO


Disse a rosa imponente ao espinho:

 - A natureza fez de ti meu súdito

 E aos meus pés                                             

 Proteges-me, com tua lança em riste.

 Respondeu o espinho sapiente:

 - Enganas-te, adorável rosa,

 Sou apenas a realidade,

Da vida de sonhos que prenuncias.

 

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ECOS


Alguma coisa

Perdeu-se,

No início

Da minha vida.

Chora no escuro,

Sem saber a razão.

Busca o futuro,

Mas o tempo é sua prisão.

Ecoa,

Distante e dolorida,

Sem ter como curar

Sua ferida.



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BAILARINA


Teu corpo e o teu encanto...

Espaços mortos tua luz inunda.

Na tua dança me levas clandestino.

Em teu corpo ecoam meus desejos.

Ávida de tempo vais em busca do espaço.

Preso a ti, oh! ave branca, danço parado.

Tua teia: o chão, as luzes e o compasso.

Aprisionas a Beleza e eternizas teu cansaço.

Quando a música findar, irão meus sonhos.

De certo, aplausos não dirão o que senti.

Fechando suas asas, o coração ferido,

Sepultará, no breu do palco, vil ilusão.



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ENCRUZILHADA


Um Pai é estágio propulsor

De foguete disparado

Buscando as alturas

Até ser descartado!

Filha, recém emancipada

Orbite tranqüila, no seu éter inexplorado

Nunca, jamais, volte os olhos

Para o Pai, bólide apagado!



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6

016

FASCÍNIO VERMELHO E BRANCO


Duas cores vibram ao pulsar dos tambores,

Samba na ginga do corpo e carícia dos pés,

No asfalto, noite com estrelas de confete.

O sangue deixou meu corpo e está na avenida,

Branco torpor de iminente desmaio é seu par.

As cores ferem o espaço: eis a vida!

O samba fez arco-íris da tormenta,

Acorrentou num só corpo tantas vidas,

Fecundou a paz com sementes de paixão.

São todos irmãos, da mesma mãe Folia,

Dançam e ornam belas fantasias,

Da "Voz do Morro", do Rio bem Claro da alegria!

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AS MULHERES-ÁRVORES


Quando

nascem são botões,

Que ao Sol,

Põem-se a desabrochar.

Quando

adultas são flores,

Que nos seduzem

Sem parar.

Quando

amam, geram frutos,

Que nos sucedem

No lidar.

Quando

Mães, apenas sombras

A proteger

Em todo lugar.





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PRISÃO


Pode ser que a única certeza seja a dúvida.

Inexplicáveis mistérios maiores que a nossa mente.

Talvez uma fraqueza admitida seja a força maior.

Luta contínua entre o corpo e a razão.

É provável que participemos em todas as arbitrariedades.

Intrincada mega estrutura social ultranacional.

Não é difícil que a civilização esteja involuindo.

Padrões de valores herdados sem questionamentos.

Tento gritar contra isto, mas o som não fere o ar.

Tento escrever contra isto, mas a luz não navega mais.



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LAMÚRIAS


As emoções retidas em indeléveis registros,

Não serão esquecidas, quando perderem significado.

Os amigos, inimigos e parentes são estimados,

Para que possam alterar meus ocorridos.

As grandes lições, obtidas da vida são úteis,

Para mostrar minha insensatez, ao serem revistas.

As grandes paixões, que não foram correspondidas,

Agradeço, pois seriam mortas pela vida a dois.

Os sonhos que não foram meus realizei,

Aqueles que me estimularam, continuam esperança.

Assim, entre o quase certo e o pouco errado prossigo,

Lutando até tornar esta vida improvável, numa morte de fato.

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PODRES CRIANÇAS POBRES


A alma sangrando tristezas,

Corpo exalando pobrezas.

Os braços só sabem pedir:

Tudo! Pois o nada os habita.

Crianças jogadas como dados

Viciados, do jogo da vida.

Esboços de vidas, crucificadas nos semáforos,

Sorridentes...




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CREPÚSCULO


O frio e a chuva fustigam meu corpo,

Mas trago no bolso um óculos de sol.

O juiz da partida é um filho da puta,

Enquanto não soa o apito final.

Meu sonho, sem encantos, entrou em liquidação.

O céu acabou de se por no horizonte

E uma lágrima de fogo escorreu,

Afinal!



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GESTAÇÃO


O dia se mexe, no ventre da noite.

Seu brilhar, então dormente, espera.

Quietude...

Nas trevas, magos projetam o caos.


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AUSÊNCIA


A cadeira vazia marcará seu lugar.

A poeira do seu quarto,

Falará da sua ausência.

Os brinquedos da sua infância,

Chorarão seu abandono.

Em tudo! o nada que ficou

Só lembranças...

Pedaços de um espelho que quebrou,

Que remontamos em desespero

Mas jamais refletirão sua imagem.

Em vão insistiremos em imaginar,

Como seria se não tivesse sido.

Em vão tornaremos a nos encontrar,

No mesmo ponto do nosso labirinto.

Nos retratos de sua infância,

A ilusão de que tudo vai recomeçar

E a sua ausência,

Apenas uma brincadeira

Que já vai terminar.

A vida é livro em branco,

Que se estende ao infinito.

Preenchemos, às vezes em prantos,

Mas só por nós deverá ser escrito.

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PALETA DE CORES


O esperar é verde.

O desesperar amarelo.

O amar é branco.

O desamar preto.

O sonhar é azul.

O realizar cinza.

O querer é vermelho.

O poder furta-cor.

O viver arco-íris.

O morrer: sem luz.

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ASTRAL


Tem dias:

Que quero ser tatu,

Noutros gaivota.

No entanto, em tantos,

sou.



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LEMBRAR


Os olhos,

Vagando no espaço,

Perdem-se.

Em seu lugar,

Fragmentos da vida,

Visões do passado,

Surgem.

E a vida,

Aguarda indiferente,

Num canto.



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ÚLTIMO ATO


A decisão foi difícil,

Mas o vento que me açoita,

Mantém minha lucidez.

A paisagem escorre no espaço,

Como fugindo de mim,

Agora mais solitário do que nunca,

Mergulhando no vazio...

Contenho o pânico,

Para me manter atento,

Enquanto a queda,

Me mantém livre.

Sequer deixei bilhete,

Pois o tenho escrito,

Desde que nasci:

Minha alegria

Foi maior do que a realidade

Pode me dar.

O chão me acolhe num abraço.

Trevas.

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DIA


Em auroras pálidas de um azul oculto

Brotam dádivas divinas do fim do Mundo

Que deixamos inertes, ao anoitecer...



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OS BEAGLES DO INSTITUTO ROYAL


Eram motivos de experimentos,

Apesar de tantos lamentos.

Viviam reclusos,

Por motivos confusos.

Sofriam maus-tratos,

Que não constam nos relatos.

Serviam à Ciência,

Com total inconsciência,

Do que a eles acontecia.

A multidão em fúria doentia,

Invadiu o Instituto Royal,

Etecetera e tal.

Todos nos sentimos mal,

Ao ver que a verdade,

Aparecerá só mais tarde,

Quando os Beagles roubados,

Estejam todos adotados.




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COMPOR


Palavra,

Prostituta!

Possuo-te no lençol alvejado,

Da folha ainda vazia.

Assumes sentidos caleidoscópicos,

Quando minha pena te acaricia.

Deixas tua morada,

Nas filas do dicionário,

Para ser minha namorada,

Paga em numerário.

Em orgia,

Busco mais palavras

Para criar minha poesia!



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ADEUS




          Perdão senhores, não bebo desta fonte.     
           Donde vim havia amor, céu azul e poesia,            
           Mãos dadas, rumo certo e parceria.                     
           Olhos perdidos no mesmo horizonte.                        


           Não aceito friezas, sorrisos pálidos,                           
           Nunca mais relacionamento falso.                           
           Não vou em direção ao cadafalso,                     
           Findaram os momentos inválidos.
                            

           Findo o ano, apaga uma estrela.                                  
           Meu Norte é incerto, ando perto.                                              
           Na escuridão vago nesta ruela.      
                                   

           Perdão senhores, sei que estou certo,                            
           Vou em busca de outra clientela.                                 
           Nunca mais caminharei no deserto.                              

PARA TODOS OS MEUS CACHORROS


JADISSE

 
Ainda menino, me vejo agarrado
Ao seu corpo de vira-lata, com pelagem preto e branco.
E sempre ao meu lado, com seu silêncio de monja,
Bem sei, para sempre estará.
 

FLUFFY

 
Poodle dourado, desejo da minha filha.
Encantou a todos com sua beleza,
Energia sem fim, amigo de todos, apesar da braveza,
Sem nunca deixar de ser terno e eterno.
 

MARVEL
 

Poodle dourado, caçador de pombas, sem cansar.
Brincava com seus mimos, como um menino.
Era muito inteligente, um privilegiado
E, às vezes, era bem danado.

 
PRÍNCIPE

 
Poodle dourado, doce, com porte elegante.
Carente de afetos, distribui lambidas.
Tem medo de tudo e eu de perdê-lo.
Empresta encanto, para todo canto das nossas vidas.

FLUIR


A enxurrada, que carregava
Meu barquinho de papel
E meu coração timoneiro,
Agora só reflete minha saudade.

7ª CAVALARIA


Por estradas imaginárias galopas,
Entre súplicas e rezas prosperas.
Tantos não contam contigo,
Eu sim te espero atento,
Com toda minha esperança.
Em sonhos tensos,
Sempre aguardarei,
Que teu toque mágico de clarim,
Ordenando o ataque destemido,
Quando tudo mais parecer estar perdido,
Me proteja de todo mal
E brotem aplausos e gritos,
Como nas matinês de cinema,
Nas manhãs enflorescidas de domingo.

AGORA


Este instante:
Pequena estrela,
De brilho fugaz,
É tudo o que temos!

ACOSTUMAÇÕES


Serra, serra esta palavra,
Em duas, três parte, em quantas partes for...
Cria significados novos para estes símbolos.
Quem sabe nos comunicaremos melhor.

 
Abra, abra sua cabeça.
Deixa de seguir suas velhas trilhas,
Lança seu corpo nesta selva,
Que tanto abomina.
 

Não leve lanterna, não leve farol.
Acostuma seus olhos ao escuro
E tenha novas visões
Da mesma realidade conhecida.
 

Lava sua roupa suja com paixão límpida,
Que não só a limpe, mas a renove
E remove de vez esta mesmice,
Desta sua cabeça pré-formatada.

CELULAR


Serei a tela

Do seu celular,

Então terei

O seu olhar.

OPÇÕES


Viver é ser.

Suicidar é deixar de ser.

Morrer é não ser.

Desaparecer é eterno ser.

OPÇÕES



Viver é ser.
Suicidar é deixar de ser.
Morrer é não ser.
Desaparecer é eterno ser.