Lua Barreto
Mitose
Hoje estou dividida em duas
Sou duas
Hoje não consigo me juntar
Sou pedaços
Um inteiro, hoje, não me diz nada
Sou fatias
Gomos
Tiras
Sou metades
Hoje não sou capaz de escolher um só caminho
Sou toda bifurcações
Cruzamentos
Trevos
Não sei ser um pensamento
Sou toda divagações
Hoje você reclama da minha dualidade
Mas se esquece que ontem
Foi o gume de tua alma tão plural
Que me dividiu
Multipliquei-me para sobreviver
Para não ficar por aí
Contorcendo-me acéfala
Se minha mitose, hoje, te incomoda
Te fere
Te corta
Lembre-se que foi teu fio que me separou
De ti.Efeito Borboleta
O tempo parou um instante
E eu, tornada anti-matéria
Fui totalmente absorvida por teus olhos.
E aquele olhar
Causou um tsunami na ásia
Terremotos na áfrica
Maremotos na Europa
Um vulcão eclodiu na América
E o mundo acabou.
De lá pra cá, tudo o que parece existir
é ilusão.
Só o que existe são teus olhos.Eu Brigo
Eu brigo
Eu grito
Sussurro
Luto
Me arrependo
Eu reclamo
Gargalho
Falho
Eu me irrito
Me esqueço
Subo
Desço
Corro
Volto
Desfaleço
Brinco
Durmo
Eu me enraiveço
Me abro
Me entrego
Eu sumo
Fujo
Me nego
Saio
Vejo
Choro
Imploro
Exagero
Eu caio
Finjo
Rio
Piso
Sacaneio
Só não
Me calo.Só
Ah, solidão
Este monstro devorador de almas.
Por tanto tempo dividimos dores
Companheiras de exílio
Tantas manhãs chuvosas
Em que fomos felizes
Juntas
Te chamei enquanto todos te recusavam
Te acolhi quando todos te repeliam
Te amei pelos mesmos motivos que outros te temiam
Por que, então, agora
Me abandonas?
Agora, que estou aqui, perdida
Neste vácuo
Neste onde
Neste tempo-espaço em que as perguntas ecoam
Por onde andas?
Não me iludo com teu silêncio
(tua definição)
Não estou só.
Só sou íntegra
E estou aos pedaços.
Entregue à minha própria entropia
Sem sequer a solidão,
Este monstro devorador de almas,
Para me fazer companhia.Imaginação
Se for imaginação
Quero ficar aqui,
Do outro lado do espelho.
Só cruzo a fronteira
Se for pra fazer acontecer
Caso contrário fico aqui
Do lado de cá
Te olhando...
Te olhando sem parar
Porque daqui vejo seus olhos
Me vendo
Daqui enxergo teus sinais
E eles são claros
Eles me dizem o quanto você também quer.Como Faz?
Afinal de contas
O que fazer do desejo?
Da inquietude,
Da fome?
Onde colocar essa ânsia,
O arrepio na pele,
A insônia,
O suor?
Em que mestre alquimista buscar a fórmula?
Em que livro empoeirado encontrar a técnica?
De que modo suportar seu beijo
Sem sucumbir, me entregar?
Só me resta rezar
Ou fugir.SMS
Um alarme em mim diz
Pra não me mexer
Que cada coisa está em seu lugar,
Deixar como está.
Assim que sinto
Fujo
E quando vejo
Estou de novo ao seu lado.
Fujo e na fuga
Te encontro
Então disfarço
Nem disse nada
Finjo
Mas na verdade
Não há como conter
O que está caindo pelas beiradas
Rasgando pelas costuras
Saindo pelo ladrão.
Era isso.
Eu precisava dizer.
Agora, pode ignorar
Ou esquecer.Como?
Como dizer o que não pode ser dito?
Como demonstrar o que tem que ser escondido?
Como negar
O que está na cara,
Nos olhos?
Como esconder
O que sai pelas bordas
Transborda
Trespassa?
Como falar
O que não estava escrito
O que é tão avesso
E que não é permitido?Epitáfio
Se eu morrer amanhã
Quero dizer aos meus filhos
Que leiam Fausto
Para tentarem entender
A teoria que eu tentei viver.
Que leiam Nietzsche
E Artaud
E vejam Van Gogh
E Dali
Por nada,
Só pra saber
O que eu ousei querer.
Se eu morrer amanhã
Quero que saibam
Que não me arrependo
De ter tentado a utopia
Até a última gota.
E que venha a morte
E me encontre inteira.
E que bom que veio
Antes da capitulação
Daquilo que eu quis ser.
(Poema escrito em 12/06/02, durante pesquisas de linguagem pra um espetáculo que talvez só sejam colocadas em prática em 2012.)Campo Minado
Hoje meus versos têm garras
Poesia de palavras armadas
Exércitos delas.
Pingam letras
Chuva ácida
Dinamito romances inteiros
Espalho boatos em bilhetes
Planto falsos fatos
Falácias
Factoides
Amasso pequenas bombas
E jogo no lixo
Apenas pelo prazer de escrever novas granadas
Hoje só prestam
Versos com veneno
Poemas com cicuta
E pequenas injeções de poesia na veia
A poesia quando fura
Não é desejo
É necessidade.12 do 11 de 11
Parece que o mundo acabou mesmo
Ontem
Um fim silencioso
Imperceptível
E o dia de hoje
É de mera
ConstataçãoEu não sei o que há
Eu não sei o que há com meu corpo
que me corre um olho
que me escapam bocas
e braços
e abraços
que me escorrem mãos
que me derretem peitos
e pernas
por pontes
portas
postes
pastos
não sei o que há comigo
que transpira vida
que desperta a fome
que ilumina a carne
não sei o que há
que me sinto livre
que me sinto luz.Quando eu juro
Quando eu juro que não quero mais saber
Você chega
De surpresa
E eu quero tudo
De novo.Anjo Clandestino
Me deixa ser teu anjo
Um anjo às avessas
Anjo sorrateiro
Que pula a janela
No meio da noite
Anjo clandestino
Sem passaporte
Imigrante ilegal na tua vida
Me deixa te ensinar
A romper as fronteiras
Do céu e do inferno
Juro por Deus
Que sou capaz de te devolver tuas asas
De te ensinar a voltar inteiro
E mais humano
A cada manhã
Deixa...
Nem que seja só uma vez...Que gênio sádico e brincalhão
Que gênio sádico e brincalhão colocou teu corpo no meu caminho, teus lábios no roteiro dos meus e forjou teu beijo frio, que percorreu minhas veias e as fez caminho de eletricidade, desfibrilando-me um coração necrosado e ressuscitando meu desejo de amar?Sou
É assim que eu sou
Prolixa
Perdida
Complicada
Não sei fazer joguinho
Nem sei contar piada
Sem meio-termo
Sem meias palavras
Quero sempre tudo
Muito
Inteiro
E rápido
O que guardo me incomoda
Feito sapato apertado
E se me der espaço,
Falo.
Sou assim também
Fálica, bobagenta
Apaixonada sem medida
Se cruzar eu chuto
Se der sopa bebo a vida
De um gole.
Herança de vó:
Pés no chão
Cabeça nas nuvens.Lapa, Acordada pra Morrer
O sol nasce, a Lapa morre
Silêncio, gravata, motor
Barulho,horário, trabalhador
E o suor da Lapa escorre
Olha a lapa do Desterro
Vê a Lapa, seus mistérios
Vão da Cinelândia ao Aterro
Da cantada aos impropérios
Teu populacho disforme
Integrado na paisagem,
Tua semelhança e imagem:
O mundo acorda, a Lapa dorme.Não digo mais minha idade
Não digo mais minha idade.
Está decidido.
Sempre achei que as mulheres reduziam seus anos
Por frescura
Ou vaidade frívola
Futilidade
Não é.
As pessoas tratam diferente
Quem passou dos 20, 30, 40 ou 50
E é tênue a linha que separa
O respeito e o preconceito.
Minha idade não me define.
Em dias quentes como hoje tenho 80
Tem dias que acordo aos 50
Me preparando para a terceira idade
Em dias de festa tenho 15.
E em meu corpo cada parte
Tem uma cronologia:
Minhas pernas têm 20
A barriga tem 40
E o coração, apaixonado,
Nunca sai da adolescência.
Apenas quando ferido,
Quando vai para 78,
Já à beira de um infarto.
Hoje
Ontem eu estava mal
Ontem eu precisava de você
Ontem eu quase implorei por uma palavra sua
Ontem
Hoje, passou.
Hoje não preciso mais
Já sacudi a poeira
Hoje,
O que ficou de ontem são só
Memórias
Podia ter sido a lembrança de um abraço
Uma palavra de consolo
Mas, pena
Foi só o vazio
Uma pontinha de mágoa
E uma imensa solidão.Quer?
Tudo na vida é circunstancial
O que você acha muito importante hoje,
Amanhã já foi.
O compromisso,
A hora marcada,
A nota da prova,
O emprego
Tudo passa
Vira memória
Só o que existe
é o perfume
O arrepio na pele
O sorriso
O querer estar junto
Quer sair comigo hoje?Fugir
Fugir
Sumir, ganhar a estrada
Sair correndo
Morrer
Enfiar a cabeça no chão
Ou
Mudar de assunto
Falar de outra coisa
Do tempo, sei lá, tá chovendo
Mas fugir desse teu sorriso
Que se eu não corro contra
Corro a favor
E aí...Meia-Noite em Paris
Sim, eu sei
De nada adianta sonhar Paris
Na Belle Epoque
Itália na Renascença
Ou a Rua do Ouvidor
Dos velhos e bons tempos.
Minha matéria é o tempo presente, Carlos
E ele não anda pra trás
Este é o tempo de viver
De ser feliz, de sofrer
E não adianta voltar
A outros tempos e amores
Não há tempo pra isso
Apesar de Einstein
A vida é agora
E pulsa
Sempre
Onde quer que os homens amem
Quando for que os homens sonhem
Sem máscaras.Sinais
Se é que é preciso mais
Que meus olhos
Que ora te devoram
Ora fogem dos teus
Numa timidez repentina
Que não combina comigo.
Se ainda precisa mais
Que minhas mãos geladas
E as declarações que faço
Em público
E você finge não entender.
Sei que não precisa mais
E ainda procuro meios
Para explicar
O que está mais que claro
Nos meus olhos
Nas minhas mãos
Na minha voz
No meu corpo...Curta, a Vida
Curta, a vida
Me diz Neruda
A neve se vai e leva os amigos
Com os anos, a juventude
E com ela a leveza dos dias
As marcas ficam
E se acumulam
Cicatrizes
Doem nos dias frios
Em dias quentes
Recomenda-se o cultivo
De grãos e pessoas
Dever, só aos amigos
E amar sempre,
Muito
Desmedidamente
Que é curta, a vida.
Muito
Curta a vida
Muito.Se
Quantas vezes me encontrei
Perdida nos teus olhos
Tantas vezes me flagrei
Distraída nos teus lábios
Se você me fizesse um sinal
Me piscasse um olho
Se me cantasse uma música
Me escrevesse uma carta
Se dissesse sim
Se dissesse não
Mas você não diz
Nada...Sobre Hipopótamos e Elefantes
Elefantes são animais teimosos
Inconvenientes
Aparecem sem ser convidados
E voam,
Voam longe
Ah, têm péssima memória.
Vêm em várias cores e,
Sem aviso,
Podem mudar de cor
Ficam invisíveis mas não somem
E parecem ser imortais
Aviso:
Não tente matá-los!
Eles se multiplicam.
Já os hipopótamos são dóceis
Tímidos
Da matéria dos sonhos
E dormem em garrafas
Não mudam de cor
Mas podem alterar o sabor
Em geral são doces
Mas há dias em ue podem estar mais apimentados.
Assustadiços, se escondem ao menor sinal de chuva
Mas são fortes como... hipopótamos!
Nunca tentei matá-los
Mas tenho certa mdificuldade em dormir engarrafada.Verso
Se for por acaso
Faça por companhia
Se não for por acaso
Faça por amor
Se o amor não rolar
Faça por nada
Só pra ter o que falar.Hybris
Você vai ser sempre meu pecado
Minha hybris
A minha tentação
Pra sempre
Meu arrependimento
A traição que não consumei
E eu sigo te deixando pistas
Pequenas provocações
Enigmas
Que você não entende
Ou finge não entender
Vou deixando meu rastro
Minhas marcas
Meu cheiro e meus perfumes
Sempre na esperança de causar,
De não ser esquecida
De ficar na sua vida
Um pouco mais
Que uma lembrança
Te deixo
Bibelô na cristaleira
E me conformo em ser memória
No fundo
Sei que este é o seu lugar
Que você está exatamente onde deveria estar.É Proibido
Esse canto
Excitando
E se tanto
Se der
Vou ceder.
E se der
Pra se ter
Sem pensar
Nem penar
Sem pesar
é favor
Não pisar
Na grama.Por Que?
Eu não me pergunto por que te quero.
Querer-te, para mim, é mera consequência daquilo que você é.
Não, nunca me pergunto por que te quero.
Apenas me pergunto por que te quero TANTO.
Tanto que trocaria muito por bem pouco:
Um olhar, um carinho, um beijo.
Tanto que por você eu seria capaz
De esquecer meus escrúpulos
Adiar minhas convicções
De atropelar minha ética.
Por você eu perderia o medo
Cometeria crimes
Eu viraria meu mundo do avesso
Por um beijo seu.Tentei
Tentei fingir
Não enganei ninguém
Tentei ignorar
Não deu
Tentei fugir
Me alcançou
Tentei mergulhar
Secou.Só por força consigo o olhar branco
Só por força consigo o olhar branco
Com que te cumprimento
Enquanto as entranhas
Antropofágicas
Hermafroditas
Se devoram
Se fecundam
E geram o amor
Ácido
Corrosivo
Que te ofereço e você
Educadamente
Sorve a pequenos goles
Sem nunca digerir
De todoA cada dia me surpreendo
A cada dia me surpreendo
Com minha capacidade de errar
E tenho medo
Percebo que não me conheço
Que nunca me acostumo comigo
Minha casa é nômade
Meus vizinhos são outros
A cada dia
Meus caminhos móveis
Só me levam a Roma
E eu tomo sempre a estrada errada
Ainda que eu corra
Sempre que penso estar fugindo
É quando mais me aproximo
A cada dia mais perdida neste labirinto
De paredes fluidas
De emoções concretas
E me assusto
Nunca me acostumo comigo
Com minha determinação absoluta
De me contrariarCasa
Auxílio
Exílio
Desterro
Soterro
Acervo
Presídio
Escritório
Motel
CativeiroQue inferno esse grito
Que inferno esse grito preso na garganta, esse desespero, essa vontade de falar tudo de uma vez. Não encontro mais artifícios pra fazer calar o que cada um dos meus sentidos teima em gritar. Por que, por que tenho que te querer tanto?Você me traz
Você me traz
Um calor,
Um sorriso
E uma dor aguda
Você me causa
Uma febre,
Um suor
E uma saudade imensa
Do que não aconteceu.Maktub
Queria saber se estava escrito
Na palma da minha mão
Que tudo na minha vida ia ser assim
Misturado
Queria saber se estava traçado
Na rota do meu destino
Que ia vir tudo junto, sempre
Que tudo o que procurasse viria
Sempre
Num mesmo corpo
Queria saber se essa bagunça
Já estava determinada
Ou se num dado momento eu me perdi
Saí do caminho
Peguei um atalho
Precisava saber
Pra conseguir dormir.Louca, não sou
Louca, não sou
Tão pouco sou normal
As fronteiras não existem nas raias de um ser inteiro
Loucura é ser pela metade
Ser humano parcial
Guardar amores e segredos
Nesses cofres virtuais
Eu sou toda
Ou não sou
Até minhas reservas e medos
São públicos
O que escondo me revela
Aí minha insanidade:
Não renegar a loucura
Aceitar no corpo todo
Minha alma desigualSeu Anjo
Sou seu anjo amargo
Anjo torto
E meu cheiro se confunde em tuas narinas
Com tantos, tantos outros.
Hoje você quer distância da minha fúria
A que você causou.
As palavras que viajam por aí
Reconheço-as todas.
Ouvi e ouço ainda cada uma delas
Conheço o olhar que acompanha cada frase.
Mas só tenho hoje teu olhar de ódio
Teu olhar de dor.
E você me pede paz
Sem pensar por um segundo na paz que me tirou.
Você quer paz.
Seja feita a tua vontade
Como sempre.
Amém.Sem Correntes
Vai, Prometeu
Nada mais te prende aqui
Vai, segue teu caminho
Mas fica sabendo:
Tua dor segue contigo.
Tua ferida continuará aberta
Só não terás mais a desculpa das correntes:
Elas não te prendem mais.
Das correntes te livrastes,
Mas não da dor.
Porque ela é tua e de mais ninguém.
Vai, vive tua vida.
Com a dor, um dia te acostumas.
Mas uma coisa te garanto:
Vais sentir falta das correntes.
Quando não conseguires dar o próximo passo
Vais perguntar: o que me prende?
E nada mais caberá na resposta
Nada te trará a verdade
A não ser
Teu espelho.Placas Tectônicas
E eis que
Quando você acha
Que amainou suas tempestades,
Acalmou suas tormentas,
Adormeceu seus vulcões,
Num piscar de olhos
Uma barba por fazer
Um roçar de lábios
Te levam direto
Pra pré-história.Anjo
Ah, esse vento que veio
Virando tudo do avesso
Misturando as páginas
Embaralhando as letras
Fazendo o que era mentira
Virar verdade
E o que era verdade
Virar poesiaAnjo
Ah, esse vento que veio
Virando tudo do avesso
Misturando as páginas
Embaralhando as letras
Fazendo o que era mentira
Virar verdade
E o que era verdade
Virar poesiaPontal
Ruínas do pontal
De Atafona
Minhas ruínas
Sonhos
Que o mar, sem piedade
Corroi
Desmantela
Açoita
Destroi
E leva
Lembranças
Soterradas
Risadas paredes
janelas tijolos
portões namorados
beijos telhados
E na casa destruída
Um sofá teimoso
Que resiste
A tudo.A vida é
A vida é.
Simples assim.
Também soltei meu barco na enxurrada
E fiquei olhando sumir
Também soltei minhas correntes
Já senti muita dor,
Não quero mais.
Será que você não entende?
Não quero jogar.
Quero ser,
Porque a vida é.
Quer ser comigo?
Liberte-se da ilusão de controle
Dos falsos poderes
Dos pequenos orgulhos diários
Liberte-se e venha.
Estarei aqui
Com os cabelos perfumados
à sua espera.Dança Comigo?
Olho pra você e minha consciência diz:
"Não faz sentido!"
...
Mas seu corpo me atrai como um ímã.Quando te Vejo
Quando te vejo
Sinto uma coisa que vai
E vem
Meio que sobe
Meio que desce
E essa coisa
Me salta das órbitas
Eu a coloco de volta
E ela corre
Para a ponta dos meus dedos
Eu tento escondê-la
Nos bolsos
E aí ela sobe de novo
Para a testa
Se mostra na fresta
Dos olhos
E então não há mais como escondê-la.
Quando você vai
Ela se deita quietinha
No fundo do peito
E parece morrer
Mas é só você aparecer
E ela vai
E vem
Meio que sobe
Meio que desce...Parem de falar de amor
Ah, parem de falar de amor!
Este senhor não existe.
Dizem que vive há milênios
Num pólo, ou sei lá...
Que é eterno
Que é velho, antigo
E, no entanto,
Moderno.
Parem de falar de amor
E outras drogas afins.
Me deixem viver assim
Um dia de cada vez.
Parei com anjos e setas
Borboletas, violinos,
Flores vermelhas, bilhetes, sinos.
é uma fábula, um conto-de-fadas
História de fazer dormir.
Parem!
Parem de falar de amor.
Não acredito mais,
Cresci.Não me diga
Não me diga pra perder a esperança
Não está em mim
O que está em mim é a fé
Também não me diga pra alimentar e tristeza,
O rancor
Porque o que eu tenho em mim é a alegria,
A amizade e o amor.Sua
Sua.
Sim.
Do jeito que você quiser
Com as condições que você impuser
A qualquer hora
Sua.
Amante, passatempo, distração
A transa de uma noite
Mas sua.
Acaso, acidente, descontrole
Bebedeira, fim-de-noite
Não te quero pra sempre
Bocejo, remela, insônia
Só quero, assim, de repente,
Ser
Sua, sua, sua, sua...Tudo o que eu queria
Tudo o que eu queria agora
Era um colo
Um carinho
Um ombro que me acolhesse
Que acolhesse meus pensamentos
Recebesse minhas lágrimas
Minhas dúvidas e inseguranças
Recebesse minhas lágrimas
Minhas dúvidas e inseguranças
Recebesse minha dor
Sem muros
Sem julgamentos
Sem pedras pra atirar.
O que eu queria era aposentar conceitos
Filosofias
Ideologias
E poder ser só dor
Carência e fragilidade
Por um momento
Um minuto que fosse.
Eu só queria um peito onde recostar minhas ideias e adormecer meus pensamentos.
E, se possível, um par de braços que emoldurasse meus medos e me apascentasse a alma.
Mas acho que é muito.Vai, se você precisa ir
Vai, se você precisa ir
E leva junto contigo
O último beijo
Faz jogo com meu desejo
Deixa em mim
A vontade de mais um minuto ao menos com você
Vai, se você precisa ir
Eu compreendo,
Já que este foi o papel que me coube
O personagem que restou
Vai,
Que levo comigo o gosto do teu beijo
O rastro quente da tua língua em minha pele
A sensação das tuas mãos correndo meu corpo
E um leve tremor nas pernas
Vai, se você precisa ir
Mas lembra
Que levei comigo a esperança
E a promessa
De uma noite inteira
Uma noite inteira
Inteira...Sinto
Sinto
Tudo
E tanto, tanto
Que transborda
E às vezes
Incomoda
Em mim tudo é sempre
Tudo é muito
E mesmo o mínimo
é enorme
Aquele telefonema que não vem
Demora eternamente
A memória de momentos raros
Dura pra sempre
Amo muito, me apaixono sempre
Sentimental? Claro
E se você não sabe aproveitar
Sinto
Muito.Sonhei com Você
Sonhei com você
E a timidez no seu sorriso
Me fez acordar tranquila.
Sim, o passado ainda dói.
Vai demorar, eu sei
Mas não vai ser minha chaga
Não vou deixar.
E se você perceber aquela sombra
E se me vir insistir nos moinhos de vento
Só peço:
Sorri pra mim.Que lugar é esse
Que lugar é esse
Onde me encontro
E onde me perdi?
Que é esse lugar
Em que ondes não fazem sentido?
Lugar de comos e por quês,
Lugar de quens...
Esse não-lugar sem coordenadas
Lugar de descaminhos
Desencontros
Esse não-lugar de sonhos
Não-lugar de meios
Entremeios
De entrelinhas
Um não-lugar entre lugares.
Como mapear, marcar encontros?
Em que lugar os não-lugares se cruzam?
- Mãe, que lugar é esse em que você está?
- é, na verdade, filho, um não-lugar...
- E qual é o meu lugar, mãe, nesse seu não-lugar?Um beijo que levou anos
Um beijo que levou anos pra acontecer.
Um beijo roubado
Escondido
De que fugi
E que amadureceu e quando veio
Veio longo
Intenso
Arrebatado
Um beijo que se tornou mar
Que se tornou onda
E que chegou tomando conta de tudo.
Um beijo que cresceu
E virou muitos
E virou tudo
E virou sexo
Um beijo que ainda não terminou
E que deixou no ar o cheiro
No corpo um visgo
E no peito, uma saudade.Quarentena
Tem coisas que eu escuto por aí e que ficam aqui, martelando na minha cabeça.
"As feridas que a gente não deixa curar, fica machucando por cima, viram chagas."
Daí eu disse pro meu coração:
Nada de moinhos de vento pra você, por um bom tempo.
Resta saber se ele vai obedecer.O Que Ficou do Carnaval
O tambor vibrando na carne
A voz que trespassa os cinco sentidos
E, na imagem presa na retina,
Meus olhos ainda brincam no teu sorriso.Cuidado, Frágil!
Se quer entrar
Pise em ovos
E venha inteiro
Meu coração é espelho
Se quer, tomo
Se der, devolvo
Venha, sim
Mas venha cantando
Se dançar, é porta
Se pisar, é parede
Não venha espada
Nem venha paus
Sem pressa, espero
Espero circulares
Quero redondos
Se o querer é meu, fique aí.
Se vier, seja por si.
Bem vindo!
Medos? Tenho todos
E divido
Tenho, também, os seus.
E não nego
É bobagem
Meu coração é perdido
É partido
E os desejos vazam
Pelas rachaduras
Portanto, venha ninho
Venha manso
Que se vier pedra
Meu coração passarinho
Voa.Busca
Tenho procurado um poema que me sirva
Que me descreva
Que me retrate
Mas, nesse momento
Nenhum poema me define
Nenhum é tão vago, tão vazio
Como é meu coração agora
Nenhum tão sozinho
Tão oco de paixão
Nem tão sedento.Sei que não sou a garota do poema
Sei que não sou a garota do poema
Mas me deixe sonhar um pouco.
Sei que não sou a menina dos teus olhos
Mas gosto de pensar que sou
Sei que não são minhas as pernas que povoaram teus sonhos
Mas...
Que importa?
Ter suas palavras escritas é como ter sua cabeça numa bandeja de prata:
Posso fazer delas o que eu quiser.
E faço.
Torço suas palavras
Dou a elas significados secretos
Possuo tuas palavras
Saboreio meu poder
Eu, Salomé, filha de Heródias.
Te possuo desta forma
E você não pode fazer nada
Não pode fazer nada
Tua cabeça no papel branco
E eu beijo
Finalmente beijo a tua boca
Mordo tuas palavras
E agora?
Agora, você não pode fazer nada.
Eu possuo tua cabeça
E você não pode fazer absolutamente nada.Um Momento
Naquele momento
Eu sentei na beira da calçada
E chorei
Você não me perguntou nada
E compreendeu
E aceitou
Eu, sempre tão mulher
Por um momento fui menina.
Pode ter sido só sonho
Amanhã pode ser só memória
Mas naquela hora
Por um breve momento
Eu fui feliz.
E já valeu a pena.Que posso fazer
Que posso fazer
Se meus olhos não despregam
Desse seu sorriso
Deliciosamente malicioso?
Que fazer
Se meu sorriso se desfaz em mel
A um só olhar seu
Desses que tiram o sentido das mãos?
Fazer o quê
Se apesar de tudo o que obviamente acelera sua corrente sanguínea
Você foge?Nunca fui uma mulher de artimanhas
Nunca fui uma mulher de artimanhas
Mulher de perfumes
De velas aromáticas, óleos e fantasias
Nunca fui mulher de máscaras
E cintas-ligas
Mulher de meias 7/8
Sempre fui mulher de inteiras
De querer agora
De repentes
Mulher de acasos
E acontecimentos
Desta vez
Quero fazer diferente.Esto es lo que busco
Esto es lo que busco
Lo que me sigue
Y que lo sigo yo
El que sea capaz de lo que sea
Y pelo qual yo no me importe
Em saber donde voy
Quiero uno
Que saiba hacer caricias sin miedo
Uno que se deja quedar
Sin orgullo
No mas pruebas
no mas juegos
solo y sin embargo
Amor
Pra chamar sua atenção
Pra chamar sua atenção
Fiz coisas bobas
Coisas boas
Outras nem tanto
Pequenas brincadeiras
Grandes bobagens
Mas desta vez
Exagerei
Extrapolei
Passei dos limites
E a verdade
É que quis que você visse
Que você soubesse
Que você sentisse
E a verdade
É que só quis
Mais uma vez
Chamar sua atençãoVai, se você precisa ir
Vai, se você precisa ir
E leva junto contigo
O último beijo
Faz jogo com meu desejo
Deixa em mim
A vontade de mais um minuto ao menos com você
Vai, se você precisa ir
Eu compreendo,
Já que este foi o papel que me coube
O personagem que restou
Vai,
Que levo comigo o gosto do teu beijo
O rastro quente da tua língua em minha pele
A sensação das tuas mãos correndo meu corpo
E um leve tremor nas pernas
Vai, se você precisa ir
Mas lembra
Que levei comigo a esperança
E a promessa
De uma noite inteira
Uma noite inteira
Inteira...Para Onde?
E quando as luzes se apagam
A música cessa
E todos já foram embora?
Quando o nó na garganta se aperta
As pernas perdem as forças
E as lágrimas se tornam inevitáveis?
O que fazer, José?
Você quer um colo
Mas percebe que o tempo de colo já passou
Quer um ombro, um abraço
Mas eles nao estão mais lá
Quer um olhar, uma presença
Mas aí não há ninguém
O que fazer, José, quando todos já se foram?
Como suportar
Suplantar
Encarar?
Como superar?
Como ser o colo que abriga,
A mão que ampara,
O ombro que acolhe?
De que jeito ser viga
Quando não se tem chão?
Seguir, caminhando em nuvens, José?
José, para onde?