Lara Ramos de Carvalheira

Respirar


Tira-me da boca a bola sufocante que utilizaste
para me calar
as minhas palavras feriram-te
urravas de dor a cada bater da minha língua nos dentes
pára pára pára gritaste
eu tenho tanto por dizer
e tu não consegues escutar.


deixa-me partir então pois, no silêncio não
vou respirar, então para longe onde tu não me pises
a relva verde, onde me rebolo lembra-me
de te dizer que apesar de todo o, sufoco
nas palavras que não mais te direi.

O perdão


Não te pedi perdão,
Tu deste-mo.
Não engoli o meu orgulho,
desta vez,
deste-mo à boca e fizeste-me saboreá-lo
até se tornar acre e insuportável.
Não pedi desculpa
esqueci-me de como fazê-lo,
ceguei, cegaste-me.
Não falámos do assunto
e agora vai ficar eternamente
na ferida do meu ego
aqueles dias em que nos esquecemos
de como eramos amigos
de como eramos um e apenas um.

Agora somos dois.
Em breve seremos um e meio.
Quando dermos por nós...
somos um e apenas um.

Espelho


Olha-me.
Por detrás da face fria que te mostro está
o coração quente que bate forte
quando te sente a chegada.
Vê-me.
Não sou só olhos que são espelho,
não sou só boca que é pensamento.
Sou tudo misturado e embrulhado
num único bolo grande de fartura e falta:
fartura de mim.
Falta de ti.
Olha-me. Vê-me.
De braços abertos espero
que me tragas o calor do teu riso e
as tuas gotas de suor fresco para
que acalme o meu ardor.
Toca-me com a flor do teu cheiro.
Ama-me.

Sentidos


Ao deitar-te sinto
O cheiro da tua pele e
Do teu cabelo.
Fecho os olhos.
Na minha mente o teu perfil.
Vejo o teu cabelinho
Louro.
Ouço a tua voz
Doce.
Toco as tuas mãos
Pequenas.
Beijo a tua face
Meiga.
Abro os olhos e inalo.
Meu filho
Minha alma
Meu tesouro
Minha felicidade
Minha vida.