jomadosado

101 Profissões de Jomad


É agora com muito agrado
Que vos conto mais um bocado
Da historia de Jomad’o sado
Feliz poeta mas, triste desempregado

Podia ter sido um doutor
Mas do sangue tinha pavor
E tremia-lhe demais a mão
Era do álcool pois então

Pensou depois em ser engenheiro
Dizia que se ganhava muito dinheiro
E ele até tinha algum talento verdadeiro
Pois projetou e criou até um belo fogareiro

Mas quem queria um engenheiro
Que só sabia técnicas de fogareiro
Que passava o dia a cantarolar
Há espera da hora do Jantar

Ser politico também foi sua ambição
Pois tinha a manha e a voz de papão
Tentou na praça um dia discursar
Foi logo preso por andar a vadiar

E os anos passaram sempre devagar
Sem o seu potencial no fundo explorar
Mas marcado no seu rosto e pleno no olhar
Ficaram as mágoas de nunca se encontrar

A primeira parte da história já a contei
E sobre ela nada mais agora direi
Apenas um pouco do véu levantarei
Ao dizer que em breve um livro publicarei

Mas para não perder o fio da meada
Que a história não estava terminada
Saibam também que fui motorista
Num belo táxi cor de alpista

Tudo corria bem até que um dia
Fiquei com a caixa do dinheiro vazia
E por pouco a vida não a perdia
Lutando com um malandro que não fugia

Também fui consultor de telecomunicações
Nome pomposo dado por aldrabões
Pois andar de porta em porta a enganar
Quem apenas quer descansado jantar…
estão a ver de quem estou a falar?

Finalmente uma ultima tentativa
E talvez de todas a mais agressiva
Em que mais tempo tive voz ativa
Fui empresário, coisa que todos cativa

Mas empresário que nasce pobre
Infelizmente logo depois bem descobre
Que embora tenha quem por tudo lhe cobre
Para ajudar ninguém, nenhum que no fim sobre

E como a informática corria-me nas veias
Em vez de sangue tinha bytes e lógicas cadeias
Tive mais uma disparatada de minhas ideias
Fui consultor bancário, programador e tudo a meias

Mas quem o curso tirado não o têm
Não é com bons olhos que os colegas o vêm
Fiquei de novo sem um vintém
E acabei no desemprego e aqui me têm

Valeu a vivência, a grande experiência
Valeu agora ter-vos como audiência
Contando pedaços de minha vivência
Apertando as pernas com alguma urgência

Pois por falar de tanta porcaria passada
Fique com uma opressão e a barriga inchada
E é melhor não fazer demorar mais a coitada
Aquela que na casinha dará uma bela cag…

Tristeza que me consome


A tristeza que me consome
Vem de dentro, bem fundo
Dói como fosse a própria fome
Que nos alheia e cega-nos do mundo

Irrita-me estar assim possesso
Desfasado de mim próprio
Ansiando o fino sono, onde esqueço
Onde por fim, encontro o meu ópio

E nos sete planos mortais
Onde a fortuna precede a pobreza
Procuro-me a mim entre os demais
Despojado de tudo, exceto da tristeza

Ela que teima em não vacilar
E nunca por nada recuar
Castiga-me a cada respirar
Fazendo-me suspirar, transpirar

A tristeza é a maldição
Que escurece a minha visão
Que torna menor o pensamento
E Condiciona cada meu movimento

Mas fui eu que a chamei
E nisso sem dúvida pequei
Pois tão depressa ela chegou
E o meu mundo logo parou

E nem adianta gritar ou chorar
Ou aliviar-me a praguejar
Resta-me apenas esperar
Para algo de bom me encontrar
E para longe a tristeza soprar

MALDITO FRIO


Maldito frio que vadio, vais vadiando nos meus sapatos
Arrefecendo os dedos rotos nas meias andanças
Atrasas-me a mensagem, que trago envolta nos trapos
Que finos um dia, são agora rasgões expostos às lembranças

Maldito frio que vadio, no beco mostras a minha pobreza
Sei que a garrafa que envergo, meia cheia de esquecimento
É também meia cheia de céu cinzento que recordo,
bebendo na certeza de esquecer gentes que amei
quando sem trapos nem rasgões, no sentimento

Maldito frio que vadio, me lembraste de partir
Para pedir moeda quente que te faça fugir
Pois pobreza, meu corpo e alma estás a cobrir
E o bendito sol hoje tarda, por muito dormir

Todos os dias tem sido nublados e opacos
Mas frio assim só hoje que aqui desisti
Das andanças que não eram meias de dedos rotos esfriados

(Con)Templo pela vida


O murmurar de um riacho profundo
A primavera que re(cria) o mundo
Os tons de mel pastel que tudo colora
A vida que em meu redor desperta agora

São apenas pérolas de milagres criados
por quem somos eternamente amados
que na sua infinita e divinal sabedoria
criou tudo o que nos causa ima alegria
e hoje…mas que belo dia…

O sorriso transcende a porosidade
No céu, uma ave ganha velocidade
E o seu reflexo nas águas revoltas
Lembra versos em folhas soltas

Lembra a inocência do simples viver
De apenas aspirar a florescer, crescer
As lágrimas que correm não são de dor
São de deslumbramento pelo esplendor

Pela cor que tudo sonoriza,
pelo som que tudo coloriza,
por tudo o que a vida tece
por estar vivo, sob esta matinal brisa

E tudo mais não importa
Toda a dor, sofrimento e derrota
É tempo do novo renascer
De respirar sem sofrer
Somente de novo viver
Ou reviver, com prazer…

Geometria Paternal


Ora bolas p’ros quadrados
Nos triângulos encerrados
Estatelados com retângulos
Em estrelas lisas de ângulos

E isso é geometria?
Pergunta-me o rapaz
Não…  são colírios espaciais
Especiais e enquadrados

Feitos com carinho estrelar
Para um menino angular
É de meu filho que estou a falar
Do 30 a 90 sem respirar

Gosta de poesia macia
Como a sua manta retangular
Onde dorme esperando o dia
Pelo angulo que o vai acordar

É por ele que eu circulo
Em circunferências abertas
Procurando palavras certas

Para num ângulo reto
O meu amor inclinar
Sua face eu beijar

É a geometria paternal
Que vive no coração dos pais
Onde descrevemos afinal
Os ângulos, as curvas ideais
Daqueles que sempre amamos mais

lág(RIMAS)





 Lágrimas de Mel
 envoltas no P
 do Papel
que me faz chorar
 
 Sigo-me no teu olhar...
 
 Lágrimas tão fartas
 envoltas no E
 do róseo Estojo
 onde oculto estas cartas
 
 Não quero que partas...
 
 Lágrimas salgadas
 envoltas no R
 do Relógio Reluzente
 que foi meu, teu presente
 
 Sigo fiel nas tuas pegadas...
 
 Lágrimas sem retorno
 envoltas no D
 do Desejo Despojado
 por não ser mais amado
 
 No teu coração, sonho acordado
 
 O A sei que é de amar
 Mas o O falhou... não te soube Ouvir
 
 Mas espera... junto as lágrimas ao luar
 P-E-R-D-Ã-O
 Arrisco a palavra para só eu... me consolar

Assassinaram um poema, coitado!


Assassinaram um poema, coitado!
com três golpes, na estrofe caiu fulminado
sangrou no papel que o embalou numa rima
até não ser mais que palavras sem significado

Assassinaram um poema, coitado!
Eram três prosas e um haikai mal-encarado
Apenas para lhe roubarem um predicado
Para fazerem trova dele, que era pequeno e delicado

Nunca os autores apanharam
Que nas palavras traiçoeiras fugiram
Num cinco três, meio encadeado
De cor azul escrito e declamado

As testemunhas que liam o Poema
Dizem que ele era inovador, ousado
Não merecia tal destino… assassinado

Nesta fria noite vadia


Nesta fria noite vadia
Povoada por fantasia
Fantasio sobre a Poesia

Ela que busco e aspiro
Aspirante a um seu suspiro
Tal como ar que respiro

Mas a Poesia é arredia
Foge de mim, quem diria
Eu, que a trato com simpatia

Neste quente dia presente
Cheio de cor latente
Sinto-me algo diferente

Pronto para ela capturar
A poesia perfeita encontrar
Mesmo que isso me possa custar
Mais que o meu olhar…

…morreria feliz sabendo
Que vivi com ela no pensamento
Angustiando mas amando
Amando mas também chorando

Agora que sou apenas eu
Um fino elo que a tudo cedeu
Lamento o que não amadureceu
Que ficou gestante e não cresceu

Mas ainda fugaz sinto
Sentimento que não minto
Pois a mentira foi capaz
De me levar com ela atrás

Nesta fria noite vadia
Procuro a minha poesia
Em vão no vão da escadaria

Mas não encontro nada
Deixo para sempre a escada
Lamentando deixá-la abandonada

Pois sei que bem perto
Estava ela por perto, decerto
Também buscando-me, é certo

E sei que a Poesia
Nem sempre é alegria
Carrega em si mais do que podia

E que pesado fardo por vezes lhe dou
Quando nela espanto os meus fantasmas
Que assombram a minha existência
Mas é uma questão apenas de sobrevivência

Que ela me perdoe um dia
Ou nesta fria noite vadia…

POR MEU PORTUGAL


Uma espada crucificada na santidade
 Por um mundo devasso, quase hipócrita
 Uma seta no coração da liberdade
 Sangrando por uma Pátria, na carótida

Oh Meu Portugal, que eras um mundo
 O orgulho de Afonsos e Henriques
 Como te vejo agora, abismo sem fundo
 Caindo, embora a tudo te sacrifiques

Altiva o teu estandarte, recruza os mares
 Expulsa o Adamastor que suga o teu viver
 pois se por nós e gerações não recuperares
 mais vale esquecer, de novo os Mouros chamar

Alentai, escutai! Escutai a nostra que é Patria
 Caminhai com a altivez do passado honrado
 Não deixeis o Graal dourado, desvelado
 Vivemos só de um orgulho, do chuto na área

Mas somos mais que onze vestidos de sangue
 Somos meio mundo que vive de nós expetante
 Lembrai que o passado é um presente rasgado
 No tempo esgotado a chorar com a mão adiante

Não! Eu esmolar por erros de outros não!
 Prefiro a espada envergar, e matar o meu dragão
 
Saudações Poéticas,
 P'lo Jomad'o Sado
 António J.P. Madeira

As paisagens da vida


As paisagens da vida
Avida por ser ouvida
São paletas de odores
Que odorizam as cores

Azul fui na infância
Pois azul é inocência
Ausente pela distância
Que o crescer faz-nos perder

O som que a coloriza
É o riso após chorar
Quando aprendemos a amar
Amando sem pressa, na brisa

Brisa que tudo harmoniza
Estabilizando a lembrança
Da alegria, tristeza, mudança
Da infância, fica-me essa lembrança

O verde da Rebeldia
Verbaliza a adolescência
Em que a calma e a energia
Fluíam na raiva da violência

Oiço o som da mudança
Que colora a lembrança
Pois foi marcante no ser
Servindo a dor e prazer

Sim, foi também por aqui
Que o meu corpo descobri
Descobrindo que o sexo
Nos anjos e nós é complexo

Ganhei a sabedoria
Mas perdi a fantasia
No vermelho que agora sou
Cor do adulto que ficou

E nem sei se é a paisagem
Que adoro nesta viagem
Rumo ao negro profundo
Quando partir deste mundo

Fome das palavras


Tenho fome das palavras
Mas não delas já escritas
Enquadradas em tercenas benditas

Não! quero-as ainda a ferver
Imaturas, sem ritmo…sem o seu poder
Que as obriga o ato simples de escrever

O peso que tem cada uma delas
Contido em métricas constantes
Emparelhadas ou dissonantes

Apenas embala a minha caneta
Que em sincronismos de cinco dois três
Cria mundos e sonhos de uma só vez

Ás vezes não sei como optar
Se será bom sempre rimar
Ou seria bom por vezes prosar

Mas não sou eu quem mando
Apenas obedeço ao seu comando
Aguardando o seu sinal, ansiando

Escravo voluntário até desfalecer
Cingido ao papel, fadado a escrever
Sem puder parar, ou sem o querer

E os sonetos que agora imagino
Talhados em brocados de ouro fino
Falam novamente delas e eu desatino

Saciei a fome das palavras
Mas não a vontade de escrever
Colocá-las em linhas, o prazer de as ver

O seu andamento galopante
Que ilumina o livro mais errante
Que contextualiza o mais importante

Mas uma questão avassala-me
Nestas cenas dignas de um filme
E com a alma cega pelo ciúme

Questiono o porquê das palavras
Porque as procuro até na solidão
Quem segura e guia agora a minha mão…
Eu não sou não… sou escravo delas, pois então!

(Des)Esperando por pensa[ele]mento


Nunca mais…
…poderei ser aquele que pensei ser
…levantarei o rosto, orgulhoso de vencer
… ficarei imóvel, entre as estrelas sem te ver
… alcançarei a paz, mil anos e mais que viver

Sob a promessa sagrada da família
Que comigo agitada faz esta vigília
Escuto os sons do silêncio profundo
Ocultos mas à vista de todo o mundo

Embrulhados em rasgos de papel
Fruto da minha amargura e fel
Mas sempre frágeis como o espirito
Esvoaçando livres, no céu infinito

Tenho apenas…
…esperança no futuro vindouro
…ansiedade por ser de ouro
… sonhos de alcançar o mar
… desejos de nele somente navegar

E se a ilha deserta aparecer
Que possa lá de novo renascer
Em cor, alma, espirito e ser
Sob o pôr-do-sol, sob o amanhecer

A idade é apenas uma traição
Para quem fica mudo à emoção
Para quem do sonho dele desistiu
E à monotonia eterna sucumbiu

Pois eu sei…
….que mil voltas envoltas em revoltas
…que somos cristalinas pontas soltas
… que o desejo alimenta a alma criadora
…que a escrita quando pura, é avassaladora

Que a melodia que nos envolve a todos
Fazendo-nos soltar lágrimas a rodos
Move o que dentro de nós é sensível
Levando-nos para outro excelso nível

Nunca mais… [vou desistir]
Tenho apenas… [que persistir]
Pois eu sei… [ao ver-te sorrir]
Que valeu a pena eu existir

(PRE)CATIVOS


Cativamos num olhar
Noutro libertamos o nosso amar
Depois de libertado nunca quer regressar...
Prende-se no tempo, mergulhado nas ilusões
De nosso cativo que cativou o nosso gostar

Cativamos numa fala
Noutra falamos sem nos calar
Atropelando peões na passadeira
Na língua atrasada do pensamento a brotar
Ser cativo não é mera brincadeira por falar

Cativamos o tempo
Mas ele não nos liga, foge sem parar
Anda sessenta léguas rodadas num minuto
Para em segundos, anos de nós separar
Quando escrevi isto era um mero “puto”

Desde que deixei o relógio a embolorar
O tempo parece estagnar, o sol e lua ignorar
Mas vivo atrasado de tudo… quem sabe se a morte
Não me deixa por ela passar… sem ter de a cativar

Pensamentos incertos


Pensamentos incertos
Inconstantes como livros abertos
Povoam o nosso viver
E Choram o nosso morrer

Pensamentos belicosos
Outros amorosos
Alguns ainda indefinidos
Frutos de sonhos perdidos

São traços da alma
Rios de fluida calma
E também oceanos violentos
Cheios de vigorosos momentos

Pensamentos incertos
Tal como o teu olhar
Que torna rios em desertos
Apenas com um breve piscar

E a musica que ecoa agora
É apenas uma lágrima que demora
Um ano e mil vidas para renascer
Séculos a crescer, vidas a florescer

Um olhar apenas incerto
Um pensamento agora certo
E Réstias de humanidade
Condecoram a verdade
com a realidade…e a saudade?

Pensamentos incertos
Para todo o sempre incompletos
Escritos e talhados no fogo ardente
Que vive clausurado na minha mente

Apenas uma breve agonia
E tudo a ti sucumbiria
Mas tu assim não o rogaste
Não quiseste, tudo abandonaste
E nem de ti te salvaste
Ficaste incerta de mim, desconfiada
Tombada na realidade quadrada

E sem forças pereci ao pé de ti
Legando-te estes pensamentos
Que Incertos ou não, são paixão
São amor, que causa pura emoção
Para que nunca os momentos
Em que contigo feliz vivi
Se apartem para longe daqui

Apenas de mim…para ti…

Ser(vindo) ao Mundo


O fustigar do pensamento contra o vento
Que provoca ondas de rebeldia que acalento
Mimo e faço-as crescer… criando vida por um novo ser
Regradas por hipotenusas difusas que simbolizam o viver
Não…não sei que impulso me faz tanto escrever
Ou até sei…mas não quero dizer.

Pois a alma gentil, que em mim é febril
Contrasta com tudo, com o que vejo senil
Porque a idade não quebrou, não silencia
A criança que traquina habita a minha poesia
Aquela que com delicadeza, difunde a fantasia
Fantasiando mundos de plena e pura energia

E o que sou eu agora? O que fui outrora?
Outrora sei lá e nada me importa agora
Apenas uma plena certeza vive imbuída
A concretização de uma etapa de uma vida
O prazer de fazer parte de uma causa sentida
É isto que me faz correr, ansiar por escrever

Se fosse Pessoa escreveria
Escrevendo tudo o que sentia
Sentindo a vida que em mim fluía
Fluindo simples poemas com alegria

Se fosse Espanca a sofrer
O meu encanto seria amar até doer
Procurando no mundo me encontrar
O que arde sem se ver, mostrar a quem amar

Que posso eu mais dizer sem falar?
Falando daquilo que faz a alma da minha alma… chorar
Porque aqui….não basta apenas o muito te amar, não basta

Sonho Perplexo


Apenas aqui
Vivi mas cresci
E revi-me no reflexo
Num sonho algo perplexo

Sonhava a girar
Girando a sonhar
Tentando encontrar
O sol do luar

Escavando no ar
A forma de escapar
Algo, alguém para amar
Do sonho me resgatar

Pois sei de antemão
Que a rima é paixão
E se girar perco-a da mão
Presa na doce solidão

Cai-me o sol no luar
Ansiando acordar
Paro logo de girar
Para o reflexo voltar
E o sonho dissipar

Sonho perplexo
sem qualquer nexo
que brilha sob o luar
até o sol o vir chamar

Simplesmente Mulher


A fragância de uma linda flor
É algo que perfuma o teu amor
Seres mãe e esposa com delicadeza
Somente Mulher com muita nobreza

O teu olhar diz mais que mil palavras
O rosto reflete os sonhos que em ti gravas
Bem fundo, aninhados no teu imenso coração
E chorar? Sempre choras com vera emoção

Mas o teu riso é também pleno de satisfação
O teu carinho fonte de nossa inspiração
A tua abnegação algo que é inexplicável
Que te torna mais, maior, alguém formidável

A tua pureza, que afasta a incerteza
O teu sorriso que nos toma de improviso
Faz com que te amemos na saúde e doença
Que busquemos ao infinito a tua presença

Pois,
Seres mãe, é a vida a ti te dever
Seres esposa, é contigo florescer
Seres mulher, somente por o ser
Parabéns!!!
é pouco para tudo te agradecer

Aprender a sonhar


Era uma vez um sonho,
Feito de pérolas e puro oiro
Vivia escondido em ti
Até que por acaso o descobri

Era um sonho de criança
Com a ingenuidade da mudança
Preso por grilhões de esperança
Aguardando imuto por tua lembrança

Brilhava mais que o sol raiava
Cobria o céu de luz branca e alva
Era por ti que ele sonhava, ansiava

Sim, o sonho era verdadeiramente teu
Mas estimei-o como se fora agora meu
Envolto neste véu escuro em azul céu

Brilhas e resplandeces com o olhar
Aceitas em ti o sonho sem hesitar
E mais uma vez em águas azuis cor de mar
Tornas a aprender de novo a sonhar

E eu, simplesmente estou ali…por ti…
Procurando, desesperado numa ânsia pesada
De quem sonha em nunca perder a amada
Mas e a dor? Não, a dor não jaz aqui

Peço-te perdão sem nada falar
Recorro-me da melancolia do meu olhar
Entristece-me saber que por não sonhar
Talvez tenha deixado de tanto te amar

Terei que recuperar o meu sonho
Torná-lo menos negro e tristonho
Serei então capaz de sonhar, o teu mesmo sonho

Meu Deus dai-me forças para não cair
Para nunca no passado ter de refletir
Sempre sem soslaios em frente seguir

E tu? O que procuras mesmo de mim?
O meu triste e pesado ser que luta por um fim?
Ou apenas temes que te abandone por fim.

Como é difícil aprender a sonhar
Não vem nos livros, ninguém pode ensinar
Apenas por experiências em tempos ideais
Poderemos comparar e evoluir como iguais

E após tantos momentos e hiatos de esperança
Resta-nos uma nesga de magra lembrança
Dos tempos felizes em teu regaço suspirando
Onde traçava teu rosto indolente, o meu sempre beijando

Eram tempos de calorosas venturas
De jovens que viviam as primeiras aventuras
Ignorando ainda que viriam depois as amarguras

Era-mos nós, eramos deuses sem lei
Envoltos em justas palavras que agora direi
Pois aprender a sonhar, um dia eu conseguirei

TOMBOU A CATRINETA


Tombou a Catrineta
que era a nave do meu saber
A única Riqueza que a Pobreza me deixou ter
Agora a minha existência, ficou perneta
Desfalcada do que acima, mediamente
Mediava por baixo, o fogo aceso na minha mente

É de lamentar na verdade
perder de uma só pancada
o ferro, fogo, água e ar
que fortalecia mas queimava, vaporizando o meu respirar

Algo poderia salvar
Mas o quê, se não sei nadar
E a perneta é pequena para flutuar
Nem tenho os quatro elementos para m'ajudar

Pois, com ferro, até flutuava
e o fogo a perneta queimava
perdendo na água o medo de mergulhar
enchendo o peito de ar
rumo ao tesouro da vida que ele tentou ceifar

E sabem o que eu acho?
Não acho nada, não posso achar...
Ficou tudo perdido, bem no fundo do mar

Não ao Plágio!


O Poeta é pobre na vida
Vivendo uma vida sofrida
A sua única riqueza
Guarda-a na sua cabeça

Um dia…
Mostraram-me um poeta rico
Não passava de um mafarrico
Pois os poemas que apregoava
Eram de um pobre que ele roubava

Faz parte da Poesia
Ter a barriga vazia
Para a atafulhar
De Poemas de espantar

Não ao Plágio por favor
Escutem este meu clamor
Da cópia tenho pavor
Pavoroso ser rico,
pobre sim … se faz favor!

Forças da Natureza


Quando me procuro inspirar

Oiço o distante marejar

Sob o por do sol a chegar

Preso numa flor a despontar

E perco-me no teu olhar

São estas coisas; as forças da natureza

De que gosto realmente de falar.

Dias Sombrios


Foi mais um dia, uma manhã triste e sombria
Daquelas que por vezes nos vêm acordar
Dia chato e longo em que o meio dia parece ser o fim do dia
Pleno de abandono onde impera apenas, o puro azar

Existem apenas para grosseiramente compensar
Aqueles dias radiosos, inundados de luz e cor
Para tudo à sua volta apenas negativizar
Para abalar o teu espirito e aumentar a tua dor

Na penumbra do limbo espesso que os envolve
Tudo fica apenas estagnado, nada se resolve
É melhor esperar, pacientemente aguardar
Pelo próximo dia que tenha uma manhã azul a brilhar

Tenho tido muitos dias assim, com manhãs sombrias
Nem mesmo a força do poema consegue forçar as alegrias
Pois o cinzento está bem fundo, cravado bem forte
Entre os vitais sensores que regem agora a minha sorte

Depressivamente sinto-me incapaz
De aguentar nem mais um dia sem qualquer paz
E hoje é apenas mais uma manhã sombria, um longo dia
Em que a vida me sufoca e me agonia.

O velho e eu velho


Quis fugir do destino
Escondendo-me opaco
Na alma de um menino
Mas o velho é macaco!

Sabotei o tempo imuto
Com bombas de ilusão
Mas o velho é astuto!
E atirou-me a desilusão

Cortei amarras ao mundo
Tentando fluir na maré
O velho viu-me do fundo
Puxou-me, perdi o meu pé

Estava quase afogado
Cheio de fel borbulhando
Mas o velho é danado!
E fez-me viver chorando

Maldito velho desalvorado
Que vives em mim fechado
No gelo branco do pecado
Ateando o meu negro lado

Liberta-te de mim e sai
Vai para o teu covil aguado
Onde fechado está teu Pai
Leva-lhe este meu recado

Pois nunca mais cederei
Nunca mais serei manipulado
Caia a terra e eu escaparei
Num carro de vinho aguado

Rumo ao firmamento
Onde as estrelas riem
Desprovidas de vento
Agitadas, me sorriem

Sabes velho…

A terra é o espaço
Onde brilham estrelas
O céu apenas terraço
Onde vamos colhê-las

Onde podemos vê-las
Nelas nos apontarmos
No brilho ofuscarmos
Ansiando por tê-las

Mas eu apenas te tenho
Velho corpo e alma pingona
Que no tempo detenho
Para fazer esta paragona

Para minha Mãe (Baseado numa Pessoa)


Ô Mãe mui amada, quanto do teu chorar
são lágrimas do meu olhar.
Por tanto gostares, quanto de ti abdicaste
Quantos sonhos, em teu rosto secaste
Quantos sorrisos feitos de Sal, envergaste
Para que no mundo fosse Pessoa, ô Mãe


Valeu o esforço? Sempre vale o esforço
Quando se é a alma de outra alma
Se luta contra um mundo Adamastor
nos cabos de Tormentas dobradas em dor
Que Deus te dê mais anos que a eternidade
Pois eterna já és, presa na minha felicidade


Parabéns, Mãe
Estejas onde estiveres,
no meu coração sempre morarás

J. P: Madeira

Mais ou menos


Porque serei eu mais
Se sou igual aos demais
Porque serei eu menos
Se do mesmo modo nascemos

A arrogância tem duas fases
Primeiro é a fase da criação
a outra... sabes tu?... quem então?

A brincar e a criticar


Tinha amigos aos milhares
Até que minha pobreza chegou
Agora nos seus gestos e olhares
vejo do que a pobreza me livrou

Não as querendo criticar
Nunca as mulheres me assediaram
Mas depois de um dia casar
Nem da minha porta se afastavam

Até chegar a infeliz separação
que caiu na vida com pesar
não sei se foi essa a razão
de nunca mais nenhuma avistar

Restava-me meu trabalho ideal
Que me dava longas horas de azia
O que ganhava, era tão pouco, irreal
Quando as faturas a pagar, conferia

Mas não conseguia aprender a roubar
Embora visse os mestres em ação
Que na televisão e governo, ao falar
Roubavam-me até a minha visão

Fui para pedinte, carros arrumar
Mas a concorrência era brutal
Até a um deles tive de pagar
para não me por em tribunal

Fui acusado de o caluniar
Ao chamar-lhe de malandro
Ainda tive de advogado pagar
E com pulseira eletrónica ando

Não posso dele me aproximar
Por causa duma injunção cautelar
Raio de filho que me havia de nascer
Que até do Pai goza, a bel-prazer

Quase que conseguia de tudo chorar
Se não tivesse de meus olhos hipotecar
Para pagar a minha pequena cirurgia
Depois de ver as contas de oftalmologia

É que nem cego por cá se pode ser
Muito menos deficiente aqui nascer
Pois para dinheiro eu conseguir arranjar
Tenho de cegamente em linha reta andar
e caso deficiente, ter de a Universidade completar

Mas se numa bola um chute ao acaso acertar
Sou um português que o estado irá ajudar
Mas sou apenas deficiente com medalhas a nadar
Dizem; vais a nado que tens bom “corpinho” para pagar

A de cima era da frustração a falar
Por ver por ai, tanto herói exemplar
E ver sempre os mesmos a ganhar
O que para todos devia chegar

Desculpem por me enervar
E por tanto me alongar…
Por favor não me façam disto pagar
Que não tenho mais nada para empenhar!

Lavar beijos


Se eu pudesse lavar
os meus beijos
Nas lágrimas do teu gostar
Eu sorrindo o faria
E não quereria
Fazer mais do que isso
Até o teu chorar, me beijar

O SER


A pedido de muitos partilho este pequeno poeminha gótico que será publicado em breve na sua versão em Inglês, numa revista estrangeira e chama-se simplesmente ....

O SER













Era uma noite estranha e sombria
Nem uma estrela no céu se via
Quando a janela se abriu rangendo
Um arrepio pela espinha foi descendo

Não tinha medo de nada vivo e mortal
Mas os vivos não abrem janelas rangedoras
Nas horas das almas sofredoras
Que nos assombram sem igual

Puxando o lençol acima do olhar
Tentei outra coisa imaginar
De modo a não ter de espreitar
Ver aquilo que vinha a entrar

O horror escorria pela minha face
O ranger voltou a ecoar mais monstruoso
O coração disparou como se voasse
A angústia venceu o senso extremoso

O arranhar era agora constante
Como se algo estivesse expetante
Aguardando pelo meu olhar
Para depois de tudo se apossar

Mas eu resisti, rezando e temendo
O que continuava ameaçador esperando
Pela minha alma, corpo e vida querendo
Mas a coragem ia meu corpo abandonando

Por fim só restou o ser primitivo
Que defende tudo de modo agressivo
Os instintos lutaram por um objetivo
No corpo que se encheu de sangue vivo

A sanidade foi-se com a luz
Que o vento soprando reduz
E aquele arranhar ficou pungente
Oprimindo o quarto simplesmente

Um olho resolveu arriscar
Pediu à mão para o lençol baixar
Quando meio caminho ainda restava
Nada neste terror acordado faltava

Pensava eu gemendo, chorando por mim
Até que o lençol caiu por fim
Deixando exposto o meu destino
A um olhar que recuso sem tino

Devia ser o luar, que forçava o olhar
Mas uma trovoada, mostrou o ser
Que pairava roto, envolto no ar
E outra trovoada fez-me tremer

O que fez esse terrível ser?
zombou de mim, babando veneno
que causticava o chão a sofrer
tornando o momento alvo e pleno

Hipnotizado, rolei o lençol para o lado
Caminhando etéreo em sua direção
Vendo desesperado a foice na mão
Na cadavérica mão manejado

Seria este o momento final
Teria morrido ou estava vivo afinal
Era algo que sempre julgara mal
Nunca pensara nisso por sinal

E quando um metro sobrava
O odor do ser me sufocava
Fechei os olhos rezando calado
Revivendo o meu triste passado

Mas algo o fez recuar
Fugiu de mim a guinchar
Soltando lágrimas de arrepiar
Das carnes podres pelo tempo milenar

E arrisquei abrir as janelas da alma
A tempo de ver o ser com calma
Reconheci algo familiar, até peculiar
Algo que prendia nele o meu olhar

Trazia o teu medalhão enrolado
Na foice de onde o sangue era molhado
E gritei com a voz e a alma finada
Porque soube ali que não restava nada

Ma s o ser de mim se afastava gritando
Como se algo o estivesse mandando
Até que cuspiu cheio de muco azulado
O anel que te tinha dado de noivado

O terror passou e a raiva aumentou
A coragem cresceu pelo quarto
E o meu corpo ficou nela farto
Uma arma, uma arma,
algo me sussurrou

Da cama passei à lareira
E o ser fez-se à minha beira
Fendi-o com o ferro atiçador
Mas eu também senti grande dor

O ser ficou urrando espantado
Até que caiu calado, a meu lado
Um fumo verde dele se esvaia
Pela janela, para a fria ventania

Fechei de novo os olhos, aliviado
Parando de respirar um bocado
Até que senti pressão na mão
E foi ai que descobri a desilusão

A meu lado, jazia a amada
Que tinha sido amaldiçoada
Da cabeça sangrava condenada
E eu nem podia fazer por ela, nada

Nos últimos instantes a sua mão agarrei
Chorando lagrimas que nunca sequei
Até que num sorriso de puro estertor
Ela sucumbiu deixando-me só na dor

Amaldiçoei a minha sorte danada
Pedindo para ser alma condenada
O meu desejo foi correspondido
Por aquele fumo verde esvaído
Que voltou a inundar o quarto
Entrando no meu peito farto

Sou agora eu que assombro a noite
E não há quem sozinho nela se afoite
Pois sabem que o ser anda perto
Escondido, dentro da noite a coberto
Aguardando uma janela rangente
Onde possa entrar de repente
Para aprisionar mais um de nós

Escrevo isto para alguém lembrar
Enquanto algo de humano ainda sobrar
Não sei se são minutos, um mero segundo
Antes do verde pútrido e imundo
o meu corpo totalmente tomar

Cuidado ao falar, amar e matar
Para nunca num destes seres… se tornar!

A pobreza de um ser


Ser pobre não é ser inferior
É apenas viver em contínuo terror
É temer com aflição o negro dia
Em que morre todo o esforço feito no dia-a-dia

É desalentadamente implorar alimento
Sabendo bem o que é o desalento
De não ter um futuro crivado de paz
De nem a família ajudar de forma capaz

Nasceu pobre mas ainda assim honesto
Apesar do rigor da vida, é ainda assim modesto
Tal como modesto é o seu simples protesto

Satisfaz-se com o que outros deitam fora
Bem os amaldiçoa nessa triste hora
Em que rebusca os seus lixos e chora

Mas as lágrimas de um pobre valem apenas
Miseras e escassas atenções, piedosas novenas
Que na morte entoam mas sem carácter nobre
Porque quem morreu era apenas mais um pobre

Deixou família e filhos para criar
Que agora sem apoio sofrem a dobrar
O mais velho vai ter que muito trabalhar
Para o mais pequeno puder sequer respirar

E assim a pobreza de um ser,
Condiciona com a avareza de perder
Uma potencial família agora a crescer
Porque ninguém deles quis realmente sabe

No meu tempo


No meu tempo era melhor
Os risos não tinham pedras chapinhadas
O cinismo era curável e a vergonha era vermelha
No corado que nos prendia ao som do desculpe

No meu tempo brincávamos
Na pobreza de calças rotas
Que chutava pés descalços
Em bolas de papeis e sacos
Sem logotipos degradáveis

O leite trazia cheiro de vacas em bilhas
Em motas velhas como o condutor
e sempre se fervia o humor dele
para a doença não nos pasteurizar

Tudo tinha cheiro e eu gostava de falar
Pois não tinha computador para hibernar
Tinha pessoas que me tocavam e amavam
Sem cliques nem “likes” pois era Português
e na escola, aprendia-se mesmo a respeitar

Depois cresci, amadureci e muito perdi
Nunca mais os cheiros felizes voltaram
Nem o barulho das motas em bilhas
nem o tocar só por gostar, o terno olhar
Dos que tentavam comigo falar, educar

Tudo desapareceu num estrondo de evolução
Que fez de mim, mais máquina que humano
Onde penso cliques e anseio por bits sem parar
Mas algo comigo ficou, acompanha-me sem hesitar
A pobreza e o olhar menino, que nas rugas teima
Em sorrir e por vezes das recordações chorar

Pena que os novos não possam o puro respirar
Que o passado não lhes possa para o telemóvel ligar
Nem possam imaginar que a felicidade não é postar
Nem online jogar, nem no youtube ser popular

Um dia, talvez amanhã, vou-lhes mostrar
Vou ser como meu pai e avó e vou recuar
Em passos de estórias familiares e aí vão saber
Que o tanto que hoje se tem nem é metade
Do que pouco era mas tanto era na vida
De quem ansiava por na noite escura
Ter um beijo na face e um sorriso de mãe
Para até a próxima alvorada sonhar
Esperando as motas velhas como o condutor
Que trazia e traz as recordações que são corações
Espíritos de um viver
Que no meu tempo era melhor

Antónimo Madeira

Coisas e multidões


As coisas patéticas são as mais embaraçosas
As coisas poéticas são as mais dolorosas
A poesia por vezes torna-se patética
Na dor de um quase silêncio embaraçoso

Uma multidão não são muitos
Apenas alguns “multi” que tudo de si “dão”
Mas são esses “Multi” facetados que a cor “dão”
O melhor que há em nós, tornando-nos numa multidão

Estar vivo


Como sentir que estou vivo
Como ainda perceber que respiro
São coisas que não vêm no livro que lemos
E todos o lemos quando nascemos

O milagre da vida, fruto de dois diferentes
Amor transformado em seres inteligentes
De um apenas, multiplicar-se por centenas
Moléculas que criam braços, corpos, pernas

E nascer, tudo é sinónimo de sofrer
A dor de cair, sem ainda se aperceber
Perder aquele espaço, aquele intervalo
Onde tudo fazia sentido, sem qualquer abalo

E a primeira golfada, fria e cruel
Sabe a dor e agonia, sabe a puro fel
Pulmões, é a vossa vez de brilhar
Respirar para depois gritar, chorar sem parar

Nasci, sobrevivi, estou aqui…
E tu que me abrigaste, chamo agora por ti
Mas não me podes ouvir, nem mais sentir
Pois para eu nascer tiveste tu que partir

O milagre da vida, fruto de dois diferentes
Viveu um, para enfrentar angústias crescentes
O outro.., não resistiu, abandonou-se inerte, imuto
Cruel destino, sem sequer ver do seu amor, o fruto

Farinha do Ser


Na calma da uma guerra de vivos
Em que perdi os meus sentidos
Esgotei a água do meu moinho
Que a farinha do meu ser afina

E triste sem pão para crescer
Lancei-me às claras
nos escuros caminhos
onde a luz perdeu
o brilho que Deus deu

Mas o escuro que encontrei
Era a farinha agora suja
Arrastada na lama seca
Que prendia o meu moinho

Num pesadelo de luz
Afastei o negro da minh’alma
Esconjurando com o barro
Os fantasmas da minha solidão

Da farinha fiz a espada
Que agora jaz espetada
Na rocha que era a ambição
E esqueci-me do meu pão

Filosofar... Humanidade


Se a humanidade fosse compreendida

O desemprego era psicólogo

Mas se a vida fosse entendida

Nunca nasciam filósofos

Porém,

se o desemprego fosse psicólogo

E nunca nascessem filósofos

A humanidade estaria da vida perdida

QUASE AUTOGRAFONIA


Muitos se queixam do meu feitio arreigado
Que explode na face que de Deus recebi
Dizem que é do Rio quase Mar azulado
Que banha a Cidade onde eu nasci

Falam que no crescer, meu corpo foi danado
Como ele da morte, não vivia muito afastado
Até que um belo e singelo amanhecer
Fez no brilho, a escura ceifeira desfalecer

Da infância não sei o passado (não me têm contado)
Pois era no presente que pequeno, adormecia
Escudando os olhos de uma fera humana, assustado
Que quando acossado, no corpo de minha mãe batia

Depois cresceu o pensamento, no adolescente calado
Que borbulhando hormonas de amor, sorria poemas
No seu Rio quase mar Azulado, onde chorava salgado
Por seu amor rejeitado, não ser azul mas encarnado

Dizem que as recordações nunca morrem
Vivem do coração, no sangue bombadas
Que constroem o caráter de um homem
Queimando na alma, as suas pegadas

Mas eu sinto mais do que posso falar
Escrever, ou chorar
Não sei como de mim tirar
O que não sai de modo vulgar
Sinto o torniquete apertado
Que contém o meu inundar
De emoções.
Que me asfixia o pensamento
Num eterno momento
Sem nunca hesitar
De mim se afastar
Coragem, entoo para dentro
São mais alguns anos por passar
Depois
Apenas passam meios mundos
Cheios de meias vitórias
Que na boca chegam a amargar

O tempo nada repassa,
tudo devassa
E eu não consigo extravasar o que se passa
Pois apenas se passa um humano a imolar
O seu sentimento,
num rio de paixões falsificadas.
Nele fui batizado,
Pelo falso profeta enganado
Pois ainda na água mergulhado
Vi que o mundo era aguado
Sujo, depravado por todos
Privado do seu amargurar
E esta dor que sinto
Que me corta o coração
São apenas fragmentos
Do ateu que morreu não conversão
Aleluia, que também eu sou Cristão

Muitos se queixam do meu feitio arreigado
Mas foi com ele que sempre vivi
É ele que me faz ser um rio azul inflamado
Que banha este corpo, onde eu nasci

Tambor em Vida


Não quero ser tambor desconhecido na banda da vida
Rufando sem nunca ser mais que um ruido devasso
Cruzando compassos em monótona avenida
Num eterno e circunflexo marcar do passo
...
Não quero ser grito nem desespero ecoado
Saltando esquinas de bocas sem me calar
Em frases agredindo o coração pesado
De quem nada mais tem para falar

Não quero ser vilão nem herói em contramão
Salvando dias das noites amarguradas
Que os tentam secar com escuridão
Em palhas de camas enciumadas

Quero apenas ser a cor da alma,
rasgando céus em ósculos de estrelas
Cavalgando sonhos à desfilada,
Levando a juventude em mim enfiada

E se o mundo um dia me vir no meu todo
Saberá que todo eu serei um mundo nesse dia
Pois a viagem foi terminada com sincera alegria
Que neste comboio de anos, apita ventos de simpatia

Mas quando me vejo na banda a tocar
Preso num grito do meu olhar
Que chama o vilão para o herói ajudar
Sei que o final é agora e vem veludo para me buscar
Só que eu não quero abalar, sem o meu mundo
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OXALÁ EU TOMARA (do meu livro de Imaginar)


Oxalá fosse mar para nas areias brancas finas me [entranhar e acordar] (acabar)

Oxalá fosse homem para uma família e preocupações parentais arranjar

Tomara ser humano para os extra terrestres caírem na Janela do meu sótão

Tomara ser maior para poder os remédios adoentar nas minhas mãos de anão

Mas nem o oxalá nem o tomara fazem por ser o que fosse

Nem no mar se fez o homem que apenas humano sonha maior

Mas uma paixão transforma uma nação, como chuva na monção

Um pequeno homem move mundos sem de força precisar

Basta esperança numa mão de amor para o coração animar

O mar também poderiaajudar…

Oxalá consiga um sótão comprar que a Janela é fácil de arranjar,

Pois sou anão no arriscar e consigo nela escapar

Vou mais coisas destas ansiar no meu livro de imaginar

Onde as estações são dimensões de uma quarta meia da semana

Onde eu tomara ser sempre Primavera num oxalá nunca nevar

Vou onde a família que me fez homem deixar

Rasgando o Universo, entre portas de um lar

Onde filhos são irmãos, gato e rato a brincar

Mas não os deixo ir ao sótão…isso, nem pensar

PEQUENO PARDALINHO


PEQUENO PARDALINHO (Menção Honrosa XIX Concurso Poesia da APPACDM - Setúbal)

Escuta-me pequeno pardalinho
que vives triste, quase solitário
nessa tua opaca gaiola onde te procuro,
sem te conseguir de lá libertar

Um dia…
Numa trovoada de esperança, cairão chuvas de libertações,
abrindo a tua gaiola entre outras que à tua são tão iguais

Quê? Que me dizes?
Não gostas de te molhar?
Envergonhas-te por não saberes falar nem cantar?

Nada importa!
Eu canto e falo por ti e cubro-te da chuva em mim
Faço esse Um dia ser já amanhã, mas tens de me ajudar

Sabes…
embora tenha penas, já não servem para voar
pela vida fora, deixei de as saber usar
foram as mágoas e o receio de as magoar

Mas faço de tudo para te ver bem alto,
todo emplumado, feliz no Céu de nosso mundo,
por ti e por mim,
tal normal anjo a voar


Do mundo, Humanos


Porque tentamos o mundo dos outros mudar
Se por vezes nem o nosso conseguimos rodar

Porque nos atrevemos a criticar apontando dedos
Que se refletem em espelhos cheios de nossos segredos

Porque sorrimos com máscaras feitas de conveniência
Quando de caras não sorrimos com tanta frequência

Porque invejamos os outros que são nossos ideais
Se todos somos iguais, apenas frágeis e complicados mortais

Apenas porque somos meros humanos,
neste mundo (re)nascidos como crianças
Mas o criador até nos deu os seus planos
Só que vivemos tão atreitos das mudanças
Que nem tememos o abismo intransigente
Onde nos lançamos por uma birra incontinente

Se por um erro num dia
Cada humano se ajoelhar
Teremos plantações de joelhos
Que durarão eternidades para regar

Só que a eternidade é algo que criámos para justificar aquilo que não conseguimos contornar
Que eternamente seremos humanos, com defeitos e qualidades tão admiráveis
onde até o mal conseguimos fazer tão bem, tão perfeito
que até num milagre conseguimos encontrar um defeito
mas num trovão de emoções, corremos para nos abrigar
apertando o coração contra os outros para nos confortar
e o nosso olhar torna-se criança e até conseguimos fazer…
o nosso pequeno mundo rodar.

J. P. Madeira