Moacir Luís Araldi

Dois Versos


Faço de sonhos os meus versos,
Opostos de mim que habitam o mesmo universo.

Se o primeiro é cinismo que beira a loucura
O segundo é feito de letras de candura.

Se um desfaz e deprecia
Segue-se o que exalta e alivia.

Antecipa-se aos olhos o que emociona,
Abrindo caminho para o que chora.

Grita alto o que interroga rebelado
Responde calmo o tolerante que me deixa silenciado.

Agiganta-se meu verso que é pedra na vidraça,
Se segura o outro que é de vidro e se estilhaça.

Cresce a ira do que me vaia e me critica
Entende-me o verso que me aplaude e me paparica.

Abre-se em cada linha o lírico de ternura explícita.
O mais grosseiro avança para fechar a lista.

Agressivo é o verso tenso que me desestrutura,
Mas o verso suave cava a sua sepultura.

O meu primeiro verso fala de amor.
O segundo... Ratifica o anterior.

(Primeira poesia publicada no meu blog: www.doisversos.com). Visite-me.

Quando eu vivi


Quando eu vivi,
Nunca fui notado.
Nunca estive no centro.
Sempre fui deixado de lado.

Pra sobreviver aprendi.
Perdoei para ser perdoado.
Externei tudo o que senti.
Amei para ser amado.

Erros e acertos equilibrados.
Sucessos e fracassos suplantados.
Matéria só tem valor
Antes de ser sepultado.

Lembrar


Agradável é lembrar por vontade própria e não por ser impossível esquecer.

Moacir Luís Araldi

Compensação


Não sei amar como Jesus amou,
Mas sei amá-lo.
Não tenho a fé de São Francisco de Assis,
Mas tenho uma vida Franciscana.
Não sei escrever como Quintana,
Mas sei ler Quintana.
Não tenho a Julieta do Romeu,
Mas tenho um amor que é meu.
Se não consigo viver em Pasárgada,
Vivo feliz em Passo Fundo.
Se não posso ser William Shakespeare,
Posso ser um homem de poucas palavras.
Ou não.
Se não tenho respostas,
Pesquiso.
Sem beleza,
Esbanjo simpatia.
Sem dinheiro,
Capricho na economia.
Evito lentes,
Por não ter fotogenia.
Tendo tristezas,
Combato com a alegria.
E se tem câmeras,
Ria. Só ria. Sorria.

Óculos


Tempestade dividida,
Oculta em um véu
Metade viu a chuva
A outra viu o céu.


Alguma coisa


Lembro que eu vendia alguma coisa
Sempre se tem algo para vender.

Um dia escrevi um texto
Todo mundo escreve algum texto.

Alguém leu minha escrita
Sempre tem algum curioso que lê.

Mais tarde, bem mais tarde
A sugestão para publicar.

Eu vendia alguma coisa.
Era minha profissão (de fé).

Eu escrevia alguma coisa
Coisa qualquer.



Sereno


E para formar o rio
O sereno se consumiu
Em suas margens fez brotam árvores poéticas
Impregnando cheiro de poesia no ar
Que acorda, desperta e aguça, em nós, o poeta.

E o sabor da poesia
É saudável
Palatável
Colorido
Incomparável.

Versos, rimas e marés.



Há o azul
De cima
Mistérios quase perfeitos.

Não suporto o mar
Me domina a inveja.
Balanço de liberdade
Aperto no peito
E a voz ondulada
Encanta e seduz.

Te quero longe
E me aproximo.
Não querendo
Amo tuas ondas.
Me deixa livre,
E me prende.

Odeio teu cheiro
E me vicio.
Há consternações em teu leito
Tua música
Fúnebre
Festiva
Morre tão viva.

Mar que não amo;
Mar que amo;
Mar não és
Poesia de
Versos, rimas
E marés.

Nada existe


A solidez frágil
Vira carências.
Ao vento o sonho
Bagunçado
Esvazia-se.

O silêncio entra na alma
Rasgando o véu.
Quanto mais me afasto
Mais nele me acomodo.

Nada existe
Só o tempo insiste
Em passar.

Pinguela de madeira


Entre as planchas da pinguela,
A água me vê pelas frestas.
Mães d’água dançam,
Em clima pleno de festa.

Do poente o sol se lasca em sombras,
Meus pés barulham na madeira.
Cresce a vontade voar,
Cair na corredeira.

O que há jundiá?
Não venho te pescar.
Relaxa.
Vamos nadar.

Sem ponto


Entre a maiúscula inicial e o ponto final queria colocar o mundo, mas tão grande era ele que optou por não pontuar.

Partitura


Em uma noite distante
Tive os sonhos invadidos
Como delírios mágicos
Linda voz em meus ouvidos.

Baixa e suavizada
Cheia de pronuncias líricas
Como notas da partitura
Que virariam canção.

Talvez foi o sim
Que ao entrar em mim
Docemente me acordou...
Findou-se assim.

Regressou


Desfez seus poemas
Escureceu o cabelo
Sumiram as rugas
Livrou-se da experiência
Confundiu os sabores
Correu no campo
Pés descalços
Árvores
Rios
Um tantinho de colo de mãe
Finalmente
Nasceu.

Silenciar


Olhos cansados de pensar
Fecham sem relaxar
E veem no infinito
O que pode ser visto
Sem olhar.

Basta sorrir de encantamento
Que a vida te chamará para a dança
No ritmo frenético do vento.

E quando tudo virar lembrança
Sob o reflexo lunar
Sente-se e vamos silenciar.

É natal


Ele veio
Nos guiar
Trouxe brilho em sua luz
Ao tilintar do sino
Com fé, amor e paz
Saudamos o Menino Jesus.

é Natal.

Nú em pelos


Siga contente.
Siga falante.
Sempre adiante.
Ande de cabeça levantada.
Apanhe a margarida.
Dê boas gargalhadas.
Deixe risadas espalhadas.
Abrace a “rapaziada”.
Sorria para a vida
Daqui não se leva nada.
Deboche das esquinas.
Siga no proibido
O ridículo também deve ser vivido.
Dê um sorriso para o tempo.
Abra a boca, coma o vento.
Dê a mão para o destino
Picolé para o menino.
Estenda os braços pra voar
E o coração para amar.
Desalinhe os cabelos.
Sinta-se nuzinho em pelos.
Lágrimas só as tolas,
Pelo efeito da cebola.
Se por sozinho optar
Beije a felicidade ao se abraçar.

Rotina


Sonho se escreve desejo
Desejo se escreve vontade
Angústia se escreve nó
Esperanças se escreve pó
Ânsia se escreve chocolate
Certezas se escreve talvez
Verdades se escreve dureza
Ternura se escreve amor.
Medo se escreve insegurança
Solidão se escreve tristeza
Estou bem se escreve - deixa prá lá.
Infância se escreve distante
Criança se escreve doçura
Conta nova se escreve dívida
Busca se escreve tentativa.
Natureza se escreve em extinção
Eterno se escreve "até onde der"
Sólido se escreve derrama
Poesia se escreve...
Em versos.

Pó alérgico


Desafiante é calar o silêncio noturno
Escrito na profundidade oceânica
De uma voz insistente que nada diz.
Sou na vida apenas um atrapalhado aprendiz.
Sou regra
Desconheço a exceção.
Aprendi a dar
Mesmo sem receber perdão.
Sinto o ácido correr-me a alma
Letal e amargamente sem pressa.
Dizer a quem?
A ninguém interessa.
O pó alérgico da insônia me faz suspirar
E fico sem sono para deitar.
Perdi a matricula para a escola do viver.
Não sei como é.
Assim é minha vida.
Assim são meus dias.
Assim pra sempre há de ser.

sol


... antes o sol

com o mar

acompanhando.

Leve


A um bando me juntei
Por fim...
Voei.

Desprendi-me
Nas asas poéticas
Que criei.

Vai poesia
Rufle seus versos
Iça o poeta
Ás nuvens da inspiração.

Ás vezes choro


é trágico andar
Sem mão segura
Desprotegido e atônito.

Inquestionável
Que somos sós
Em nossa rota de vida.

Nas quietudes
Para quem vai os silêncios?

Não duvido,
Nem tão pouco espero.

ás vezes choro...

Folhando


Na Canção do amor imprevisto
Um Poeminha do contra a encantar
A poesia descobri com Quintana
E outros gênios passei a admirar.

Letras de poetas expoentes
Motivo de Cecília em instantes
Traduzindo-se Ferreira Gullar
E o Quixote Miguel de Cervantes.

Vinícius compondo sonetos
Olavo ouvindo uma estrela
Carlos e seus anjos tortos
Em Pasárgada, eternizado, Bandeira.

A Violeta de Alves a brotar
O Prefácio de Barros sorridente
Cora admirando a Lua-Luar
O Inverno de Lima presente.

Dias escutando o sabiá
Drummond consolando José
Nos versos íntimos Augusto
Em Linha reta Pessoa é o que é.

Rabo de tatú


Vindo de onde venho,
Na peleia me garanto.
Medo é coisa que não tenho.
A chinoca soluçava em prantos.
Pendurei o meu chapéu
O peão parecia um réu,
Pressentiu minha embretada.
Já estava na minha mira
E a camisa esbranquiçada,
Tecida de caxemira
De sangue ia ser manchada.

Pra não fazer muito escarcéu
Olhei pra cara do réu
E disse num verso só
De malandro não tenho dó,
Se te levo pros cafundós
Nunca mais verás o sol.

Não que eu tenha grande valentia,
Mas nem olhe pra esta guria.
Se quiser ter outra chance,
Antes que eu te desmanche
Dá no pé desaparece.
Só deixe pra traz a poeira
Vá pulando a porteira,
Pois pra metidos como tu
Que não me cai em simpatia
Que fica azarando as gurias
Dou de rabo de tatú.

Sou de coração grande
Mas avesso a desaforo.
Já distante, vi que me ofendia,
Juntei na rédea o meu moro
Que só de me olhar arrepia
Seguido por dois cachorros,
Quanto mais ele corria
Mas corria meu matungo.
Soltei de vez os caninos
Só escutei o estouro
Quando no rio molhou o couro.

Os meus cães não recuaram.
Nadando também se foram.
Deixei o pingo beber água
Se refrescar um pouco.
Só fiquei esperando
Cada cão trazer um osso,
Desse índio tosco
Que entrou onde não devia.

Voltei num trote pra onde estava
Com a certeza da coisa certa.
Pra esta gente que se acha esperta
Isso serve de alerta
Não tente puxar a coberta
De gaudérios como eu.

Vou encurtar, pois não minto.
Vivi feliz com a guria
Que aquele loco queria
Pra ser sua companhia.

Os cachorros já se foram
O moro também partiu
Mas quando dou uns assobios
Escuto latidos e um relinchar de cavalo,
A lembrança da chinoca,
Da memória não sai
Ela esta junto do Pai,
Mantendo as porteiras abertas
Pois lá chegarei... Na certa.

E digo, com toda a franqueza,
Sem isso tudo que eu tinha
Às vezes sinto até pena
Do peão que estraçalhei.

Não sei quando partirei
Mas pressinto que esta perto.
Não quero levar tristezas.
Vou perdoar o xirú
Pendurar o rabo de tatú,
E os ossos que guardei,
Num gesto de nobreza
Vou enterrar na natureza
E até uma oração farei.

Cardio


Pretensiosos estes cardiologistas. Pensam entender de coração.
Tenham a santa paciência! Por acaso são poetas?

Vinho


Vinho pra mim é verbo.
“Vinhar”.
Que na primeira e segunda pessoa se conjuga como
Amar.

A última lambreta


Descia pela ruazinha de terra e pedras. Magra, leve, parecia perfeita para a lambreta que tinha.
Era uma época em que os empregos do sonho, nesta região, eram de motorista do caminhão do leite ou da Kombi escolar, ou este dela, em que passava nas pequenas propriedades vacinando o gado.
Naquele dia ela chegou mais calada. Percebia-se que algo não estava bem. Após almoçar fartamente a pequena veterinária passou a comentar suas angustias. Tudo mudaria. Estavam tirando as lambretas de serviço e colocando as Turunas (Moto que fez muito sucesso naquela época)
Olhando para mulher falante e tão minúscula, fiquei impressionado com a sua decepção. Falou que iria sentir muito a mudança. Definitivamente não aceitava ficar sem “lambretear”.
Ela que muitas vezes foi vista como a rebelde da família, pois entrava em si mesma e produzia alguns textos de qualidade questionável apenas para relaxar.
Em certa ocasião, após uma queda e com uma forte batida na cabeça, perdeu um pouco a lucidez. Naquele dia salgou o café ao tentar adoça-lo. Fez uma frase que eu nunca mais esqueci: “Se é no sábado, todos sabem que é domingo.” Exatamente assim se pronunciou. Uma frase, para mim, símbolo das confusões mentais em que ela poderia estar metida.
Mas o entusiasmo dela ao falar da velha lambreta era algo impressionante. Não parecia ter nenhum “parafuso a menos”.
Na hora de ir embora, vi que chorava e falava que nunca mais veríamos uma lambreta. Que aproveitasse aquele dia.
Indignada, parecia mesmo que estava para cometer o suicídio, pois disse que sairia de todas as formas de convivências sociais. Disse que iria se esconder, que não daria mais notícias. Nunca vi alguém tão indignado por tão pouco.
Fiquei com aquela imagem dela subindo pela estradinha e dizendo: Nunca mais. Aproveitem a última lambretinha. Nunca mais saberão de mim. Nunca mais, nunca mais...

Pétalas


Se brincarmos que seja com nossos corpos.
Que jamais se maltrate os sentimentos.
Que a doçura do amor venha de dentro.
Que não esvoace com o sopro do vento.

Que o amor seja eternamente livre e irracional.
Sem prisão viverá feliz onde desejar.
Que pouse lentamente como brisa matinal.
Nas pétalas das rosas para se perfumar.

Sai de você meu verso mais autêntico e lírico.
Vem como ondas leves e suaves do mar.
Entra em mim quando fundamente inspiro.
Encontra um cantinho nobre pra se acomodar.

Dos teus olhos vem meu intenso brilho.
No teu sorriso encontro minha inabalável alegria.
Tua beleza tem a exuberância e o perfume do lírio.
Amor real coroando minha fantasia.

Remo


Se o poema fosse barco
A caneta seria o remo
A folha seria o mar
E a poesia...
Seria com é
Pois o poeta
Cria o cenário
Metafórico,
Imaginário
Como quiser.

Quando o sonho termina


Quando acaba o sonho
A vida dispensa o estepe.
Sopra um vento enfadonho.
A alegria desaparece.

Quando acaba o sonho,
Perde-se a vontade de acordar.
Passa-se a viver com sono
E a não mais se suportar.

Quando o sonho termina
Ficam lembranças armazenadas
A luz da alma não mais ilumina
Tudo fica triste não se quer mais nada.

Quando o sonho se vai
O amor não vai junto
Pela porta ele não sai
Apenas adormece em algum ponto.

Quando o sonho diz adeus
O ânimo desanda
Nas lembranças os momentos meus e teus
Emudecendo os instrumentos da banda.

Um amigo


Eu não tive um bicho de estimação

Tive bem mais.

Nunca reclamei dos pelos na minha roupa

Eram suas digitais.

Tive foi orgulho dos seus resmungos

De alegria quando me via.

Eu não tive um bicho de estimação

Tive um amigo.

Pensamento soprado


Como quem sopra um balão
Soprei meu pensamento ao vento.
Fiquei vibrante aqui no chão
Ao subir deu-me um alento.

Vai pensamento
Corta os ares da cidade
Siga firme em silêncio
Vá, como eu, sem maldade.

Vá dizer aos sofredores
De todos os cantos do mundo,
Que ainda existem amores
Buscando-te a cada segundo.

Vá levar a esperança,
Onde impera a tristeza
Leve alívio às crianças
Torne farta sua mesa.

Leve uma mensagem de fé
Aos descrentes e abandonados.
Lembre que na baixa da maré
Também podem ser abençoados.

Leve cura aos enfermos,
Conforto a todos os seus.
Lembre a eles que nenhum termo
Supera a vontade expressa de Deus.

Leve água aos nordestes do mundo
Pra colheita incrementar
Umidade bem no fundo
Pra vertentes brotar.

Como última missão te peço,
Leve motivo a todos os povos
Pra superar os tropeços
E acreditar em tudo de novo.

Moacir LuÌs Araldi

Águas


Águas nascidas na mesma fonte, invariavelmente chegam ao mesmo destino.

Não esta aqui


Olhe esta velha foto.
Até já marcou de tinta o álbum.
Eu tinha entre doze e quatorze.
Sim, pode rir, faz tempo. Isso eu sei.
Os olhos vermelhos?
Era assim, os outros todos estão assim.
A calça do Chico! Que é aquilo?
Nunca mais soube dele...
Sonhava em ser piloto.
Naquelas árvores ao fundo tem um riacho.
Muitas vezes pescamos por lá.
O Juca, este alemãozinho aí, mudou-se ainda menino.
Foi para o Mato Grosso.
Ele não queria ir, mas o pai vendeu tudo aqui e foram.
Casou, teve filhos.
Morreu há pouco tempo num acidente.
A do cantinho é a Nina irmã do Zeca.
Uma mulher linda! Eu era apaixonado por ela.
Nunca mais a vi.
Este outro retrato me faz rir,
É muito engraçado.
Mas a que eu procuro... Não esta aqui!

Letal


A fidelidade jurada foi carnal,
Trair-te não me põe pecador.
Devaneios não causam mal.
Traio mais nego amor.

Pois se desejo, sou desejado.
Excetuando as trapalhadas
Não amo, nem sou amado,
És letal nos sussurros das gargalhadas.

Seguimos indiferentes na condição
Não é amor, apenas é bom.
É carne. Nunca será pão.

Outro deleite bem casual
Fitamos o universo a procurar.
Mero acaso, nada proposital.

Perfume


Desperto. Percebo alguma claridade,
Ao meu lado ainda um saldo do teu calor.
O perfume nas cobertas entranhado.
No banheiro teus pertences espalhados.

Olhos semiabertos espiam a rua,
Nem mais um passo teu,
Na memória a mais linda imagem crua,
Teu gosto doce nos lábios meus.

Busco motivos pra enfrentar este dia,
Imagino seus cabelos desalinhados, seu rosto, seu sorriso,
Busco no espelho meu olhar sem alegria
Pensamentos de mim decolam sem juízo.

Consome-se em teu dia atarefado.
Nem notícias tuas consigo receber.
Dou passos te imaginando ao meu lado
Buzinas, barulhos, correria nada me faz te esquecer.

Acordar


Se eu continuar dormindo,
Entenda da melhor maneira.
Talvez eu esteja sentindo
Ou pode ser só canseira.

Se os olhos eu não abrir
Pode ser por estar feliz.
Pode ser desejo de partir
Ou apenas porque não quis.

Da noite trago sonos esquisitos
Delírios. Insônias. Mosquitos.
E sonhos de amor fraternos.

Meus devaneios nem edito
Pois neles nem eu acredito.
Sou mortal, jamais serei eterno.

Nuvem nua


Não serei o mar.
Apenas a imagem solitária,
Do romântico triste a olhar.
Contudo adeus amada,
Estarei por perto
Vagando pelas madrugadas.

Não serei a lua
Apenas a imagem da saída.
Coberta pela nuvem nua.
Contudo, adeus meu amor.

Não serei o vento.
Apenas a música de despedida.
Assobiada na partida.

Não serei o sol,
Apenas a sombra que parte agora.
Não chore. A história acaba aqui.
Deixo-te e vou-me embora.
Vês. Também choro.

Não serei o caminho.
Apenas uma estrada de chão.
Que balança, machuca
E quebra o coração.

Estarei sempre por perto.
Mantenha teu sonho,
A areia continua no deserto.

Do trem partindo verei uma vez mais o jardim.
Ele continuará jardim
Será só teu. Nada mais terá de mim.

À noite te verei em cada estrela.
Rezarei no quarto solitário e triste.
Distante só estará,
O amor que não mais existe.


Sobrem


Gosto de amores que sobrem para os dois lados.



Sorri


Sorri à noite,
Mirando o céu
E uma estrela
Piscou-me.

Será você anjo?
Parece que te vi.
Quando Deus,
Você vai deixar de sumir?

Cidadania


É recomendável ao poeta a tríplicecidadania:

Jus soli, jus mares e jus selenitas.

Água doce


Da vida quero a certeza que tentei.
Que fiz o melhor que pude.
Nada mágico nesta existência.
Não busco o extraordinário.
Tenho o âmago da coerência.

O eterno está na efemeridade de um momento.
Absorvo as dores suportando calado, meus sofrimentos.
A saudade sempre superar os amores.
Se não correspondo, do mundo, os anseios,
Não trarei na minha essência qualquer lamento.

Recebo imóvel a negativa,
O não jamais será definitivo.
Conquisto um minuto de uma vida
Basta um olhar profundo e afirmativo.

No fundo do poço tem um mínimo de ar,
Com imaginação se tem praia longe do litoral.
Há sempre um dia, certamente,
Que a água doce chega ao mar.

Meu amor mora em meu ser
Num lugar que Deus abençoa.
Tenho por tudo um amor a oferecer,
Amo, acima de tudo, as pessoas.

Outdoor


Eu não tenho medo,
De abrir a foto pra te olhar.

Eu não tenho medo,
De escancarar a porta pra você entrar.

Eu não tenho medo,
De desenhar de risco de giz
Um coração, pra te ver feliz.

Eu não tenho medo,
De te oferecer majestosos
Buquês de rosas.

Eu não tenho medo,
De ao mundo revelar
Todos os segredos.

Eu não tenho medo,
De dançar com você
Um bolero sertanejo.

Eu não tenho medo,
Do teu sentimento de reciprocidade,
Vou confessar este amor num
Outdoor, na principal avenida da cidade.

ALGUÉM


A harmonia de Bach,
Convida-nos ao silêncio.
Caímos em certo esquecimento,
E, por momentos, somos maestros.
Brindamos o amor,
Batendo os copos
E sacudindo o champanhe.
Rotulamos estas horas,
Com marca registrada da paz.
Infinita, interior.
A sensibilidade polifônica,
Nos torna,
Bach,
Mozart,
Ao menos, mimicamente imitamos,
E novamente
Brindamos,
Sem perceber
Que a música tocou
Infinitas vezes.
E quando deitamos
Ouvimos Beethoven.

Doces


As estrelas da minha infância eram doces pregados no céu.

Florir


Floriu o poema que plantei.

Flores lindas!

Perfumadas de vida.

Escuto o assovio do menino

Em seus galhos empoleirado.

Doçura de versos germinado,

Na poesia, que mesmo tardia,

Faz sombra para lhe abrigar.

Prefiro o grito


Prefiro o grito ao silêncio.
O grito da dor ao bater da pedra.
O grito do espinho furando a pele.
O grito de resistência apoiado na inocência.

O grito do muro de alma pichada.
O grito do sapato furado no solado.
O grito dos pés pisando brasas.
O grito da ressaca mesmo sem ter bebido.

Prefiro o grito da justiça,
Que na noite extrapola a razão.
Prefiro o grito, mas por covardia,
Ou por bom senso, calo-me.

Frete


Pago frete pra vida me levar.
Vou com ela sem destino.
Por vezes correndo num disparar,
Por outras, calmo feito sonho de menino.

Não me preocupo em fugir do pedágio.
Abro porteiras no caminho,
Raramente vou acompanhado
Comumente ando silencioso e sozinho.

Esqueci numa parada escura
Meus sonhos dourado de poeta.
Minha preguiça passou do outro da rua
Pedalando lentamente a sua bicicleta.

Subitamente acelero o pé pesado da saudade.
Morre os anos, mas não mato o que quero.
Não envelheço. Que se dane a idade.
Encontrar-te feliz sorrindo desejo e espero.

Conta-me


Conta-me como foi o teu dia.
Fala se a saudade te maltratou.
Se algum cheiro de comida lembrou o cardápio que degustamos.
Se você procurou meu rosto olhando na rua para um desconhecido.
Diga se pensou em algum momento ter escutado a minha voz.
Se, ainda que apenas um segundo, lembrou-se do quanto amo você.
Se o cheiro de algum perfume te fez respirar fundo pra tentar sentir o meu.
Se uma lágrima esteve em teus olhos ao lembrar-se das minhas.
Se você contemplou perdidamente o nada e se viu com um sorriso no rosto pensando em nós.
Se em algum momento riu das brincadeiras que fizemos juntos.
Se estive em teu sonho na última noite.
Se o toque do lençol em teu corpo te fez lembrar meus carinhos.
Se o desejo de amar te fez pensar em mim.
Se ao acordar tocou a colchão buscando meu corpo.
Conta-me.
Eu ficarei feliz em saber.
Pois nunca escondi o quanto eu amo você.

Dividir


Podemos dividir a lua
- é cheia,
metade minha,
metade sua
sendo você inteira,
dela me basta meia.

Barba


Hoje não quero emoções de barba feita.
Antes as migalhas do pão amanhecido.
Servido na fétida e úmida sarjeta
Gastronômica de um viver já morrido.

Hoje no café não quero açúcar.
Quero gotas de sangue nos versos da poesia.
Com gosto de fel sem adoçar.
Morre uma vida quando acaba a fantasia.

Hoje amor não trago em mim.
Prefiro a morte a ficar sem teu pão.
De longe vejo a luz chegando ao fim.
Como ondas foi-se o emocional da razão.

Calças Jeans


Pisava os chinelos.
Apertada pelas calças jeans
Manchadas.
Expunha o corpo
Nos passos que dava.
Músicas no ouvido
E a arrogância dos olhos
Saltava.

Sonhos


Que a certeza da morte
Não sirva de pretexto.
Que se morra pelos sonhos
E não com eles.

Ainda que ao acordar
Finde o devaneio num segundo.
Que não se deixe de ancorar,
A utopia de um justo mundo.

Fantasias e vida se misturam.
Feito pedras e concreto.
A vida tem anseios que não duram.
Mesmo efêmeros, sonhar é sempre correto.

Embaçado


O dia estava me esperando. Lindo.
Primaveris adornos a enfeitá-lo.
O talentoso sol desenhava sombras dos meus pedaços.
No outside marítimo pranchas a deslizar com surfistas equilibrados.
E eu que acabei de chegar de um sonho “desperfumado” questionei
Por que havia me acordado?
Meus olhos buscaram também o céu.
Límpido, mas estranhamente o vi embaçado.

Cela


Busco entender as penas que este tribunal me imputa.
Só recebo sentenças mesmo que não haja crimes comprovados.
Será esta a lei da vida?
Abdico a ideia de réu confesso.
E o propalado direito de ampla defesa?
Julgado a revelia sem ser avisado
Fui prejudicado na condenação.
Arrancaram-me a razão.
Subtraíram-me os argumentos.
Transplantaram-me o coração.
Prenderam-me nesta cela
Que se chama ilusão.

Certo


Certodia é qualquer dia.

Qualquer,quem diria, é o dia certo.

Portanto,certo é qualquer dia.

Na próxima página


Manuseio com o cuidado de quem ama.
Folha por folha. Uma por vez.
A formiguinha do Quintana.
Encontrarei logo ali, talvez.

A próxima página tem um grito.
Um risco. Um rabisco. Gerúndios.
Olhos espiando, café esfriando.
Um poeta aflito gestando.

Tem a ilha querendo sair.
O rio que entra no mar.
A lua começando a surgir.
E um beija-flor no pomar.

Vinícius compondo sonetos.
Olavo ouvindo uma estrela.
Carlos e seus anjos tortos.
Em Pasárgada, amando, Bandeira.

Dias escutando o sabiá.
Drummond consolando José,
Nos versos íntimos Augusto.
Na bola! Adivinha que é?

Romeu acariciando Julieta,
Titanic começando a afundar.
A baderna do boi da cara preta.
E um sofá pra Beethoven sentar.

Mona Lisa sempre sorridente.
Letras de poetas expoentes.
Comédia divina de Dante.
O Quixote Miguel de Cervantes.

Não sei o lado certo onde esta.
Com a mania que até hoje tenho,
De traz pra frente venho
Folhando de lá pra cá.

A quem meu Deus?


Acordo em soluços de medo profundo.
Sem mais ter a inocência de criança,
Quanto mais se vive mais dói este mundo,
A quem meu Deus se deve preferir amor à vingança?

Todos os dias tenho que provar que sou justo.
Por que se até estrelas se desprendem da constelação?
Por que se constroem a falsos heróis até bustos,
A quem meu Deus se deve conceder perdão?

Abro-me em confissão deliberada,
Exponho cada pedaço da minha consciência.
Pessoas maltratam para se sentirem amadas,
A quem meu Deus se deve conceder clemência?

Flambar


O vento embala e a hora se aproxima.
Cresce na fronte a pulsação.
Minha emoção entra no clima
O ponteiro do sim sufoca o não.

Ainda busco o verso perfeito.
Que expresse, no momento o que sinto.
Que tire a angustia do peito
E desvende da alma o labirinto.

Flambe teu beijo apaixonado
Deixa a chama de amor aquecer.
Quero gosto etílico na boca entranhado,
Dos lábios bons não dá pra se esquecer.

Entre, como sempre, sorridente.
Esbanje a sensualidade só tua.
Meus braços são como rosas ascendentes
Cipós que te entrelaçam e te deixam nua.

A noite tem prantos


A noite tem prantos,
Bijuterias
Desencantos
Agonias.

à noite, ainda assim,
é sedutora
Embala os sonhos
Do sonhador
E da sonhadora.

Você


Quando amanheceu dei-me sem rumo,
Desnudo de qualquer amor.
Meu grito poético sem prumo
Tomado por súplicas de dor.

Onde guardarei os versos que pra ti compus?
Que me deixaram rouco de te querer.
Pra que lado sopra o vento que me conduz?
Onde você foi de mim, se esconder?

Pietá


Decepciono-me ao ver o mapa
E o traçado final estampado.
Queria o segredo no cofre guardado
Porque amar é a arte de tentar, de se doar, de renunciar.
Teus amores deliciosos, onde estão?
Agora em meu rosto só a expressão de Pietá,
Minhas mãos vazias pra mostrar.
Nestas noites em que só palavras voam,
E dos meus dedos brotam céus em desalinho,
Giro neste quarto de chão molhado
Tropeço no escuro do caminho.
Nem sombras dos que me pediam
Pra mais alto eu falar.
Nem pontes unindo sul e norte,
Nem em aquarelas vejo teu olhar,
Só um vento que sopra melancólico e forte.
Mas há de haver um ponto sagrado
Onde o mundo possa ser ancorado
E viver em harmonia
O sonho pela vida sonhado.
Onde o sol bronzeie a pele
Onde a semente germine
Onde a realidade sorri.
E a vida, preciosa, se ilumine.

Poesia é...


“Poesia é a visão e análise emocional do inexistente.”

Tinta


No íntimo as cores desbotando.
O olhar ofuscado no labirinto.
Tinta do teto no chão pingando.
Pigmentando um pensamento limpo.

Sem brilho viver não é sorrir.
Se não esta no olhar onde estará?
Umedecida a dor começa a cair.
Peito destituído ao corpo voltará?

Liberdade sem amor é prisão.
É provar um veneno letal.
É parada fora da estação.
Alma esculpida na lápide em metal.

Desamor é placa de contramão.
Entrada na via infernal.
Rua sem retorno ou conversão.
Ruela escura do bosque lateral.

Reflexões


Do nada, chegou á conta.
E a informação que vence agora.
Porque não foi paga?
Pode até ser cedo.
Contudo a hora é esta.
No horizonte ficou a onda de expectativas chamada vida.
E agora? É permitido abandonar a festa assim bruscamente?
Não fiz tudo o pensava fazer.
Não sonhei tudo o que pretendia sonhar,
Não amei tudo o que queria amar.
Não contei todas as histórias que sabia.
Não transmiti toda a experiência acumulada.
Não chorei todas as lágrimas.
Não dei todos os abraços.
Não disse todos os “eu te amo”
Não escrevi as últimas poesias.
Não pedi todos os perdões que precisava.
Não surpreendi nem inovei o bastante.
Sequer esqueci a fórmula de Báscara.
Em quantas chuvas deixei de brincar.
Tive a humildade suficiente para ser entendido?
Fui sempre fiel aos meus conceitos e valores?
Fiz sempre o meu melhor a ponto de não me envergonhar?
Unifiquei discurso e prática?
Apenas dei conselhos ou fui exemplo?

E os amigos que não visitei?
E as tarefas que não conclui?
E os amores que não vivi?
E a despedida que não houve?
E meus perfumes?
A comida que eu mais gostava?
E a minha música preferida?
A fé que não externei?
O café que não tomei?
E a pintura que deixei inacabada?

Eu já sabia que você viria. Mas sem aviso.
E isso são horas? Não vivi tudo ainda.
Eu preciso desocupar a mesa.
Eliminar pista.
Destruir provas.
Organizar meus trecos.

Justo agora que pretendia mudar alguns conceitos.
Queria encontrar o ponto de equilíbrio.
Queria amolecer comigo mesmo.
Queria dar mais “bolas fora”
Arriscar e, se preciso fosse, errar.
Errar muito, errar mais.

Dois sonhos


Dois sonhos não podem ocupar o mesmo verso simultaneamente, é preciso que sejam paralelos para que a poesia possa dormir serena no poema da vida.

Que seja suave


Que seja suave o amanhecer,
Que traga na brisa gosto de prazer.

Que seja suave o amor que te molha,
Que traga brilho para o horizonte onde olha.

Que seja suave o ar da tarde tua,
Que me traga o prazer de te avistar nua.

Que seja suave o beijo chegado,
Que tenha gosto de sorvete roubado.

Que seja suave a noite enluarada,
Que tenha cheiro de mulher perfumada.

Que seja suave cada toque arrepiante de carinho.
Que seja suave, mas não seja vinho

Adornos


Você,
Corpo...
Em deleite.
Perfume de estrelas
Em adornos de enfeite.
Eu,
Espádice,
Copo-de-leite.
Dependente do teu aceite.

Amor sentinela


O meu amor não se mede
Não tem tamanho.
O meu amor faz
Todas cheias minhas luas.
O meu amor não tem físico.
Mora em mim.
Dorme em mim.
Belo, intenso, ausente.
O meu amor sentinela.
As vinte e quatro horas é dela.
Você sabe como deste amor esquecer?
Guarde pra você
Eu não quero apreender.

Festa do trabalhador


Quando recebeu o convite pelo correio eletrônico interno, nem leu.
Não iria. Nunca gostou das “festas da firma”.
Antes aproveitaria o feriado e faria um programa mais a seu estilo.
Achava muito estranho que no “Day after”, destas festas, sempre aparecia alguém, cabisbaixo, vindo dos recursos humano demitido e com a informação que a cerveja era para todos consumirem.
Só mudou de ideia quando os amigos mostraram a ele que aquela seria uma festa diferente.
Haveria um duelo imperdível. Uma atração muito especial. Quando, voltou ao convite para, de fato ler, confirmou presença na hora.
A chance de fazer uma grande descoberta se abriu ali, bem diante de seus olhos. Oportunidade imperdível pensou.
Dali pra frente foi um dos grandes entusiastas na divulgação do evento e ajudou a torná-lo o maior de todos.
Quando estacionou seu carro a duas quadras do local, por ter sido a única vaga que encontrou, sentiu que os objetivos de mobilização estavam amplamente atendidos.
Ao abrir a porta ouviu aquele barulho típico das grandes junções, dos grandes shows, dos grandes eventos. A música com volume exageradamente alto só aumentava esta certeza.
Adentrando o recinto acabou ficando mais ao fundo. Gostava de observar tudo. A música realmente era interessante e a iluminação apropriada tornava o ambiente festivo. Sem contar aquela algazarra típica. Ninguém entendia nada, contudo todos falavam ao mesmo tempo.
Como de costume, chegou o horário marcado e nada de começar. É incrível como sempre atrasa. Finalmente ás vinte duas hora e dezoito minutos a luz do salão foi diminuindo até apagar por completo. Apenas um canhão iluminava o palco. Rigorosamente vestido entra o apresentador.
Figura conhecida da mídia nacional contratado para o evento.
Após os tradicionais senhoras e senhores e vocês são os melhores do mundo e outros puxa-saquismos, anuncia a atração esperada para noite.
A minha direita, com toda a sua vivência e experiência Senhor Trabalho. Senhor work, brincou. O sujeito entra todo mascarado, em uma das mãos uma CLT na outra, processos trabalhistas, patrocínio abundante nos calções. A grande maioria de centrais sindicais. Músculos reluzentes. Aparentando agilidade, faz alguns movimentos no palco e recebe aplausos e gritos histéricos de algumas jovens mais saidinhas.
A minha esquerda... A dengosa. A imprevisível. A indesejada, Senhora Preguiça.
Ela entra lentamente sobre fortes vaias e assobios de desaprovação.
Ele ali firme em seu propósito de fazer a grande descoberta.
Ao final do embate, que mais pareceu um massacre se aproximou do Senhor trabalho para tentar seu objetivo. E conseguiu. Num descuido da segurança aproximou-se e perguntou:
-Senhor trabalho, quem é teu pai, quem te inventou?

Calma e educadamente ele respondeu. Uma pena que barulheira do ambiente não possibilitou entender a resposta.
Uma pena.
É muito azar.

Olfato


Janelas sacodem
Vento, nuvens densas,
Raios e trovões.

O medo da tempestade
Preenchendo-me sem dó.
Primeiros pingos
E a infância brinca na memória.

Em meu olfato
Beiras de rios
Gramado descalço
Frutas selvagens
Molhadas no mato.

Anos descritos em
Minhas rugas e
Em meu olhar flash de lembranças.
Deito-me
A vida não costuma demorar.

A noite


A noite tem seus encantos,
Suas magias.
Seus romances.
Suas poesias.

A noite tem prantos,
Bijuterias.
Tem desencantos.
Tem agonias.

A noite é sedutora.
Acolhedora.
Reveladora.
À noite...
É sonhadora.

Frio


Estas pessoas que vivem
Em locais de extremo frio,
Não são como os tropicais.
Não devem ter alma.
São agasalhos movediços.

Que graça terá ficar nu
Numa terra tão gelada.
Como ficar pelos bares
Até alta madrugada.

Devem ter partes atrofiadas.
Vivem muito fechados.
No máximo, São Joaquim,
E tá bom pra mim.

Como vivem sem sorvetes.
No frio extremo não se consome.
Andam tão vestidos que tanto faz
Se for mulher ou se for homem.

Gaúcho


Sou um gaúcho que busco na poesia uma forma de me naturalizar brasileiro.

Basta


Desnecessário adjetivar.
Depois de amor basta um ponto.



Novos amanhãs


Nas ruas a população
move-se mascarada
- atônita-

Uma pontinha de vida
chora ...

Lagrimas mundiais
unem nações

Espalha-se a fome
e a dor tudo fecha,

Mas há o sol
acompanhando o mar
projetando novos amanhãs.

Raios de fé
ondas de esperança
dizendo que ainda
devemos sonhar.

Poeta


Sonhando com um pouso leve,

Percebeque seus pés nunca saíram do chão.

Inquietaé somente sua alma,

Que quersobrevoar o mundo

Levitandosua fértil criação.

Nos aresa liberdade pra recriar num segundo

Um poemafeito balão,

Pois opoeta fica imóvel,

Decolasomente sua imaginação.


Presente


Abri a caixa com cuidado.
Era o presente da minha vida.
E como eu estava lindo nela.

Tive vontade de correr na rua
De sentir a chuva,
Não me contive, pulei a janela.

Se for idiotice não importa.
Chame-me pra dentro
Que desta vez entrarei pela porta.

Reflexos



A vida me mostrou,
Que portas se fecham.
Que nem todo espelho tem reflexo.
Que NÃO também é resposta.
Que loucura é ponto de vista.
Que amor não se hipoteca.
Que os que amamos também partem.
Que solidão não se reparte.

Que humildade é caso a parte.
Que só eu respondo por mim.
Que amigo falso é pra descarte.
Que o certo e o errado andam de mãos dadas.
Que o sol brilha de graça sim.
Que riquezas materiais não servem pra nada.

Que o rio também seca.
Que amando também se peca.
Que estamos sempre na reta.
Que o erro mais se destaca.
Que na defesa muito se ataca.
Que a união tende a ser fraca.
Que com riso o olhar tem mais graça.
Que é mais feliz quem vive sem máscara.

Corações


Dos corações que eu tinha
Quase todos foram embora.
Restou-me apenas este
Que bate no peito agora.

O do amor partiu primeiro.
Depois foi o aventureiro.
O sonhador foi em terceiro.
Por último o bagunceiro.

O que ficou é técnico.
Não conhece emoções
Reto e muito ético.
Apenas cumpre suas obrigações.

Tenho saudades dos que foram.
Eles que me davam alegria.
Todos valiam ouro.
Sinto falta das folias.

Hoje eu vi você.


Hoje eu vi você...
Com saudades acariciei teus cabelos.
Provoquei arrepios cobrindo-te de beijos.
Tornei-me prazer no toque ao teu corpo inteiro.

Hoje eu vi você...
Roçando meu rosto com murmúrios ao ouvido.
De olhos fechados mirando meus lábios.
Senti meu pescoço sutilmente acariciado.

Hoje eu vi você...
Senti o perfume de um corpo excitado.
Pele macia, sorriso meigo e perfumado.
Sensível delícia pousada ao meu lado.

Hoje eu vi você...
Nos olhos vi o brilho da mulher feliz.
Deitando a cabeça em meu peito suado.
Prazer convincente em desejos trocados.

Mix


MIX


1-Nunca diga ao seu subconsciente que não quer perder. O “não” vai prevalecer. Diga apenas que quer vencer. E vencerá.

2-Tentei fingir que chorava demonstração de sentimentos, quando me avisaram que era eu o morto.

3-Armei uma bomba no meio do mundo e quando explodiu parti-me em dois.

4-Tranquei as portas com chave, com tranca, mas esqueci de algo lá fora.

5-Nada pior do que encontrar a porta aberta e não ter vontade de entrar.

6-É melhor ouvir um sim de quem sabe, também, dizer não.

7-Quem aborta um amigo, furta um ideal.

8-Deixei o que fui pra viver o que sou.

9-Diga não, mas me deixe agir.

10-Do guerrilheiro: Silêncio! Acho que ouvi um tiro.

11-Um dia esta leoazinha vai se transformar em gata e, mansamente, deitara a cabeça, em minha coxa para eu acariciá-la. Será?

12-Quando temos tempo de tirarmos pétalas de uma rosa, temos a sensibilidade de sermos verdadeiramente, homens.

13-Do solitário:(Não falei solidário) repartiremos o meu sanduiche.

14-Não escrevo. Apenas grafo no papel as dores da minha alma.

15-O que eu quis dizer com isso? Como saberei.

16-As pessoas perguntam por que, na minha idade, ainda escrevo sobre o amor. Deve ser pela incerteza se terei netos.

17-O sucesso tá ali, a um passo. Vai desistir agora?

18-Se ela soubesse a falta que me faz certamente me deixaria.

19-Conheço, basicamente, dois tipos de mulheres na minha vida: as que amo e as que amo ainda mais.

20- Ainda que fosse por um momento eu gostaria de ser exatamente como sou.

Naftalina


Vestiu-se cheirosa de naftalina
No âmago um sonho dos tempos de menina.
No toca fitas o som da ilusão
Um gosto frio de café.
Um ruído sem refrão
Cheiro mofado de cabaré.
Uma algazarra de todo lado
Lábios duplos avermelhados
Fumos da sala pelo ar espalhado.
No armário suas nove horas.
Uma voz bêbada e um trocadilho hilário.
Teve o remorso corroendo
Frustrou o sonho de ser amada
Suicidou-se tanto
Que acabou morrendo.

Pássaros da vida



Olhou encantado para o alto do parreiral.
Se não estivesse diante de uma Isabel gaúcha, jurava se tratar de uma Nebbiolo Piemontês. O clima favorável possibilitou um desenvolvimento espetacular tornando-as viçosas e lindas naquele ano. A associação com a uva italiana que tanto apreciava foi inevitável.
Fez-se adulto no tempo em que o vinho era feito de forma artesanal. Amassava-se a uva com os pés. Eram dias especiais aqueles que se ocupavam nos afazeres vinícolas.
Orgulhava-se do progresso, mas mantinha certa nostalgia em seus abundantes e fantasiosos pensamentos.
Repentinamente lembrou-se Dela.
Há tempos não à via. Contudo mantinha na memória o sorriso tão lindo, tão mágico e tão doce como o vinho suave. Nunca a esqueceu, nem esqueceria.
Por alguns segundos imaginou uma cena inusitada com o gosto de um beijo com uva Merlot que ela, atrevidamente, manteria apertada nos lábios carnudos e adoráveis num gesto de gostosa provocação. Adoraria viver isso.
Jamais houve um adeus definitivo. Apenas deixaram que os pássaros da vida consumisse-os como devoram os grãos maduros dos parreirais.
Despertou do pensamento alucinante e tratou de experimentar um cálice de vinho ali produzido.
Impossível saber quanto bebeu daquele tinto maturado. Deduz-se que foi bastante, pois no dia seguinte ele afirmava com certa convicção: Ela veio me ver esta noite. Estava encantadoramente linda como sempre.
Pode ter sido só um delírio, um sonho, uma ilusão. Mas o que importa saber a verdade se ela não faz feliz.
O que importa? Pensou.
Nada conta depois que o sonho acaba.
Lenta, mas decididamente, com o copo na mão caminhou para a pipa de Chardonnay.
Outro sabor, outra variedade, outra uva, outro vinho, mas os desejos mantidos de acordar feliz após passar mais uma noite, supostamente com a amada.
Queria uma noite longa para o tempo de felicidade, quem sabe, ser... Eterno.
Quem sabe...
Se a sorte ajudar.

A vida


A Vida
A vida é um jogo que gira
Ou você entende e joga,
Ou então pira.

O poeta


O poeta chega à tardinha sem dizer nada.
Traz nos olhos uma panaceia em elixir.
Fica comigo pela madrugada.
Ao amanhecer tem que partir.

Em outdoors na minha mente
Espalha ideias e vontades.
Consegue entender o que meu amar sente.
Sabe como ninguém aguçar minha saudade.

Com ele vem só a folha em branco.
Quer sorver minha inspiração.
Sentamos eu e ele em algum banco.
E viajamos na nossa imaginação.

O poeta é meu leal confidente.
Por vezes soluçamos abraçados.
Sabe o que sinto e se cala sabiamente
Sofremos juntos, vivemos entrelaçados.

Rasa


Não seja pretensioso.
Ninguém saberá se já chegou à velhice.
Sente-se. Vai passar.
Toda dor é rasa quando se tem a alma encharcada de esperanças.

Ser poesia


Ser poesia
Ser poesia é ir além do gostar ou não gostar. É preciso ser arte, é preciso ser forma e preciso ser sensibilidade.
É salutar desvincular-se de conceitos acadêmicos por alguns momentos e apenas apreciá-la como quem vive o primeiro amor.
Ser poesia tem que ser como nascer livre de preconceitos e abrir-se com total desejo de viajar.
Ser poesia, talvez seja um ato de fé.

Êxtase


O relógio embala a hora que se aproxima,
Cresce na fronte a pulsação,
A emoção entra no clima
O ponteiro do sim sufoca o não.

Busco para o momento o verso perfeito
Que expresse bem o que sinto
Que tire a ansiedade do peito
E desmanche da alma o labirinto.

Entre, como sempre, sorridente,
Esbanje a sensualidade só tua,
Meus braços em posição ascendentes
Te entrelaçam no desejo de ouvir... Sou sua.

Vivi


Vivi um tempo em que as pontes eram feitas de tábuas eenergia elétrica era luxo no distante distrito de Pinheiro Marcado. Infânciaque no pinheiro da vida deixou marcas eternas.

Maresia


Maresia
Do mar,
Restou-me a maresia.

Da minha música preferida...
Notas sentidas.

Do amor...
A poesia.

Das enumeras palavra...
A hipocrisia.

Das promessas...
Demagogia.

A água vazou
A caixa ficou vazia.

O carnaval morreu
Pela falta de folia.

Emoção ancorou
Naquele fatídico dia.

Pra cima coração


Do lado de cima o coração é louco

Em algumas horas dispara

Em outras bate lento e pouco.

De coração só os poetas compreendem

Cardiologistas, por mais que estudem,

Das cardiopatias amorosas nada entendem.

Certeza


Se um dia fiz amor, foi com você.
Se por vezes senti calor, foi o seu.
O ombro que te apoiou, foi o meu.
A magia do amor aconteceu.

No jardim desta lírica vida.
De primaveras imensamente coloridas.
Fostes a rosa escolhida
Perfumada e atrevida.

A respiração pulsante, própria dos amantes,
Sentimos bem abundante.
Na noite que foste minha.

Quando na areia você escreveu.
O recado que me deu.
Tirou a dúvida que eu não tinha.

Falar de você


Falar de você Gonçalves,
Faz pensar no canto do sabiá.
Em estrelas, palmeiras e flores.
Da frustração nos amores.
Do viver lá como cá.

Homenagear você Gonçalves,
Faz pensar no amor que não viveu.
Em todos teus sonhos iludidos
E no crime que não cometeu,
Mesmo quando a amada perdeu.

Saudar você Gonçalves,
Faz lembrar oceano.
Um romântico leito de morte.
Mesmo com seus poucos anos
Selou a tua sorte.

Na presença da morte foste forte,
Um guerreiro lutador
Nacionalista e sonhador
Enalteço com alegria
Magnânimo... GONÇALVES DIAS

Perdeu


A casa caiu!
Era o grito que mais temia ouvir. Contudo, agora era real. Ali estava. Algemado e com o rosto colado ao chão. Perto das humilhações que enfrentaria dali pra frente, capitão Nascimento se tornara humilde e doce em sua imaginação.
Na cela 35 do presídio central viu-se em Dois Rios escrevendo “Memórias de um Cárcere”. Via alguns companheiros tomados por moléstias graves morrendo dolorosamente numa cela nojenta e fedorentamente úmida.
A sorte estava definida. Antes tivesse conseguido se exilar em outro país da América bela e generosa.
Febril e dolorido passava horas detido, literalmente, em pensamentos amenos que lhe aliviavam os dias.
Dos tempos da roça trouxera tão somente cicatrizes de tocos, vara de pesca e uma antiga dívida do financiamento do primeiro e único utensilio agrícola que comprou. Com o nome registrado em órgãos de proteção ao crédito e uma vontade louca de vencer tentou de todas as formas emprego digno.
Com o passar dos dias via estreitar os caminhos que julgava seriam largos naquela cidade. Escola não frequentou. Mal conheceu o MOBRAL cuja única lembrança era da professora linda e delicadamente perfumada.
Por dias a fio teve a mais honesta das vontades de buscar um trabalho condizente com a sua capacidade e formação. Que formação? Dura realidade.
Meses depois a bebedeira passou a ser sua segunda casa e as amizades o mais influente dos mandamentos seguidos.
Pouco tempo e o grupo se formou. Queria ser Al Capone no mundo criminoso.
Haveria de, junto com os companheiros, criar um plano espetacular de ações geniais, lucrativas e bem sucedidas.
Contudo a panela ficou sem tampa.
Agora ali preso e recrutado pelo comando vermelho, garimpava um caminho de volta a liberdade.
Sonhava.
Contudo não foi assim. Condenado cumpriu a pena até ser liberado para a condicional.
Ao sair durante o dia entendeu que as portas que antes estavam fechadas agora passaram, também a serem vigiadas por guardas armados.
A liberdade virou castigo. Nada comparada a um prêmio.
Trêmulo, embriagado assassinou a história.
Hoje não busca mais nada.
A estrada chamada vida se tornou rua sem saída.

Um dia II


Um dia tive que entender que sou finito.
Que ninguém ficará pra semente.
Que existem os feios e os bonitos.
Que sendo como for, somos apenas gente.

Um dia me propuseram eliminar as aventuras,
Apenas cuidar da saúde do corpo.
Tocar a vida sem fazer loucuras
Viver na base e esquecer o topo.

Um dia me pediram pra repousar,
A entender que o sonho acabou.
Todos os projetos de vida abandonar.
Só entende, quem por isso já passou.

Impossível. Não nasci pra me acomodar.
Não vou reclamar da sorte.
Lutarei enquanto respirar,
Cessarei sim. Perante a morte.

Finitude


Que a cada dia eu tenha um objetivo e um motivo pra lutar.
Que eu agradeça sempre antes de deitar.
Que a tristeza e as desilusões não me façam perder a ternura.
Que eu entenda que nem tudo o que quero é viável.
Que não se vive sem uma pitada de dor.
Que a finitude seja por mim respeitada.
Que algumas saudades não significam nada.
Que passo rapidamente de decapitador e decapitado.
Que quanto mais ofereço mais sou recompensado.
Que sou humano, mas nem sempre sou errado.

Restaurar


Restaurar sonhos requer habilidades e técnicas apuradas, mas com sensibilidade e uma medida de boa vontade e possível mantê-los íntegros e renovados.

Silêncio insano


Eu conheço o barulho da porta que fecha.
Já senti o suor das mãos frias.
Conheço a dor na cravada da flecha.
Pisei as pedras da estrada vazia.

Eu conheço o grito que ninguém ouve.
O silêncio que nos faz insano.
Já via lagarta na folha da couve
Vi a tesoura cortando no pano.

Eu conheço a tristeza da estação depois que o trem passa.
A incerteza se a dor irá parar.
Já vi choro no embarque, ouvi as promessas.
Coração que se divide pra depois suspirar.

Basta um pouco


Não quero muito.
Basta-me uma morada de dois versos.
Um mínimo de inspiração.
Uma corda no violão.
Um reservatório de fé e otimismo.
Uma vertente de amor no coração.
O barulho da natureza pra me tirar o sono.
O ruído da poesia tinindo em meus ouvidos.
Alguns abraços de gratidão.
E a certeza que vivi o que podia ter vivido.

Aprendiz


Discutimos Aristóteles.
Platão, existencialismo.
Discutimos
O estado.
Atenas,
Esparta.
Discutimos
Classes,
Sociedade,
Competição.
Discutimos
Como bestas.
Como bostas.
E o que importa se Deus existe?

Céu


Pendurei os sonhos no céu,

vivo tentando alcança-los,

minhas estratégias fracassam

não consigo nem tocá-los.

Pedi ajuda ao poeta

pra poder derrubá-los

disse-me que sonhos do céu não caem

para tê-los

é preciso busca-los a cada dia mais.

Formigas


A preciosidade é sempre interna

Não depende de externos fatores

Não é pela cor da pele que se

definem-se os louvores.

Na sombra dos escurecidos cílios

pálpebras se abrem reticentes,

o mundo se deslumbra em brilhos

iluminando os olhares carentes.

Na sombra das folhas verdes

formigas marcham exuberantes

despontam raízes na profundeza do mundo

buscando a água da vida,

que corre nas folhas divididas

da vida que alimenta outra vida.

Na sombra dos versos iludidos

repousa o poeta que sonhou

sente seu tempo perdido

marcado pela vida que murchou.

Fragância


Ficou no armário meu perfume de juventude.
E com ele certas lembranças que hoje assustadoramente me ignoram.
Estático o espelho, outrora de imagens tão sonhadoras, mal me enxerga.
Em minha mente todas as expectativas que agora são histórias que ninguém quer ouvir.
Sim, ficou no armário meu perfume de juventude.
Tornei-me mostro do menino que lutou comigo por décadas.
Não tenho mais as bandeiras que carreguei por uma vida inteira.
Cheguei ao epílogo da vida, tornei-me fragrância envelhecida.


Pressuposto


O reflexo formava um rosto,

era o teu, por pressuposto,

e a chuva gota a gota

clamava tua voz.

No soprar do vento amargo

a nuvem foi afastada

e a luz se apagou.

Sem reflexo e sem voz

Pensei o que será de nós

se a presença não existe

sem a ilusão é ainda mais triste

não há no mundo quem resiste

se o sonho não dá palpite

a vida é só um despiste.

Tie-break


Tie-break
Chegamos ao destino já no final de um dia de muito calor. De cara já percebi certo aspecto medieval na região.
Maria Luiza que dominava espanhol e se aventurava no inglês se encarregava de pedir informações. De Francês nenhuma palavra. Nem ela nem eu.
A ideia era vencer o percurso em trinta dias. Mas já no primeiro dia de caminhada sentimos que seria preciso muita resistência para buscar este objetivo.
À medida que subíamos em relação ao nível do mar parecia que ficava mais cansativo.
Eu olhava para a Malu, e lembrava-me dela reclamando do ponto que eu perdi no tie-break da final do campeonato de vôlei da liga.
Há muito nos tornamos amigos.
E nesta condição viajamos juntos. Mas nunca deixei de ter uma forte atração por ela.
Morena alta, cabelos longos, olhos claros e com a pele bronzeada chamava ainda mais minha atenção.
Falávamos para todos que éramos irmãos para facilitar as coisas. E, convenientemente, nos comportávamos.
Encontramos, naturalmente, gente de todas as partes do mundo.
A cada um dávamos a atenção possível. Era meio desconfortável ver as insinuações e os olhares pra cima da Malu. Mas ela sempre foi desenvolta e tirava até uma onda com os mais abusados.
Mulher decidida, bem resolvida, sabia que estávamos ali para fazer o percurso que dois anos antes começamos a planejar. Jogávamos na mesma equipe e trabalhávamos na mesma empresa isso tornou possível este planejamento sem muitos atropelos. Negociamos férias no mesmo mês. Verdade que não foi fácil à negociação, pois o setor ficou meio desguarnecido nestes dias.
Agora ali, vendo as paisagens lindas, apoiado pelo cajado e suportando a mochila nas costas estávamos felizes. Nestas horas percebe-se que dá pra viver apenas com o essencial. Era o que carregávamos nas mochilas, pois quanto mais leves melhor se suporta. Questão de resistência mesmo.
Terrível são as bolhas que se formam nos pés. Tínhamos esta informação e tomamos todos os cuidados, mas ainda assim não conseguimos evitar. O jeito era medicar sempre que estávamos nos albergues. Aliás, ficávamos nos públicos por uma questão de custos. Ainda assim eram melhores do que se podia imaginar. A diversidade de cultura acaba ajudando na aceitação de situações diferentes a cada dia, a cada hospedagem, a cada conversa. Tudo muito diverso que chega a encantar. É preciso despir-se de valores preconcebidos para poder entender a grandeza deste momento que também é cultural.
Tinha dias que eu via a Malu meio cansada. Olhar contemplativo. Olheiras enormes, contudo sempre bem humorada. Ela conseguia me manter equilibrado emocionalmente. Um feito para poucos em situações assim.
O mais interessante é que a cada momento eu me sentia mais atraído por ela. Às vezes parecia que ela também estava gostando um pouco mais do que só estar comigo e da minha companhia. Por outro lado a insegurança me impedia de tentar qualquer aproximação amorosa. Afinal éramos amigos que agora se apresentavam como irmãos. Uma coisa meio embaraçosa.
No final do primeiro dia, em St Jean Pied e Poit, ainda na França, ela tinha me dado um beijo no rosto que me marcou muito. Era um agradecimento por estarmos ali. Uma retribuição pelo carinho e atenção que eu dedicava a ela nesta viagem.
Mas confesso: Não esqueci o beijo.
O perfume dela me enchia de desejos. Mas nunca externei. Melhor não colocar em risco tudo o que projetamos curtir.
Trinta e cinco dias e oitocentos quilômetros depois, emagrecidos e meio exausto, finalmente avistamos a chegada. A ansiedade que aumentava a cada dia ficou ainda maior.
Foram incontáveis passos irmanados nestes dias. Visivelmente emocionada, Malu se aproximou e estendeu-me os braços e eu perguntei a ela com lágrimas nos olhos e voz embargada:
Quanto vale a realização deste sonho?
Chorando ela me abraçou e respondeu:
- Não sei, mas muito mais do que o ponto que você desperdiçou no tie-break.
Risos e choros se misturaram. Ela me apertava cada vez mais forte e gostosamente senti um arrepio percorrendo o meu corpo todo.
Inesperadamente beijou-me a boca.
Foi apenas o primeiro, mas entendi que valeu a pena cada metro feito no cansativo caminho de Santiago de Compostela.

A vida


A vida é um jogo que gira
Ou você entende e joga,
Ou então pira.

Estrada de terra


Murilo Sá. (teu Ilo)

Futuro


Sou nostálgico de todos os futuros que já tive.

Última foto


Era a última foto.
E toda aquela seriedade não se justificava.
Exatamente num dia de mau humor ela foi tirada.
Agora, por muito tempo assim estará.
Faltará nela o sorriso.
Melhor estar sempre pronto para a última foto,
Sorrindo para a vida,
Extrapolando a alegria,
Esbanjando simpatia.
Mantendo a expressão linda
Mesmo sem saber qual será seu dia,
Afinal a vida com tristeza será sempre mais vazia.

Afoito


Afoito

comia letrinhas

como se fossem biscoitos

Bisco

itos

os

s.

Fiz-te


Fiz-te em versos e poesias.
Livre, naturalmente nua.
Em delírios e fantasias
Toquei a pele tua.

Em mim deixei nascer
Sabia que seria grande.
Vinha pra não mais morrer.
Amor desejado sempre se expande.

Sonhei noites tardes e folias.
Senti dores, temores e alegrias.
Dancei valsas e tangos num chalé.

Fiz-te real como eu queria.
Cada curva que eu sentia.
Sem adeus, só um breve até.

Míssil


Sofismadas no sorriso estavam às angustias,

Tremores de quem toca o infinito

Na incerteza do que virá ao abrir a porta

Além do bilhete pendurado

No girassol já sem abelhas.

Fecha-se o portão criado

De um mundo invisível

Ante o abismo....

Cante.

Talvez faltem pernas para o pulo,

Um passo atrás...

O embalo

Três...

Lança-se.

É a própria lança,

É míssil futurístico

Que não se prende a muros.

Levante-se...

Sentado

Nem na melhor música se dança.

Faça a troca;

A uma vida enfadonha

Arisque algumas festanças.

Salvar a poesia


Não repitas o poeta
Se não vês a própria alma.
Não o julgues
Se não sentes seus olhos.
Não o leias
Se não se percebes nos versos.
Não o condenes
Se não vês que ele morre
Para salvar a poesia.

Até


Até onde a vida alcança
É pouco, quero ver mais longe.

Cabernet.


Li no sorriso que pulsava em você.
A alegria de sentir-me chegar.
O brilhante olho denunciava teu querer.
Exalava de você o sinônimo de amar.
Atravessei teu olhar mapeei tua alma
Com calma fui despindo teus desejos,
No mesmo instante que me cobria de você
Laçamos nossos instintos anoitecidos
E o brinde feito para podermos nos entender.
Que vibrante é sonhar colorido,
Sem pensar se um dia vai amanhecer.
Brindamos as horas que de tão nossas
Acabamos delas esquecendo.
Nossas vidas misturadas
Em meio a elas nos perdemos.
Do vinho vertia o cheiro do amor,
Dos corpos a vontade de ser
Embriagante sensação no corredor
Dois copos em um único prazer.
Tão doce momento vivemos
Eu você e um delicioso tinto Cabernet.

Respeite


Sonhas em ser feliz?
Tente ser humildemente você.
Disfarce
Cuide-se, alimente sim suas vaidades.
Tendo vontade disfarce até a idade.
Sinta-se bem. Julgue-se bonito.
Respeite sempre seus princípios
Mas arrisque um pouco mais.
Lembre-se que o mundo do faz de conta é finito.
E a perfeição artificial
Acaba fazendo mal.

Casual


A fidelidade jurada foi carnal.
Traio-te sem me por pecador.
Devaneios não causam mal.
Aventuro mais nego amor.

Pois se desejo, sou desejado.
Excetuando as trapalhadas
Não amo, nem sou amado.
Letais vivências das madrugadas.

Outro deleite bem casual.
Mero acaso, nada proposital.
Fitamos o perverso a procurar.

Seguimos indiferentes na condição
É carne, nunca será pão.
Não é amor, é um simples amar.

Framboesa


Quando me perguntam quem sou eu.
Eu não respondo.
Não sei quem sou.
Sou apenas pedaço.
Que foi salvo pela sorte.
Ou quem sabe serei vida
Amparado pela morte.
Posso ser teu azar
Ou tua sorte.
Faça-me ser o que sou.
Serei o que queres que eu seja.
Posso ser amargura
Ou o doce da framboesa.
Posso correr pelo mundo
Com as rédeas do destino.
Posso ser homem formado e cruel
Ou um frágil e sensível menino.

Futuro


Sou nostálgico de todos os futuros que já tive.

Ir embora


Viver eu sei, não é show eterno.
Por vezes a peça termina antes da hora.
Sem palmas tudo fica ermo.
É preciso saber a hora de apagar a luz e ir embora.

Mote


O mote era:
“Não deixar morrer”.
Só não contavam com o suicídio.

Se


Se fosse pra eu ser feliz
Deus me daria olhos azuis.


Sopro


Um sopro de poesia
Oxigena a vida.

Árvore


Fui árvore.
Suscetível aos ventos.
Sustentei-me com as próprias raízes.
Fui sombra.
Fui pouso de pássaros.

O último bando me trouxe asas.
Alcei voo.

Não conheço mais limites
Nas asas poéticas da imaginação.

Voa poesia.
Bate teus versos.
Iça o poeta
Às nuvens de inspiração.

Hoje...


Hoje...
as palavras serão belas
os motivos serão justos
os gritos serão de contentamento.
A felicidade atrevida
dominará ainda mais a tua vida.

Lobista


- Olá doutor. Como vai?

- E aí grande Zé das Moças?

- Onde tens andado Doutor?

- Estou na capital.

- É mesmo? Fazendo o quê?

- Sou lobista.

- Bah Doutor. Eu nem sabia deste teu lado destemido.

- Imagina. Nada disso Zé.

- Mas só tem bicho grande nisso aí doutor.

- Isso é mesmo. Só tem feras.

- E como faz para alimentar todos? Custa caro não é doutor?

- Ah sim, não é barato. Mas sempre se dá um jeitinho. Temmuitas obras e outras oportunidades nestes pais.

- Isso é mesmo...

- Até mais Zé.

- Uma boa tarde Doutor.

Enquanto o finório se afasta Zé pensa: pelo jeito estenegócio de lobos dá bem mesmo. Tá por cima da carne seca o doutor.

Carrão importado.

Beca impecável... Bela loba.

- Bem cuidado aí doutor!

Um dia


Um dia eu estive lá.
Vi você correndo alegremente
Com os cabelos soltos cheirosos
Radiante feliz e sorridente.

Um dia eu vi você.
Pular em meus braços.
Apertar-me tão forte
A mais não poder.

Um dia eu estive lá.
Incontido em tudo.
Desejoso de me afundar
Na meiguice do teu olhar.

Um dia eu vivi lá.
Passeamos abraçados
Vontades e desejos entrelaçados
E ao fundo... O mar.

Um dia contemplamos juntos
O mais lindo entardecer.
Te fizeste tão minha.
Fiz-me tão você.

Um dia eu tive que voltar,
A tristeza foi tanta que me corroeu.
Enquanto meu eu doloria ao retornar
Imagino que você também sofreu.

Único


A única vantagem de ter um único livro
É que você tem facilidade em escolher
A sua melhor obra.


Disfarce


Sonhas em ser feliz?
Tente ser humildemente você.
Cuide-se, alimente sim suas vaidades.
Tendo vontade disfarce até a idade.
Sinta-se bem. Julgue-se bonito.
Respeite sempre seus princípios
Mas arisque um pouco mais.
Lembre-se que o mundo do faz de conta é finito.
E a perfeição artificial
Acaba fazendo mal.

Insucessos


Se eu pudesse dar um conselho
para esta imagem do espelho,
diria que na vida é preciso sofrer para aprender
que cada ato requer um remédio diferente,
que pressa não é sinônimo de urgente.
Que da felicidade tens que ser teu próprio agente,
que só se descobre o amor amando-se.

Que tem sempre um sol que brilha.
Que isolado não se vive.
Que a liberdade tem seu preço.
Que pouco importa o endereço
só com coragem se é livre.

Mas o corte quando sangra
como partindo o tomate
desintegra o sossego
evidencia anseios temores e medos
bagunça no íntimo os segredos.
O desafio é viver contente
entender e fortalecer tanta gente
também nisso a vida é poesia,
pois só pode sorrir em partes
quem entender que mesmo no reflexo
transformar os insucessos
é pra quem vive com arte.

Acesse: www.doisversos.com.br


Plástico bolha.


Fora de mim há uma partitura do que sou e sinto.
Nela outro mundo que a música da vida incendeia.
Luzes ofuscadas e generosas doses de absinto
Em delírios escuto tua voz com a concha na orelha.

No guardanapo faço poesia pra não me aborrecer,
Rabisco. Amasso e raivoso rasgo a folha.
Baixo a cabeça dorida sem entender,
Pensativo, destruo imaginárias células de plástico bolha.

Ondas madrugadas de verão me remetem ao paraíso.
A memória alcoolizada e seletiva não apaga.
Ainda vejo amor, areia, sal e sorrisos.
Sol e corpos bronzeados na superfície da água.

Galho


Ao anoitecer o pássaro não contou.
No galho fino pernoitou.
Escondeu a cabeça na asa e de alguma forma disse adeus.
Pelo que eu sei
Nunca mais voou.

Litros


O poeta, mesmo não sendo boêmio,
Acumula litros e litros vazios dos sonhos
Que consome.

Trevo


Nem me (a)trevo,

Neste entrevero

De trevo a trevo,

Decisões,

Esquinas

Descidas

Atrevidas

E ao fim

Há (a) vida.

Boate azul


Romantismo nunca foi seu forte. Sempre preferiu a África selvagem a Paris romântica e bela.
A beleza física é que a tornava atraente. Um corpo escultural. Equilibrado em salto agulha provocava suspiros. Uma mulher extremamente sensual e sexy. O cabelo longo não passava sem ser notado, ladeava um rosto perfeito e sorridente.
As palavras lhe saiam desbotadas, quase sem efeitos. Trocou o estudo pelas aventuras adolescentes de menina rebelde.
Ainda muito jovem já desfrutava de elogios e apreços generosamente sedutores.
O primeiro namorado pouco significou. Não correspondia aos seus impulsos.
Mas tarde ao reencontrá-lo protagonizaram um beijo tão eloquente que lembrou o casal apaixonado de Casablanca. Contudo o romance não progrediu.
Assustado com o comportamento da moça o menino pego um voo e foi visto desembarcando no Charles de Gaulle.
Jovem, sentia-se invencível, despreocupada e muito acima de certos valores morais da sociedade. Era linda.
Sonho de consumo de muitos marmanjos. Sabia como poucas usar isso a seu favor.
Assim havia quem lhe pagasse as despesas da balada, dos almoços, de pequenos luxos ostentados com orgulho.
Entre romances e aventuras contabilizou lucros e perdas e considerou positivo. Amou alguns, foi amada por outros.
Via isso como uma vida ótima e intensa.
Mergulhada em minissaias e shortinhos extravagantemente pequenos não se preocupava com nada.
Por certo sempre encontraria alguém disposto a trocar prazer por certos benefícios.
Aos vinte e cinco sentiu que já não tinha mais a mesma influência junto ao seu fã clube. Teve, pela primeira vez, certo medo e uma queda na autoestima.
Num sábado de outono, já quase sem amigos por perto, sentiu-se depressiva e triste.
Fez sua primeira viagem de ida.
Voltaram-lhe, em fantasias, as boas sensações, a alegria e a vida sonhada.
A esta altura, servia seu público na conhecida boate azul. Entre risos, fumo, bebida e luzes já não mostrava o mesmo ânimo para viver.
Não demorou muito para encarar o último tango da vida.
Sua passagem não foi como em Ghost. Não teve beijo de despedida.
Apenas partiu.
A passagem tinha comprado alguns anos antes.

Reencontro


Algumas quadras à frente,
Numa esquina qualquer,
Ou no trevo de acesso
De um café casual
A gente, por certo,
Voltará ao luar.

Arte


A arte poética é sempre um desejo, um sonho, uma busca.

Quando vira fato já deixou de ser poesia.

Cadeira vazia


Na primeira fila tem uma cadeira vazia.
Sempre que alguém sai fica uma lacuna.
Não foi uma simples saída sem valia.
É uma ausência sentida e não oportuna.

Viver eu sei, não é show eterno.
Por vezes a peça termina antes da hora.
Sem palmas tudo fica ermo.
Apago a luz e no escuro vou-me embora.

Pensamento soprado II


Como quem sopra um balão
Soprei meu pensamento ao vento.
Fiquei vibrante aqui no chão
Ao subir deu-me um alento.

Vai pensamento
Corta os ares da cidade
Siga firme em silêncio
Vá, como eu, sem maldade.

Vá dizer aos sofredores
De todos os cantos do mundo,
Que ainda existem amores
Buscando-te a cada segundo.

Vá levar a esperança,
Onde impera a tristeza
Leve alívio às crianças
Torne farta sua mesa.

Leve uma mensagem de fé
Aos descrentes e abandonados.
Lembre que na baixa da maré
Também podem ser abençoados.

Leve cura aos enfermos,
Conforto a todos os seus.
Lembre a eles que nenhum termo
Supera a vontade expressa de Deus.

Leve água aos nordestes do mundo
Pra colheita incrementar
Umidade bem no fundo
Pra vertentes brotar.

Como última missão, te peço,
Leve motivo a todos os povos
Pra superar os tropeços
E acreditar em tudo de novo.

Rosas


Rosas

Não mandarei no teu endereço levar
Nem trago, pra você, rosas na mão.
Por saber onde sempre vais estar
Entrego-as direto ao meu coração.

Voz


Voz que conquista em orações.
Que faz a pele arrepiar.
Que mobiliza multidões.
Que inflama na hora de protestar.

Voz que enaltece e condena
Que também fala o que não quer.
Que identifica em cena
O homem e a mulher

Voz que aproxima pessoas,
Que de amor faz declarações.
Que canta melodias boas,
Pra espantar solidões.

Voz que unifica o mundo
Na ternura da canção.
Que toca a alma bem no fundo.
Que provoca uma lágrima de gratidão.

Voz que ovaciona o ídolo.
Que agradece os favores.
Que diz coisas sem sentidos.
Que reconquista os amores.

Voz que faz o rádio viver
Que enaltece a fé,
Voz que saúda ao receber,
Que ao partir dá um breve até.

Voz silente na tristeza,
Que na rua se pode ouvir,
Que quer um pão para a mesa.
De quem se humilha pra pedir.

Voz que fertiliza pensamentos.
Meiga, doce ou agressiva,
Que expressa desenhada nos ventos
Ideias diretas ou subjetivas.

Voz baixa e romântica,
Aveluda ou sensual.
Voz que na intimidade encanta
Voz única tocante sem igual.

Voz humana que imita
Voz rouca ou disfônica
Insana que chama e que grita.
Na rotina narrada em crônicas.

Voz grave ou aguda,
Voz gritada ou sutil
Voz que na memória gruda,
Amadas vozes do nosso Brasil.

Empréstimo


Pedi a meus sonhos um adiantamento de felicidade. Como estou em débito com a esperança, foi negado.

Sonho


Vinho pra mim é
Sonho.
É inspiração para os versos que componho.


Beija-me


'Da vez primeira em que me assassinaram
perdi um jeito de sorrir que eu tinha...'
Mario Quintana


Debruço nos joelhos a dor da perda.
Na pedra fria faço orações.
Beijei-te no último adeus.
Chorei a perda
Do colo amigo, do meu abrigo.
Da proteção.
Mãe,
Deus te levou.
Fiquei aqui
Pensando em ti,
Reunindo forças para seguir.
O segundo domingo de maio,
É o mais triste do calendário.
À noite,
Vou adormecer pra
Sonhar com você.
Quem sabe assim,
Encontrarei de novo,
O sentido de viver.
Talvez eu ganhe teu beijo
Como na vida,
Que era inteira
De qualquer maneira,
EU AMO VOCÊ.

Fosco


O dia chega fosco
Sem nenhum brilho.
Sinto-me meio torto
Caminhando sem trilho.

O sol sem seu dourado.
Está tudo muito triste.
Em vão procuro ancoradouro.
Doideira procurar se não existe.

Dou passos sem movimentos.
O nada é meu alimento.
Lembranças na mente revividas.

Cadê minha rua preferida?
Por que não vejo a linda avenida?
Onde estará agora o amor da minha vida?

Inesquecível mamãe


Nem sei como começar. Não tenho prática.
Nestes quarenta anos nunca te escrevi. A senhora sabe como é: correria, muito trabalho, compromissos diversos e afinal, ninguém é de ferro né mãe.
Mas hoje, parei de encontrar desculpas e resolvi te escrever. Talvez eu tenha algumas novidades pra te contar.
Saiba a senhora que já não sou mais aquele menino que tinha vergonha de te beijar, de te abraçar, que não sabia o quanto é maravilhoso dizer e ouvir um “eu te amo”. Cresci mãe, passei e passo meus momentos de dificuldades. Não só eu, os irmãos também.
Pena que não te abracei mais, que não te beijei mais, que não demonstrei mais o meu amor por você. Eu não sabia que você partiria tão rápido. Talvez se soubesse teria feito diferente ou morreria antes para não sofrer esta perda.
Mas estou sobrevivendo, lutando, buscando sempre acertar. Você sabe o quanto é difícil tocar em frente. Eu tento facilitar, pode acreditar, mas ás vezes desabo. Não vou negar que tenho minhas fraquezas e culpas, mas também vivo momentos ótimos, inesquecíveis e lindos.
Puxa!
Estou escrevendo e me dou conta que até meus cabelos estão parcialmente brancos.
Lembro como se fosse hoje o dia que você teve que ir. Nossa. Tanto tempo, mas a memória não se esquece de nada. Todos me deram uma especial atenção, tentaram me distrair. Eu era tão menino, tão inocente, mas sabia o que significava aquele momento.
Eu sabia que meu melhor pedaço de doce ficava ali. Por muitos anos não consegui falar em você sem chorar. Agora também estou em lágrimas. De saudades, de vontade de te ver, de saber que se você estivesse comigo poderia ser mais fácil. De saber que no caminho, por vezes, encontramos mais espinhos do que flores.
Naquele inicio de ano de setenta e dois, nos afastamos para nunca mais eu ver teu rosto. Não sei se, em algum momento, viste o meu.
Estou diferente agora. Perdi aquele sorriso, perdi parte do brilho dos olhos desde aquele dia e agora ainda mais.
Acho que pra aliviar um pouco comecei a escrever. Assim, despretensiosamente. Nos anos 80 fiz algumas crônicas para jornais. Depois fui escrevendo algumas poesias. Em 87 participei da primeira antologia. Hoje são várias participações.
Participo de um site literário, tenho recebido até elogios. Acredita mãe? Verdade. Pena que você não pode ver.
Este ano tenho um projeto mais ousado, conto com teu apoio materno para que dê tudo certo.
Confio no teu amor. Confio na tua intercessão.
A parte triste é que não poderei te enviar, sequer, esta cata.
Você promete me ajudar mesmo assim?
Saiba que eu escrevo com o coração, com a sensibilidade e a saudade de um filho que não te esquecerá jamais. Quem sabe você, com teus poderes de mãe consiga ler. Tomara. Tomara mesmo.
Se não for possível me deixa, ao menos, sonhar que lerá.
Por hoje era isso mãezinha. Beijos.
Ainda amo você muito mais do que a mim mesmo.
Feliz ano novo pra você.
Feliz ano novo para todos.

Não vem


Chega, desisto de ficar esperando.
Nunca mais voltarei aqui.
Neste tempo que ainda tenho,
Deste lugar me abstenho.

Aqui, um dia,
Prometemos amor eterno,
Faz tempo, eu sei,
Mas isso aqui virou um inferno.

A data eu não lembro.
Acho que era primavera,
De flores cheirosas.
De lindos botões de rosa.

Eu voltei. Você não veio.
Quebrou a promessa ao meio.
Não terei mais devaneios,
Só eu voltei. Você não veio.

Pés nus


Foi bom demais pra mim.
Talvez você também tenha gostado.
Quem dera fosse sempre assim!
Ah... Eu ficaria mal acostumado.

A brisa e a sombra da floresta,
Os pés nus no gramado.
Os esquilos vibrando em festa.
Vendo nosso desejo provocado.

Conta-me o capítulo que eu não vi.
Basta-me te escutar calado.
Estando assim perto de ti
Tudo me deixa encantado.

Penso que faz falta em minha vida,
No abraço lembro-me do que a gente viveu.
Sem querer deixei-te lágrimas na partida,
Mesmo sonhando com um sorriso teu.

Princípio


Não costumo abrir mão dos meus princípios, nem dos meios, nem dos fins.

Nem sempre se pode transigir.

Amor não tem plural


Na mesma estrela juntaram-se os desejos.
Momento em que, involuntariamente, olham firme na mesma direção.
Duas emoções que se formam ao mesmo tempo.
Um anjo transporta um beijo.
O vento empurra o calor dos corpos na imensidão.
O cheiro entra nas narinas nuas.
Olhos impenetráveis marejados.
Suave e terna sensação repousa como brisa.
O sonho solidificado não desintegra,
Pois desconhece a morte.
Ah! Singular... O amor nunca terá plural.

Excluir


Excluir: Expulsar, retirar, rejeitar. Ações que humilham e acabam com a autoestima.
Deixe de lado o orgulho e pratique a inclusão. Todos serão mais felizes, principalmente você.

Gotas


No alto da estante o livro desequilibrou-se vindo de encontro ao chão.
Espatifou-se na sala cheia de crianças.
Foi letra pra todo lado.
Uma cena que até hoje permanece viva na minha memória.
Emocionei-me ao ver o brilho nos olhos dos pequenos leitores
Que puderam tocar e provar a doçura de cada grafema que alegremente iam recolhendo.
Que espetáculo ver gotas culturais invadindo o universo de cada uma delas.

Mãos atadas


Ainda que do olho salte a ilusão.
Que da boca verta a fragilidade.
Mesmo que só voe a imaginação.
A busca é constante pela saciedade.

Ainda que a nuvem esconda o sol.
Que na sombra não se veja vulto.
Conserva-se a alma em formol.
Mata-se o corpo em um minuto.

Ainda que o galho balance o canto.
Dos Uirapurus tão festejados.
O mato permanece à beira do pranto.
Ficam os terrestres voam os alados.

Ainda que o fermento negue crescimento.
A levedura esta depositada.
Mesmo que a mente aceite o consentimento
Não se guia só e de mãos atadas.

O FUMANTISMO


Admiro incansável o escritor. Este colega do dia-a-dia. Conta
suas produções com tal entusiasmo que me excita a escrever algo. Qualquer coisa. Se sair em linhas subtraídas chamo poesia, se extenso, conto.
Tarefa guerreira é escrever. Às vezes uma palavra atira-se em outra e quebra a muralha destruindo a frase. Não a recomponho. Se esta, por ventura, vier a ser tombada pelo patrimônio histórico literário, os historiadores que a reelaborem. Pior mesmo, e isto é o mais provável, se não tiver nenhum valor. É enrolar o papel o lotar o balde de lixo. Para mim há uma saída quando faltam palavras. Ascendo um cigarro e elas emergem em meio a fumaça. Mas os escritores (ou não) que não fumam? Deve ser terrível. Talvez consumam 'chicletes' ou sei lá o que fazem. Agora, uma coisa é certa: nada melhor que a fumaça do cigarro para trazer ideias brilhantes. Não importa se o pulmão está cancerígeno. Se a garganta incha, se o coração dispara. Afinal, o escritor não precisa destes em pleno funcionamento, sua tarefa é apenas escrever.
Portanto o escritor pode ser fumante. Se morrer jovem ótimo. Se for vítima do cigarro, excelente. Não e mais fácil à obra fazer sucesso após a morte de seu criador?
Então, fumemos colegas 'escritorinhos'. Fumemo-nos mutuamente, até o dia em que os críticos cedam e reconheçam este novo movimento literário: O FUMANTISMO.'

Trem


Trem.
Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem. Trem. Trem. Trem.

Woooh! Woooh! Woooh!

Trem. Trem. Trem. Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem. Trem.
Trem. Trem.
Trem.

Fshhhhh! Fshhhhh! Fshhhhh!

Estação vida


Não deu tempo.
Atrasei-me.
Ao longe ainda pude ver a felicidade partindo.
Tentei gritar, correr, ligar,
Já era tarde,
Ela foi.
Eu fiquei.
E pensar que tentei sair apressado,
Deixei até algumas coisas
Espalhadas.
Nem sei onde me deixei esquecido.
Não pude ver onde pendurei minha alegria.
Ficou lá.
Talvez esteja no mesmo prego do meu sorriso.
Um sobre o outro. Não os vi.
Tomara que alguém, ao encontra-los, faça bom uso.
Estou preocupado com minha vida,
Deve ter ficado num cabide.
Tão frágil!
Será que vai sobreviver?
A esperança... Que dó!
Morreu no frio das noites passadas.
Nesta estação à beira da estrada,
Não me resta mais nada.
Se alguém perceber que não fui
Quiçá, ao menos, dirá: Caramba!
Como pode não ter embarcado?

Saudades


Com o passar do tempo

acabamos nos afastando de váriosamigos.

Saem suave como a leveza do vento

e alguns nunca mais voltam.

Com eles vai o futebol dosfins de semana,

histórias de amoresfantasiosos,

na mesa de muitas falas ebebedeiras.

Mais tarde as lembranças

Provocam saudades enormes.

Alguns nunca mais veremos;

Outros, um alô e nada mais.

Também há os que ficam porperto

Fieis e leais, outros quemesmo longe estão pertos

destes, permita Deus,

não quero me afastar... Jamais.

Ábaco


Ábaco
Faço dos meus dedos um ábaco,
Somo os dias, divido pelas horas.
Sei detalhadamente há quanto tempo
Deixei-me ir embora.

Anzóis e rios


Menino de pés descalços,

Que sua voz empresta ao ronco

de seus tratores e caminhões.

De estilingue inseparável,

e arapucas traiçoeiras.

Imitações selvagens quase perfeitas

desagradando pássaros

nos esconderijos nas capoeiras.

Menino de anzóis e rios,

de solidão memoriadas em imagens

em noites tremidas de frio.

A geada da madrugada

em partes que congelava

a vida se enroscava

no clarear de um novo dia.

Pra ser feliz na existência

bastava sol e comida

escola e carinhos só da vida.

Quando pra cidade veio

com a pele quase nua

renda só de latinhas

sentiu que o bicho era mais feio,

cama de papelão na rua

acordava dolorido

inconformado roubou

uma bala o atingiu em cheio

coração partiu ao meio

indigente foi chamado

lá onde esta sepultado.

Hoje Deus tá orgulhoso

por tê-lo em seu reino.

Agora bem protegido,

sem os perigos por perto,

sente que só depois de ter morrido

é que foi acolhido

agora sim se sente amado.

Sabido


A frente
Um muro
Um abismo...
O Futuro.

Hoje sou feito de versos
E amanhã?

Água descontrolada
Inodoras
Gelo derretendo
Lama escorrendo
Ficção?

É sabido
Nada sei,
Mas ainda sonho.


Dá (a) saudade.
Nem me fale.

Olhar


Às vezes que falo pouco trago às palavras certas no olhar.
Basta querer ouvir.

Pólen


Pólen
Saudade é como ginete caindo do cavalo.
É fruto que se fere ao cair do pé.
É gangorra em seu trepido embalo.
É nome saudoso de mulher.

É a roupa sem passar,
O perfume que se deixa de lado.
É marcar gol e não comemorar.
É entrar mudo e sair calado.

É o ativo que se despreza.
É abelha sem pólen pra pousar.
É ajoelhar quando se reza.
É perder a vontade de lutar.

Psicóticos e insanos


Viver é lacônico, ainda assim cansa.
Proliferam-se as más experiências.
Infindáveis dias de constantes esperas.
Justificáveis se ao final o amor prevalece.

Viver é enfrentar chuvas e tempestades.
É reverenciar até quem não tem majestade.
É fingir loucura na mais sóbria demência.
Preencher espaço, lacunas e carências.

Viver carece de pele bronzeada.
Sempre ao perdedor compete recomeçar.
Fazer a história mesmo na estrada do medo.
Gerir e velar versos vivendo segredos.

Felicidade é quando o amor domina sonhos.
Quando mesmo distraída aceita minha flor.
Divago em canções que componho.
Cenários psicóticos e insanos de amor.

Desejos


Que o peso nas asas não aborte o voo.
Que o medo não chamusque o amor.
Que o calor dos corpos aqueça o sentir.
Que os lábios se toquem mesmo sem partir.
Que meu amor te abrace na noite calada.
Que te sintas envolvida por inteira.
Que ao meu lado perceba-se plenamente amada.
Que o tédio da vida não nos leve á morte.
Que o desgaste do rosto não nos torne estranhos.
Que o erro amoroso não criminalize.
Que a chegada desejada não se transforme em partida.
Que os desejos sejam intensos na madrugada.
Que não se condene o amor mesmo quando não se está amando.
Que se durma feliz e,
Que se acorde sonhando.

Duas e meia


Não vou atribuir à má sorte este ardor.
A beira da estrada o sol queima sem pesar.
São apenas duas e meia e calor,
Piso solo quente pra a areia me castigar.

Pra alma não há árvores sombrias
Nem portas pra ventilar.
Prevalecem às tristezas sobre as alegrias
E tempestades dignas de penar.

Elevo-te ao ponto mais alto vida,

Sorria-me ao menos em alguns segundos.
Vejo a esperança tingida
Afundando sonhos e mundos.

Azula-me céu límpido de raios acalorados
Este sol perpassa meus íntimos desejos.
Onde estão as nuvens densas enamoradas,
Que trarão chuvas abundantes de festejos?

Reticências


Um grafema bastava-me.
Pouca coisa eu queria.
Saber que ali eu estava
Enchia-me de alegria.

Uma palavra já seria até demais.
Uma frase eu nem sei se mereceria.
Ser estrofe? Nunca. Jamais.
Muito menos ser a tua poesia.

Uma página eu ganhei.
Antológico você me fez.
Ali para sempre estarei.
Muito mais do que sonhei.

Livro é o que hoje sou.
Capa dura preferida.
Um romance de amor.
Uma história para toda vida.

Silenciosamente


No rosto marcas de lábios.
Registros de um plano abortado.
Desejos extra fortes
Apetites vorazes
E gosto de ontem.
Cheiros vulgares
Lençóis
Em cetim.
Um voo rasante
Desejos de amantes
O barco distante
Silenciosamente
No prado...
Encalhado.

Por escrito


Por escrito

Um anjo vem me ver, por escrito.
Sem gritos.
Grifo-te em negrito.
Adiciono-te aos favoritos.
Sem faniquitos.
Subscrito, vão meus versos.
Acolher-te sem atritos.
Alcançar-te sem conflitos.


Portas de rua


PORTAS DE RUA

Adoro portas espelhadas
Do centro da cidade,
Nas ruas mortas dos fins de semana,
E, passo na rua, sua,
Onde o trem dorme sossegado
E o pipoqueiro nem existe.
Adoro estas portas espelhadas
Onde acomodo os cabelos
E a camisa
Nas
Calças.
E vaio o vento
Que balança a chaminé.
Desperto o meu medo,
De faro aguçado.
Acordo um telefone
Mudo,
Surdo,
Numa sala trancada.
Esperança,
Num desses espelhos,
Estarás amada,
Retocando o batom,
Pela janela oposta.

Barganha


Eu sempre desejei que os abraços fossem apertados.
Que os sorrisos fossem sinceros.
Que as despedidas fossem exterminadas.
Que o tempo não fosse contado.

Que a corrida não fosse só para a vitória.
Que não se fizesse só pela história.
Que coisas ruins saíssem da memória.
Que todos merecessem a glória.

Tudo o que eu mais quis.
Que toda pessoa pudesse ser feliz.
Que só existissem balas de anis.

Que a fé não precisasse remover montanhas.
Que as medalhas não fossem apenas para quem ganha.
Que todos, na vida tivessem o poder de barganha.

Divido


Divido meu dia em 24 gotinhas de uma hora.
Cada uma que seca é um pouco de vida que vai embora

Mulher


Quero uma mulher
Linda ou não.
Que me ame de montão.
Que me receba
Enrolada de banho.
Que corra ou fique,
Tudo depende.
E que me entende
Quando a noite
Chego atrasado.
Que de manhã,
Cabelos molhados
Manda-me embora
E depois chora.
Que seja assim:
Metade dela
Metade de mim.

O pequeno criador


Quando a fêmea ficou sozinha devido à morte do macho, passou a esconder-se na mata perto de um pequeno rio de águas mansas.
Todo final de tarde chegava ela.
Com gestos desconfiados comia seu trato e ia lentamente desaparecendo pelo costado da cerca.
O menino que lhe servia comida, muitas vezes a seguia. No entanto, nunca descobrirá onde era seu esconderijo. Tinha medo de adentrar a mata fechada e ser notado por algum animal selvagem, que segundo ouvia, seria perigoso.
De manhã ninguém via a ave. O menino despertava e corria. Percorria o caminho da casa até o rio na esperança de encontrar, ao menos alguns ovos, num ninho, que pensava ele, seria bem ornamentado com folhas e palhas.
Um dia a ave não apareceu para a alimentação habitual. O menino ficou preocupado. Acreditou que ela deveria ter ficado no mato devido ao cansaço que era subir a ladeira que levava à casa da família. Porém, no segundo dia ele pensou que estivesse acontecido algo de grave.
Mal amanheceu o dia se pôs a procurar. Jurou que não voltaria sem descobrir o que estava acontecendo.
Ouviu um barulho. Em seus olhos brilhou a esperança. Parou. Baixou a cabeça e viu por entre a mata pequenas aves. Aproximou-se. Sentiu-se muito feliz. Tentou apanhar uma, mas foi barrado pela mãe ave. Deixou todos ali e saiu em disparada. Entrando em casa abraçou a mãe. Entusiasmado pediu comida. A mãe disse que o café estava servido.
-Não, comida para os patinhos.
Já com o alimento para seus pequenos amiguinhos, sumiu na mata cantando e pulando.
Pura felicidade.
Quando chegou às margens do rio, mal pode ver aquela unida família que descia pelas águas lentas. Chorando largou a comida na água e abanou para os nadadores.

Tempos


Foi um tempo de bravura
Tentando naquela altura
Não desistir de buscar.
Tomava o ônibus de ida.
Pra voltar era aventura.
Sem paga não pode andar.
A pé sempre retornava,
Uma hora de caminhada
Marcado passos na madrugada.

O calcanhar machucado.
O joelho inchado,
O jeans velho já surrado.
Batia a fome malvada
Muito mais ele desejava
A situação mudar.

Á Deus pedia saúde.
A mão Ele estendia
Conformado,
Dormia de barriga vazia.

Riqueza não interessava.
Tudo o que ele buscava,
Pra mesa a própria comida.

A vitória pouco importava.
Mas diante das injustiças
Não podia se calar.

Hoje no céu batalha.
Com certeza me ilumina.
Não és de jogar a toalha.
Acredite, aqui continuo a tua sina.

Pise


Pise leve quando estiveres alegre evite acordar a tristeza.

Rei de copas


Trago o cheiro forte de incenso.
Espalhado em meus perfumados pensamentos.
Ao longe, o barulho incessante de vento.
A lareira ofegante ainda aquece aqui dentro.

Na claridade deficiente avisto um vulto.
A garrafa de vinho deitando-me insultos.
Meu interno titubeia em total tumulto.
Foge o menino, grita de longe o adulto.

Eu que não venci meu irmão pra fundar uma cidade.
Não fui grandioso pra estampar o rei de copas.
Não bradei descobertas geniais na minha mocidade.
Nem naveguei, ainda que trôpego, pelos mares da Europa.

A água no vaso não impede que as rosas murchem.
Nas estufas da vida novas flores surgem.
Não vou deixar a vida no cofre trancafiada.
Sigo, mesmo que lôbrega possa ser a jornada.

Simbologia


A tinta no papel faz a simbologia.
Redijo nele sentimentos selecionados e profundos.
Uma lágrima inevitavelmente cai.
Até sem dor,
Talvez solitária.
Talvez carregada de amor.
Este papel que tudo aceita,
Não traz da felicidade a receita.
Nem tem a perfeição do amor infinito.
Ainda assim o amor sempre ama alguém.
Ele é bom. Ele vale sim, a pena.
Nas esquinas do coração tem marcas,
Que o tempo ali fez.
Tem incertezas, tem dúvidas e um mínimo de lucidez.
Por vezes corroído de saudades.
Por outros de desejos e vontades.
Se paga o preço,
Quando o amor não se sente amado.
Que a ternura, ainda assim, nunca saia de você.
Nunca perca este teu jeito carinhoso de ser.
Mantenha sempre mole o coração
Para o amor se instalar.
Crescer e se consolidar.
E se não puder ser pra sempre,
Que seja só e tão somente eterno.

Sumiço


Cada sumiço
Mata um pouco.
Cada saudade
Afunda mais o poço.

Verdade invisível


Sem ser prevista a invasão aconteceu
Não foi possível reação.
Meu pensamento ligou-se ao teu
Levando-me a comoção.

Não fui notado em trajes majestosos
Em meio à multidão,
Com gestos receosos,
Buscando-te na contramão.

Invisível estive quando sentei
A beira da fonte ouvindo suas águas
E pensativo lacrimejei.

Minha peregrinação nunca parou
Sem ser visto sempre busquei
Mas a verdade jamais se apresentou.

A deriva...


O dia foi-se em chamas

Gordurosas...

Extintas a gás carbônico.

Entre sem relutar ó noite branca

Embalada pelos ponteiros lacônicos...

Implacáveis...

Devastadores.

A espuma no copo e nos lábios é

Mar recomeçando em mim.

A deriva...

Não valho nada.

Sou pobre,

Descrente, imperfeito, imundo.

Não vivo... Vago...

Vagabundo.

E tenho o agravante oceânico,

Incorrigível...

De crer em versos

Dominando o mundo.

Há sempre


Há sempre uma música ao fundo.
O chiado do vento marcando.
Uma vontade de gritar ao mundo.
De sair sem destino apenas vagando.

Há sempre uma face rosada.
Uma mão afagando os cabelos.
Um lábio em outro tentando morada.
Um carinho ousado de arrepiar os pelos.

Há sempre um mistério envolvente.
Um quê de paixão pousado no ar.
Um grilinho que mexe com a gente.
Um órgão sentido no peito a pulsar.

Há sempre uma hora que a copada balança,
Que a folha começa a flutuar,
Há sempre luz que a alma alcança.
Não negue. Há sim. Sempre há.

Light


Poesia é light.
Não dá culpa.
Sirva-se.

Que


Que minhas virtudes superem eventuais vaidades.
Que o orgulho não massacre minha humildade.
Pois meu primeiro verso é respeito,
E o segundo reforça este conceito.


Que não escrevi


A bela poesia que não escrevi
Faz-me lembrar do tempo passado.
Do fogo clareado que acendi.
Das noites quentes que ainda assim não dormi.

Das geadas branqueando as laranjeiras,
Das chaminés fumegando,
Dos sonhos cruzando as porteiras.
Da felicidade que encontrei chorando.

Revivo em silêncio sofrendo calado.
O cisco foi pra fora varrido.
Adormeço calmamente pra não ser acordado
Fecho a porta lentamente para ser esquecimento.

Calças rasgadas


Bateram à porta dos anos oitenta ainda adolescentes. Cabelos estranhos, desejos na mala e bolso vazio. Começavam a entender certas rebeldias, costumes e hábitos desta década, para alguns foi perdida, para outros, muito marcante. Traziam na bagagem uma vontade enorme de matar as curiosidades e a fome.
Juntaram-se a outros tantos jovens nos primeiros movimentos pela democracia. Orgulhosamente, de cara pintada, foram ás ruas pedir eleições livres.
Nas noites que passavam na danceteria Cacimba night Club, bebiam cuba libre e gim soda ouvindo Blitz, Cazuza, RPM e tantos outros imortalizados.
Motivado por esta vertente de ouro da música nacional o Brasil marca época com o primeiro Rock in Rio.
No cenário internacional o mundo conhecia a força musical de Bom Jovi, U2, Pet Shop Boys. Thriller tocava em todos os cantos do planeta. Madonna se tornava unanimidade.
Anos romanticamente alvissareiros em que a Columbia impressionava a todos em seu primeiro voo. A Argentina tentava defender as Ilhas Malvinas, Itaipu finalmente começava a produzir enquanto o muro de Berlim caía, pela paz. Chaves estreava no Brasil e E.T. ganhava as telas de todos os quadrantes. Junto com a esperança de um novo milagre econômico nascia o primeiro bebê de proveta brasileiro.
Foram anos românticos e rebeldes. Talvez só não foram mais intensos do que os anos de Woodstock, da então geração paz e amor.
Sou saudosista deste romantismo marcante. Dos cabelos volumosamente longos, dos amores e roupas coloridas. Época da rebeldia e das calças, propositadamente, rasgadas usadas com os All Star inesquecíveis.
Década em que se voltava para o futuro curtindo nove semanas e meia de amor sem esquecer que sempre haveria um tira da pesada nas ruas de fogo.
Tempos de quebrar regras, inovar, lutar pelo novo, mas mantendo sempre a doçura e a ternura tão própria de uma geração que foi à guerra lutar pela paz.

E só


Voa Condor.
Café no coador.
Voa com amor.
Voa sem dor
Voa livre.
Voa.
E só.

É você?


Ao longe já ouvi gritos.
Em meio à vegetação avistei a junta de bois puxando o arado que ele, como num desafio razoavelmente radical, tentava segurar sem ser atingido pelas pedras e tocos do caminho.
Olhei firme em sua direção. Tinha a pele dourada pelo sol mesmo estando protegido por um enorme chapéu de palha. Um homem bonito. Demonstrava alguma tristeza, mas ainda assim, lindo.
A calça remendada além de ser um indicativo de dificuldades financeiras era, acima de tudo, a informação que eu estava diante de uma pessoa simples e humilde.
Uma enorme sensação de ternura percorreu meu peito. Senti vontade de abraça-lo fortemente. Contive-me. Apenas o cumprimentei a distância.
Antes ouvi um ôôô. E os animais pararam. Secou o suor da face, ergueu a cabeça, meio desconfiado retribuiu com um baixíssimo “opa”.
Na fração de segundo em que esperei para me apresentar, ouvi o barulho de águas. Depois soube que logo abaixo em meio a mata corria um límpido riacho.
No final do dia mergulhei em suas águas cristalinas e meio frias. De dentro dele se tinha o privilégio de contemplar enormes árvores que avançavam seus galhos sobre o rio.
Onde tinha árvores frutíferas percebi que se formavam cardumes de peixes para esperar as frutas que caia e serviam de alimento.
Ali, o ar era muito puro, leve e agradável.
Percebi, nas margens, vestígios da presença humana, mas ainda assim tudo muito preservado. Moradores da região vinham a noite tentar pescar alguns distraídos jundias. Pelos pequenos detalhes percebe-se que havia sim a preocupação com a preservação ambiental.
Desculpem por fugir do assunto. Eu precisava distrair minha emoção. Só por isso antecipei estes detalhes lindos do rio Jacuí.
Diante daquele homem de traços de lutas e trabalhos estampados no rosto eu me senti um privilegiado por viver na cidade com outra família. Deveria ser muito penoso enfrentar o dia a dia desta forma.
Mas não vim até ele para voltar sem o objetivo estabelecido amplamente superado. Era preciso falar.
Olhei nos seus olhos claros cobertos por sobrancelhas enormes. Busquei em mim uma injeção de adrenalina e coragem. Olhei meus pés já marcados pela terra, respirei fundo e deixei o cheiro mágico da terra lavrada adentrar a alma.
Que esquina a vida me coloca... Pensei.
Senti que não conseguiria me pronunciar, meus olhos me denunciaram. Minha fragilidade inundou a lavoura. Ceguei por um momento.
Por sorte nada precisei dizer, Deus me poupou. Senti um abraço carinhoso enquanto escutava a frase que eu mais esperei até então:
- É você meu filho?

Maçã podre


Planto na sombra dos corpos grudados
O cálice amargo do licor condensado.
A magia transformada em vultos derramados
Vozes se transformam em gemidos sussurrados.

Quem sente mais forte não entende
A fraqueza pragueja nos arredores.
Estica-te na suavidade que me rende
Prece vazia de filme de horrores.

Aquele que feliz sorri na vida
Que toca o pandeiro da alma contente
Tem minha inveja assumida,
Ah, não quero ver nem mostrar os dentes.

Junto no chão a maçã mais podre.
Escuto ao longe fortes gargalhadas.
Sento a beira da margem salobra
Sem força e sem rumo pra pegar a estrada.

Fundo


O poeta vive na superfície, mas seus
olhos perseguem o fundo.

Quanto vale...


Quanto vale um homem?
Não “essezinho” que se emociona
Com uma despedida,
Com uma partida inesperada,
Com uma (ou a falta) declaração de amor.
Não este que vai às lágrimas
Ouvindo músicas, vendo filmes,
Lembrando momentos.
Esse não, esse não conta.
Afinal! Isso é risível pra não dizer ridículo ou cafona.

Digo homem MAIÚSCULO.

Que não tem medo de magoar alguém.
Que se dá bem na vida independente da forma.
Que mantém a neutralidade
Diante das malesas do mundo,
Que não se deixa levar por estas “bobagens” da vida.
Falo do homem que não vê beleza
Num por de sol, num céu estrelado.
Que não contempla o mar com um olhar
De admiração.
Esse sim é forte.

Quanto vale?

Quanto vale o homem
Que não se abala nem se sensibiliza.
Não tem lágrimas, não precisa de um abraço,
Não sente saudades?

Que valor terá depois que
Permitiu que as coisas ásperas da vida
Acabassem com sua capacidade de sentir?

Prefiro acreditar que tem maior valor aquele que permite ser medido pela sua capacidade de se emocionar, pela sua emotividade, pela sua vulnerabilidade, pelos seus sonhos, pela sua humildade, pela sua fragilidade e, principalmente pela sua humanidade.
Certamente este tem muito mais valor. Ao menos eu creio nisso.

Coisas


Tem coisas nesta vida
Que é difícil concordar.
Há quem tenha um amor
Mas não sabe amar.

Felicidade


Definir felicidade
Só em doses individuais,
Não a deseje de forma permanente
Aí é querer demais.
Oscila em antagonismos inesperados:
Vidros abertos ou ar condicionado,
Grade ou liberdade,
Café ou suco gelado,
Cabelos longos ou raspados,
Graduações ou não estudar,
Fidelidade ou aventura,
Humilhar ou afagar,
Bronzear-se ao sol ou refrescar-se na chuva,
Tênis novo ou surrado,
Perder peso ou comer o que tem vontade,
Pintar os cabelos ou mostrar a idade,
Correr descalço ou uniformizado,
Ser discreto ou se fazer notado,
Cartão sem limites ou dinheiro contado,
Dê o fora ou entre e fique a vontade,
Presença ou a saudade.

Se for o - bem vindo - fique,
Se for o - boa viagem- vá
Mais do que definir,
Escolha ser feliz já.


Noite


No meio da noite a vida se ativa.

Nos dedos perfume de rosas.

Agora repousam no vaso cristalino.

Ao menos assim imagino.

Aproxima-se delas para cheirá-las,

odor nostálgico dali exala

eu sinto, eu toco, inspiro,

invisível como o ar que respiro.

Orgulho


Orgulho
Cuidado! O orgulho ocasionalmente assassina o amor.


Versos tortos


Meus versos já não mais vejo.
Mal e baixinho apenas os escuto.
Não instigam meus desejos
No meu poema vesti luto.

Fiz silêncio por um tempo
Até mais do que um minuto,
Na saudade que hoje sento,
Até as lembranças eu insulto.

Não vou vesti-los de preto
A cor pra mim não importa,
Depois de mata-los não tem jeito,
Não é a perda, é a tristeza que me entorta.

Certas


Certas histórias confundem até a própria vida.


Já.


Eu já abracei sem vontade.
Já elogie só pra ser gentil.
Liguei apenas pra agradar.
Escondi as quedas pra parecer forte.
Sorri pra enganar.
Sem entusiasmo desejei bom ano.
Ataquei apenas pra me defender.
Hoje sei que ser autêntico
É o que nos faz mais humano.

Deixe-me


Me deixe morrer

Nas ondas azuis

Nas nuvens macias

Nas velas dos castiçais.

Deixe-me dormir

Na selva serena

Na pele morena

Do amanhecer.

Despeço-me - permita,

Antes da lua desligar,

Levo-te assim bonita

Na imaginação passear.

Estrelas


As estrelas da minha infância eram doces pregados no céu.

Hemisférios


Meus hemisférios diferem entre si com muita clareza.
O norte é durão.
Odeia as convenções sociais, os bons modos e gentilezas.
Adora destruir o inimigo.
Golpeia com força para danificar o mais que pode.

O sul é doçura, é ingenuidade é amável em qualquer situação.
Tem bons modos é gentil. É prestativo, está sempre disponível.
É de uma ternura invejável.
O sul ama as pessoas.

O norte é possessivo, grosseiro.
É egocêntrico ao extremo.
É cheio de paranoias.
Estressado, violento e nublado.

O sul é humilde,
Relax, límpido e ensolarado.
Ah... O sul.
O sul é um amado.

Luz acesa


Desta busca ao impossível
É que sou sobrevivente.
Tantas faces insensíveis.
No caminho estão presente.

Desta busca a felicidade
É que rondo de luz acesa.
Busco todas as possibilidades
Se não as encontro abasteço de tristezas.

Desta busca ao verso inexistente
Escrito com alma latente.
É que perdi os melhores poemas.

Buscando a rima rica
Que pra mim pouco se aplica.
Fui tropeçando em pobres fonemas.

Apego-me.


A simplicidade é a leveza do meu corpo,
E a essência do meu espírito.
Prefiro as fórmulas simples.
Não gosto de enrolação.
Se eu faço é de bom gosto
Não costumo esconder o rosto.
Máscara não me acompanha.
Sou assim e não tenho oposto.
Apego-me e sinto falta.
Humildade facilmente me ganha.
Fujo do centro para ver a ribalta.
Coloco os amigos na posição mais alta.
A distância me maltrata.
A presença me faz falta.

Apesar


Apesar de bonitas e modernas,
Estas máquinas fotográficas atuais
Não me agradam.
As antigas me fotografavam bem mais jovem.

Caminhar


O caminhar feminino
dá vida aos saltos altos
em passos que mais parecem pássaros.

Não pergunte


Não pergunte se estou feliz.
Faça-me.

Não pergunte se estou triste.
Alegre-me.

Não pergunte se esta doendo.
Cura-me.

Não pergunte se estou com saudade.
Mate-a.

Não pergunte se eu quero.
Beija-me.

Não pergunte se te amo.
Entregue-se.

Não pergunte se vou sofrer.
Fique.

Quero


Quero a nudez da verdade, mesmo dura.
Quero a dor da notícia inteira.
Quero olhar nos olhos para sentir o ódio ou a ternura.
Se for preciso, quero os olhos marejados mesmo sem poeira.
Não quero a delicadeza doce da fantasia,
Mesmo que pesada, quero a realidade de uma vida verdadeira.

Bomba


Armei uma bomba
No meio do mundo
E quando explodiu
Parti-me em dois.

Colorau


Ito andava muito impressionado com os peitões apetitosos da Fer.

Basta ela chegar perto que ele fica desconsertado, sem jeito e atéconstrangido.

Tentava ser discreto para evitar que outras pessoas notassem, masno pensamento viajava e sonhava até em se casar com ela, “ter dois filhos e umcachorro”, (eca)....

Havia decidido cantá-la na primeira oportunidade que surgisse.Queria sair daquela situação meio platônica e, como ele mesmo pensava partirpra cima dela.

Aproveitando a festa ele a fitava direto, discreto, mas atento.

Precisava esperar um momento em que ela se afastasse do grupo paraagir.

- De hoje não passa, chega a falar pra si mesmo.

O dia ia passando e nada. Conferia o relógio e constatava que jápassava do meio da tarde e se bobeasse não cumpriria o pretendido.

Pensava até em tomar “umas” pra facilitar.

A tarde tinha música de bandinha, pessoas dançando e as mulheres viúvasde maridos bêbados dançando entre si. As mais desacostumadas ficavam de pésdescalços já que estavam inchados de ficar de sapato. Ito até observa oambiente embora bem desconcentrado.

Decidiu sair do salão paroquial e entrar na igreja que ficava bemao lado. Ficou com ar de professor Girafales ao avistar Fer próxima ao altar.

Aproximou-se, tentou conversar meio monossilábico. Fer boa deconversa (e muitos outros atributos) puxava assuntos e mais assuntos, falavacom facilidade e tornava as coisas mais fáceis.

Ito nunca saberá ao certo o que falou neste tempo em que sóconversavam.

Lembra perfeitamente do beijo e de ter feito uma única pergunta arespeitos dos seios dela:

- Silicone?

- Imagina, toca pra você ver.

Tonto com o convite ele tocou levemente com o dedo indicador.

Destemida Fer pegou a mão dele e colocou embaixo do próprio seio

– assim ô.

Com o rosto parecendo um pacote de colorou sentiu como seestivesse com um pudim de leite condensado na mão e sem coragem para degustá-lo.Era como se tivesse buscado o troféu e agora não sabia o que fazer com ele.

Totalmente sem jeito pediu um tempinho.

Em passos largos deixou a igreja, a porta fez aquele tradicionalrangido enquanto o vento a empurrava forte de volta.

Se afastando ouviu a pancada e sentiu covardia e alívio.

Talvez não nesta ordem. Que caminho tomou ninguém sabe.

O que é público, sabido e notório é que os peitos de Fer continuamlindos... Muito lindos.

Fujo


Se não vejo

Não aprecio, não tornoreal.

Se não vejo,

Fujo do verso,

Escondo-me.

Assim não vou serlembrado,

Nem vou lembrar.

Se na vi, nãovivi.

Portanto nãoexistiu.

Só há vida no quese vê

Ainda que não se enxergue.

Lugar


Todos os dias o pássaro pousava no mesmo lugar,
coloria e alegrava o ambiente com seu canto.
Tiraram-lhe o galho. Ausentou-se.
Hoje pousa em outras árvores.

Amigos para amar


Procuro amigos.
Amores não mais.
Em toda vida busquei. Desisti.
Procuro só amigos que não tenham que partir.

Amigos podem ter defeitos.
Gordos. Feios. Mal acabados.
Amores não.
Amor tem que ser perfeito.

Amigos podem ser desengonçados,
Basta que sejam leais e esforçados.
Ao contrário da amizade
O amor te faz enciumado.

Amigos que me recebam sorrindo.
Que me incluam em seus programas.
Que não permitam que eu dirija embriagado.
Mas que nas minhas recaídas estejam ao meu lado.

Que deem abraços.
Que entrem sem pedir licença.
Que peçam meu terno emprestado.
Que transmitam a certeza de muitas presenças.

Amigos de qualquer idade.
Que respeitem minhas vaidades.
Que zombem sem ter maldade.
Mas que admitam sentir saudade.

Genial


Genialidade nas linhas que escrevias,
Que se perpetuam por gerações.
Genialidade nos versos que compunha,
Para entalhar nos corações.

Genial para exaltar um povo,
Uma nação, um país.
Genial para buscar o novo,
E uma forma de ser feliz.

Gênio triste... Talvez!
Que também viveu alegrias,
Poeta de enorme altivez.
Genial GONÇALVES DIAS.

Hoje


Hoje Deus, eu busco um abraço teu.
Quero te falar.
Bater no teu ombro e dizer:
E ai amigo como vai você?
Confessarei alguns segredos.
Contarei alguns medos.
Falarei de tristezas,
De planos.
De futuro.
Das frustrações.
De amores.
De paixões.
Mas acima de tudo,
Eu quero pedir-te:
Ensina-nos a sorrir.

Música da vitória


O melhor do jogo é ganhar.
O vencedor é aplaudido.
Sobe ao pódio, é premiado.
O perdedor nem será lembrado.

A vitória faz amigos
Bajuladores em profusão.
Perder faz ser esquecido.
Ninguém pra te dar a mão.

Triunfar vale a taça.
E uma princesa pra valsa.
Fracassar não tem valor.
Apenas mais um sonhador.

Sem o primeiro lugar
Nunca farás história.
Não terás par pra dançar
A música da vitória.

Sou


Sou sonho
Que se escreve desejo.
Sou esperança
Que se escreve pó.
Sou angústia
Que se escreve nó.
Sou amor
Que se escreve talvez.
Sou infância
Que se escreve distante.
Sou passo
Que se escreve muleta.
Sou criança
Que se escreve doçura.
Sou conta nova
Que se escreve dívida.
Sou desejo
Que se escreve vontade.
Sou ânsia
Que se escreve chocolate.
Sou busca
Que se escreve tentativa.
Sou “homem não chora”
Que se escreve falso.
Sou medo
Que se escreve insegurança.
Sou natureza
Que se escreve extinta.
Sou verdade
Que se escreve dureza.
Sou solidão
Que se escreve tristeza.
Sou o eterno
Que se escreve “até onde der”.
Sou ternura
Que se escreve mulher.
Sou o “estou bem”
Que se escreve mentira.
Sou sólido
Que se escreve derrama.
Sou poesia
Que se escreve... Em versos.

Travesseiros II


O dia se fez as onze.
Um travesseiro sem cheiro
Feito medalha de bronze
Ao lado da cama, ainda inteiro.

A sinfonia vinha de dentro.
A luz ganhou foco exuberante.
Num único travesseiro,
Duas marcas e o cheiro dos amantes.

A noite foi de magia
Como a muito não se via.
Minha deusa da alegria.
Dona das minhas fantasias.

O cabelo desalinhado.
Agora um velho jeans desbotado.
Um perfume desodorizado,
E um sonho de amor realizado.

O champanhe abandonado
Por água de coco trocado.
Os desejos retomados.
Ela feliz ao meu lado.

Amanhecer do sonho


É como se o sonho estendesse seus braços
Fazendo o pó d'alma refletir contra a luz
E inconscientemente soltasse os seus laços
Aconchegando-se naquilo que seduz.

O dia esperado insiste em não nascer,
O desejo jejuado desmaia sem solidez,
O galo não canta. O que o fez esquecer?
Duvido que não tenha sido a sua timidez.

Distante, no horizonte, surge escassa,
Uma réstia breve de luz matinal,
Trás bordado no colo do céu em lasca
A ponta da lua, brilhante como aurora boreal.

O sol distante levanta o sonho feliz
E o dia devolve ao poema a serenidade
E o verso, feito vertentes de águas em chafariz,
Espalha-se como luz fugaz de felicidade.

Se é amor


Se é amor...
É natural.
Nasceu sem semear.
No inverno não vai murchar.

Se é amor...
Tem seu sabor.
E ninguém conseguirá comparar.

Se é amor...
Basta um olhar. Palavras podem atrapalhar.
Mantenha segredo, nem precisa contar.

Se é amor...
Diga baixinho.
Ninguém mais precisa saber,
Só eu.
E talvez você.

Sorria...


Sorria...

Nada vai fazer o tempo voltar

Sorria...

Um dia todos irão embora

Sorria...

Viver é enfrentar decepções

Sorria...

A dor ensina e passa

Sorria...

A história já está contada

Sorria...

Transforme as angústias com graça

Sorria...

Logo virá outro amanhecer

Sorria...

Valeu a pena tudo viver

Sorria...

Há o infinito eterno.

Depois a gente chora

Sorria...

Ao menos sorria agora.

Sublime


O mais elevado grau de beleza.
O maior indicativo de perfeição.
Excelência em natureza
Uma sinfonia musical em execução.

Tons musicais de requinte elevado
Momentos considerados divinais.
Ambiente lindamente decorado
E uma plateia sem igual.

Orquestra é sintonia ajustada,
Arranjos e melodias arrojadas.
Músicos perfeitamente entrosados.

Suave para meus sentidos
Agradáveis para os ouvidos
Ao final, todos recompensados.

Talheres


Não vou arrancar minha roupa para ser devorado pela ganânciamercantilista e cinzenta da cidade.

Nem tão pouco adormecerei bêbado em algum viaduto abandonado.

Também não vestirei peças novas engomadas e com etiquetasconsagradas.

Assumo meu “look” de camisetas detonadas.

Espero à porta do banheiro.

Não tenho pressa.

Entro só com o creme dental.

Não vou fazer a barba.

Não me importo em ser deselegante.

Se na fila tiver idosos saio dela para ser gentil, nãoprecisam saber o motivo.

É nisso que está Deus, não nas ostentações das imponentes Catedraise nos vestidos de alto padrão que ali entram.

'Bem-aventurados os humildes de coração, pois delesserá o Reino dos Céus'.

A gratidão não se veste de vaidades.

Alimento-me da mais pura simplicidade, não me ajusto comtantos talheres.

Um sanduíche...

Por favor!

Vista


Vista de longe ela era linda.
De perto sua beleza era infinda.
Para mim... Um anjo de amor sem fim.
Lida pelo poeta um verso de perfeita métrica
num corpo da mais rica silaba poética.

A gente


A gente se doa em cada gesto de carinho

A gente se dá em cada flor que oferece

A gente se perde no outro quando ama

A gente renasce quando tem o que viver.

ÉBRIO


Um uísque.
Duplo, por favor.
Preciso desentalar da garganta,
Este nó, esta dor.

Só não me sirva com desdém,
Sou humano como você, meu bem.
Não faço isso todos os dias,
Só bebo quando me convém.

Anos de vida me fizeram mole,
Saudade é o que sinto agora,
Por mais que eu me enrole
Talvez eu fique ou vá embora.

Este copo aqui, ó, vazio.
Avermelhou-me o rosto,
Desequilibrou-me o corpo.
Atingiu-me a voz.

Porta-malas


Primeiro eu bebia minhas tristezas.
Hoje sou abstêmio.
Depois eu as fumava.
Sou ex-fumante.
Então passei a comê-las.
Fui pra dieta.
Jogava.
Parei.
Agora as absorvo.
Não tenho mais fuga.
Coloco-as no porta-malas da memória
Em pequenos pacotes assim
Atrapalham menos e
Fica mais fácil levá-las comigo
Sem que sejam notadas.

Sorria


Se buscares lembranças minhas,
Faça com carinho.
Ando meio sem rumo nestes caminhos.

Se uma lágrima surgir
Quando olhares a imensidão não ligue
Uma lágrima não vai salgar o mar.

Sorria da mesma forma que sorrimos juntos.
Desatraque os navios, olhe as baleias.
Elas seguem em busca do frio.

Voa


Voa poesia.
Bate teus versos.
Iça o poeta
Às nuvens de inspiração

Gota de mundo


O calor do sol aos poucos desmancha
A gota de mundo pingada em meus cabelos.
E provoca no couro uma nova mancha
Onde não cresce novos pelos.

Que motivos temos para viver,
Se a frieza mata a esperança.
Se os sonhos cultivados tentam se esconder
E de tolice destruímos as marcas da presença.

Dentro de mim cultivo tudo com o mesmo ardor
Mas isso quem vai querer saber?
Morro, mas não mato o amor,
Um dia quem sabe o mundo possa entender.

Aos que dizem que de amor não se morre,
Quero um desafio proclamar,
Certamente suplantam o amor que nas veias corre,
Não sabem a intensa maneira que tenho de amar.

Que bom seria


Que bom seria se as segundas chances fossem reais.
Se os amores fossem imortais.
Se os pecados não se tornassem imorais.
Se os reencontros não fossem banais.

Que bom seria se a vida fosse de paz.
Se não quiséssemos deixar os outros pra trás.
Se de perdoar todos fossem capaz.
Se a fraternidade prosperasse cada vez mais.

Que bom seria se só tivéssemos alegrias.
Se o sofrer fosse abortado em cirurgias.
Se a felicidade viesse numa magia.

Que bom seria se o mundo fosse de igualdade.
Se o respeito existisse em qualquer idade.
Se o ser humano se despisse de falsidades.

Silente


Faça silêncio no teu olhar,
Teus olhos gritados já me disseram tanto...
Emudeça o eficiente penetrar
Teu olhar falante me leva ao desencanto.

Olhar fixo e destemido
De cumplicidade assumida
Finalmente num visual resumido
Brilhou um olhar para a vida.

Meus olhos mergulham na verdade
Que pode não ser a mesma tua.
Ardem de cegueira e saudade
Em cada passo que dou nesta rua.

E fim...


Quem sabe um lábio em anseio
num beijo em meio à noite sem lua
acolha corpos em seu lençol.
No cetim brilho de luz...
E fim.

A SAUDADE


Seguro tua cabeça entre as mãos.
Olho fundo em seus olhos,
De infinitas verdades.
De inúmeras realidades,
E sinto tremer
O seu corpo.
Aquecer o sangue.
Encaixa-se em mim
E respira fundo.
Seu mundo
Nosso desejo.
E na mágica
O beijo.
Afago seus cabelos.
Afogo as palavras.
No chão silêncio de felicidade.
E no beijo de adeus
A saudade.

Meu natal eternizado


Um fato, em especial, me faz ver está época do ano de forma muito especial.

Antes preciso dizer que nasci e me criei numa comunidade pobre do interior sem nenhuma infraestrutura, inclusive sem energia elétrica.

Não tínhamos, talvez por isso mesmo, árvores enfeitadas. Não escrevíamos cartas para o bom velhinho pedindo presente e, raramente a gente ganhava algum.

Mas teve um natal; deste que quero falar, em que minha mãe estava muito mal. Eu, na inocência de criança queria fazer alguma coisa por ela. Foi a primeira e única vez que fiz uma cartinha para papai Noel. Era curta e pedia apenas que ele salvasse mamãe, sem nenhuma referência aos anos sem presentes.

Na minha ingenuidade coloquei a escrita entre galhos alto de um pé enorme de pera para que ele a encontrasse facilmente.

Na manhã seguinte, acordei com uma chuva torrencial. Mesmo assim, de imediato fui lá ver e a carta não estava mais.

Nossa! Tive a maior certeza que ele havia vindo buscar a carta.

Fui tomado de cheio por uma enorme e, de certa forma, efêmera felicidade. Era a certeza que mamãe seria curada.

Na família, evidentemente havia uma preocupação grande. Lembro que estávamos em lados opostos do fogão a lenha eu e um dos meus irmãos. Fitei-o. estava triste, pensativo.... Esbocei um sorriso e ele retribuiu de forma muito contida e nada nos falamos.

Tive vontade de dizer para que não se preocupasse pois eu já tinha resolvido o problema da doença da mamãe com a minha cartinha.

Ilusão infantil.

Mas há lendas lindas das quais nunca devemos fugir enquanto a ilusão nos seja possível.

Mamãe faleceu dia 02 de janeiro.

Para a criança que eu era aquilo era um enorme castigo. Por algum tempo me revoltei com o velhinho de vermelho e barbas brancas.

Depois de adulto entendi que realmente fui atendido. Pois foi um presente de papai do céu ou de papai Noel, ter a doce e insubstituível presença de mamãe para nosso último natal juntos fisicamente.

Palco


Seja palco por um momento...
Faça você à cena,
Solte a imaginação
aproxime-se da plateia
deixe só a metáfora te distanciar.
Agradeça ao público
mande beijos para as críticas,
aperfeiçoe só o possível
não endureça, seja sensível.
Quem não sente não chora,
Mas também não vive.

Portas


Se tem algo que a vida não tem são portas automáticas.Cabe a nós vencê-las e abri-las.

A música


E exatamente naquela fala

A música parou.

O silêncio foi enorme,

Por que será?

Não teve como evitar

A voz saiu parecendo um grito,

Todos se voltaram meio assustados.

O que mesmo teria falado?

Voltemos a dançar.

Arranjos de algodão


Confeccionei um buquê de estrelas
com arranjos de algodão
nele coloquei a magia da lua
e fiapos da noite em cordão.

Um cartão com dedicatória
onde a poesia saúda a prosa,
pois nas metáforas da vida
estrelas podem ser rosas.

Decola


Sonhando com um pouso leve,
Percebe que seus pés nunca saíram do chão.
Inquieta é somente sua alma,
Que quer sobrevoar o mundo
Levitando sua fértil criação.
Nos ares a liberdade pra recriar num segundo
Um poema feito balão,
Pois o poeta fica imóvel,
Decola somente sua imaginação.

Sejamos


Sejamos perguntas, nada precisa ser respondido nesta vida

Ser Gentil


Às vezes é preciso fazer uma prova

Que não seja para nota.

Acender uma vela

Que não seja para agradecer.

Oferecer uma flor

Que não seja póstuma.

Esquecer a hora

Sem menosprezar o relógio.

Ás vezes é preciso usar a vida

Que não seja só para sobreviver.

Crer

Sem que seja só por temer.

Ser gentil

Em doses colossais,

Sem ser por obrigação.

Pois quem pratica a gentileza

Aquece a alma e conquista o coração.

Valores


Às vezes penso que os valores

Andam na contramão,

Vejam que ironia senhores!

Que grande contradição.

Nossos governantes de peso

E muitos que aí estão

Tendem mais determinado preso

Do que outro cidadão.

Lá pode ter gente boa

Mas o crime é crescente

E os que sempre foram à toa

Valem mais que os inocentes.

Dar outra chance

Ninguém discordará

Mas já está fora de alcance,

E o amanhã como será?

Depois


Desnecessário adjetivar.
Depois de amor basta um ponto.


Finja


Se não é real, finja
Se há muitos iguais. Minta.
Diga que sou demais,
Você sabe como se faz.

Diga que nunca foi tão intenso.
Que ninguém faz como eu faço.
Diga que o prazer é imenso.
Que te mato no cansaço.

Inventa que beijo bem.
Que tenho bela pegada.
Que te satisfaço como ninguém.
Que nunca se sentiu mais desejada.

Que estava morta de saudade.
Que sentia um calorão.
Que sou tua felicidade.
Que por mim morre de excitação.

Eu finjo que acredito.
Vendo teu olho brilhar,
Que esse amor é infinito,
Até o instante em que acabar.

Meus pais


Do meu pai tenho boas lembranças.
Não só dele na cadeira de balanço, mas também olhando a estrada, torcendo pela visita de um dos filhos que já não morava mais na casa. Lembro-me, ainda, das horas em que tocava violão ou gaita (como dizemos aqui no sul). Homem de fé, determinado, mas de uma generosidade enorme com todos.
Tinha um jeito contido de expressar carinho, mas no fundo era coração de pudim; os olhos entregavam.

Já da minha mãe tenho poucas lembranças. Partiu muito jovem. Quanta falta faz uma mãe e até as lembranças de uma mãe. Ficou vivo na minha memória o último dia. Fora isso, apenas pequenos flashes dela em vida.
Levá-los é uma ação divina, pois se fosse humano nunca deixaríamos os que amamos partirem. Confiar na vontade de Deus é fundamental para superarmos.

Oco


É falta de criatividade ficar atrás de um toco oco.

Pensamento


A verdade é que a gente está, de fato, onde o pensamento estiver.

Dois


Que o valor que tenho não seja julgado pela aparência.
Que eu possa sempre dar a conhecer minha essência.
Pois meu primeiro verso tem alma de brisa,
E o segundo ainda mais me humaniza.

Dores


Bom era quando as dores vinham das pancadas.
Das pisadas em pregos.
Do braço quebrado.
Dedo queimado.
Das enroscadas em unhas de gato.
Das caídas em barrancos.
Das picadas de insetos.

Era um tempo em que a cura não demorava.

As dores de hoje atingem a alma.
Degeneram o cérebro.
E não tem medicação.

Mistura


Na mente surge suave
A imagem da poesia
Estampada na escrita
Que vai surgir.
Mistura homogênea
Entremeio de rimas
Em metáforas buscadas
Na suposta inspiração.

Sempre


Os sonhos é que nos fazem sorrir.
A realidade não, ela é sempre muito sisuda.


Crescer


Meu ronco abandonou o caminhão

Que estacionou triste ....

Ficaram intactos os montes de areia,

As ervas cobriram as estradas.

Pena que ele não aprendeu crescer e

O tempo me transportou.

Abandonou-me o menino

E ele nunca mais andou.

Pobre caminhãozinho,

Eternizou-se parado

Na inocência de uma criança.

Viagem imaginária


Na viagem imaginária,

Não tem grito de quero-quero

Nem latidos de cães na chegada.

Não tem cheiro de mato

Nem cachoeiras

Na beira da estrada.

Na viagem imaginária não tem limites

Não tem horários

Não tem palpites

Não tem contato.

Na viagem imaginária não tem obstáculos

Nem pra voar

Nem pra sonhar,

Assim, terá tudo o que você criar.

Alma


A alegria pode ser a alma da vida, contudo muitas vezes temos que sobreviver sem alma.

Eu espero


Eu espero,

A pressa não vai influenciar.

Eu espero,

A ganância não me fará egoísta.

Eu espero,

Tem valores que posso e devo abdicar.

Eu espero,

Sem gritaria,

Sem agressões.

Eu espero,

E assim vou fazendo a hora chegar.

Eu espero,

Não atravessarei a nado.

Eu espero,

Sem medo de ser o último,

Estarei no meu tempo

Meu ritmo eu dito.

Enquanto o caminho não acaba

Meu caminhar é infinito.

Eu espero,

Pois sei que ao andar

Encontrarei vestígio de quem passou afoito,

Eu espero,

Tenho pressa em viver.

Eu espero,

Vivo a esperança que a humanidade

Feliz haverá de ser.


Felicidade


Definir felicidade.
Só em doses individuais.
Não a deseje de forma permanente
Aí é querer demais.

Oscila em antagonismos inesperados.
Vidros abertos ou ar condicionado.
Grade ou liberdade.
Café ou suco gelado.
Cabelos longos ou raspados.

Faculdade ou não estudar.
Fidelidade ou aventura.
Humilhar ou afagar.

Bronzear-se ao sol ou refrescar-se na chuva.

Tênis novo ou amaciado.
Perder peso ou comer o que tem vontade.
Pintar os cabelos ou não esconder a idade.
Correr descalço ou uniformizado.
Ser discreto ou se fazer notado.

Cartão sem limites ou
Dinheiro contado.

Bem vindo ou
Boa viagem.

Dê o fora ou
Entre e fique a vontade.

Amar de verdade ou
A imensa saudade.

Ficou


Restou um rasto de poesia

Em folhas rabiscadas

Um rascunho de poema

Uma caneta trincada

Um caderno envelhecido

Pelo café marcado

Bitucas abundantes

Num cinzeiro enferrujado.

Ficou a vida sem óculos

O poeta foi cegado.

Litoral


Entre a vida e o litoral

Deve haver bem mais

Do que leveza, brisa,beleza,

Mistérios e mar.

Não olhe agora


Não olhe agora,
Minha timidez vai me condenar.
Verás apenas meus olhos sem brilho.
Meio tristes e com vontade de te encontrar.

Não olhe agora,
Neste momento não há ondas no mar.
Apenas o barco da saudade ancorado e mudo
E a brisa fria insistindo em me torturar.

Não olhe agora,
Tudo é silêncio. Posso teu íntimo escutar.
Meus ouvidos se fecham nesta hora,
Pra não ouvirem a música que faz emocionar.

Não olhe agora,
Estou apenas olhando pra você.
Não tenho flores pra te dar.
Só versos secos pra te oferecer.

Não olhe agora,
Não quero que me vejas assim descontente.
Prefiro te ver feliz depois
Quando estiveres em minha frente.

Observante


Espio pela janela,
Coberta pela cortina telada
E vejo ao longe, pés enormes de figo.
Por entre eles desce uma
Pequena estrada em forma de meia lua.
À direita segue uma tira de mato
Como um satélite que se alonga.
Ah, antes que eu esqueça.
Acima. Muito acima.
Está o céu, parcialmente nublado.

Arranjos de algodão


Hoje quero um buquê de estrelas,
Com arranjos de algodão,
Com duas luas gigantes
E fiapos de vida em cordão.

Quero meu sonho entregar.
Falar apenas palavras breves,
Acordando sonolento escutar
A voz do amor meiga suave e leve.

Quero a luz penumbra da lua.
A brisa noturna motivadora.
Refletir a linda imagem tua,
Linda, leve e sedutora.

Minha alma na tua se espelha
Sempre meiga e formosa.
Mesmo que sejam vermelhas
Pétalas sempre serão de rosas.

Delírios


As palavras, por vezes, me emprestam verdades
Por outras... Sonhos.
Sei diferenciar pela reação da frase.
Realizo-me quando vejo uma frase sorrir.
Imagino os sonhos que passam na cabeça de cada letra que,
Certamente, decolam em viagens delirantes e inesquecíveis.

Faço


Faço versos por ser sensível.
Não tenho nada de poeta.
Sou tão somente um homem que chora
e que se afoga na inocência da poesia.

Inútil


É inútil a luz no final de um túnel que não te seduz.

Lados


Sou um pouco mais do que fórmulas prontas,
Divido-me muito mais,
Minhas metades visíveis
São menores que às escondidas.

Sou mais talhado que minha fisionomia,
Meu interior é mais belo.
Minha introspecção não tem limites.
Mais do que isso, muito além de ser sincero.

Sou bem mais belo do que este desenho,
Que de mim fizeram quando nasci.
Sou descendente de um espírito empolgado
Que Deus reservou pra mim.

Sou bem maior do que meu tamanho,
Muito além do que você crê.
Aurora boreal da minha alma
É para quem consegue ver.

Sou bem mais ousado
Do que aquilo que dou a ver,
Meu pensamento decola fácil
E a noite, sonho encontrar você.

Sou bem mais frágil que as demonstrações
E do que deixo transparecer,
Minha emoção transborda o universo,
E em versos não sei dizer.

Listas


Naquela época eu me deliciava lendo listas telefônicas que vinham da operadora estadual na qual meu irmão trabalhava. Incrível como pareciam poesias de um verso só. Sem medo de errar, estes foram meus primeiros e únicos livros de infância.

Paralelo


Paralelo

Meu pai era à moda antiga
Eu um pai moderno.

Meu pai nos orientava e protegia,
Isso colei dele.

Meu pai dava tudo de si pelos filhos,
Bem melhor do que eu sou.

Meu pai se enchia de alegrias nossa presença,
Sou idêntico.

Ele tinha princípios, seriedade, responsabilidades.
Não consegui notas iguais as dele.

O meu foi um pai moderno
Eu me esforço para ser à moda antiga

Beijos


Beijos sonhados.
que sempre desejei.
Os mais ambicionados
são os que ainda não dei.


Desejo-te


Quando digo que te amo.
Talvez nem devesse dizer.
Na verdade não te amo.
Eu vivo em você.

Quando digo que te quero.
É só força de expressão.
Na verdade não te quero.
Já moras em meu coração.

Quando digo que te desejo.
É porque te desejo.
Não tem nada de mentira.

Quando digo que serás minha.
É porque serás minha.
Meu querer muito te admira.

Estante


Até a minha estante se surpreendeu
Jamais imaginou
Guardar nela um livro meu.

Jogo.


Aposto tudo.
Espero que as cartas não me traiam.
Quero a sequência real.
Viver é jogo.
Só vai vencer quem arriscar.
É preciso querer ganhar.

Pai


Formado pela vida
De tudo você sabia
Eu te admirava, mas
Na minha timidez não dizia.
Eu um menino
Tímido, quieto, aflito.
Por hábito deitavas cedo
Rezava alguns segundos
Solitário na viuvez
Nem do escuro tinhas medo
Ao redor do fogo eu via
A noite adormecer.
Eu era feliz meu pai,
Senão na plenitude
Se um vazio havia
Buscava em tuas virtudes
Forças para viver.
Nada é eterno
Vai verão, vem inverno
Coisas que a gente sabe
Mas tristeza às vezes cabe
Nas saudades que te trazem.
Nos vazios das minhas lidas
Nas madrugadas de ausências
E como ver a querência
Abandonada e sem vida.
Quem dera Deus meu
Te ver abrindo a porteira
Descendo pela estrada
Para matear nas madrugas
Fazendo chiar a chaleira
Na casa outra vez alegre.
Na inocência do menino
Pai e filho sorrindo
Num mundo de felicidades.
(dia dos pais 2018 - Confraria literária)

Sorrir


Para ser feliz é preciso fechar os olhos
E fascinar-se com o que se vê.
Encantar-se com os lábios
E desejar o beijo.
Saber que a beleza aproxima
E o amor perpetua.
Sorrir ao ouvir você dizer meu nome
E sentir o mesmo ao pensar no seu.
Entender o que é saudade
E saber que nunca a sentirá.

Ao mar


Joga-te ao mar,
As ondas vão te beijar.
Joga-te ao mar,
Na areia do mar.
Escreve teu nome e o meu.
Joga-te ao mar,
No leito lindo do mar.
Nos dias de maresia,
Teu cheiro em minha fantasia
Fico louco pra te encontrar.
Joga-te ao mar,
Mergulha este corpo escultural.
Sou pescador vou te pescar.
Joga-te ao mar,
Molhe seus cabelos e
Balance-os ao levantar.
Joga-te ao mar,
Quero mais ainda te desejar.
Joga-te ao mar,
E quando eu chegar,
Ainda molhada,
Corra na areia.
Corra pra me abraçar.

Fadas e Cinderelas


Vista teu sorriso contagiante.
Expressão alegre de Mona lisa.
Combine com teu semblante elegante.
Traga no olhar a meiguice de uma sacerdotisa.

Dê passos firmes sem visualizar o chão.
Pise como se nas nuvens estivesse.
Na passarela da vida abre-se um clarão,
Palmas de alegria são dadas a quem merece.

Curve-se ao final da aquarela.
Deixe teu cabelo brilhar nas telas.
Sinta o gosto de estar sempre bela.
Faça a vida de fadas e Cinderelas.

Falações


A noite despertará monstros adormecidos
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos
Acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a urna
Esconderá as marcas da dor.

O dia ameaçará adentrar as janelas
Cálido em amarelos claros
Com a força que desbota as aquarelas
Fazendo sombras e refletindo nelas
O tormento do sino sem badalos.

Abrira-se morada do sepulcrário
Furdunçará desautorizado o silvestre
Da forma que fizeram os plantonistas de janela
Na vigência ilibada de vida tida como equestre,
Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.

Não. Sem bajulações de arautos
Nem piedade de falastrões
Bastará que conste nos autos
Que pela vida abominou as falações.

Acesse também meu blog pessoal : www.doisversos.com.br


Inseguranças e medos


Se eu tivesse tido tempo de saber qual o seu prato preferido
Hoje eu faria pra você.
Se eu tivesse tido tempo de saber qual a sua sobremesa preferida
Hoje ela estaria á mesa.

Se eu tivesse como,
Hoje iria com você na sorveteria.
Qual seria teu sabor predileto?
Poderíamos pedir dois de framboesa?

Hoje traria pra você o mais lindo buquê de rosas.
Da tua cor preferida. Qual seria?

Se fosse possível,
Estaria na tua página na rede social
Parabenizando-te.
Que tipo de postagens eu viria por lá?

Como estaria teu rosto hoje?
De qualquer forma eu te encheria de beijos.

Que roupas você estaria usando?

Que caminhos meus te fariam feliz?

Que músicas te colocariam com olhar contemplativo?

Que tom de voz usarias ao falar comigo?

Nunca tive e nem terei estas respostas.
Contudo sei que mãe quando parte muito cedo,
Deixa com os filhos seu amor para que suportem e superem
Certas inseguranças e medos.

O sol e a lua


Com o escuro da noite
A paisagem enegrece,
Mas seus raios cristalinos
Aos poucos aparecem.

O manto negro se desmancha
O astro rei vem à tona,
Enche o dia de relíquia
Seus raios de ouro ele aplica.

A lua, rainha da noite,
Pelo rei sol se apaixonou,
Deste amor brilhante
Muita estrela resultou.

Neste casal liberal
Os dois têm seus direitos.
E para dividirem o trabalho
Não tinha outro jeito.

Combinaram de acordo
Que o sol iluminaria o dia.
E a noite, sem compromisso,
A lua apareceria.

Atenção:


Atenção:
O último poeta, por gentileza, apague a lua.

Insalubridades


É preciso a força da natureza

Para enfrentar tempestades

Paisagens de incertezas

Águas amargas de insalubridades

Pensamentos em correntezas

Sacudindo as extremidades.

Natal dos imigrantes



É Natal...

O mundo comemora,

Data universal,

Famílias se abraçam

E oram,

Trocam presentes,

Imaginando me emociono...

E choro.

É Natal...

E eu não abraço meus filhos,

Não vejo a Árvore natalina da casa do meu apreço

Nem a enfeito, pois me sinto apenas um andarilho.

O Sino que ouço não é o do meu país.

As Guirlandas estão em portas que não conheço,

Minha Ceia é a solidão que eu nunca quis.

Alguns anjos me acolhem com voluntariedade

Nesta terra em que a estrela vida me largou

São Deuses grandiosos de generosidade,

Mas me faltam as tradições da terra que me gerou.

Natal não tem fronteira,

É o que se diz desde sempre

Mas até a língua é barreira

Com os de sangue todos ausentes.

Menos mal que a fé

Em qualquer lugar se sente

E crendo se tem sempre uma chaminé

E uma árvore de boas sementes,

Ano que vem se Deus quiser

Farei um Feliz Natal com Minha Gente.

Patas do mundo


Gigantes patas movem o mundo.
Pesadas fazem tremer.
Um passo a cada segundo.
Sobe uma pra outra descer.

Pisadas que esmagam se dó.
Afundam a argila da felicidade.
Marcam de uma vez só.
Ignoram as dificuldades.

Fincando estacas lascadas
Mesmo tenazes se desmancham.
Rosto que respiram em mordaças
Vida dos vermes que avançam.

Enterra com tuas pegadas
Toda esperança contida.
Ficam todas sepultadas
Sem sonho. Sem vida.

Pinheiro Marcado


Na terra onde nasci os trilhos cortavam o pequeno lugarejo como brilhantes luzindo à luz solar"

Terra adorada da minha infância,
Meu belo berço natal,
Vivi alegrias e pujança
Meu amor por este chão é sem igual.

Não fossem as contingências do supremo,
De lá não sairia nenhum minutinho.
Fronteira municipal bem no extremo,
Lindo distrito no interior de Carazinho.

O ruído do trem de longe se escutava
A estação, de gente, certamente se enchia,
Surgiam em minha imaginação
As emoções de quem chegava ou partia.

Terra de tantos sonhos sonhados,
De agricultura e reais belezas
Do meu primeiro aprendizado
De vivências intensas com a natureza.

Da Escola Veiga Cabral de eternas lembranças,
Do amor inocente platonizado,
Trago grudado em meu peito às heranças
E gratidão ao meu chão: Pinheiro Marcado.

(Projeto AVL- Meu Berço meu orgulho)

Singular


Quanta das nossas perguntas à vida deixa sem respostas.
Quanto amor tentando convergir na mesma direção.
Quanto perfume do corpo entorpecendo fantasias expostas.
Ilhado no banho de espumas vê-se o amor em formação.

Placas do caminho meus olhos negam.
O roteiro que leva é o mesmo que traz a flor-formosa.
Que seja a pureza do amor que regam.
Sensível como o ar para os liquens cor de rosa.

E no mais improvável querer
A sombra da árvore não nega abrigo.
Desperta o coração para ver.
O amor que suspira a beira do trigo.

A vontade de te conduzir pela mão
Abrindo caminhos para o sorriso passar.
Longe da rota da solidão.
Palpite de sonhos desejosos de amar.

Abrace-me, oh minha paixão.
Não tema seus pés pisando rochosas.
Penetre com a força de um turbilhão.
As pedras deste caminho são todas preciosas.

O poeta silencia diante da romântica e viva poesia.
Tira dos versos a musa sonhada
Confunde o real com sua alegria.
De amor preservado a imaginação é formada.

BEM-TE-VI


Quanto canta,
Bem-te-vi.
Se me viu
Também te vi.

Bem-te-vi
Bateu asas.
Sem elas
Fiquei aqui.

Braços da noite


Lindos braços me acolhem ao entardecer.
Elegante desejo de ali pernoitar.
Inimaginável véu noturno me faz viver.
Se for sonho eu não quero acordar.

Despertamos num mundo em que a alegria aflora.
Infantilizo-te em ternuras e carinhos.
A felicidade que vemos do lado de fora
Vem da certeza de não estarmos sozinhos.

Se necessário, mata-se a poesia
Para o amor alegre e livre viver.
Louvável poema em sinergia
Versos perpétuos pra gente escrever.

Fica um pouco de vida eternizada.
Gigantes na mente mapeados.
Promessas para a retomada.
Sons românticos nos microfones soprados.

Certezas nem sempre a vida nega.
Posso ser “poetal” sabendo que não existe.
Serei apaixonadamente romântico e brega.
Prefiro ser ridículo a ser triste.

Cafeteria


Percebo, a esta altura, que devo dar novo foco a minha vida.
O tempo me fez ter outra visão do mundo.
Não quero aquilo que não sou. Não me interessa viver de aparências.
Busco, neste momento, ser eu mesmo. Simplesmente eu.
Vou olhar a vida por todos os lados. Não só de frente.
Viver cada dia como único sem culpas internas e sem espaço para o pessimismo.
Minha força interior vai me erguer quando for preciso e, a paz que tenho comigo vai me conduzir sem sustos.
Saberei lidar com pessoas negativas de energia baixa e,P manterei minha mente distante das maldades deste planeta, pois, só assim, serei feliz com minha consciência.
Meu coração, clinicamente, sofre, mas vou controlar as emoções que lhe repasso para que suporte só o fundamental.
Até hoje busquei a excelência em tudo. Isso, como não opcional.
Agora chegou o momento de mandar pros ares manuais, cartilhas, regras, metas e objetivos que não servem pra nada.
Não vou mais chegar na hora.
Propositalmente sairei sem explicar só para ir até à cafeteria.
Quero cantar parabéns. Abraçar os chatos. Beijar os feios. Almoçar com mendigos. Comprar de ciganos.
Dormir em hotéis baratos.
Rodar em estradas de chão.
Quero banho de riachos, fogo de chão, camisa suada, fogueira de São João, restaurante e motel beira de estrada.
Quero os amigos de fé, baladas em cabarés e, com sorte, carinho de mulher.
Dizer que gosto só para quem, de fato, gosto.
Degustar muito lentamente cada fração do amor e da sobremesa.
Andar a pé em meio à natureza.
Curtir a alegria e conviver com as tristezas.
Na memória manterei só as fases boas da vida.
A lembrança dos bons amigos e amores. Estes nem o tempo nem à distância apagará. Emoções inigualáveis, registradas as demais não são essenciais.
Quero brindar, não aos melhores nem aos piores. Todos, neste mundo, somos bons e ruins. Brindar sem motivo, sem data especial sem nenhuma razão.
Brindar o reencontro. As chegadas. As partidas.
Brindar apenas por brindar. Brindar aquilo que de mais importante temos: Um brinde à vida. Um brinde, MINHA VIDA.

Folha


A folha em branco é de dúvidas.
Todo o cuidado é pouco para preenchê-la.
É preciso acertar.
Tem-se que superar o medo de errar
A resposta certa, quem sabe onde estará?

Linhas


Duas linhas paralelas

Infinitas para a visão

Lado a lado...

Seguem sempre

Sem se verem.

Sem saber pensar

Juntos e sós...

Definitivamente sós.

Última vida


Eu tive medo,

Preferi calar.

Poderia ser a última vida.

Senti-me só.

Ancorei-me lentamente

Para ser coberto pelo pó.

O futuro?

Um elo frágil

Um sopro

Uma interrogação

Um nó.

Vai


Vai.
Esconde-se em mim agora.
Só assim, me salvará em outra hora.
Eu te preciso e você sabe.
Nunca nos enganamos,
Sempre, assim nos aceitamos.
Vai.
Invade também minha alma.
Contamina-me o espírito.
Domina minha mente.
Deixa meu cérebro dormente.
Vai.
Desce pelo meu corpo.
Instiga meus desejos de sedutor.
Faça amor sem nenhum pudor,
Suspira embaixo do cobertor.
Vai.
Faça com que eu tenha medo,
Prometa revelar nosso segredo,
Me deixa chupando o dedo
Parta de manhã bem cedo.
Vai.
Não gosto de despedida.
Quero ainda te ver despida.
Ao sair só abane
Com a mão erguida.
Vai.
Aumente esta ferida,
Finja que é pra toda vida,
Mantenha esta postura atrevida,
Se a saudade bater, me acorda ou me liga.

Cratera


Abriu-se repentinamente uma cratera ousada que quase engoliu a mente.
Algumas cargas de serenidade e generosas doses de bom senso, misturada com a mais potenciada ternura cuidadosamente colocada por um mutirão de amigos, foi possível fechá-la.
Hoje a vida consegue passar por ela, mas a marca lá esta... Será eterna.

Lua


Fecha-se noite.
Volte teus olhos para dentro de si.
Não quero ser visível.
A lua nos esqueceu.
Siga teu rumo
Eu seguirei o meu.

Olhos de orvalho


Tão suave é ficar silencioso.
Deixar o colírio agir de dentro pra fora.
São olhos orvalho
E não chorosos.
Um dia a despedida será inevitável.
Que a viagem posso ser leve
Tanto quando é leve calar.
Tanta dor passa por nós... E vai.
Pra que ir atrás?

Fique mesmo se esquecer.
Outra metade te espera pra viver.
Outra vida vem logo
E te convida a embarcar
A vida é show que não pode parar.
Levante a cabeça, supere a tristeza
E cante, cante, cante...

Seja


Talvez viver seja desafiar-se.

Sopro no rosto


E às vezes quero ficar quietinho, no meu canto sem ser visto.
Quero ficar no meu casulo, na escuridão da vida.
Prefiro não ler o último verso,
Que talvez fale de partidas.
Mas o vento...
Impiedoso,
Balança meus cabelos,
Faz-me acordar.
Sopra meu rosto.
Resseca minha pele
E me avisa
Que é preciso seguir.
Sim, existe vida ainda que com sombras.
Levanta!
Segue teus passos
Bata o pó da tua alma,
Espana as traças do teu íntimo.
Lágrimas? Quem não as tem.
O sol, hoje está do outro lado,
Mesmo que eu não o veja ele pode brilhar.
Pode sim.
Ele brilhará...

Tempo lindo


Há tempo para ser prático

Em que se cultiva a roseira,

Outro para ser romântico

Em que se oferece a rosa.

Há o tempo tocante que voa

E a música preferida entoa.

Aquele mil vezes desejado

Delicioso como o vinho maturado.

Tem momentos que passam vazios

Fazendo tudo tão frio,

Outros, aconchegantes com o toque na pele

Causando relevantes arrepios.

Há tempo para perder-se

Em devaneios atemporais.

Para perdoar há o tempo infindo.

Há tempo para ver a vida amanhecer

E o amor dizer: - bem-vindo!

É tempo de viver...

Ah, que tempo lindo!

Uvas, beijos e chocolates


Sem pensar joguei-me em ti.
Sem licença fiz castelo.
Sem habite-se me instalei.
Sem base me apaixonei.

Sem receio se ausentou.
A construção embargou.
Pediu que eu saísse,
Até a estrutura desabou.

Cabisbaixo, fui andando.
Comigo somente meu corpo.
Nem precisei de mochila.
Na mão só um litro de tequila.

Lento os dias foram passando,
Meu sorriso encurtando.
Nossos caminhos descruzando,
Eu de você sempre lembrando.

Se me vir neste universo
Num improvável desempate,
Estarei compondo versos
De uvas, beijos e chocolates.

Dieta


Despeço-me desta lida.
Tomo outros rumos.
Escrever já não me alegra.
Meus versos se esvaziaram.
Esqueço até de regras.
Já estou no mata piolhos,
Faltam-me dedos para alçar.
Sendo assim não vejo,
Razão para continuar.

Antes era fácil.
Eu espetava umas palavras,
Temperava com pedacinhos de sonhos,
Polvilhava com abundantes ilusões.
Pronto. Só degustar.

Agora não.
Palavras não me apetecem.
Temperos a vida já não contém,
Ilusões não fabricam mais.
Sonhos ficaram lá... Bem pra traz.

Entro numa dieta rigorosa.
Consumirei apenas aqueles olhos magros.
Mergulhados sobre os meus.
Sem os deliciosos beijos doces,
Sem os apertos gordos ofegantes.
Momentos pouco picantes,
Sem as cenas do romance.

Deixo a magreza poética me vencer,
Não farei forças para reagir,
Não vai fazer diferença.
Pra mim chega.
...Não quero mais escrever.
(Publicado na Antologia Poesias Encantadas V

Caneta


Deixas no papel estampas do meu pensamento,

Acaba-se dignamente em matemática e versos.

Tens alma viva em sentenças proferidas e registradas.

Na força extrema ainda dá fé,

E ao morrer num poema,

A tinta trêmula busca a reticência...

Esforço final pra dizer que

O show sempre vai ter sequência.

Chuva


Caminhos,
Cheios de gente.
Indo e vindo.

E o menino dormindo.
A mosca zunindo.
O cão latindo.

O redemoinho fazendo zoeira.
Você evitando a poeira.

O mato tremendo.
Janelas batendo.

...A nuvem rompeu.
Em
Pouco
Tempo
Muita
Chuva
Desceu.
Chuá
Chuá
Chuáááá...

Estradas


As estradas me encantam em qualquer lugar que eu ande.
Tem suas próprias características. Seu ruído. Nada se compara ao barulho das rodovias.
Carros que vão, vão... Carros que vem , vem...
Quantos sonhos passam nas suas faixas. Gente levando sonhos e trazendo lembranças. Trazendo sonhos e levando lembranças. Mudando e levando mudanças. Construindo a sua história e seus álbuns. Quantos amores, por elas, vão e vem. Casais amando em suas extensões. Pais buscando nelas, o sustento da família. Valores que transitam em proporções gigantescas. A alegria e a euforia da chegada, o abraço da acolhida, o adeus da partida.
Sempre alguém diz: vá com Deus.
E as paisagens. Quantas ficam registradas em nossa mente e lá permanecem para sempre.
As serras serpenteando morros e montanhas. Beleza indizível. A passagem sobre pontes, viadutos e ferrovias me dá uma sensação de romper barreiras quase intransponíveis da vida. A gastronomia, com seus cafés coloniais deliciosos. Os artesanatos e fruteiras. A água que desce entre matos refrescando o ar. O cheiro da natureza, nestes pontos, é tão próprio. Os longos trechos em subidas e descidas. E tem as buzinadas de advertências e de agradecimentos pela gentileza na ultrapassagem.
À noite, as luzes, dão aquele efeito de cidades móveis. Quer maior lindeza? Os trevos que, como à vida, nos deixam em dúvida sobre o caminho a seguir.
Os locais não conhecidos sempre desafiando nossa imaginação. A música rodando e a cabeça, em outras viagens. A frenagem dos caminhões que assustam e emocionam.
Eu sei que tem buracos, acidentes, assaltos, pardais e pedágios, mas, sinceramente, não vivo sem viagens.
Nem falo das curvas, pois estas me encantam como me encantam as mais belas mulheres que por elas transitam.

Fácil


Fácil
Amar é fácil. Qualquer um pode.
Mágico, no entanto, é receber amor.
Isso é pra poucos.

Píer


Deslizo nas contradições

De um píer falso

Sobre o olhar.

Tentações?

Pedaço de céu?

Alcançáveis?

Existência fatídicas

Imponderáveis

Brilhos sem vida.

Verdade


Sem verdades todo poema é triste,

O passar dos dias condena,

Nenhum poeta consciente resiste

Não é ator pra representar na cena.

Por isso a verdade foi decretada

Ninguém pode ficar indiferente,

Um só bloco de pessoas animadas

Contagiando toda a gente.

Pipocas, sorvetes, chocolates,

Pincéis na tinta formando aquarelas,

Poemas coloridos em verdadeiras artes

Belezas reais em todas as janelas.

Crianças transbordando pureza

Um só sorriso, uma só cidade,

Cenários humanos de profunda beleza

Verdadeiros poemas de solidariedade.

Fecha-se


Fecha-se noite.
Volte teus olhos para dentro de si.
Não quero ser visível.
A lua nos esqueceu.
Siga teu rumo
Eu seguirei o meu.

Folhas secas


Insisto na tecla desbotada,

Deslizo a deriva - Nem perdido nemdestinado.

Não importa onde estão as divisas

O que ficou pra trás já percorri,

Nem a luz da ilusão permitirá repetir.

Ao meu grito segue-se o insano silêncio,

Saliento, me sento, me ausento.

Mesmo de alma limpa falta a paz,

Enterro-me já em ossos e pelos.

Minha carne não é pra vermes

Se não tenho nobreza, tenho orgulho,

Sou superficial, mas também mergulho.

A eles ofereço minha indiferença

Que degustem - fartem-se iludidos –

De vocês eu ganharei - nada mais sei –

Cutucam-me as folhas secas

Envoltas à raiz que tropecei.

Gota


Uma
Gota
De azul
No amarelo
Esverdeou.
No vermelho
Roxeou.

De vermelho
No amarelo
Alaranjou.

Multicolorida
O arco íris
Pintou.

Gramado


Cidade de sonhos

De invernos gelados.

Gramado da luz natalina

Dos belos meninos e meninas

Do chocolate

E da neblina.

 

Gramado

Dos lagos

Dos cinemas

Dos vales e museus...

 

Gramado

Dos apaixonados

Da felicidade

Da gastronomia

E da hospitalidade.

Suco de maça


Aquela noite não quis sair. Preferiu ficar no aconchego da casa.
Na rua só fatos rotineiros, nuvens pesadas escondiam a lua, pela qual tinha grande atração.
Nos bares em frente a sua casa, os amigos riam e bebiam em mesas colocadas sobre as calçadas. Cenas absolutamente rotineiras. Na sua solidão fitava a rua pela janela de vidro e mantinha-se atento ao telefone celular. Como não surgia a tão desejada ligação resolveu fazer um suco. De maça. Se sua amada estivesse ali diria que era da fruta proibida. Sempre era assim. Esta insignificante lembrança deu-lhe certo alívio e conforto.
Gargalhou da própria sorte. Fechou os olhos e deixou rodar na memória os mais belos momentos que junto passaram.
A rememoração do perfume dela enchia a casa de certo cheiro de saudade. Mas o telefone permanecia mudo e aquilo o angustiava. E aquela voz que o faria feliz não era ouvida.
Só uma ligação e bastava.
Contudo o dia amanheceu. O telefone não tocou. Ficou aquela lacuna sem ser preenchida.
Na noite seguinte quando ela chegou e perguntou se havia esperado muito pela ligação, orgulhoso, mentiu que tinha dormido cedo.
Assim teve uma noite perfeita.
Dessas que valem por uma vida.

Cena


A noite colou folhas na árvore

Um riozinho límpido também fez,

A lua cheia não ficou fora dapaisagem,

Tudo perfeito e com grande nitidez.

Rabiscou um poema de amor

Decolou pensamentos sem limites

Sentiu-se livre para voar

Feito ave sem pressa de pousar.

Subitamente voltou para onde estava

Assim mesmo não desanimou.

Ainda que não fosse a vida quesonhava

Mantinha esperança pois nada desmoronou

Defumando versos


Tirou do violão, talvez a derradeira nota.
A voz não respondeu.
Mudo, apoiou o rosto no próprio instrumento.
O fogo ainda o aquecia.
A parede da alma amarelada.
O tudo de mãos dadas com o nada.
A fumaça aumentava
Preenchendo cada vazio da poesia da sua vida,
Defumando os versos, provocando tosse na rima.
O pensamento mal cavalgava lembranças
De um alfabeto extinto.
De súbito soprou a vela
Percebendo a complexidade escura do labirinto.
Apenas vestígios de carvão.
Nas cinzas, o destruído eterno.
Nada mais das chamas galopantes
Vistas pouco tempo antes.
De costas deitou-se no chão.
Cobriu o rosto com o próprio chapéu.
De qualquer forma não viria o céu.
Nos olhos apenas nuvens formando véus.

Saudade


Saudade é rastro em terras que não pisamos.

Superlativo


Ainda farei um verso nobre,

Que seja leve como a folhaoutonal,

E saboroso como as frutas doquintal.

Que atropele do caminho a escuridão.

Que seja rápido como raio quese fez.

Que não tema a morte,

E que se acomode nos braçosda vida e da paz.

Que seja superlativo como sonhosinfantis,

E real como a geleia é.

Que seja a estrada da busca

E o melhor ancoradouro dedestinos.

Que não tenha serventia senão puder ter,

Que não seja jardim nem rosasse não der pra ser,

Mas que contemple em cada um

O fascínio encantado de umnovo amanhecer.

Dê-me


Não me negue teu beijo.
Ainda que não seja o último
Dê-me agora.
Entenda minha vontade
Por favor, não demora.
Dê-me você neste momento,
O horizonte nos contempla.
Faremos tudo muito intenso.
Beijo amor e sentimento.
Tenho em você mais do que um par.
Mais do que o silêncio no olhar.
Dê-me, pois tenho e não nego,
Um jeito único de te amar.
Dê-me, não quero mais esperar.
Dê-me teu olhar.
Dê-me o sonho.
Dê-me a vida e aceite tudo o que tenho pra te dar.
Dê-me teu amor pra eu te amar.

Lado de fora.


Sentei-me do lado de fora de mim.
Ao relento.
Ali, pensativo... Olhei-me.
Olhei nos olhos da minha vida.
Nos seus cabelos brancos.
Como ela está envelhecida.
Também refleti nela.
Nada mais da criança que vi crescer.
Nada mais do menino com sorriso encantador.
Um restinho de sonho esquecido num cantinho.
Por uma fresta pude ver morto,
Um poema outrora tão lindo.
Que dó!
A antiga canção agora tinha uma nota só.
Não vi garotas nas paredes internas.
Não vi paisagens emolduradas.
No vaso, flores sem vida.
Um amarelado retrato partido.
Poeira densa sobre os vidros.
Pedaços de vida espalhados pelo chão.
Sem cordas, na mesa descansa o violão.
Mas algo ainda se movia,
O amor alegremente respirava.
Não morre o homem
Enquanto viver a ilusão.

Solidão e medo


Olhei a torre em meioà neve,

Eu estava só na cena.

O mar silenciado pelogelo.

Europa fria a me doer,

Meu mundocongelado...

Amedrontado,

Tudo em volta tãotriste,

Nada de banho dechuva,

Nada de ciúmes da tuaroupa,

Nada de arrancarsuspiros como na canção.

Só... Solidão e medo.

Lembranças...

Dos beijos

Do perfume,

Dos teus chiliques,

Das noites chiques.

Fondue, vinho,passeios...

Eu e você.

Excitante barulho dochuveiro,

Do show animado,deslizes gelados,

Sorrisosfotografados,

Carícias e olhosmolhados.

Tempos de amor,tempos de ser amado,

Tempos pelo própriotempo sepultado.

Teu jeito


Não foi por acaso
É que eu queria cantar
Me inspirar
Ancorado em tua sombra
Sem te citar.

Embalar o amor
Em letras de ternura
Gravando com doçura
Teu jeito de amar.

Toda


Toda ação, mesmo sentimental, é racional.
Não fosse assim seríamos iguais aos outros animais.

Egoísta


A poesia, no meu caso, é o gênero literário maisegoísta, pois serve a mim em detrimento domeu leitor.

Janela


A janelamostrava-me o mar.

E eu sentia amaresia,

Voar eu queria

Só arrisca quemsabe nadar.

Não nado,

Não tudo.

Neste meuminúsculo mundo,

A grandeza dooceano

É onde mergulho algunsplanos,

Pra nada, nem pranadar me serve o mar.

Não há


Bastava-me um motivo

E eu sorriria,

Mas não, não havia sorrisos

Muito menos motivos.

Nunca ninguém sorri

Nunca há motivos,

Tudo o que a vida dá

São penitências de fazer santos

E exigências de criar heróis.

Nem com milagres

Nem com promessas

Nem procure sorrisos

Onde nunca antes foi achado.

Pensamento


A verdade é que a gente está, de fato, onde o pensamento estiver.

Sem legados


Quando eu partir,
Serei pouco lembrado.
Se alguém perceber minha ida
Lembrará já conformado.

Não deixo nenhum legado,
Nem saudades arquivadas.
Deixo apenas um poema inacabado
E lembranças do passado.

Depois que a dor ao passar entrou,
Nunca. Nunca mais me alegrei.
Se a vela Deus assoprou.
É que ausente eternamente estarei.

Sol


Conte-me do sol prometido,

Disseste-me que ele ainda brilha,

Inquieto-me sem que o veja

A espera é castigo insano.

Vida de nuvens é vida que troveja,

Venha para mim sol que tanto amo.

Travesseiros


Num devaneio alvissareiro
Na cama coloquei dois travesseiros.
Quiçá amanhã um terá teu cheiro
Ou repousará ainda inteiro.

Sinfonia, bem baixinha, de Chopin.
Foco de luz no quadro de veleiros.
Pra lembra-te amanhã
Ou esquecer-te por inteiro.

Perfume pra deixar em você o meu cheiro,
Roupa de grife parecendo natural.
Peças pensadas no tabuleiro
E uma ansiedade sem igual.

Poderá ser um fato magistral
Ou afundar em ilusão.
Vejo-te deusa colossal
Imagino-te em extrema excitação.

Encanto-me ao vê-la se aproximar
Meu desejo haverá de se realizar.
Champanhe e taças pra brindar.
Um deslumbre! Ela acaba de entrar.

Brilho


Onde tem brilho
nasce uma vida
cresce a poesia
de versos e sabor.
Onde tem brilho
as mãos se entrelaçam
os olhares se cruzam
os sorrisos florescem.
Onde tem brilho
os passos são ritmados
a direção é conjugada
as pessoas são amadas.
Onde tem brilho
nasce uma flor.
o sol se controla
pra que vença o amor.

Quatro vidas


Um trevo de quatro vidas é sorte pra quem tem, mas só valemais de uma a vida que se vive bem.

Vãos


Pelos vãos dos seus dedos

Com maestria incontida

Passaram tantos segredos

Escapou tanto da vida.

Por eles vazaram poesias

Num galope ultra frenético

Incrédulo e imóvel você permitia

Contemplava com olhar poético.

Baderna


Sou uma pessoa bastante reservada, mas mesmoassim não amo a solidão dos mortos, antes a baderna espúrias dos vivos

Faça de sua vida. II


Faça de sua vida uma cereja.
Com um bolo de pano de fundo,
Em que a felicidade não seja
Contada em segundos.

Faça de sua vida um balão,
Suba, voe pelos ares.
E quando a terra retornares
Não prenda seus pés ao chão.

Faça de sua vida uma floricultura encantada.
Com vários perfumes e cores,
Rosas vermelhas para amada
E outras pra servir aos beija flores.

Faça de sua vida uma floresta,
Com notas de sabiá,
Com colibris a brincar,
Com ipês, borboletas e maracujás.

Com gotas de sereno denso,
E sol adentrando a mata
Com barulho de cachoeiras,
E murmúrios de cascatas.

Faça de sua vida uma estação.
Que tem retornos e partidas,
Que tem abraços e emoções.
Que tem chegadas e saídas.

Faça de sua vida um mar azul.
De ondas vibrantes,
De águas límpidas de norte a sul,
De navegadas emocionantes.

Faça de sua vida uma edificação.
De arquitetura ultra leve,
Lembre-se que tempo é em fração,
E que a passagem é bastante breve.

Faça de sua vida. III


Faça de sua vida um pequeno labirinto,
Com acessos e saídas fáceis.
Com bancos em sombras abundantes
Onde possas sentar-se e descansar o bastante.

Faça de sua vida um meditar,
Ore, sirva, agradeça e faça orações.
Evite a fanatismo
Por qualquer que seja a religião.

Faça de sua vida um romance narrável.
Uma novela com final feliz.
Um roteiro irrecusável
Um enredo de aprendiz.

Quando a vida fechar a cortina.
Não tem como recorrer.
É seu ciclo que termina.
Deixe a alma ainda mais linda
Para os últimos aplausos receber.

Madrugadas Verdes


Eram tempos ocultos,
Protegidos em codinomes
davam a noite um perfume exclusivo,
Cheiros sempre alusivos
momentos de se ler em livros.
Amigos, mulheres e homens.
Era um mundo de paz escondida,
de aluno virar professor,
de ruas desertas e gritos descompromissados,
de sonhos acordados,
de soldados alienados,
de desejos enfileirados,
de madrugadas verdes e silenciadas,
de serenatas até onde a voz alcançava,
de vilões com seus violões
De militares chegando feito assombração.
Um tempo em que se ria sem emoção.

Manuseio


Quando manuseio meu livro
Tenho a sensação que estou tocando
Meus próprios átrios e ventrículos.


Menina


Menina sarada
Varou a madrugada
Não foi conquistada
Amanheceu de pá virada.
Pensou que a vida não vale nada
Amou e não foi amada
Pelo destino foi goleada
A depressão a deixou desanimada
Gritou por socorro desesperada
Silenciou, não viu mais nada,
Como indigente foi sepultada.

Papéis picados


Hoje quero fazer uma poesia supostamente linda.
Como caminhar descalço a beira mar.
Como canção que não se fez ainda.
Como neve descendo ao luar.

Quero vê-la nascer de forma natural.
Como o calor dos corpos ao se amar.
Como um beijo de desejo matinal.
Como amantes ao se completar.

Quero festejá-la com papéis picados.
Com sorrisos estampado nos rostos.
Ver todos os protocolos quebrados.
Quero que todos tenham seus desejos expostos.

Quero abraçá-la em plena praça.
Gritar o amor para todos os lados.
Fazer-te agrados e te deixar sem graça.
Demonstrar amor muito exagerado.

Quando


Quando até a verdade apavora
consciente ou não o homem chora.
Mas quando a mentira se sobrepõe
não há verdade que consola.

Roupa amarrotada


Atrás de mim ficou aquela porta pesada,
Saindo assim até o destino me ignora.
A roupa completamente amarrotada.
Cabelo estabanado de quem vai embora.

Faltou o adeus,
Mas evitando não se chora.
Seria a despedida o pior momento
Pra quem vai mundo a fora?

É permitido sentir saudade
Independe se a alma chora.
É possível que eu pense em você
Ao menos em algumas horas.

Levo comigo a escova dental,
Não quero voltar jamais.
Jogue minhas juras no quintal.
Vou atracar em outro cais.

Soneto


Catorze versos me recebem com festa, numa alegria que poucas vezes vi.
Como é maravilhoso chegar ao poema e ser recebido assim.
Descobri que o soneto e dócil e que seus versos, apesar de carrancudos são muito amáveis.

Tem


Tem coisas nesta vida
Que é difícil de aceitar
Que triste ter um grande amor
Mas não poder amar.

Último poema


E uma súbita e inexplicável angústia me invade.
Tão cedo. Tão sem avisar.
Eu até sabia que um dia a poesia perderia a graça.
Torci tanto que não fosse já.
Morrem com vida meus versos, talvez a pior das mortes.
Antes estar sendo devorado por corvos
E provocando no ar um cheiro de carniça
A ficar “morfinando” a falta de inspiração.
Acreditei no sonho que talvez só eu sonhasse
Sem que o talento soubesse.
Dei-me por completo ao poema.
Dei-me em todas as letras do alfabeto.
Pensei cobrir-me de tudo,
Mas fiquei completamente descoberto,
Esquecido, escondido, cego, surdo, mudo e quieto.
Permita-me Deus, ao menos,
Escrever o epitáfio para meu último teto.
“Pensou saber, mas morreu analfabeto”

Velhos arquivos


Escuto um poema falado,

mergulho em mim extasiado

tão recente... Tão passado.

Ao fundo uma música conhecida

que balança a sensibilidade

já abalada nesta idade.

Procuro em velhos arquivos

minha poesia mais linda,

tempos que me sentia poeta,

acho que eu nem tinha nascido ainda.

O mundo pra mim passou,

hoje sou papel amarelado

de um poema obsoletoe mal acabado.

Amor e só


Simplesmente ame.
Sem justificar.
Amar é que vai te iluminar.

Que sentir pode ir além?

Amar faz luz brilhar,
E sino badalar.

Traz graça no que se faz,
E a certeza de alegrar mais.

Faz musicar os ruídos,
Revelar desejos escondidos.

Faz do quietinho cantor,
E do analfabeto escritor.

Faz sensível o durão,
E dá um basta pra solidão.

Faz rosas mais coloridas,
E dá outro sabor pra vida.

Ame sem saber por que.
Um amor sem entender
Nunca vai desaparecer.

Ciclo


Nasci com a alma distraída...

Inocente.

Cresci me concentrando um pouco a cada dia

Mostrei-me já adulto

Num espelho distraído.

Hoje ele me mostra envelhecido

Como a lembrar-me que já

Vivi o que podia ter vivido.

Relaxo novamente,

É natural...

Não se fica pra semente.

Em mim


Em mim morrerão os amigos,

Os encantos da juventude

As tardes adultas de matinê

As nadadas nos açudes

As noites de chaminé.

Em mim morrerão os dias

Que antes eu nem percebia

Que poderiam falecer.

Em mim morrerão os que amo

Olhos que brilharam nos meus

A voz feminina da saudade

Os que de mim nasceram

Na plenitude da idade.

Em mim morrerá a lua

O mar azul de encantar

A inspiração não mais brotará.

E a poesia silenciará.

Em mim morrerá a rima

Os versos brancos das composições

De mim morrerá a poesia

E as mais lindas canções.

Em mim morrerá, enfim

O que sempre me cercou

Todos meus versos de amor

De um coração que me matou.

Eterno


Se o céu me for dado

Minha alma

Apreciará do alto,

Sem castiçais dourado,

Mistérios vivos

De algum vale encantado.

Iluminar


O dia só existe para iluminar os segredos noturnos.

Mais


A vida sempre quer mais.
Mesmo sem sufixos
sem versos completos,
ainda assim a vida quer mais.

Ainda que algumas páginas fiquem machucadas
enlameadas, quase irreconhecíveis,
com grande esforço se recompõem do jeito que dá,
pois entendem, a vida quer mais.

Tentativa


Na minha tentativa de ser poeta dei-me conta que sou apenas o subentendido da metáfora.

Madrugada


Passou pela meia noite,

duas meias noites

que semeias,

meias luas

luas e meias.

Pensamentos

fazem zunir as orelhas em

noites de contar ovelhas.

Enquanto o sereno

repousa sua leveza nas telhas.

Menino


Se a vida, menino, não tivesse passado,
Que outro caminho terias desbravado?

Profecia Escatológica


2012. Dezembro.
Luzes no ar.
Luneta, binóculos,
Cometa?
OVNI?
Juízo final?
Fim do mundo?
Não. Vaga-lumes a voar.

Sem


Sem surpresa!
A vida também age
Em legítima defesa.

Minha poesia


Minha poesia é nada do que sou,

é noite desgostosa de bebedeiras

é escrita em lugares que não vou

é delírio inocente antes da saideira.


Minha poesia mergulha no seco

ardente como pés no chão quente

sombreada com a ausência sentida

é vazio que ainda assim me dá vida.


Minha poesia intimista é chata,

penso que poucos a admiram,

minha inspiração pode ser ingrata,

mas ainda assim é por ela que respiro.

Pela vida


Era uma tarde florida,

Leve, alegre... Mágica

Sai a caminhar pela vida

Tempo para a água ferver.

Tempo para o pão crescer.

Perfeição


A perfeição pode estar nosorriso,

na mudança que sofremos

na mesmice de não mudar.

Pode estar no risco vazio degiz na calçada,

no grito ecoando no nada,

no vazio da alma nãolavada.

levada pela estrada vazia,

da ânsia ou da agonia.

Talvez nunca seráencontrada

Pois é sinônimo de utopia.

Sem metáforas


Feito menino atrás da bola.
Feito caderno indo à escola.
Feito pipoca pulando na panela.
Feito príncipe na busca da Cinderela.

Toco na pele cheirosa e macia
Da mais inspirada e sensível poesia.
E do verso balançado pela ventania,
Brota sorrindo o mais belo cacho de alegria.

Sigo no sinal verde da vida.
Escrevo uma frase para nunca ser lida.
Bate a angústia intrometida,
Soa o sinal, é hora da despedida.

Atrás da orelha


Feito aranha vou nesta teia.
Tonto quase a sucumbir.
Pena que a solidão pega na veia.
Não adianta a pulga atrás da orelha
Sinto e pronto. Não vou mentir.

Remédio nem procuro
Seria perda de tempo,
As coisas que não tem cura
Melhor aceitá-las em silêncio.

como vai você?


Madrugada lenta,
Onde escondeste o dia que não chega?
Morto neste colchão,
Abraço o silêncio e a solidão.

Atrasado chega o dia, bocejante,
E pede que me levante.
O hotel se torna borbulhante.
Já sei que a rotina será maçante.
Sem escolhas vou adiante.

Bom dia. Como vai?
Olá. Tudo bem?

As pessoas bem dormidas,
Não sabem da minha vida.
Das esquinas descabidas.
Das péssimas investidas.

À tarde os importunos se multiplicam,
Ficam ainda mais pedantes.
Sem escolhas vou adiante.
Tentando não parecer arrogante.

Boa tarde. Como vai?
Olá. Tudo bem?

A noite outra vez me escolta,
Sábia e cheia de contra indicações.
Sigo cabisbaixo conduzindo minha revolta.
Ainda encontro uma multidão
Chata e sem emoção.

Boa noite. Como vai?
Olá. Tudo bem?

Em fim fico só comigo,
Empalideço a fisionomia.
Deito em meu jazido.
Meu corpo parece
Embalsamado pra aula de anatomia.

Entre paredes melancólicas deste mausoléu.
Refaço minhas angústias.
Minha consciência atrevida,
Pra infernizar ainda mais minha vida,
Pergunta destemida:

Olá. Tudo bem?
Como vai tua vida?

Sorriso


Não precisa escolher.
Se não for o amarelo
Qualquer sorriso fica bem em você.

Amantes


O poema pronto precisou de muitos rascunhos,

Quem o lê nem sempre imagina,

As noites de luz acessa e as xícaras de café sobre a mesa.

Quanto se fez e desfez por uma frase,

Por um verso interessante.

Mais do que vício

Poesia é para amantes.

Ciclo


Nasci com a alma distraída...

Inocente.

Cresci me concentrando um pouco a cada dia

Mostrei-me já adulto

Num espelho distraído.

Hoje ele me mostra envelhecido

Como a lembrar-me que eu já

Vivi o que podia ter vivido.

Relaxo novamente,

É natural...

Não se fica pra semente.

Dicionário


Bom seria o dicionário rever
Pois pra mim
Amar
Vem depois de
Você.

DOIS VERSOS II


Que eu não submeta meus poemas ao abandono.
Que não me falte vontade de escrever.
Que minha inspiração nunca me traía.
Pois meu primeiro verso é minha vida
E o segundo... Motivo que me faz respirara ainda.

Que nunca uma música de despedida
Faça-me deixar de querer amar.
Que a angústia que sinto no ar
Não queira em mim se instalar.
Pois meu primeiro verso fala de amor
E o segundo... Ratifica o anterior.

Não quero dar normalidade à solidão.
Nem viver sem fé.
Que a ganância não me faça
Perder a poesia e nem
Deixar de amar um irmão.
Pois meu primeiro versos é oração
E o segundo... Louvor e devoção.

Que eu nunca procure sombras do que fui.
Que pedaços meus não fiquem pelos caminhos.
Que eu sempre tenha a quem dar o mais nobre de mim,
Pois meu primeiro verso é carinho
E o segundo... Transpira humildade.

Que a velhice me faça entender,
Tantas coisas que não tive na vida.
Que o espírito acalme-me a alma
Pois meu primeiro verso padece
E o segundo... Tem tom de despedida.

Que a vida me falte quando Deus quiser,
Que seja imortalizado o sonho realizado
Que voe livre e sem compromisso
A mágica ternura da mulher.
Pois meu primeiro versos é afago
E o segundo... Tudo que amei e fui amado.

Que o sorriso não me fuja dos lábios.
Que a saudade e as lembranças
Não deprimam meu silêncio.
Pois meu primeiro verso é o minúsculo que falo.
E o segundo... Universaliza o bastante que penso.

Nota


Uma nota,
Um tom acima.
Um Si. Sustenido.
Canção suave ao ouvido.
Um instrumento desafinado.
Deixou a música de lado.
Taças vazias. Agonia!
Gritante ânsia.
Distância de drinques.
Noites de velhice.
Notícias tristes.
A vida não mais existe.

Paz, harmonia e paixão


Ternura incontida
Querendo abraçar
Sem nenhum alvo
Sem nenhuma razão.

Deleitável é a vida
Tamanha é a gratidão
Transborda a alma
Ritmo melódico
Paz, harmonia e paixão.

Criminal


Se maduro ou imaturo
Se te faz santificar ou pecar,
Ainda assim eleva-te e te sinta seguro.
Em nenhuma circunstância se permita errar.

Se o amor um dia nos matar,
Ele é que vai ficar mal.
Poucos irão tolerar.
Ele é que será criminal.

Suspenda o que te faz impuro.
Abrace, beije se entregue.
Não adianta socar o muro.
Só com o ódio pegue leve.

A mente que te movimenta
Controla-te sem cessar
Não leve tudo tão a sério, não esquenta,
Só não deixe, de aos outros, amar.

Dedico


Não dedico meus versos a você que aprecia poesias, pois certamente tens a grandiosidade do amor.
Dedico sim
Ao ego dos que não amam.
Por pena.

Não brilham


Escolho palavras duras,

Granitos

Valiosos

Diamantes vermelhos.

As mais certas

Não evito

Glórias falsas

Não brilham.

Ouse


Ouse.
Proíba-se.
Mas cuidado.
Ás esta ação saboriza o pecado.

Porteiro


Prefiro pessoas que tem o mesmo sorriso na frente ou atrás das câmeras.
Que sentam comigo na mesa mesmo sabendo que não tenho como pagar.
Que mesmo preferindo a areia não me impeçam de entrar no mar.
Gente que estende e aperta a mão com vontade.
Que tem brilho nos olhos e na alma e, ainda assim, vive sem ostentar.
Que se ajusta ao ambiente sem mudar o humor.
Que abraça o porteiro, o manobrista e o mensageiro com a mesma intensidade com que abraça o doutor.
Gente que tem a senha dos sentimentos tatuada nas suas ações.
Que são inteiras em qualquer situação.
Gente iluminada que quer te ver feliz de verdade.
Pessoas querida que valorizem a simplicidade da vida.
Que levam e te dão um pouco de vida.

Sombras


As nossas andam separadas.
Em outros tempos eram vistas de mãos dadas.
Eram enormes ao final do dia,
Agora já não são mais nada.

A companhia boa é aquela que não se precisa.
Tu eras a sombra que a mim encantava.
A minha hoje, anda sem camisa.
A tua era a proteção onde eu me sentava.

Talvez sejam vistas
De outras acompanhadas.
Não uma,
Mas duas imagens sombreadas.

Estranho meu


Sou ativista do inativo.
Vibro com meus sonhos não vividos.
Emociono-me com o que não tenho sentido.
Lembro-me de quem nunca foi esquecido.
Sou o belo que não se viu,
Juventude que jamais envelheceu,
Vida de quem nunca viveu.
Morte de quem sequer nasceu.
Não me conheço, sou o estranho meu,
Fé e crença de ateu.
Prazer em não me conhecer.
Prazer em não me rever.
Minha vida nunca me pertenceu.

Futuro


Futuro é o presente que ainda não foi iluminado.


O tempo...


É sábio respeitá-lo.

Sigamos,

Domando as horas

Com olhos no coração.

Ruído


Ao ouvir o ruído lacrimoso
Da desalegre chuva que chora
Senti-me beijado por todo o lodo
Da angústia que me invade agora.

Não sei como explico,
Só pra mim isso importa,
Neste momento solitário fico
E a chuva traz-me a vida morta.

Cada pingo é uma lágrima,
Cada lágrima uma lembrança,
Há, pudera outra vez criança.

Dois II


Que todo voo seja tranquilo e sem limitações.
Que nenhum vento possa fechar o portão.
Pois meu primeiro verso é feito de imaginações,
E o segundo... Um coquetel de bons corações.

Eu sei, mas não gostaria


Sei que quando nos afastarmos
Voltarei ao ostracismo malfadado.
A ele serei relegado.
Não tem como ser presente
Se o alimento é só do passado.

Eu sei que etapas terminam.
Que gelo derrete-se em água,
Que as flores efêmeras duram só um dia.
Que amores mal acabados viram agonias.

Eu sei que se for falso não brilha.
Que azurita nem sempre trará alegria.
Que nenhum ser humano é uma ilha.
Que o sonho é irmão da fantasia.

Ao começar eu não queria
Que fosse finito um dia.
Contudo prevalece o que é real
E não o que eu gostaria.

Mescla


Em suaves devaneios autorais

transformei meu sujeito em composto

misturei consoantes e vogais

só para descrever a beleza do teu rosto.

Natural


Haviam matos, rios e morros,
Ao natural oferecendo sua beleza,
Mas não foi escutado o pedido de socorro
E foi assim, modificada a natureza.

Haviam frutas, hortaliças e cereais
Oferecendo-se puros para a mesa
Envenenados por produtos industriais
Alterou-se o natural da natureza.

Havia o ar saudável para respirar
Oxigenando de todos - à vida,
Destruiu-se pulmões verdes ao desmatar
Desequilíbrios de uma raça suicida.

Apesar dos sinais, prevalece a prepotência,
E o homem finge não saber,
Que no futuro a maior de todas as carências
Será a água potável para beber.

(poema vencedor do Apogeu poético AVL, agosto 2016 - Tema Natureza - modalidade Moderno)

Tenho


Tenho em mim cada traço dos sorrisos
Que provei nos lábios teus.

Coroada


Tenho em mim cada gosto

Que quiçá, provarei nos lábios teus

A meiguice dócil do teu rosto

Trazendo saudade antes do adeus.

Desejarei poetar teus olhos brilhantes,

As covinhas das tuas bochechas ocas,

Descrever tua beleza cintilante,

Preso no fascínio da tua boca.

Numa poesia meio mágica e inconsequente,

Tirarei dos versos a rima reprimida

Colocarei no mesmo verso inocente

Em ordem invertida, eu, você e a vida.

Ilha


A ilha se movia

Alcança-la eu queria,

mas o navio se moveu

e minha fantasia desapareceu.

Afoguei-me no cais

Alto mar nunca mais.

Medo


Tenho medo de não ver o sol

Quando entrar a primavera,

De não sentir o cheiro das flores,

Mesmo sabendo que elas estarão belas.

Tenho medo de não acordar

Quando o dia começar a clarear.

Tenho medo de ficar preso no trânsito

E perder meu voo.

Tenho tantos medos encravados

Como daninhas em minha mente e

Alastrados ao meu coração.

Medos


Na velha casa de madeira

O quarto ao lado do meu

Um mostro escolheu para morar.

À noite, destemido, ele subia no foro

E fazia a madeira estalar.

A lua espiava os meus medos pelas frestas

- Que vergonha!

Ao longe, uivava algum bicho noturno,

Desconfio que em meio as palhas do colchão

Morava outro, mais barulhento, mais enfadonho.

Hoje a casa é adulta

Do menino já nem sei,

Mas os medos?

Deles nunca me livrarei.

Mulheres


Mulheres se trocando na janela.
Que encanto tinham elas,
Hoje não mais. Até na rua
Vê-se partes íntimas de algumas delas.

Pandorgas de Deus


Furou-se a bola do destino.
Calaram-se Luigi e Mário.
Aterrissou-se a pandorga em desatino.
Ficaram no quarto os monstros temerários.

O vidro ficou inteiro,
A porta não mais se abriu,
Dias tristes e sem travessuras
Depois que o menino partiu.

A grama dominou os caminhos.
Enferrujou a gaiola,
O vento soprou sozinho,
Sobrou uma mesa na escola.

O sabão não fez mais bolhas,
A tristeza fez a vida em pedaços.
Do coração caíram todas as folhas.
Faltam na alma os infantis beijos e abraços.

Sou fã


Sou fã de foto sem edição,

De frutas sem polimento,

De pedras brutas.

Sou fã de pessoas de cara limpa

E alma transparente

Que não aparentem o que não são.

Sou fã de um mundo mais autêntico

Do olho no olho

Do contato real,

Sou fã de gente

Que não deixa o orgulho e

A soberba consumir a

Própria humildade.

Vazio


Andando sem destino,
Pela rua a vagar.
Sentindo os raios da noite
Começando a declinar.

Correndo passa um menino,
Sorridente a passear,
Tentando encontrar a menina
Que o fez apaixonar.

Eu ando... Sem rumo.
Nem sei onde quero chegar.
Mais feliz é o menino
Que tem a quem buscar.

Dois verso (v)


Meu primeiro verso sonha com a liberdade

O segundo dela sente saudade.

Meu primeiro verso é lápis que tudo escreve

O segundo e borracha, mas pega leve.

Meu primeiro verso eterno conservador

O segundo um declarado abrasador.

Meu primeiro verso é chuva fria

O segundo desenha o sol em poesia.

Meu primeiro verso é carrancudo

O segundo acaricia o mundo.

Sempre um verso é meu primeiro

Nunca outro verso é meu segundo.

Ternura


Aos poucos vou percebendo que o mundo, a cada dia, distancia-se de mim.
Eu que sou meio a moda antiga. Não badalo adereços. Abro mão de usar brincos. Não acho graça nenhuma em piercing. Não penso em fazer nenhuma tatuagem.
Não falo: “tipo assim,” e nem uso outras gírias da moda. Não mostro as cuecas ao me vestir.
Não dirijo bêbado, não brigo em festas ou baladas, pra quem prefere assim.
Eu que beijo o rosto dos meus filhos homens, que abraço meus amigos. Que ainda cumprimento as pessoas na rua, me preocupo e gosto delas. Eu que valorizo mais o ser humano em detrimento de outros valores.
Escrevo louco com “uc” e não com “k”. Costumo pedir licença para entrar e dizer obrigado pelas gentilezas e favores.
Ouço músicas antigas pra por a saudade em dia.
Vejo fotos três por quatro de pessoas que, de alguma forma, passaram pela minha vida. Na memória e em meus álbuns, já amarelados, guardo vastas lembranças.
Eu que brigo com esta máquina chamada computador.
Estranho falar com este interlocutor sem reações, sem rosto, sem gestos, sem sorriso, sem cara fechada. Todas as fotos de redes sociais são de pessoas sorridentes.
Sinto uma ânsia de mostrar ternura, de olhar nos olhos, de ver o semblante das pessoas, de ficar mais doce e agradável com a conversação. De demonstrar simpatia. Mas me adapto e gosto de novidades.
Eu que tenho esta alma dominada e doentia em devaneios.
Que romantizo as relações. Vejo presságios de amor em todas as direções. Eu que costumo pedir perdão quando erro. Admito sentir saudades, pergunto se queres contar seus problemas. Eu que quero saber onde está seu sorriso e, se preciso, faço palhaçada para que ele volte ao seu rosto.
Vou à igreja, creio em Deus.
Amo a natureza e convivo bem com animais.
Mesmo assim, relaciono-me bem com diferentes gerações, com iguais e com desiguais, pois não é isso que uso como parâmetro para gostar de alguém.
Não furo filas. Não quero vantagens pessoais.
Fico fascinado com um sorriso sincero de uma criança. Emociono-me com aquele “abracinho” infantil tão terno e verdadeiro. Adoro escutar pessoas mais velhas e aprender com suas experiências de vida.
Eu que envelheci junto com este mundo que, hoje parece não ser o mesmo.
Quanta pressa. Quanta falta de educação no trânsito. Quanto desamor. Em fim, quanta dureza nos corações humanos.
No fundo, no fundo acho que se manteve o mundo eu é que amoleci.

Trechos da vida


Dorme a tarde enferma e calada.
Impiedosa a chuva debocha.
Bate no vidro sem nenhuma graça.
Solitária a alameda deixou ser tomada pelas águas.
Sem o fascínio do sol estampado
Meu semblante enrijece desmedido.
O caminho encharcado me inibe,
Tropeço no lodo criado.
Cair nunca é esperado,
Em pé supera-se a quem está sentado.
Mas as resvaladas que não se acredita
Estatelam no chão uma intenção bonita.
A roupa enlameada até entristece,
Mas não compromete o aclive do ser.
Cada escorregada faz deslizar
A vontade de tudo superar.
Melodias cantadas animam a subida,
Nesta avenida íngreme e sangrenta.
É preciso ser forte para fazer o percurso
Dos trechos enlameados da vida.

Um minuto de angústia


Nestes dias em que a chuva teimosa umedece a rua, fico a observar as pessoas correndo, lamentando os pés e a roupa molhada, o atraso, a possível gripe.
O céu parece enraivecido, todo coberto e fantasiado de negro. Aqui debaixo o fitamos no desejo de ver o sol, todo poderoso, penetrar nele, rasgando a máscara e alegrando os seres terrenos.
Neste vago cotidiano, onde nós, frágeis humanos buscamos dia após dia, um lar, uma casa para morar, e ver na vidraça as gotas caindo e ficar ao redor do fogo aquecendo e alimentando a esperança, qualquer que seja, contida em nosso interior.
Mas quando a água é demasiada, chega até nós um medo, um pavor, uma insegurança e, em nossos assombros vimos muros caindo, casas desabando, pessoas fugindo de barco, outras morrendo afogadas.
É tempo de cheias, de barro bastante, mas até mesmo nestas épocas há muitas pessoas completamente vazias. É bom, mesmo assim, sentir a emoção de ver uma criança pisar descalça no atolador da estrada, ver o velho evitar a rua. É agradável fechar a porta quando a noite chega e adormecer, ouvindo o ruído lacrimoso das goteiras. Há os que nem dormem preferem acalentar noite á dentro, um sonho qualquer, mas que, necessariamente não se pode dormir. Seria ótimo ter certeza que, com chuva ou sol, o dia seguinte fosse de igualdade, de justiça e de realizações.
Neste dia chuvoso me deparo acidentalmente com uma cena angustiante.
Eu ia para casa, de certa forma, realizado, porque chovia. Na calçada, vi em minha frente, um corpo adormecido, exalando um cheiro forte de álcool. Pensei no conforto, na alimentação, naquela sensação gostosa que sentimos quando acordamos de madrugada com frio e reforçamos as cobertas. Pensei que ele era gente que vivia como bicho, lembrei-me dos muitos animais, por nós alimentados e cuidados com tanto zelo, enquanto nas calçadas fétida seres humanos são pisoteados e servem de alvos para gozações.
Naquele instante tive um ímpeto de pena, mas fui incapaz de fazer algo, me faltaram gestos e até as palavras.
À noite sonhei que junto à chuva havia uma suave melodia e todos compreendiam que os homens sobrevivem a tudo, exceto a solidão das noites e a consequente falta de afeto. No outro dia tudo continuou igual. Mas de sonhar ninguém por mais influente que seja, irá me proibir.

Descompasso


Olhos brilhantes na beleza do mar.
Descalços pés de amantes apaixonados.
Esperanças no horizonte a se renovar.
Infantilmente mariscando desejos guardados.

Um carinho sentindo a brisa.
Mesmo pisando na água fria.
É desejo que se realiza.
É sonho de alegria.

À noite nos incandesce
De um salutar querer,
Em silêncio peço a Deus em prece
Pra nunca sem você amanhecer.

Vendo-te acordar pensei com esmero
Naquele momento o que eu mais queria,
Ouvir um eu te amo sincero
Junto com teu beijo de bom dia.

A emoção não te convence
Isso da tua boca não sai,
Calo num abraço comovente
Enquanto uma lágrima sorrateira cai.

Mesmo que em palavras sonegas
Escuto teu coração palpitar.
No descompasso, sem querer entregas,
A tua vontade de também me amar.

Partida


Preciso ir. Já escureceu.

Papai deve estar preocupado e

Mamãe angustiada.

Agora que tudo se inverteu

Tem noites que acordado

Sinto que a vida e danada

Sem eles, quem não dorme soueu.

Vem... Vamos


Chamou seu cachorro meio incrédulo da vida. Ao ajoelhar-se para acaricia-lo, sentiu o desconforto da cintura maior.
Queria outros ventos. Buscava uma vida sem rodeios e pessoas sem “nove horas”.
Estava farto de lirismo comedido, tanto quanto Bandeira.
E ao rasgar a foto em que usava gravata, talvez buscasse repetir Getúlio e entrar para a história ou, no fundo, no fundo mesmo, desejasse ser o Policarpo.
Contudo trocou de roupa.
Lustrou os sapatos. Abriu a geladeira, devorou meia fatia de melancia rapidamente.
Segurou com a mão direita o blusão no ombro esquerdo.
Uma última olhada no espelho.
- Outra pessoa, concluiu.
Nem percebeu a marcas de patas no jeans.
Fechou a porta deixando a luz da sala ligada.
Não voltaria para apagá-la.
Com pequenos assovios chamou Serelepe:
- Vem... Vamos...

Capítulo


Talvez o mais complexo seja o último capítulo.
Por isso tem-se tanta cautela antes de publicá-lo.
Mas chega o momento em que é preciso concluir o livro da vida. Assim se sabe até que página tua história suportou

Em


Em caminhos duvidosos,
Prossigo em legítima certeza.

Não sabe de amor


Não sabe de amor, exceto sevocê já...

Ficou acordado a noite todaesperando um filho voltar da festa...

Adiou ou desistiu de umprojeto pessoal para dar atenção aos seus pais, tios ou irmãos...

Sentiu a angústia intrínsecaao ouvir as histórias de um idoso, e ainda assim aprendeu com elas...

Chorou com o abandono e atristeza de uma criança que nem conhecia e deixou de almoçar para alimentá-la...

Convenceu a família a deixarum cão de rua na sua casa por uns tempos... Tempo infinito.

Foi a um show sem a menorvontade apenas para ser parceiro...

Admitiu meio encabulado quese emocionou com o carinho de um amigo num dia em que estava de mal com omundo...

Duvidou de Deus, mas nuncadeixou de acreditar Nele e temê-lo...

Apanhou uma rosa de e acabounão entregando a quem pretendia...

Escreveu e reescreveu mais dedez vezes um poema que nunca mostrou...

Ouviu músicas românticas paraprovar e provocar lembranças...

Sentiu saudade...

Sentiu saudades...

E sentiu mais saudades aindade tudo o que viveu, pois viver é construir a própria história, orgulhar-sedela e relembrar sorrindo quando as recordações povoam a mente.

Não sabe de amor...

Exceto se destinou algumtempo para vivê-lo.

Plenilúnio


A lua adormecia

Solitária, bela,

Inspiradora.

Admiro-a,

Sem nada dizer.

Não posso toca-la,

Embora um duto

Liga-me a seu coração.

Mágico sonho

Ela me ouve

E me chama.

Quero abraça-la,

Mas o cheiro de café

Chama o novo dia.

Poesiaria


Tristes são as poesias de rua.
Falta-lhes a básico:
Rimas
Versos
Palavras.

Me comovo...
Todas elas deveriam morar
Num livro lindo,
Confortável
De capa bem elaborada,
Aconchegante.

Contudo poucas condiçoes literárias disponho.
Louvo cada poeta e seu esforço para adotá-las.
Tenho um sonho utópico, louco, desastrado
De construir uma poesiaria
E hospedá-las confortavelmente.

Pois a poesia sonhada
Estará sempre bem instalada.

Sem sentido


Adi Vinhar:
Ato de adicionar ao vinho o sabor leve e marcante dos amantes. Refere-se ainda ao ato de adivinhar por mero acaso ou suposição que vinho, lareira e amor tem sabor de sedução.
(“Sem sentido”)

Vi


Vi ainda ontem

Uma flor balançando

Com o vento suave

Levemente lhe tocando.

Vidraça


Estraçalhado.
É tempo de vidraça.
Felizmente o tempo passa...

Laço



Um laço no buquê de rosas

Entrego pra que possas desatar

Puxando certo vira amor

Puxando errado vai enozar.

E o laço quando ata

Ninguém mais desfaz o nó

Morrem as flores sufocadas

E as pétalas viram pó.

Neste caso as demais rosas

Choram meio desesperadas

Do jardineiro elas fogem

Para não morrerem amarradas.

Bem-vindo sexta feira


O cansaço começa a palpitar
Depois de uma semana corredeira.
Vejo as pessoas comemorar:
Bem vindo seja, sexta-feira.

Este dia é especial,
Aumenta a ansiedade
É sempre um dia magistral
Pra comemorar as amizades.

Tem encontros pra diversão,
Tem mesas lotadas no bar.
Tem balançar do coração
Tem histórias pra contar.

Uma vontade enorme de ficar
De não ver a festa findar.
De esquecer-se de lembrar
Que o dia já vai clarear.

Escrevinhar


EscreVinhar: Verbo transmissivo de lirismo direto. Grafar com vinho os desejos de sonhar, beber e amar.

Horas paradas


Não é falta de vontade
Se as horas estão paradas.
Isso se chama saudade
De cenas na mente conservadas.

Esta música que te põe em agonia,
Não foi feita pra te fazer sofrer.
É pra trazer alegria
E irrigar um bem querer.

Vista de vez a vontade de ficar,
Umedeça este jardim em flor.
Teu corpo pede pra deitar.
Permaneça morando neste amor.

Ondulante


O vento que nos permeia

Balança as águas

Ondula as areias.

Desafiante entra pelas janelas

Sacode as cortinas

Bate nas telhas.

Apaga-me a voz

Grita-me zunindo levemente

Esvoaça grisalho a cabeleira.

Vá ser feliz,

Por favor, vá-se embora

Vai ventar lá fora.

Sou eu


Sou eu cansado
Vagando no eterno.
Expondo o interno.
O avesso.
A paixão.

Tira de mim
O que já está fora
O que extravasa,
Esta brasa.
A paixão.

Tira de mim
Esta dor
Estreita.
Que extravasa.
O avesso.
Esta brasa.
A paixão.

Vizinha


A morte é a vizinha que desde que te viu nascer
E nunca mais deixou de te desejar.

Escuro


A noite ocultou as ondas,

Sem silenciar meus ouvidos.

Doce embalos de ninar,

Doces ondas de amar.

Desenhei o paraíso

E nele me deitei,

Ouço a canção de sonhar,

Adormeço ouvindo o mar.

Muitos


Muitos amores deixarão de existir antes do amanhecer.
Alguns na tradicional versão da sarjeta,
Outros como na tragédia encantadoramente brega de Titanic.
Contudo o sol trará a certeza de que uma nova história poderá ser criada.
Talvez prática e breve ou romântica a ponto de ser eternizada.
Seja como for, o final não se pode definir ao começar.
Que seja um feliz começo e o final o reflexo dos seus desejos.

Não espere


Não espere que eu escreva poesias complexas. Não é meu estilo. Minha marca é a simplicidade. Escrevo para ser entendido por todos e até porque meus conhecimentos são limitados. Quando alguém não entende o poema penso que acaba sepultando a poesia e até o poeta. E eu quero viver e se possível abraçado à poesia até o último segundo do derradeiro dia.

O SEQUESTRO


Após o sequestro fui roubado.
Levaram-me a vontade de escrever.
As rimas.
Os versos.
O poema da poesia.

Dureza foi ver a inspiração
Sendo carregada sem dó.
Eu que a preservava tanto.
Mas eles, pra meu espanto.
Consumiram-lhe em uma vez só.

Meu último poema
Foi arrastado ainda inconcluso.
Puxaram-no pela perna.
Ainda estava tão frágil,
Tinha versos pela metade.

Sem título definitivo.
Não entendo tal maldade.
Um bebê em gestação.
Rodando pela cidade.
Que ato de crueldade!

Não existia motivo.
A maior atrocidade.
Nunca saberei a razão.
Despi-me de vaidades
Pra fazer o pedido de prisão.

Por favor, prendam estes bandidos.
Eles foram muito ousados.
Levaram um poema inacabado.
E mantiveram o poeta silenciado.

Pensando por outro lado,
Talvez nem sejam tão culpados.
Eu tenho sido descuidado,
Ando muito distraído
Melhor perdoar estes indivíduos.

Olhos machucados


Vi que olhos arregalados me fitavam.
Deles demandava uma frieza nunca vista.
Fixei meu olhar por um instante,
Vi que estavam distantes.

Olhavam-me ao léu.
Olhar triste de partida.
Portas opacas do inferno.
Em nada lembravam o céu.

Olhos malvados.
Machucados.
Desesperados.
Olhos apaixonados?

Olhos d’água.
Com olhar de águia.
Olhos com água.
Com olhar de mágoa.

Um olhar de tantos olhos,
De histórias não contadas.
Tristes olhos sem brilho
Na despedida brotaram em lágrimas.

Tango


Suave e leve como o pouso da borboleta
a brisa cobriu a vida,
embaçando o vidro cristalino.

Pela fresta da janela
o vento vira a página do livro aberto.

Cheiro de flor penetra minhas narinas.
Alguma deve existir por perto
além do ipê florido que desapareceu.

Ao longe um latido
acompanha a imaginação
romper o véu e sumir.

Ancorado sou escondido
pela minha respiração
esbaforida na vidraça.
Dia agourento
pesado e cinzento
passando...
Se tivesse trilha sonora
seria melancólica e triste...
Triste como tango.

TEMPO


O tempo que tenho,
Fui juntando aos pouquinhos
Quando ganhava guardava.
Já vinha meio desatualizado.

Ou então quando o encontrava abandonado.

Aliás,

Como existe tempo perdido.

De forma que
Posso dizer:
Meu tempo é assim...
Meio reciclado.

Vulto


Chegou de madrugada,

Leve.

Um vulto que não se ouvia.

Era tarde,

Mesmo na escuridão,

Sorria.

Ah! Passos que temia

Que ao se imaginar

Sentia.

Piscou no novo dia

Tudo ilusório...

Partia.

Depois de você


Eu ainda mantenho a mesma rotina.

Não deixo de fazer as coisas que fazíamos juntos.

Sufoco o vazio dentro de mim para poder manter vivas as nossas lembranças.

Queria ter sabido que eram as últimas vezes para poder dar a estes momentos muito mais intensidade.

Visto a roupa que você elogiava e coloco uma música como se fôssemos dançar. Preparo o jantar. Abro um vinho e coloco duas taças.

Empresto-me uma das minhas próprias mãos para podermos brindar.

Tem horas que caminho pelo jardim admirando as flores e seus encantos. Falo com elas como fazias.

Te chamo quando algo me impressiona - preciso que vejas.

Acaricio teu cabelo e cubro-te a noite, como se ali estivesse.

Às vezes escuto você contando do seu dia, eu também te conto o que eu fiz. - Juro - conto.

O silêncio faz cair uma lágrima e na emoção digo, com o mesmo orgulho, que nossos filhos estão bem, os netos crescendo no caminho que tantos queríamos.

Sim, tua falta aqui é impossível de suprir. Foram tantos momentos, planos, desejos, sorrisos....

Quanta vida vimos brotar em nós e nos nossos.

Não, eu não estou enlouquecendo, ainda que pudesse ser, pois a saudade e a solidão podem levar à loucura.

Sei que um dia você vai aparecer. Vai me chamar. Vai segurar minha mão para não soltar mais.

Assim caminharemos para a eternidade.

Espero paciente.

Quando este dia chegar vamos salvar o que infinitamos nas nossas almas.

No céu seremos novamente nós dois.

Largue


E salvando a poesia o mundo estará salvo. Largue as pedras,troque seu alvo por um poema de amor.

Protagonize


Pegue o vento com as mãos.
Comprima, encha e solte o balão.
Dê mais altura à pandorga.
Finja que hoje é tua folga.
Cante qualquer besteira.
Apanhe a flor na roseira.
Vibre com as conquistas.
Aceite outros pontos de vista.

Prove a comida,
Elogie a cozinheira.
Passe pelo muro de cabeça erguida.
Não tenha ganâncias descabidas
No espírito é que está a nobreza.
Preserve-se e a natureza.

Deixe recados.
Diga que ama.
Sinta-se amado.
Pule sobre a cama.
Não esconda que sente saudades.
Não tenha vergonha da felicidade.

Nem tudo é tão sério,
Preserve só alguns mistérios.
Protagonize a própria vida
Por você que ela quer ser gerida.

Novidade


Quando nasci foi tudo tão normal.
Até o parto.
Não houve um grande temporal.
Foi apenas mais um ato.
Não aconteceu nenhuma comoção social.
Ninguém considerou a data como um evento.
Cumprimentos só alguns,
Eventuais.
Nem houve um grande sopro de vento.
Só minha mãe se emocionou
Naquele momento.
Tudo monótono na cidade.
Eu
A única novidade.


Não tiro o pé da estrada, nada mais monótono do que a paisagem parada.

Sonho II


Do sonho que acordo
Desperto um desejo.
Vontade de morrer
Ou de ganhar um beijo.

Sossegar


E quando anoitecer

Use o prazer

Que a noite dá

Para fazer

Uma lágrima

Sossegar.

Espelho (Homenagem ao dia dos pais)


Aparentavas tanta resistência.
Mas no fundo, no fundo era mole.
Por vezes eu e meus irmãos nos espremíamos em recolhimento.
Não por medo, por respeito.
Penso em quanto sofrimento passaste em sua vida simples e pobre.
Eu via em você um cerne, resistente a tudo e a todos.
Nem a eminente fome parecia mudar teu semblante.
Nunca vi choro em seus olhos, exceto na sua viuvez.
Mas tenho convicção que para cada filho que seguia os próprios passos
Colocavas lágrimas no canto do olho.
Era mestre em disfarçar. Mas adoçava-se a cada uma destas partidas.
Com quinze anos, me fiz adulto e segui meus passos.
O homem refratário, penso até hoje, preferiu não me ver partir.
Era contido em suas demonstrações de afeto, contudo tinha no peito,
Um coração generoso que a nós transferiu pedaços.
Com minha vida ancorada nas minhas próprias costas
Passei a entender ações e reações de um pai.
Vi-me sozinho e triste em muitas esquinas da vida.
Descobri porque ele tentava mostrar ser aquela fortaleza.
Hoje meu corpo já acusa a idade.
Na mesma proporção meu coração acusa ainda mais a saudade.
Os valores que recebemos não foram financeiros.
Ainda bem.
Hoje sabemos o valor de cada coisa.
Jamais esqueceremos os conselhos, ensinamentos e exemplo que foste.
De você, herdamos o melhor:
Princípios dignos de justiça e convivência social.
O amor pelas pessoas independente de qualquer outra coisa.
Herdamos a certeza que o bem sempre vale mais a pena.
Ficamos sem tua presença física, mas sei que nunca nos abandonaste.
Onde estiver pai, um beijo de reconhecimento e amor neste dia dos pais.

Se ainda posso homenagear a terra natal


Na terra onde nasci,
Os trilhos cortavam o pequeno lugarejo,
Como brilhantes luzindo a luz solar.

Talvez


Talvez não seja tão decisivo saber se Deus existe se estivermos em dia com nossa consciência.

Túnel


O dia tinha olhos de nunca mais

e nuances de caminhos escuros.

Ângulos desconhecidos

de um túnel sem fim.

contudo não dá pra fraquejar

nem fechar as portas do entendimento,

muito menos correr angustiado e vazio,

pois não se pode represar, na vida

o próprio rio.

Ao certo


Do meu primeiro amor,

Platônico, por assim dizer,

Eu gostava mais da saudade

Ou dos olhos,

Ao certo não lembro.

Meus


Nos meus favoritos tem algumas músicas boas e outras que eu gosto.

Sumindo


Disse, apressada

Que estava indo.

Eu vindo

Lados opostos,

No horizonte,

De nós

Sumindo.

Desocupados


Ocupam-se das noites,
Vagando vaga-lumes.
Tocando campainhas.
Quebrando lâmpadas.
Chutando papel.
Ocupam-se das noites,
Pichando muros.
Murando morais.
Ocupam-se das noites,
Nas praças periféricas e
Centrais.
Traficando, consumindo.
Rindo sem sorrir.
Ocupam-se das noites,
Na sarjeta fétida
Cheirando caviar.
Ocupam-se das noites
No presídio deserto
Que os torna mais incertos,
Que os torna mais desonestos.

Frutas de ódio


No chão silenciam estrelas
Aquelas que fizeram parte dos sonhos.
Tem convivências que matam amores
Criam sentimentos antagônicos e sólidos
Espalham infindáveis sementes
Que produzem frutas de ódio.

Onde


Por onde entram os sonhos depois que fechamos a porta?

Eles são vivos? As intempéries não os atacam?

Onde vai parar o sereno quando não encontra as pétalas?

Os pensamentos esquecidos onde encontram abrigo?

Onde é o deserto dos amores perdidos?

E de nós mesmos, onde ficamos escondidos?

Definir


Impossível conceituar

Não tem caracterização correta

Perde-se tempo

Não se define poeta.

Dentro


Quem percebe já entendeu

Que dentro de mim

Habito eu.

Feliz


Feliz de quem nunca desapaixona.

De quem não desiste de sonhar,

E não fecha toda a força do amor em outro amor.

Que ama, mas tem espaço para mais amar.

Feliz de quem divide o que sente,

Sem temer a felicidade

Sabe viver alegremente.

Feliz é quem compõe a valsa

E a executa com doçura

Tirando a vida para dançar.

Imaginação


Estrela sem constelação

Brilho dando norte

Luz marcante de neon

Pendurada sem suporte.

Muito além do humano alcance

Mitológica inspiração divina

Feito páginas de romance

Ou frescor jovial de menina.

Luz que não é lua

Com nada se parece

No céu da alma flutua

Com a força de uma prece.

Destemida enfrenta tudo

Deixa rastros de decorações

Trás gritos de voz dos mudos

Fértil ao extremo é nossa imaginação

O dormir dos sonhos


Foi a última tarde
E depois
O inverno chegou.
Foi de sol meio ofuscado
Olhar embaçado
A sombra foi sumindo
Acomodando-se em baixo dos pés
Distante um vento zunindo.
A tarde fez-se pássaro alado
O manto escuro veio gelado
E pôs os sonhos para dormir

Passamento


A funda

afunda

penas

A pedra

preteia

o peito

Partiu

pobre pássaro.

Doce


Tão doce seria sonhar

Sem os temporais da vida,

Cicatrizes são marcas

Causadas pelas feridas.

NEM SEI


Construí imaginários sobrados,
Os mesmos antigos.
Enormes abrigos.
E fiz jardim
Ao fundo.
O mundo de branco,
Pintei.
E te encontrei
Entre cervejas
Que foram abraços.
Foram beijos e desejos.
E te paguei.
Quanto? Nem sei.
E agora,
Estou envergonhado.
Por ter comprado
O que não dei.

Versos melódicos


O poeta lírico
Busca nos sonhos,
As verdades,
Ou mentiras críveis.
Na ânsia de libertar-se
Põe os suspiros na boca da alma
Os olhos perdem-se no tempo
E o coração bate compassando
Rimando versos melódicos.

Estação


Alguém sempre fica na estação e ao descer leva um versonosso. Assim a poesia chamada vida vai perdendo a rima.

Naquele dia


Naquele dia...
Um friozinho se fazia.
Uma brisa levezinha.
Um vento.
Pequena ventania.
Naquele dia.

Naquele dia...
Era só você que existia.
Eu fugia.
Tu me seduzias.
O eu que não era meu
Em você aparecia.
Naquele dia.

Naquele dia...
Encostei-me lentamente.
A pulsação tremia.
Foi o beijo que eu queria
Naquele dia.

Naquele dia...
A lua se escondia
Nada nos continha
Agente se entendia.
Naquele dia.

Naquele dia...
Todas as rosas tu mereceria.
Amei-te tudo o que podia.
Naquele dia.

Aquele dia...

Orgulho


Não era nada...

Só um menino

Fazendo tudo.

Nada além de

Um estranho

Achando tudo um absurdo.

Deslumbramentos

De descobrir o mundo.

Nada que

Para os pais encantados

é sinônimo de tudo.

Pedinte


Não. Não quero ver o dia amanhecer.
O amanhã será como hoje.
Talvez mude o clima,
A chuva,
O sol,
Mas amanhã e outros amanhãs
Serei o mesmo.
Incontestavelmente o mesmo.
Acho que é assim,
Nem bom,
Nem ruim,
Risco do meio.
Amanhã será escuro.
O pão,
Será seco,
A mesa - o beco,
A porta - a pedida.
Meu amanhã será teu hoje,
Pois vivo do que você sobra.

Talvez o sol


Talvez o sol,
um dó maior,
um si bemol,
um grito em versos livres
que não metrificam ninguém de nós,
Pois poesia também tem voz.

Bolsas nos olhos


Meus olhos tentam guiar meus pensamentos.
Quando não querem me mostrar
Desviam o olhar num rápido movimento.
Porém se não vejo posso imaginar.

As bolsas que trago neles
As causas não são do tempo.
São depósitos daqueles
Que de amor alimento.

As pálpebras fecham com rapidez
Para evitar o pó da estrada
Tentam esconder de vez
Os tropeços da caminhada.

Quando estão fechados
Não sei por onde seguir.
Vou para o lado errado
Precisando me redimir.

Portanto, olhos meus,
Estejam sempre alerta.
Se rondarem os teus,
Façam a escolha certa.

Jornais velhos


Com a rapidez nas informações, hoje em dia, tenho a sensação que todos os jornais impressos que chegam cedinho, são velhos.

Mudar


O que sou nunca deixarei deser, mudar eu até mudo, mas só se for pra crescer.

Oração da poesia


Salve a poesia que à vida dá graça,

Conosco estejam seus encantamentos.

Bendita sóis entre todos os gêneros e

Bendito sejam os frutos dos seus versos.

Santa Cecília rogai por nós poetas

Abençoai as nossas inspirações

E protegei a todos os leitores

Amém.

(Respeitosamente construída com base na Oração da Ave Maria)

Prefácio


Que as estrelas não te vejam

Nem a escuridão te esconda.

Na noite que criarei

Num cenário exclusivo,

Serás prefácio do meu sorriso.

Tomou


Tomo(u)Grafia
Transpirou poesia.

Poucas horas


Você pode estar a poucas horas do melhor dia da sua vida.
Vai parar o relógio agora?

Versos da paz


Não me adianta ser poeta,
Se eu não for condutor de boas ações.
Espero que meus versos não
Necessitem de ponto final.
Que nada seja rompido por sinal.
Boa é a vida na qual o bem não tenha oposição
E onde mundo é uma única nação.
Em que as cores não discriminam
E as cabeças dominantes se iluminam.
Onde os abraços servem pra fortalecer as relações.
Em que os ventos destruam somente conceitos errôneos
Em que a música universalize o que faz bem.
Em que a poesia, ainda que pobre,
Se preste para gestos nobres.
Onde versos de paz
Sejam escritos cada dia mais.
E que os homens se entendam
Celebrando com gestos que a todos satisfaz.

ANOS DE MIM


Aprendi a cantarolar
Pra deixar o tempo passar.
Aprendi a contra balançar.
Anos de mim tento administrar.

Aprendi a interiorizar
Tudo que quero analisar.
Anos de todos que conheci
Deram-me vontade de partir.

Aprendi a viver bem comigo,
A me aceitar resignado.
Aprendi a não ficar desanimado
Quando foge um carinho anunciado.

Aprendi a falar baixinho
Pra não me acordar assustado.
A caminhar bem devagarinho
Pra não despertar meu eu menininho.

Aprendi acordar bem cedo.
Para escutar os passarinhos
A abrir a porta das minhas mágoas
E deixá-las repousadas num pergaminho.

Aprendi a conviver com as picadas.
Admirar de tudo um pouquinho.
Não fazer terra arrasada.
Buscar só o bom caminho.

Cabe


Ao poeta cabe

Despir a lua.

Aos amantes cabe

Despirem-se.

Descansa leve


A porta está fechada
Não haverá
Monstros na madrugada.
Repousa sem medo
A morte não virá e,
Se ela vier, não temas
Morrer é da vida,
A alma em subida
Cantará melodias de ninar.
Nada é mais certo,
Se for a hora,
Em poucos segundos
Dorme-se para não mais acordar.

ESCRITOR E POETA


Há poucos dias, vendo uma entrevista na TV câmara com o escritor Ledo Ivo, (falecido recentemente) o apresentador citava o entrevistado como escritor e poeta. Logo apareceu a legenda “escritor e poeta”. Sempre se fala assim. Pensei: o poeta é o quê, afinal?

Longe


Longe de plateias,

Isolado de tudo

Na solidão do quarto

é que se entende o mundo.

Natal dos imigrantes



É Natal...

O mundo comemora,

Data universal,

Famílias se abraçam

E oram,

Trocam presentes,

Imaginando me emociono...

E choro.

É Natal...

E eu não abraço meus filhos,

Não vejo a Árvore natalina da casa do meu apreço

Nem a enfeito, pois me sinto apenas um andarilho.

O Sino que ouço não é o do meu país.

As Guirlandas estão em portas que não conheço,

Minha Ceia é a solidão que eu nunca quis.

Alguns anjos me acolhem com voluntariedade

Nesta terra em que a estrela vida me largou

São Deuses grandiosos de generosidade,

Mas me faltam as tradições da terra que me gerou.

Natal não tem fronteira,

É o que se diz desde sempre

Mas até a língua é barreira

Com os de sangue todos ausentes.

Menos mal que a fé

Em qualquer lugar se sente

E crendo se tem sempre uma chaminé

E uma árvore de boas sementes,

Ano que vem se Deus quiser

Farei um Feliz Natal com Minha Gente.

Nem vi


Desculpem minha falta de memória

Repito os velhos versos

Como a canção antiga

Que cantei na infância.

Desculpem minhas frágeis lembranças,

Vividas desde dos tempos de crianças

Que não querem se apagar.

Desculpem - me

Nem vi a vida passar.

Romãzeiras


Entre o céu e o coração

Há pedaços aindadesconhecidos.

Romãzeiras espalhadas

Frutos nunca comidos.

Entre o céu e o coração

Há milongas não dançadas

Sombras virgens inexploradas

Velas esquecidas e apagadas.

Entre o céu e o coração

Há crianças injustiçadas

Armas empunhadas a revelia

E almas silenciadas.

Entre o céu e o coração

Há um antro de arrogância,

Mas verte no ponto alto

Uma mina de esperanças.

Solo lunar


Se Neil buscasse inspiração poética, ao pisar no solo lunar diria:
Um pequeno passo para o poeta, um grande salto para a poesia.

Tem vezes


Tem vezes que encaixamos acomodações onde nem cabem,

Para determos soluços doloridos apertados no peito.

Miramos lados inúteis onde sombras descem

E ao incolor damos na metáfora enormes coloridos.

Nesses momentos em que nada distrai as lembranças

E que até o pisar suave faz barulho na saudade

É imprescindível e salutar toda coerência

Disfarçada no sorriso que estampa falsa felicidade.

BOLHAS


Daqui pra frente vou complicar menos,
Vou amar além do que já fiz.
Não me preocupar com a idade.
Dormir e acordar mais tarde.

Dizer bom dia para a natureza.
Deixar a bagunça sobre a mesa.
Rir com Maria
Chorar com Tereza.

Esvoaçar os cabelos,
Usar uma roupa novinha em folha.
Deixar a barba crescer um mês inteiro,
Comprar sabão pra fazer bolhas.

Pedir carona para o estrangeiro,
Aprender a viver sem dinheiro,
Passar correndo para ludibriar o porteiro,
E ter uma noite de forasteiro.

De zero a Dez


Seguiram os dois na nau desgovernada;

Um por querer tudo

O outro por não querer nada.

No caminho nada se ajeitou,

Um não sabe por que foi

O outro não sabe por que voltou.

Nenhum deles entendeu,

Olharam-se nos olhos no adeus,

Para finalizar um no outro um beijo deu.

Inquietações


Das minhas inquietações
Tem umas que nunca entendi,
Haverá mesmo um amor
Impossível de substituir?

Que dizer destes encontros,
Ainda que acabe sem prantos
Amantes de amor doridos,
Saiam saciados sem ter fingido?

É possível deliciar-se uma só vez
Com alguém, quando convém,
Se amanhã nem mais palavras
Cada qual um amor tem?

Invertebrado


Às vezes levantava e,
Escutava o grito do grilo,
Quebrando o silêncio
Da noite melancólica.

Quando o dia chegava
O sol mostrava seus primeiro raios
Então se calava o grito do grilo
Da noite melancólica.

Masculino singular


Se quiseres dormir,
Não sou o sono,
Nem tão pouco a cama.
Procure outro lugar.

Se quiseres despertar,
Sou o despertar.
Masculino singular,
Louco pra te acarinhar.

Se quiseres amar
Venha me encantar.
E em mim pra sempre
Poderás ficar.

Notas de vida


Uma folha solta passou,

Onde outras já passaram.

Hoje ela foi vista

Pousando sobre a grama

Entre milhões delas.

Sutilezas distraídas,

Gotas cotidianas

Notas de amor à vida.

Separa


O que a poesia uniu poeta nenhum separa.

A vida


Evito ao natural manusear

Vou lendo de lá pra cá,

Prefiro não saber se acabei

Ou se estou apenas a começar.

Basta


Basta uma nota

E pode virar música.

Bastam alguns versos

E pode virar poema.

Basta a distância

E vira saudade.

Bastava um beijo

E talvez, vire amor.

Basta um adeus

E vira história.

Jurava


Narcisismo marcante,

Fotos e mais fotos com

roupas curtas

pouco elegantes.

Viajava nas noites,

tinha um amargo regresso,

ela jurava que era amor

ele sabia que era sexo.

Meu mundinho


Posso espalhar poesias pelo mundo

Viajar por onde for,

Mas levo comigo meu mundinho

- Lembrando com grande amor-

Meu Pinheiro Marcado

No interior de Carazinho.

Noite oca


Na noite oca

Um grito dizia

A vida é louca

E nem se ouvia.

O eco furou

O grito ficou descontente,

Certo é quem errou

Ao morrer da semente.

Poeta ou poesia


Em dia de sonhos sou poeta

E busco com toda energia

Quando realizo nada me afeta

Sou a própria poesia.

A noite passada eu sonhei


Nestes dias em que a chuva umedece a rua e o céu escurece, observo a vida na minha cidade.
As luzes até ascendem brincando de anoitecer. 
Com a chuva intensa sinto medo de temporais, enchentes, tragédias naturais...
Na juventude em dias de chuva a gente se divertia pisando descalços nos atoladores das ruas.
Era lindo acompanhar a emoção das crianças pisando no barro pela primeira vez. 

Anoitece.
Agora há o espetáculo das luzes dos veículos refletindo nos pingos d’água.
É agradável adormecer ouvindo o ruído das goteiras, ou acalentando algum sonho no conforto da cama.
É gostosa a sensação de acordar durante a madrugada com frio e reforçamos as cobertas.

A noite passada eu sonhei.
No meu sonho todos compreendiam que os homens sobrevivem a tudo exceto a solidão das noites chuvosas.
A humanidade se abraçava num gesto de ternura jamais visto. A felicidade invadia cada coração e todos riam alegremente.
Ao amanhecer a realidade era outra, mas sonhar, ainda que seja utópico, é um exercício que acalma a alma das suas angústias.

Cronologia


Aindacarregas sonhos não vividos,

Já sem graçadepois de tanto passado.

Profeciastão sérias que acreditavas

Agoradesconsidera para não se ferir.

A rua davida se tornou larga,

Lembrandodos sinais que passou no vermelho.

Uma fotoirreconhecível,

Com pose dequem jurava que tornaria o mundo livre.

Quantas condenaçõesque aos outros queria impor

Hojesilencia para se proteger.

Quantaspalavras que pronunciavas

Entusiasmadojá nem quer ouvir.

Quantasafirmações de eternidade

Que precocese foram.

Quanta vidadita infinita

já findou.

Quantos rostosdesejou beijar,

Tão poucos beijou.

Sorvetes e sorrisosno parque,

Só eramdeliciosos por ter

uma mãosegurando na sua.

Hoje os poemasde amor sem nenhuma arte

Estão emalgum caderno esquecido no mundo.

Ninguém maiste reconhece.

Ficou nocaminho a beleza que tinhas.

Pessoas queamavas desapareceram.

Divagaspensando e nem lembra mais,

Que valeu apena,

Mesmo tendoficado pra trás.

Não salvar


Aquela clicada em não salvar pôs todo o trabalho da manhãpor água abaixo. Pior que não foi a primeira vez - Shit.

Que cagada!

Não iria refazer – não mesmo.

Sorte que o tapa pegou no meio da tela. O computadorpermaneceu inteiro. Mas o resto do dia foi de branquear o cabelo de raiva.Justo este que tinha ficado perfeito:

- ô se tinha.

Até tentou buscar na memória o básico do que tinha escrito.Pouco lembrou além da parte onde ela, já na ala feminina do Madre Pelletier tinha assumido o romance com a Lorenona, sua colega decela.

Faltava-lhe a certeza de como ela tinha acabado na penitenciária.

Se estivesse certo, ela tinha matado o Alemão com um golpede taco de snooker na noite da natal de 2008.

Apavorada escondeu-se nos fundos da casa, mas os policiaisna primeira investida já a avistaram.

Além de prendê-la acabaram com o pé de chuchu que cobria acerca. No dia seguinte Dona Inácia vasculhou o terreno, mas não encontrou nadaque pudesse ajuda-la na defesa.

Na primeira audiência alegou legítima defesa, mas aacusação trouxe uma testemunha chave que derrubou esta hipótese.

O advogado, naturalmente, recorreu. Mesmo que livrá-la seria impossível, tentava apena mínima prevista por lei.

No presídio Tonha não se encontrava consigo mesma. Sentia-sefrágil. Sofria ameaças de toda ordem. Por ser uma mulher atraente despertavainveja e desejos nas próprias colegas.

Em busca de carinho e segurança aceitou a aproximação deLorenona.

Aliás, não demorou muito para todas ficarem sabendo disso.Um programa de TV propôs entrevistar o casal – Lorenona concordou – e assimfez. Tonha ficou chateada.

Sabia que já tinha dado um final para as duas, mas já queperdeu tudo o que escreveu podia mudar.

Estava convencido por si só que deveria retomar o texto,refazer com o pouco que lembrava e criar as outras partes.

Poderia uma delas, matar Odete Roitman, assim finalmente omistério seria desfeito.

A cabeça a mil já bolou o final para as duas. Riu feliz da vida.

Ligou o PC, reabriu a página e decidiu escrever primeiro ofinal pra não esquecer. Elas iriam...

Caramba, pensou, preciso saber como faz para salvar automaticamente.

Foi pro Google tentar descobrir.

Quiz


Perfeito

E cheio de sensatez.

Realidade não aceita

Desmente o que fez.

Era perfeito,

Mas não condiz

Pouco eleito

Fora do quiz.

Tempo menino


O tempo é o menino que toca a campainha da vida

E corre...

É a água que escorre, passa por nós,

E vai...

É vento devastador saindo do mar e

Se aproximando...

É roupa que encolheu,

Não serve mais.

É sorriso substituído por certezas

Angustiantes inimagináveis antes.

Implacável, revela imperfeições,

Que a beleza jovem escondia.

Suplanta sonhos,

Mata sorrisos

Desperta monstros.

Ainda assim te recompensa,

Te encanta,

Te conquista.

(Moacir Luís Araldi)

Enviado para oficina de poesia

Desisto-me


Todos meus sonhos

Vivem outros sonhos.

Todos meus gostos

Tem outros gostos.

Aquilo que choro

Sorri para vida.

Tudo que eu ganho

Perde o valor.

Meu tropeço

Quebra uma flor.

Tudo o que existo

Não resiste.

Desisto-me.

Estrela


A estrela é um sonho

Que se tornou incerto,

Mas sonho e vivo.

Na ternura noturna

Acendo uma vela

E a chama queima

Por mim, por ela.

Deito levemente

Em insônias inimagináveis

Em meu céu (uni) estrelar

Sonho e vivo.

Mais


Sou abstrato

Que se sente.

- Que ironia!

Me absorva

Sou poesia.

More

I'm abstract

That can be felt

- how ironic

Absorb me

I am poetry

Menino


Ah! Meu eu menino
confia em mim

Tenho vivência

E alguns sonhos jovens.

Deixa o dia florir

No sol que te abraça,

Ainda há vida

É preciso ser feliz

Até o dia que não amanhecer.

Nenhum girassol


Piso num solo endurecido

Torrões resistentes

Barro ressequindo.

O sol escalda-me

Suor escorre

Nem uma nuvem

Rebelde acima.

Nenhum girassol

Um colorido qualquer

Para florir um sonho.

Há uma impiedade que assola

Que não aceita emoção,

Que seca; meu Deus!

E eu não sei ligar a razão.

Um minuto de loucura


Perdi a conta
De quantos sou.
Sem ter verdades
Os olhos cegam.
Carrego este tormento
Este esquecimento
Psique avançada.
Não sei das horas
Não sei das datas
Nem das tristezas
E das alegrias.
Perdi-me tudo.
Fiquei sem lar.
Caí no mar.
Naufraguei
Flutuando encontrei
O que nem sei
O que não sou.
Aviões dourados
Trens zunidores
Mosca atrevida
O sapo na lata
Pirâmide branca
Não vou tomar este comprimido.

Bar


Na esquina tem tudo,

Danças cambaleantes

E verdades do mundo.

Tanto riso solto

Pódio para quem mostrar

Dinheiro pelos bolsos

Na esquina a festa é contínua,

O que mais tem é algazarra e

Música que nunca para.

A ilusão te põe no altar

Desculpa te decepcionar

Na esquina tem apenas um bar.

Descuido


Com uma asa quebrada o pássaro não voa,

Ainda que a gaiola aberta esteja sobre o muro,

Perde-se a melodia quando uma nota destoa

Basta um erro pra comprometer-se o futuro.

Seguir o movimento das águas,

Não garante ser o melhor caminho

O mais fácil nem sempre agrada,

O descuido nos afoga em qualquer riozinho.

Querer a conquistas sem traçar objetivos

E como querer ver nítido no escuro

O acaso por si só não pode ser atrativo

Não é a sorte, é a busca que garante o futuro.

Humildade morta


Talvez nunca chegue para ficar,

Nem nunca levante para ir embora.

Talvez a multidão escondeu

No tremor da respiração

Em que você se perdeu

E foi-se pela contramão.

Nem mais copo, nem mais corpo

Acolhendo os desejos acordados.

Não há boca esperando outra,

Apenas um movimento sem jeito

Um corpo conduzindo a roupa.

Na parede pendurado um recado

De um tempo a ser lembrado,

Um sorriso nunca esquecido

Contrastando com o hoje amarelado.

Findou assim, sem terminar

Foi tudo e sempre tudo será

Amor que ama tem vida eterna

O que morre é a humildade de amar.

Ônus e bônus


Vivemos a fazer contas

Sem saber que a vida não é exata

O inesperado sempre apronta

Num piscar vai de crédito a duplicata.

Dentro cada um tem o que precisa

Para o caminho que escolher seguir,

Definindo as próprias divisas

As decisões tomadas indicam por aonde ir.

Seremos sempre o que nos fizermos

A ninguém devemos atribuir nada

Somos ônus e bônus do que escolhemos

Resultados das nossas metas certas ou erradas.

Vindos do lado norte


Ouviu-se uma explosão

Deveras forte

Ventos soprando intensos

Vindos do lado norte.

A notícia se espalhou

Logo se viu

Um verso não suportou

E, desolado, explodiu.

Enlutando a poesia

Num lamentar sem fim

Ainda bem que o poeta

Não desiste fácil assim.

Longe de plateias,

Isolado de tudo

Na solidão do quarto

é preciso suportar o mundo.

Noite Fria


A noite prateada entrou gelada.

Só um zumbido do minuano,

Igualmente gélido se ouvia.

Tímida a lua parecia tremer

Ao ver nos vidros partículas de gelo,

E o fogo na lareira a crescer.

Pensei que tudo congelaria

De dentro vinha o frio que eu sentia,

Mas alma arrepiada me blinda,

Pois a noite, assim mesmo, é linda.

E no amanhecer avistei,

Em meio ao campo de branco lençol,

Um cavalo solitário

Parecendo feito de sol.

Tentar


Tentar escapar da morte parece ser umaconstante normal em nós.

O problema é quando, inadvertidamente,escapamos da vida.

Hora certa


Ainda havia um sonho guardado

Entremeado por medo e orgulho

Deixei-o dormir até clarear

Abrigado na alma estava protegido,

Ao natural é a melhor maneira de acorda-lo

Pois será a hora certa de ser vivido.

Pés


O caminhar feminino

dá vida aos saltos

em passos que lembram pássaros.

Vento escuro


Se saíres de mim ondepassarás a noite?

Não se dorme em águasestranhas.

Mantenha a mala cheia depoeira

Deixe os perfumes napenteadeira

Desfrute a espuma densa nabanheira,

Coloque o pé na aguamorninha.

Acomode-se ao meu lado,

Lá fora só o vento escuro

Zunindo nas costas do muro.

Ao fundo o mar e suaselvagem maresia

Ouça a canção escolhida,

Sirva o champanhe danostalgia

Alegre-se até clarear o dia.

Verdade


A verdade pode desconhecer a perfeição, mas deve preponderar em qualquer ocasião.

Bálsamo


O mar, mistério a explorar,

Acaricia ondas que cabelos não têm,

Como o corpo nu a encantar

Afogando desejos no suave vai e vem.

Bronze em reflexo solar

Na profundidade de tudo há sonhos,

É mágico nestas águas nadar

Bálsamo salgado onde me recomponho.

Este mar de esperança e fé

Onde o fim é impossível ver sequer

Balança na alma

Um corpo lindo de mulher

Fim do mundo


Fim do mundo

De todos os fins de mundo que já participei, este é o mais comentado. Vai ser muito bom. Contudo, tenho certeza que o próximo será ainda melhor.

Meia noite de silêncio


Suave música ao fundo

Só a quietude destoa

Baixas vozes melódicas

Aguçam estranhas manias

De empurrar o mundo.

Vento cantando

Sopra feito solidão

Voz única e violão

O mundo se move

Nesta canção.

Canto teus encantos

Repetindo o intérprete

Canto-te em mim

Na minha voz falsete.

Foi-se a meia noite,

A vida, a esta hora,

É o próprio silêncio

Que a gente cala.

Penso em ti


A estrela em que te vejo
brilhará eternamente
Nada é passado
és sempre presente.

Para a ternura materna
Acendo uma vela
A chama me queima,
Viveu por mim
Morreria por ela.

Me deito em véus
De insônias estrelares
Penso em ti
Brilhas no céu,
Mas te queria aqui.


Distância é só um pontode partida.

Inocência


Deixe-me calado,

Hoje estou assim:

Sinto a chuva

E me basta.

Deixe-me quieto.

Banhar-se como criança -

Nas lembranças -

Faz bem.

A inocência floresce

Nas ilusões bonitas

Que a vida matou.

A tristeza passa

Como passa o tempo.

Deixe...

O que guardamos em nós

Quando fechamos os olhos

Podemos até ver.

Sensações que

Dizem ou nada dizem,

Deixe...

Basta-me o viver.

Olhar


Há um gosto de silêncio

No olhar que vejo em ti,

Um desejo dionisíaco

Que faz meu pensamento sorrir.

Na arte nada limita


Sou poema que desconhece distância

Já que o virtual aproxima,

Sou verso longínquo de relevância

Comungando a mesma rima.

Na arte nada limita,

Sem fronteira demarcada,

A cultura se unifica

Para ser admirada.

Poeta virtual eu sou

Não me ausento da escrita

Este gênero me conquistou

Poesia é a minha favorita.

INCÊNDIO EM SANTA MARIA


O Rio Grande morreu hoje.
Não liguem pra cá.
Não tente encontrar ninguém.
O Rio Grande parou de respirar.
O estado inteiro sucumbiu.
Estamos todos no chão.
Morremos com nossos irmãos
No peito dos gaúchos não bate mais coração.

Ondas sensíveis


Todos os encantos

Em cantos da tua boca,

Num olhar de lábios

Mágicos de doçura louca.

Dunas, guarda-sóis e nos,

Um coro meio rouco

Numa consoante voz.

Luzes do chalé

Envoltos em lençóis

Oceanos adormecendo em cafunés

Ondas sensíveis de mulher.

Todos os dias


Todo dia hoje vira ontem,

Presente vira passado,

Dúvida vira certeza,

Sonho é realizado.

Todo dia

Uma flor nasce

O sol brilha

Alguém sorri.

Todo dia

Diga bom dia

Se contagie

Pela alegria.

Todos os dias...

Faliu a sociedade


E a mãe perdeu o filho

E se fechou.

E outra família perdeu o pai

E se fechou.

E outros perderam outros

Humanos, honestos, bravos...

Faliu a sociedade

O crime reduziu a idade

Os valores reduziram nas cabeças

Intoxicadas.

E a mãe generosa

De coração sem limite

De bondade divina

De amor e luta

Perdeu outro filho,

E a sociedade não viu

O policial não viu

O juiz não puniu,

Mas o filho sumiu.

Coração de mãe cabe mais um,

Mas por Deus,

Há uns que não merecem ter mãe,

Há uns que não tem Deus,

Mãe nunca vai entender

Por qual motivo outro filho

Assassina um filho seu.

Ansiedades


Olhos sem brilhos
Não são olhos de enxergar.
Sorrisos sem alma
Não são de alegria.
Sonhos com ansiedades
Não são sonhos;
São saudades.

Falta-me a loucura


Não forço a fechadura

Tenho medo...

Falta-me a loucura

Falta-me o hábito.

Gosto da última olhada,

Do barulho da chuva

Na pré-partida.

Continuo pregado

Movimentos não me motivam.

Prevejo uma lagunaenferrujando...

Sem merecer,

Sem glórias pra viver.

Nem um passo

Nem covardia.

Insano...

Medito já sem voz,

Onde encontrarei,

Neste mundo algoz,

Um poema pra morar?

Viver é uma experiência incomparável.


Vamos deixando um tanto de nós nos sorrisos que distribuímos vidaa fora, um pouco de amor mesmo nos mais breves romances, um tanto de confiançaem cada melhor amigo que as fases da vida acabam escolhendo. Um tantinho deagradecimento aos ingratos que tornam possíveis certas comparações e que criamcertos medos bons até nas manobras mais seguras que vamos tendo que fazer.

Adquirimos uma porção de experiência em cada passo que temos quedar e isso possibilita entender que caminhado nos tornamos maduros, mas nãovelhos.

Ficamos, também, com um pouco do abatimento, é preciso dizer, emcada rosto triste que fitamos no dia a dia, mas isso é para vermos que sorrirpode ser mais benéfico.

Quanto a mim, deixo um pingo de essência em cada poema que escrevoe que talvez só eu sinta, contudo, isso me permite entender de quantas sílabas métricasse faz uma existência de versos livres.

Mesmo que eu tenha sepultado um mínimo que seja da minha própriaalma junto a cada amigo que partiu, e nas minhas próprias partidas, continuovivo e o melhor: vivendo.

Deixo (me permitam) um naco de amor a cada um que entra em minhatrajetória, pois não se vive de acasos e no amor - em todas suas variantes - oque se diz é muito menor do que o que se sente.

No fundo, me atrevo a dizer que somos todos diversos e, ao mesmotempo, parecidos em humanidade, pois dentro da sensibilidade de cada um vamosmoldando-nos no íntimo e quem mais sensível for mais intensamente vive.

Não devemos nunca buscar a bandeira da felicidade em nenhum lugarfora de nós pelo simples motivo dela não existir. Seria uma grave ilusão deótica, se quiser vê-la, senti-la e vive-la olhe para dentro, ela sempre esteveali – Acredite: chegou a sua hora de visualiza-la e ser feliz.

Futuro


Como será o amanhã?

Não sei.

Não entendo de futuros,

Observo, apenas.

Sem palavras se diz mais e

O silêncio é futuro que se faz.

Partir


Em pleno devaneio

Já no centro de mim,

Refleti-me desajeitado

E no meu espelho,

Em prantos sorri

Por fim...

Parti.

Ponto Forte


Ao unir os seus pontos fracos formou um grande ponto.Seria este seu ponto forte?

Cenário


é preciso encontrar ao menos um poema

Ou mesmo um simples verso sem rima,

Uma frase rabiscada na folha dobrada

Para fazer voltar na memória

O que agora é apenas história.

Na necessidade de se ir adiante

Vê-se o cenário da antiga cena

E hoje ensaia-se só.

Nesta hora tem-se a certeza

O que era um caminho

Transformou-se em estrada

De se caminhar sozinho.

Foi-se a vida

A velhice chegou.

Hoje não


Hoje não quero

Hoje é dia de não querer,

Sem contradizer minha hierarquia

Minhas ordens hoje - desconsidero.

Nem me insista: hoje não quero.

Solidariedade 1


Solidariedade não é favor; é um gesto de amor!

Eu e meus amigos


Alguns amigos partiram.
Eu não.
Eu fiquei.

Foram ser importantes,
Vencer na vida,
Realizar sonhos.

Saíram pelo mundo
Buscando status
Roupas de grife,
Riquezas,
Ou, talvez, só a felicidade.

Eu não.
Eu fiquei.
Eu iria comigo
Se decidisse partir,
Por isso fiquei
Para ser feliz aqui.

E por amor


Me conta uma história de amor,
Mas por favor, não fale do final.
Todos os finais são tristes
E hoje não quero ficar mal.

Deixe subentendido
Tudo o que fizer o amor
Adquirir outro sentido,
Tudo o que possa parecer dor.

Fale da felicidade
Que fez duas almas sorrirem
Não suponha que a saudade
Gritou depois ao partirem.

Que seja digna de morrer
De voar sem asas
De fazer tudo ascender
De todo carvão brilhar em brasa.

Me conte uma doce história
Quero dormir ouvindo
Talvez fique na memória
Eu eu possa acordar sorrindo.

Regue-se



Atravesso-me
Sou demasiado frágil
Sinto.

Regresso ao ponto
é onde sempre
A vida segue.

Sobre mim


Pingos de chuva
Guarda-chuvas.

Réstias de sol
Guarda-sóis.

Rosas dos ventos
Pétalas se abrindo
De um girassol.

Hoje não acordei


Hoje passei no bosque.

Em trilhas que antes já fiz

Revi vestígios da amarelinha

Em apagados riscos de giz.

Com a chegada da noite

Me fiz anoitecer também.

Para ser lido


O livro leva o silêncio

Leva a vida

Seus personagens

Suas passagens

Leva calado

O que foi grafado

Para ser lembrado.

O livro transporta

Tudo o que se quer,

Leva saudades

Em cada linha

Uma historinha

Que alguém inventou

Ou a verdade

Que o autor contou.

O livro é fiel

Leva de tudo, mas

Fica calado

Seu conteúdo

Não é revelado

Se não for folheado.

Fantasia


Para o poeta a vida melhora

Com um toque de poesia,

Se não estiver ao alcance na hora,

Criará ele, em sua fantasia.

Hostil


Para seguir em frente

É preciso detonar minas internas,

Cavar túneis na alma,

Fazer pontes nos sentimentos,

Abrir picadas nas muralhas da vida.

Neste ambiente hostil

Dos meus olhos nasce um rio

Dou a ele brilho sutil

Águas mornas de frio.

Trunfos


Tens pele sedosa com cheiro de amor,

Sob a blusa vermelha trunfos ávidos

Ângulo suave e sedutor

Em marcantes sândalos encantados.

Domada na generosidade da fragrância

Atributos das essências viris,

Adjetivos caracterizados na abundância

Solícitas provocações quase febris.

Deita teu algodão neste braseiro

Tórrida de desejos arrocha os lábios,

Pulsando vertentes no corpo inteiro

Maliciosos segredos outrora guardados.

Super real


Não faço da poesia um drama

Nem da vida uma fantasia

Crie-me num ambiente sem fama

Onde herói não existia.

Caio sem receios no lugar comum

Sem criar nem dizer nada original

Não conheci super-herói nenhum

Cresci num mundo "super real".

Lá o progresso não tinha chegado,

Lá os poderes eram falhos e normais

Tendo eles seus filhos bem criados,

Heróis de verdade eram nossos pais.

Negou-me, a vida, esta parte.

Talvez pondo outra em seu lugar,

Brinquei com minhas próprias artes

Heroísmo era poder se alimentar.

Atrás da porta


O vento tocou-me suavemente

E disse-me sem pestanejar

Sou moldável conforme convier

E me transformo em que você quiser.

Posso ser o abraço que conforta

O sorriso que ilumina o olhar

A surpresa aguardando atrás da porta

A espera desejada que veio para ficar.

Posso ser a ternura a te envolver

O entardecer de um dia de calor

Posso ser o caminho a percorrer

Ou um lindo hino de louvor.

Posso ser um sonho de amor

Não duvides de mim.

Só não me peças para ser a dor

Não foi para isso que vim

Eu não paro de sonhar


Só o fim dos sonhos me faria parar,

Mas tenho estoque para uma vida

E se necessário vou fabricar.

Eu não paro...

Eu não paro de sonhar.

A alma chora


Enquanto vivo
Vejo a beleza
Em poesias que alguém
Faz.

Jamais terei tal perfeição,
Carrego a inquietude
De não desistir.

Não aprendi transmitir
A sensibilidade
Estocada no peito
Querendo sair.

Tento frear.
Nessas horas
Recolho-me e disfarço
Mas a alma...
A alma sempre chora.

Atitude gentil


Gentileza na convivência
É sempre um gesto bonito
O coração grifa em negrito
E perdura a vida inteira
Entre os seus favoritos.
O melhor é que não tem custo
Mesmo tendo grande valor
É tão simples ser gentil
Atitude generosa
De bondade, gratidão e amor.

Momento


O momento pede atitude. Seja solidário.

Sou feliz


De presente a estrada matinal

- De chão batido - relva.

Selvagem selva e paraíso.

Natureza, sol, belezas.

Sigo como sou.

Me encanto

- Nó na garganta -

Sou feliz;

Não esqueço!

Horizontes


Que a noite
Traga sonhos
e a rima durma
Macia e suave.

Pois a poesia distante
Cria caminhos
e a madrugada que os implante.

E que amanhã o sol
Desarrume tudo o que foi escrito
E provoque outras reflexões.

E que nos dedos cruzados
A cruz da dúvida floresça,
Sem preocupações demasiadas.

Sempre haverá o entardecer
Criando pontes
Fazendo renascer os horizontes.

Caridade


Não faça por caridade; faça por solidariedade.

Semente


Seja a boa semente: faça o bem para a nossa gente.

Espere amanhecer


A noite não foi feita para partir,

Sente-se na varanda

Prove o vinho

Enquanto trocamos alguns carinhos.

Não vá agora, espere amanhecer

Talvez a noite te convença a ficar,

Mas se assim não for

Vá de dia

A noite não foi feita para se despedir.

Injusto


Fui ensinado a ser correto,

A suportar os solavancos

A ter comportamento reto,

A ser autêntico e franco.

Manter-me honesto e honrado

Evitando o mal fazer

Melhor dormir sossegado

A ver a consciência fenecer.

Vencer mentindo é injusto

Uma vitória enganosa

Para maldade não se faz busto

é uma escolha nada glamorosa.

A vida é implacável em seu custo

Sustento o orgulho em dizer:

Prefiro perder por ser justo

A ganhar por justo não ser.

Mundo novo


A gente acreditava que o mundo não acabaria.
No início de 2020 percebemos o engano.
Bem-vindos ao novo mundo!

Atitude


O amor salva vidas; a sua atitude também!

Dia de fazer sonhos


Hoje é dia de fazer sonhos
De iluminar a estrada
De sorrir descontraído
De não se estressar com nada.

Cada um faz o seu sonho
E reúne todos ou alguns
Numa utopia incomum
Um sonha por todos
E todos sonham por um.

Feliz


Tarefa danada de peculiar
Escolher o nome para um bichano
Não inspira nada este miar. Miar?
Não. Daria pra manga muito pano
Passaria as sete vidas a reclamar.

Não quero deixa-lo sem batismo,
Quem não tem nome se some
Chama-lo apenas gato
é como ser chamado só de homem.

Escutando seu tranquilo ronronar
Dou-lhe a esperada diretriz
Percebo que está a me escutar
Olhos fechados, aconchegado... FELIZ.

Que vida!


A algazarra cessou.

Apenas uma lâmpada, ao fundo,

De resto e de alma tudo sombreou.

Um menino sonhando corria sozinho

Perdido, desconecto do caminho.

De dia viu voarem passarinhos,

Mas pernoitou sem sequer ter um ninho.

Sem travesseiro,

Querendo a noite passar ligeiro

Como se fosse dela apenas um passageiro.

Sonhos reais

Horrores,

Temores...

Tremores.

Um timbre de galo .... Distante,

O dia entrante

Angústia alarmante.

Desejou plantar a poesia

Na ilusão de colher o café da manhã,

No orfanato da agonia.

Desacreditou no amor

Angustiado calou.

Sem mundo

Humano imundo.

Matou as aventuras,

Matou as canções,

Sepultou ilusões.

- Que vida meu Deus...

Que vida!

Hoje não


Vou apelar ao faz de contas

Hoje não quero o real

Nem vou saber se o sol aponta

Nem quem está bem ou mal.

Não quero notícias nenhuma,

O mundo vou esquecer

Superar medos guardados

Ser feliz pelo fato de viver

Hoje serei corpo sem matéria,

Sem futuro me puxando

Vou sorrir como quem vive em férias

Sonhar como quem está amando.

Leveza


Leveza
Anoiteceu na aldeia
Como um vulto
A aranha

Balança-se na teia.
Que sorte tem ela
Agarra a própria linha
Se lança destemida

Segura de si.
Me vejo imóvel
Não tenho igual certeza
Não me desprendo da teia
Me falta a leveza.

Lástima


O rio a me percorrer
Léguas de águas enlameadas
Ansiada!
Perdido na cabeça
A crença despenca.
É lenda
É lenta
É alma.
Os olhos lastimados
Olham o sul.

Mãe, amor incondicional


Mãe cria os filhos com todo o amor

renuncia a tantas coisas pelo bem deles,

tudo o que faz, faz por eles e para eles.

Mãe de todas épocas

de todas as gerações

de todos os hábitos

de todas as crenças

de todas as regiões,

como mulheres vivem as diferenças,

como mães tem algo que é igual

esteja elas onde estiverem

seu amor é sempre incondicional.

Mães de todos os mundos

Merecem de Deus toda proteção

E quando elas vão embora

permanecem vivas nos corações.

Velho ditado


... antes o sol

com o mar

acompanhando.

Tinto Cabernet


Vinho pra mim é verbo:
"Vinhar"
E sua conjugação
É perfeita e regular.
Nos meus tempos verbais
Nem preciso dizer
Muito mais-que-perfeito
É degustar um tinto Cabernet.

Voz da natureza



O rio que brinca em mim
É infantil
É límpido 

Águas saudáveis
que nem sei poluir 

Coaxam as rãs animadas
A voz humana silencia
Sento-me à sombra marginal
extasiado a observar:
- Náiade não há - 

A voz da natureza
muito tem a nos ensinar.

Charnecas floridas


Charnecas floridas
após a chuva
- Vida líquida -
dançam alegres

Ventos de elásticos
Repuxe de ondas
repetem nos olhos
a fotografia

Exalam nos ares
- Aqui e além-mares -
legendas perfumadas
em cores que balançam
colorindo o inconsciente
- Das flores –
da gente.

Chuva


Chuva,
dirão:
- Coisa boa!

Pancadas de verão
de um dia à toa.

Dia de não morrer.

Seria triste morrer
num dia chuvoso?
(Do livro Abstratos poéticos)

Ciclo


A vida em espírito e corpo se formando
O vento embalando a luz
nas poesias lançadas ao ar

Canções intensas sem instrumentos
na ternura dos meus sentidos

Cresci admirando os caminhos,
colhendo belezas que as mãos alcançavam
- Lamentando as flores mortas –
e fazendo versos ofertados com carinho

Meus olhos anoiteceram
O silêncio me fez lembranças aos passarinhos

A vida é um voo constante.

Ciclo


Balançando desce
suave a semente
sobre o solo pousa
sua leveza

Sutil e natural
sob a terra 
chuva o gera
Lunação imediata
Bons ventos
sacodem os galhos
- Vida verde-

Último sol


Foi o último sol.
depois,
o inverno chegou.

A brisa 
cobriu a vida.

Nada mais era visível
e o que se via
não nos via.

O branco foi cobrindo
os olhos fechados.

Silenciados.

E os sonhos dormiram
eternamente.
(Do livro Abstratos poéticos)

Um dia


Na sombra das asas
voa
Inventa movimentos
Repousa
Sossega
Encolhe
- ImpiedosamenteSome
Perde-se 
do sol.

Nas asas internas
À luz 
na parede
projeta
objetos

Nas asas da noite
silencia,
se ausenta.

Repousa
noturna solidão.

Meu horizonte é poesia


Ainda tenho alma
- acredite –
é calma
Tem horizontes poéticos
como os tempos velhos de mim

Quanto vale a idade?

Minhas estrelas ainda
são doces pregados no céu.

A fé maternal


A minha mãe rezava,
malemal me lembro

O vento forte
Temporal
Frio
Chuva
Folhas perdidas...

A madeira da casa gemia
tremia em nós o anseio,
mamãe rezava;
Tenho certeza!

Raios luminosos 
Insegurança escura

Mamãe tinha fé:
- Santidade,
no altar da minha saudade!

Filete


A paisagem veste-se de noiva
Os caminhos congelam

Pobre gado!
Desespera-se pelo estábulo
Da boca verte fumaça
Um sentimento
sentido,
O tremor
do minuano zunindo,
O milho,
doce alimento

Noite impiedosa

Um filete de lua
tremelica...
gelado.

Sem memória


Há um grito que não responde
Eco silencioso que soa longe

Solto no ar

A onda peleia com as pedras
-indestrutíveis -
Mar sem memória de marés
não é mar

Sal sem demasia,
apenas mar
sem sinônimos
nem significados

Arrojado,
céu azulado
A água passou:

é passado.

A ave


Sacudiu as asas na poeira.
Depois...

Vi, ao longe,
sacudi-las na poça d'água,
antes de subir e pousar,
como sempre faz,
na laranjeira, aqui em frente.

Outro dia, lá estava,
valsando de asa alçada
para a fêmea.

Agora montam ninho.

As penas brilham
de felicidade.

Ao amanhecer,
entoa um canto vencedor
e a companheira freia o voo,
vindo empoleirar-se ao seu lado

O cheiro da flor de laranjeira
me distrai.

O amor  está em tudo.

curiosamente, 
em tudo.

(Do livro Abstratos poéticos)

Belezas de um dia triste


Do alto da rocha admiro o fiorde
longínquo, calmo, sereno
- Encantos -

Altos paredões rochosos
- Medo! –

Reflexos pálidos
brilham em minha calva tristeza.

Ao fundo a brisa leve
torna tudo inesquecível

Me nego a ceder

Parodiando a dureza
torno-me pedra

A pequena e distante cachoeira
alcança desanimada a água salgada

Deus nunca saberá que solucei

Na calma improvisada da alma,
o analgésico suaviza-me as linhas

Esboço breve sorriso,
ninguém vê, certamente

O caminho retorna

- É o que resta! 
Do outro lado,
dúvidas da vida
e a aurora boreal

- Deixo para lá:

- Bastam-me os horizontes

Camafeu


Nozes se abrem
(prensadas),
como olhos sonâmbulos
em altas madrugadas.

Morder os olhos,
sentir o sabor,
e degustar lentamente
semente por semente.

Depois o vento
volta e
sacode a Nogueira.
 
Outros olhos
brancos:
 
inefável Camafeu.

(Do livro Abstratos poéticos)

Depois


Vida vindo
ventando vivências
aventando a existência

A rosa escarlata
para a mais bela
Ansioso
ao vê-la na janela

Depois o adeus
envelhece o silêncio.

Desacerto


A estrela que não brilhou
A semente que não germinou
A flor que o veneno queimou

O ponto cego
O atoleiro inesperado
O vento frio da madrugada
A parte íngreme da estrada

O lixo que o cachorro virou
A carta que voltou
A luz que se apagou

O nada
A vaga negada
O intruso da fruta estragada

Nota destoada
O dente que dói
A mosca da feijoada

Ausência não sentida
Nascer nasceu,
mas nunca teve vida.

Eternidades


Quase toda noite é escura,
mas há exceções.

nenhuma certeza é absoluta,
há variantes na imaginação.

Nem todo breu é sem brilho,
são diferentes as visões.

Quase todas as sentenças são definitivas,
mas há exceções:
­  Nada prende a inspiração
e, se há liberdade,
não existem, nem mesmo, prisões.

Almas não ficam sozinhas.

Existe a leveza do voo
e, se não bastasse,
são tantas as eternidades!

(Do livro Abstratos poéticos)

Ilha


Pequena ilha
a milhas da costa
contempla o continente
e descansa
Fixa,
move o mar
Pássaro ínfimo
habita
Barco noturno,
distante
Luz móvel,
errante
Meus pés de areia
- Ilha distante –
Sopro de esperança,
vista que mal te alcança

Olhos de luz


A noite deixa tudo tão longe,
nostálgico...

Um tanto trágico que
parece real

O anjo noturno
anima a alma
antes do sono contínuo

Mãos juntas
iluminam a prece

Ativam sonhos …

Póticos


Pórticos rústicos
Alma em fuga
- Solitária -
Reflexo de luzes

Ventos de ausências
Suave récita poética
Som da lira
e as folhas dançam

Um passo
Mais um 

E mais outro...

A distância!

Flor com a haste quebrada
a vida dá pouco 
- Nada -

A pétala amanhece sangrando
... Mistérios
des (humanizados)

Prefácio do livro Abstratos poéticos


Prefácio

Em face dos Abstratos poéticos, quinto livro da bela safra de Moacir Luís Araldi, descortina-se um mergulho na alma, através de versos simples com temática profunda, tal como em Arco-Íris:
Preferi colorir meus olhos,
deixando a  natureza como estava.

 O poeta em questão igualmente projeta profundidades com imagens ricas e metáforas bem construídas, como em Camafeu:
Morder os olhos, /sentir o sabor/e degustar lentamente/semente por semente;
E no belíssimo  Pelo ar:
Dormem as borboletas. /Pedras endurecem o tom /e as areias desmaiam o chão.
Utilizando-se, notadamente, de elementos da natureza, Moacir aborda realidades e desencantos da vida de todos nós:
Á noitinha, a neblina virá/como sempre vem,/e mudará meus pensamentos./Lembrar-me-ei das nuvens brancas/ que abrirão o dia, amanhã,/e terei vontade de escrever/um verso nelas.
Mas o giz não alcança,/e, se alcançasse, seria da mesma cor:
 - Ninguém leria.
 - Do poema Delírio – 

Por suas estrelas, /a noite é linda,/e a escuridão que/não se vê/é pranto oculto,/latejante,/vulto/que dói profundo.
Às vezes escura,/às vezes bela./É como a vida /- Eterna espera.
- Do poema Pranto oculto – 
Há, por conseguinte, poemas que falam da humanidade (ou da desumanidade) dos seres humanos, como em Plurais:
O tempo nublou/ e a chuva virá/ ao anoitecer./ Falta humanidade /e botes Salva-vidas.
Discursos plurais,/razões singulares./ Pobre gente! /Em mãos que metem a mão/ o poder apodrece. /E o mal floresce.
Entretanto, há redenção e esperança para todos, como no sublime poema Eternidades:
Quase toda noite é escura, /mas há exceções./ Nem todo breu é sem brilho,/ são diferentes as visões. /Almas não ficam sozinhas./  Existe a leveza do voo /e, se não bastasse, /são tantas as eternidades!
Sabendo, inclusive, que sua matéria de beleza é a poesia, Moacir presta sua singela homenagem a essa arte, quase sempre esquecida, em Infusão:
O perfume exala, /inspirando o rimador. / Quente é a poesia. /Seu rosto é retrato / de vapor abstrato, /desenhado no espelho. / O verso cafeinado ascende os sonhos 
dá asas aos pensamentos
enobrece a criação 
e

ternura
poética
voa. 
O poeta também sabe celebrar a vida vivida, embora com certa nostalgia, em um dos mais belos poemas do livro, Olhar:
Olhei demoradamente 
para a foto da família.
Rostos lindos,
que meu coração vê.

Dedicatória
de algum ano
em que o sol se punha, rindo.

De lá para cá, eu a perdi,
juventude!
 Agora, só a tenho retratada.
Mas eu ainda a encontro na memória...
Ficou longe 
a cor da infância!
Silêncio é o que prende
a garganta.
Fecho os olhos.
Saudade!

Saudade é também o que nos fica, após a leitura de Abstratos Poéticos, um livro que discorre acerca de silêncios, tal qual em Quietude  (Onde se abriga o silêncio/que tantos guardam?), e em muitos outros poemas. Todavia, é com o ruído das palavras que Moacir Luís Araldi se destaca como sendo um dos grandes poetas de sua geração, seja por seu lirismo que encanta, seja pelo manejo majestoso das palavras.

Maria Elizabeth Candio
Professora de letras, com mestrado em Literatura Comparada, revisora, poeta e membro da Academia Contemporânea de Letras.

Simbiose


Simbiose de fungos e algas
Líquens colorem as pedras
e os caminhos...

Vidros e olhos embaçados
mergulhados em brisas e saudades.

Reflito um instante...
Tantas coisas em mim 

Calo!

Pensamentos não falam.

Ternas lembranças


Deito meu olhar sobre o mar,
no instante em que a onda 
mansamente toca meus pés,
trazendo vontades
não sei de onde,
nem de quê.
Ternas lembranças me percorrem
e um riso incerto voa,
saudoso das asas poéticas Pessoais
do mar salgado de Portugal.
Sou ungido
das tuas águas, 
ó mar!
Sinto-me doce
ante teu sal.

A estação


O hímen poético
frágil,
rompido

Poesia fecunda
- Desabrochando –
Versos nascendo
Cores do mundo

Natureza atávica
Teimosias ascéticas
- Frágil caule –
brotado na rocha

Noites alongadas
de esperas,
rimando flores:
- É Primavera.

A música


Entra na alma
e deixa a mente em rebuliço.
Estressa e acalma,
decepciona e encanta.

Viver é tanto
e tão pouco!

É só uma canção,
mas arrasta o mar,
mareja os olhos
e provoca lembranças.

Saudosas danças
puxa lágrimas,
estende a mão
e já não alcança.

Há o horizonte
para ser refeito.

Tantas montanhas,
dunas,
montes...

Já nada preenche,
não refaz.
Eram tantas,
mas tornaram-se jamais.

É só uma canção
com falsetes,
versos líricos
e amores em vão,
que se vão
como dançar num pélago...

É solidão
e passa.
Escurece
e perde a graça.

É só uma canção
que já não se canta. 

(Do livro Abstratos poéticos)

A rua


A rua ainda me acolhe
em algumas caminhadas.

Tantas vezes, esperançoso, a percorri!

(Espiando em portas nas quais não bati).

Rua da minha mocidade,
das folgadas tardes de domingo,
do cinema lotado
e do bar-café ao lado.

Há tantas outras vielas antigas,
Jovens, revitalizadas,
mas só tu, rua minha,
estás em mim eternizada!

Por ti é que aqui volto 
e professo minha fé na Catedral.

Teu nome não digo,
este segredo levo comigo,
nesses passos na área central.

(Do livro Abstratos poéticos)

A vida passou


A  infância passou.
Ficaram, no tempo, as vivências 
de palavras suaves,
que preenchiam carências.

Há a dor latente 
(morte natural),
último toque dos ‘eus’.

O tempo que traz
também leva.
 
A despedida não foge.

Numa estação qualquer,
alguém parte.

É o inevitável
adeus.
(Do livro Abstratos poéticos)

Abissal


Não sei divisar
alma e carne
É tênue é
Abissal

Às vezes sou
e deixo de ser

Desconfio que o futuro
seja pingos de passados

Me calo
Esqueço
para não ser
lembrado.

Admirável


A vista da vida
vinha dos olhos de vidro
das ventarolas das janelas

Descendo
a descida

Degrau
por
degrau

Lindo e límpido
como água do poço

Frescor da brisa
cheirando a flores

Zunido de abelhas
adoçando o sonho 

Crescidos
os girassóis sorriam.

Águas azuis


O homem em águas profundas
contemplando o farol distante
sem avistar a baleia
na areia agonizante.

Se isso é saber viver
não sei o que tenho vivido.

Novas auroras anunciam outros barcos,
Mas onde estará a inocência
meiga e desinteressada de outrora?

O que há além de vida e morte?

Alma nostálgica


Lua feita de silêncios
na calmaria noturna
A vida, inconformada,
tatua frases no peito

Pinta uma lágrima desmotivada,
amistosa,
- Do nada -

O futuro é desconhecido,
mas a noite é enluarada.

Andejo


Caminhando desatento
sem hora, sem rumo
lentamente;
O que importa?

Coração aquietado,
bolsos cheios de mãos,
preso ao desejo de assim não ser:

Silencioso 
Ausente
Invisível
Incrédulo

Não há vida
nas ruas...

Nem no íntimo
do andarilho.

Animais


Despidos, 
pobres bichos!
E a chuva a lhes umedecer.

Outros cantam!

Tais felicidades às avessas
parecem sorrir
risos saciados
sem sede
sem medos.

Em que reside a alegria?

Na água e milho
- Dirão eles!

E eu sem respostas
Sem cantos
Sem risos
Sisudo
cara amarrada,

Vestido!

Animalejo


O homem mata 
tempera,
prepara e 
come

E quer matar o bicho
que quer se 
alimentar do homem

Quem é o bicho?
Quem é o homem?
O homem-bicho ou
o bicho-homem?

Aparente


Aos olhos, as cores desbotam
sem brilho, viver não é sorrir
Se não está no olhar, onde estará?
Se a alma não voa
Viver é solidão
Se os olhos reprovam
- Pouco importa –
Quem avalia é o coração.

Arco-íris


Preferi colorir meus olhos,
deixando a  natureza como estava.

Não pintei caminhos,
não criei arco-íris,
não desmatei sentimentos.
O mundo ficou
Multicor:

 - Porque nos meus olhos
nasceram lindas flores.

(Do livro Abstratos poéticos)

Às vezes


Às vezes,
nada digo.

Aposso-me de alguma solidão
para acompanhar a minha.

Perco-me 
em labirintos.

Sinto.

Gosto de absinto.

E espalho versos,
pintados de ilusão.

(Do livro Abstratos poéticos)

Asas


As palavras vinham com asas.
Eu as ouvia, mas passavam.

Meu tempo de sorrir diminuiu
e elas começaram a retornar
sábias, precisas e experientes.

Nas pedras da caminhada
as ouço tão atuais,
definitivas e confortantes!

É de ti que me lembro,
quando os contos de terror
tornam-se reais:

 - Pai.

 Deus dos meus anseios,
 meu anjo eterno!

(Do livro Abstratos poéticos)

Atemática


A imaginação atemática:
Razão em equações enigmáticas,
versos perdem a rima,
grafias fonêmicas anímicas
sem acentuar nada da alma.
Sensibilidade dorme esquecida
Sem sonhos
Sem poesia
Sem vida

Atemporal


Tempo prático é aquele
em que se cultiva roseira, 
e, num momento romântico, 
presenteia-se a rosa. 

Devaneios  são
perda de tempo.

Atemporais são
as horas vazias,
que tornam a alma fria.

Tempos melancólicos
são divagações e lembranças,
que pararam no próprio tempo.

O tempo para
O perdão 
é infindo. 

O tempo presente
é para ver a vida florescer
e o amor dizer: – Bem-vindo! 

Esse é o tempo de viver...

Ah, que tempo lindo!
(Do livro Abstratos poéticos)

Bis


O sonho bom,
antigo e jovem,
antes planejado...

Despejado nos lábios:
- Desejo.

Sorrir
– não o riso que se apaga,
mas o longínquo,
contundente
como fruto e semente.

Feliz o que vai
e
volta,
pedindo bis. 
(Do livro Abstratos poéticos)

Cara e coragem


Cara e coragem,
eternas bagagens
desta viagem
rumo ao fim.

Viver é partir
sem apetrechos
nem preconceitos,
levando a vontade
de ir, passo a passo,
construindo a história
preenchendo lacunas,
de lembranças na memória.

(Do livro Abstratos poéticos)

Casa da infância


Do que vivi na casa antiga
restou distância
e o tempo escondido 
em momentos infantis

Daqueles amigos
dormem no peito
saudades e peraltices

Outros sonhos,
embarques sem fronteiras
tomados de esperanças
e desejos a realizar

A vida é um caminho
Alguns decolam fácil,
criando futuros novos,
oportunidades a mais

Foi ontem que nos despedimos
Em cada rosto vi saudade,
angústias de afastamentos,
certezas de esquecimentos

Cada um levou uma alma minha
A vida vai me dando outras
Mas as almas daquela época
foram-se todas (as que eu tinha).

Claves


Duas chaves
abrem a mesma porta

Claves de sol 
Voz noturna-rouxinol

Migrações coloridas
Pássaros de rosas-vidas

Abre-se coração
Ouve-se a canção


Recebe a pétala
solitária na mão.

- O voo não silencia a emoção -

Confissão


A crença é o ofício do pecador
Repetida ecoa a prece
como se a salvação
estivesse ancorada na vida
e viver fosse razão...

A santidade é involuntária
Bondade é obrigação
Se acontece o milagre
ilumina-se o coração.

Conjugado


Tua energia é luz - luar
Brilha! 
Escureço ao te ver passar.

Reflexos de arco-íris
Íris em arrebol
reverberam os raios do sol.

Sorrindo ...
Cabeça alta
Alma colorida
Beleza não lhe falta.

De manhã


Ondas escondem
as cordas musicais
da sinfonia submarina

Na superfície,
o silêncio é melódico,
amanhecido,
só à beira mar.

E o verão acena 
em despedida.
(Do livro Abstratos poéticos)

Declínio


Adornos de risos e alegrias
Farras e fantasias
semeando a vida 
no horto de hortênsias,
perfumando o sacrário
da frase morta

Esquecida

Nos degraus do campanário
não há luz

- Morrem as estrelas-.

Delírio


O píer fica imóvel,
enquanto o navio se afasta. 
Vou ficando cada vez mais sozinho,
 - Eu e o livro -
que agora, há pouco,
lia, ouvindo o barulho das ondas.

À noitinha, a neblina virá,
como sempre vem,
e mudará meus pensamentos.

Lembrar-me-ei das nuvens brancas
que abrirão o dia, amanhã,
e terei vontade de escrever 
um verso nelas.

Mas o giz não alcança
e, se alcançasse, seria da mesma cor:
- ninguém leria.

Ideias são, por vezes, delirantes.
Eu morro, como morre a sombra ao anoitecer.
- É o destino –

Depois,
desapareço na imensidão das águas,
cavalgando ondas da imaginação.

(Do livro Abstratos poéticos)

Desejo


Se for caminho
ei de enfrentá-lo
pois a fé dá força
para a paz reinar

Se o que eu desejo
for inalcançável
a minha crença 
manter-se-á inabalável

Se faltar brilho
um céu de estrela
pintarei ligeiro
para me iluminar.

Desenlace


O arame farpado 
fere o vento
e a ferida arde
O sangue dolorido
espalha-se
e morre
na terra 
A vida treme
Geme o fim
Adeus, eterno!
A morte ainda
é para sempre.

Desequilíbrio


O primeiro dia foi de miséria,
os demais também.

Não fosse a carne do porco,
a fome seria total.

E, depois, um tiro certeiro
quebrou a asa de uma ave.

(Uma das asas ainda batia)

Desiquilibrada, caiu.


Com apetite voraz,
segurou-a pelo bico,
enquanto abria o pescoço.
 
O ar encheu-se de sangue.

Barriga vazia.

(Abatida, consumida)

Por tempos, salvou seu corpo,
mas a alma,
miserável,
morria, dia após dia.
(Do livro Abstratos poéticos)

Distante


A gaivota pisoteia a areia
(Olhos flébeis)

Triste, 
como os dias cinzentos,
na beira de um mar
que, distante,
ondeia sem rumo.

Há uma âncora enferrujando
os tempos
e o horizonte vai escurecendo.

O crepúsculo náutico
é tedioso.

A gaivota sumiu
-Mas há o barulho das ondas -

O mar parece adormecer.

Eu canto, solitário,
sem cantos de sereias,
enquanto meus olhos,
úmidos, 
esperam o amanhã.
(Do livro Abstratos poéticos)

Dobradiças


A porta está fechada
há muito tempo.
As dobradiças rangem,
longamente.

Chove não tão forte, 
mas os pés parecem afogados.

Um ventinho anuncia pausa.
Pingo isolado faz a poça tremer.

Lá dentro está seco.

O tempo deve ter agido,
mas criou mau cheiro no ambiente.

Marcas de total ausência.

O que foi sonho, 
foi-se.

Foice.

As marcas estão em tudo.

Era lindo!

Findou-se
e a criação não encanta, 
não é mais arte.

Voltar ao trem é inevitável:
- balança, balança, balança
e segue seu caminho, seu fluxo.

As estações se sucedem.
Sigamos.
A vida assim pede.

Ainda chove,
não há enganos.
Tudo está vivo,
só não se expressa.

Tempo
impiedoso, indigesto, implacável.
Nada desfaz, apenas afasta,
lacra e esconde a chave.

O olhar em pântanos 
não brilha cintilante.

Nada voltará a ser como antes.

Cegará em instantes.

(Do livro Abstratos poéticos)

É assim


Pouco adianta a mim
conhecer teus anseios.

Afinal, o mundo é cheio de perigos
e ameaças.

Por isso, sonhe o possível.

Há presunção de culpa deliberada
contra a liberdade.
E somos só mais um,
diante do fuzil municiado.

Basta um disparo, 
nem tão raro,
nem tão caro.
(Do livro Abstratos poéticos)

E partem


A senhora consciência noturna
se torna longa
no horizonte reflexivo.

Monossílabos sussurrados
de outra boca,
instintivamente,
convence as estrelas

A noite segue fria,
lenta 
e muda.
(Do livro Abstratos poéticos)

Em mim sou


Sou quando digo,
mas, quando dizes não, 
sou mais.

Só minha voz me fala;
O que vem de outra boca
não me desperta.

Eu vivo em mim
e em mim sou.

Os que são por aí
nunca serão meus.

E quando eu sair, 
sairei solitário,
sem nenhum aceno,
nenhuma despedida. 

Silenciosamente invisível.

(Do livro Abstratos poéticos)

Emudeci


A palavra bateu no rosto
e desmanchou o branco.

Emudeci.

Corei no silêncio, 
ante o abismo.

O oxigênio distante
ignorou o meu sufoco.

Inventei vidas 
minhas.
Adivinhei pensamentos,
em ares abstratos:

- Sobrevivi. 
(Do livro Abstratos poéticos)

Epílogo


A noite despertará monstros adormecidos.
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos,
acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a alma
esconderá as marcas do sofrimento.

O dia ameaçará adentrar as janelas,
cálido em amarelos claros,
com a força que desbota as aquarelas,
fazendo sombras e, refletindo nelas,
o tormento do sino sem badalos.

Abrir-se-ão moradas sepulcrais
em meio a furdunço desautorizado e silvestre,
da forma que fizeram os plantonistas de janela,
na vigência ilibada de vida tida como discreta:
- Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.

Não. Sem bajulações de arautos,
nem piedade de falastrões.

Bastará que conste nos autos
que, pela vida, abominou as falações.

(Do livro Abstratos poéticos)

Estou lá


Nos quadros e afins
nos vasos e nos jardins

Em arranjos preparados 
nos frascos perfumados

Pétala aromatizada
Natureza viva
Flor florida.

Estranho meu


Sou ativista do inativo
porque vibro com meus sonhos não vividos.
Emociono-me com o que não tenho sentido.
Lembro-me do que sempre foi esquecido.

Sou o belo que não se viu.
Juventude que do nada envelheceu,
vida de quem nunca viveu,
morte de quem sequer nasceu.

Não me conheço.

Sou o estranho meu,
fé e crença de ateu.

Prazer em não me conhecer!

- É só o que posso dizer.
(Do livro Abstratos poéticos)

Eterno


Sobre nós:
- Cumpriremos
todas as promessas

Me esquecerei,
te esquecerás

Para sempre.

Extremos


Sinto meu egoísmo
Minha voz me diz tanto
com tamanha segurança

Sou eu comigo
... Sigo

Me canso
Me abandono
Fico distante
Perco o sono
Sou eu assim:
às vezes comigo,
outras sem mim.

Faiscando


Trago nos olhos
O brilho do sol
de verão.

A sombra nos tijolos
forma no muro
algo sem tradução.

A imaginação colore
com jatos férteis
vindos do coração.

Faltam infinitos


Muito além de um caminho: 
vida!

Passos ansiosos
nem sempre pensados;
Pés pesados no chão.

Viver é dádiva!

Fulminante o sol se põe
como a brisa da praia

Vive-se o instante!

Faltaram infinitos.
A vida nunca para!

Viver é ser!

Fases


Vozes do passado
- Compõem pinturas –
e expõem na tela
traços de lonjuras

A vida 
é sombra
de sonhos
fantasiados.

O tempo...

Jovens noites de brisa

Nostálgica juventude.

Férias


Ela mexia o café
Ele espiava o mar
Hialino olhar

Ela queria sol de bronze
Ele queria ondas
de mergulhar

Ao sol tornaram-se areia e mar.

Ficou


Restou um rastro de poesia
em folhas rabiscadas.

Um rascunho de poema,
uma caneta trincada
e um caderno envelhecido
com marcas de café.
 
Tocos abundantes
num cinzeiro enferrujado.

Ficou a vida sem óculos:
 - O poeta foi cegado.

(Do livro Abstratos poéticos)

Fim do dia


O sol se pôs,
neste dia interminável,
de ruas infindáveis
e pessoas apressadas...

Escureceu.

Estrelas, lua e a
calmaria...

Me verei
no sono cansado
após
mais um dia superado.

(Do livro Abstratos poéticos)

Fímbria


Há um nada que me segue
insistente, 
mesmo indolente
me flagela

Nada feito de vazios,
de carências ansiosas
- Vida morrendo de sede –
na enchente da modernidade

Vazio que nocauteia
Fímbria de maldições
Velas brancas acendem
para iluminarem-me o chão.

Final


Uma pomba, inocente
pousa sobre um túmulo
Os corpos estão aqui, 
- suponho -
Onde estarão suas almas?
Desconfiada me observa.
Estou vivo!
- Grito.
Eu fico.
Ela voa...
Busca o montanhoso 
ponto do Condor
iluminado pelo sol
Vai tornar-se alma.

Flash


A vida traz o inesperado
- Gol olímpico –
Luas aluadas
Sombras que amanhecem

O rio sobe a montanha
em andaimes a espiá-la
e desliza em lágrimas

Vive e cultiva a flor
- Da pele -
Espinha e sente
o odor
da dor que dói
silenciosa

Acena ao divino
num flash de fé

Adormece leve 
escutando o coração

Em paz…

Flores


Abrem-se flores
e sucumbem rápido
os dias setembrinos.

Mas ainda se pode
dormir entre pétalas
uma saudável sesta,
no mar primaveril.

Borboletas se perfumam
inocentes e incautas
no sol florido.

Ao longe, um ruído:
 - Outubro se aproxima.

Lá no alto, uma folha
balança
- bem acima-

dóceis dias.
(Do livro Abstratos poéticos)

Fluxo


Não há culpa
O tempo erra
e a vida segue

O que choramos 
não é a morte,
talvez a dor

Jeito de não ser;
Águas
sem rio,
Humanos sem brios.

Folhas


Quando uma porta se fecha,
sinto a tristeza da alma vazia.
Imagino a dor na cravada da flecha,
que vem da solidão e dos amargurados dias.

É como um grito que ninguém ouve,
como um silêncio que nos torna insanos.
Sei que há lagartas cortando folhas
e raivosas tesouras abrindo o pano.

É como a tristeza, depois que o trem passa,
e a incerteza da dúvida se a angústia cessará.
É choro no embarque entre promessas
e a incerteza de quando a saudade gritará. 

(Do livro Abstratos poéticos)

Fragrância


O poema fez brotar
lindas flores,  
em essências especiais.

cada verso, uma fragrância.
Cada estrofe, um acorde
com notas olfativas
e concentradas.

Um poema  meigo
e perfumado
para ser sentido, 
para ser abrigado.

E, pela alma,
acalentado.

(Do livro Abstratos poéticos)

Fugaz


Ausências que habitam
distantes épocas
das minhas memórias,
sem nomes,
sem rostos,
sem corpos.

Endereços nem constam.
falta a glória,
faltam folhas,
sobram histórias,
esquecidas.

Nem meu nome aparece.

Ergo as mãos,
saúdo o finito.

Lembro-me de que tudo era bonito,
quase uma prece.

Ajoelho-me
e sinto que algumas raízes
resistem em heroísmo.

Há uma luz
esperançosa,
mas não há recomeços.

Dou mais alguns passos
para recordar o vivido,

e depois…
o último tropeço.
(Do livro Abstratos poéticos)

Futuro


Sobre o amanhã:
- Tudo é igual, nada vejo;
Pouco sinto,
nada sei

Talvez meus olhos amanheçam cheios
e meu sorriso venha a óbito
ao escutar
o grito sofrido dos homens 
em brados por justiça.

Mundo ingrato!

Gustativo


Maduras,
escorrem,
colorem, 
fermentam

Esmagadas
transformam-se

As palavras
Ganham gosto.

Imagens fugazes


Primeiro, a boca,
a fala, o encanto...

Depois, o beijo.

E depois,
bem depois:

 - Os olhos:
espelhos frios,
fixos e sombrios.

Imagens fugazes,
detalhes sutis,
um olhar...
feliz.

Como
réstia de sol
e cheiro de flor.

Longe e visível,
léguas de um girassol
e o sol a acariciá-lo,
 - suavemente!

Na memória, 
voltam versos,
que o vento levou.

Era intenso o brilho,
mas a vida apagou.

Da boca do beijo
veio o silêncio
que...

Para sempre se calou.
(Do livro Abstratos poéticos)

Ímpeto


Desejo abraços apertados,
sorrisos sinceros e francos,
corações em paz, confortados,
e amizades sólidas, sem solavancos.

Que a corrida não seja só pela vitória,
nem somente para constar na história.
Que coisas ruins saiam da memória,
porque todos merecem um mínimo de glória.

Que a fé não precise remover montanhas;
que medalhas não sejam só para quem ganha.
Que todos tenham o poder da barganha
e que realizemos grandes façanhas.

(Do livro Abstratos poéticos)

Infrutíferas


Em silêncio a luz apagou,
A alma aquietou-se,
triste e aniquilada

Vaga-lumes de estrelas
distantes e calados,
iluminado a madrugada

Olhos sem brilho
vertem dormentes,
frutas inférteis,
infrutíferas sementes

Tudo é deserto
O verde morreu
O eco distante
diz o que viveu.

Infusão


O perfume exala,
inspirando o rimador.

Quente é a poesia.

Seu rosto é retrato
de vapor abstrato,
desenhado no espelho.

O verso cafeinado
ascende os sonhos 
dá asas aos pensamentos
enobrece a criação 
e

ternura
poética

voa. 

(Do livro Abstratos poéticos)

Instante


Há paz em ver o mar
Sossego interior
alimentando o sol

Versos em suas ondas
lembram-me que ontem,
pensativo, contei estrelas

Na areia a gaivota
silencia o semblante

A tarde envelheceu...

- Sozinha -

Intuindo


Lembranças enfileiradas,
balançadas
na cadeira de palha
de pernas quadradas.

O olhar fixo na estrada
Algum movimento...
- Vento – e mais nada!

O tempo não avança
nesta distância 
- IsolamentoEspera demorada.

O azul do céu 
- Nos olhos -
aguardando...

Lembranças


Lembranças tantas...!

Qual é a melhor, eu nem sei...

Algumas, certamente vivi.
Outras, creio, sonhei.

O tempo andou distraído
e me alegro ao me lembrar
- nesta ausência de memória -
de tudo o que foi vivido.

A melhor delas
nem revelo.

Não por esquecimento,
mas pelo prazer
de a guardar...
(Do livro Abstratos poéticos)

Lembrei-me de Pietá


Trago mãos vazias
e posso até mostrá-las.
Nos meus braços,
nada há.

A dor de Maria
me faz sentir
que sou total desalinho,
tropeçando nas pedras 
do caminho.

Não há pontes unindo
meu sul ao meu norte.

E o vento melancólico
sopra, excessivamente forte.

- A alma balança.

Onde estará o ponto sagrado
da harmonia humana
para o mundo ser ancorado?

(Do livro Abstratos poéticos)

Liberdade


Só sonha liberdade
quem preso está
e brada por socorro
na incerteza das caminhadas.

Os versos pulsam,
sacodem, dançam
e explodem de alegria.

Comemoram, aplaudem,
elogiam, criticam.

Lamentam,
afugentam angústias
 e se calam. 

Falam, escutam,
declamam, rimam.

Versos têm alma.

Verso é vida!

(Do livro Abstratos poéticos)

Lua


A lua se deita
na minha cama feita
e some, antes que amanheça.

Procuro-a na pureza dos bosques,
em réstias de luzes 
e em folhas e selvas.

Avisto alguns bichos,
beirando as águas correntes,
em sonhos que a mata esconde.

Fixo o olhar sobre o rio
e a vejo ao fundo
toda nua,
toda lua.

(Do livro Abstratos poéticos)

Maçãs


Maçãs coradas,
olhar infindo,
dizendo nada,
sorriso lindo!

Marcas do tempo
entre duas datas.
História composta,
hiatos do vento,
em sílabas separadas.

Do dito tudo
sobrou o nada!
(Do livro Abstratos poéticos)

Metades


O poeta e o poema
são confidentes.
Cada um sabe
o que o outro sente.

Estando próximos
ou ausentes.

São discretos.

Comunicam-se,
sabiamente.

Elo poético lindo de ver:

- Os dois sabem como ser
e se entenderem.

(Do livro Abstratos poéticos)

Morada de versos


Para eu ser feliz
bastam-me bons amigos,
uma morada de versos
rodeada de inspirações...

Uma corda no violão,
canções de fé e otimismo,
uma vertente de benquerença
e apreços no coração...

O barulho da natureza,
o som da poesia em meus ouvidos
e a certeza de que as amizades
são abraços de gratidão.

Nada


Há promessas
de eternidade,
mas...

- Nada resiste -
(Há falácias em tudo),
nem o corpo,
nem a alma,
nem a mente resiste.

Ante o corpo nu,
o desejo aflora
e vai embora.

Tudo 
(À força da marreta)
sucumbe,
desanda,
desmonta.

Ao demolir-se,
ou se perde,
ou  renasce,
em cinzas,
sobre as águas salgadas. 

(Do livro Abstratos poéticos)

No chão


A lua, até que enfim,
(- Quem diria!)
vai pousar no meu jardim,
deslizando 
em meu rosto
e abraçando meu
corpo.

Tão docemente
e amável!

Nenhuma outra intenção,
(lua que venero
e que me enche de paixão),
deitada comigo,
aqui no chão.

(Do livro Abstratos poéticos)

Notas


Canções intensas sem notas,
versos sem métrica,
amor sem medida.

Nem todas as belezas 
as mãos alcançam.

- Há flores mortas –

E há também 
obstáculos imperceptíveis.

Quando o amor toca a alma
nem o silêncio 
(dos passarinhos)
cessa o voo.

Ele é música,
é poesia,
desconhece fronteiras,
alimenta o espírito
e aniquila barreiras.

(Do livro Abstratos poéticos)

Novos amanhãs


Nas ruas, a população
move-se mascarada,
atônita.

Uma pontinha de vida
chora ...

Lágrimas mundiais
unem nações.

Espalha-se a fome
e a dor tudo fecha.

Mas há o sol,
acompanhando o mar
e projetando novos amanhãs...

Há raios de fé
e ondas de esperança,
dizendo que ainda
devemos sonhar.
(Do livro Abstratos poéticos)

Olhar


A janela apoia meu peito
Vejo a multidão aglomerada
pelas calçadas
na rua Solidão

Em mim a comoção
Desejos de abraçar 
Enviar-lhes missivas de amor

A ternura enche-me o peito
faz brilhar meus pensamentos
Partículas doces de um sentimento

Jogo ao vento…

Olhar


Olhei demoradamente 
para a foto da família.

Rostos lindos,
que meu coração vê.

Dedicatória
de algum ano
em que o sol se punha, rindo.

De lá para cá, eu a perdi,
juventude!

Agora, só a tenho retratada.

Mas eu ainda a encontro na memória...

Ficou longe 
a cor da infância!

Silêncio é o que prende
a garganta.

Fecho os olhos.

Saudade!

(Do livro Abstratos poéticos)

Outra estação


É preciso começar
pelo começo – dirão.
 - Mas, onde é o começo?

Pela mente 
é a razão.

Pelo coração
é a emoção.

E, se tudo o que começa,
tem fim,
não há pressa em começar.

Não, não começaria ainda
- talvez, um dia -
em plena primavera,
para começar pela flor.

Ou  começaria em uma outra estação
pela raiz.

Não gosto de finais.

Não começarei agora
- não começarei -
Jamais.
(Do livro Abstratos poéticos)

Outra vez


Manhã virgem de sol
Dor doída
que já não dói

A vida é um flash.

Ontem
ficou pra trás

Caminhos desbotam
as folhas faciais

Anoitece outono
para amanhecer inverno

E o frio aprisiona,

mas o colorido da primavera,
- Que dádiva! –
avança pelos dias de verão

E a liberdade de amar
o mesmo amor
- outra vez -
ilumina o coração.

Palavras


Se apontas em palavras,
já é má língua.
Se boa fosse, 
silenciaria.

Se buscas a transparência,
coloca o coração na mão
e fita-o com olhos céticos.

Verás absurdos ecléticos
em sujeitos na primeira pessoa.

Abras-te.
Há outros.
Inclua-as
nas orações que entoas.
(Do livro Abstratos poéticos)

Paraíso


Permita-me voltar ao lugar
onde se escala pelo ar
sem ruídos, sem plateia,
sentindo o perfume das azaleias.

Sacadas enormes, suspensas, 
cheias de vazios brilhantes,
onde o tempo corre diferente
e as horas são meros instantes.

Ali se vive a felicidade.
Tudo branco, tudo igual.
Há troféus abundantes,
que ninguém quer levantar.

Não, não é o céu que se desenha,
nem o paraíso do desejo sonhado.
É um lugar de fantasias naturais,
hoje, atual - sem futuro, sem passado.
(Do livro Abstratos poéticos)

Passagem


Seja via só de passagem.
Não plante futuros entre as pedras,
nem abane adeuses em cais,
em momentos sombrios.

Melhor ouvirmos o vento declamar
redemoinho-de-poesias
que enchem de alegrias,
mesmo que fúteis e vazias.

Sem medo de decepções,
mantendo o sonho bem vivo
e a felicidade em nossas mãos.

(Do livro Abstratos poéticos)

Paz e poesia


Não dá para ver a poesia como estática,
pacífica e calada.
Ela tem que derramar, tem que escorrer,
tem que ter versos que se entortem
para passar entre pedras, em fendas minúsculas.

Tem que ter a rebeldia objetiva de quem luta,
de quem protesta e sai à rua.

Poesia tem que ser expelida pela pele, em gotas suadas de inspiração,
tem que causar reações calorosas na mente.

Tem que limpar o corpo e a alma
e ,ainda assim, ser combativa.
Tem que nascer tomada de insatisfação.

Não será pacificadora se vier em paz.

(Do livro Abstratos poéticos)

Pelo ar


Exilados os dias:
- Self da vida 
sem lume.

Paisagem atroz, 
cheiro de pólvora
mata o ar.

Mundo órfão.

Dormem as borboletas.
Pedras endurecem o tom
e as areias desmaiam o chão.

Gotículas de silêncio.
O vento
pouco tem para balançar.

Aroma de chuva ausente,
o vaso vazio,
sedento de sementes.
(Do livro Abstratos poéticos)

Pés


Pés calmos não avançam
e a estrada os vence.

Que caminhos percorrem?

Cansados levam os olhos
a ver misérias humanas
criadas pelo homem.

Um olho olha,
o outro cala.

A lágrima ... 

Tão duro construir
a paz!

Repetem-se os passos
- O anexo não salvou Anne -
Nada se salva
O mundo acaba
A humanidade é a mesma.

Plurais


O tempo nublou
e a chuva virá
ao anoitecer.

Falta humanidade
e botes Salva-vidas.

Discursos plurais,
razões singulares.

Pobre gente!

Em mãos que metem a mão
o poder apodrece.

E o mal floresce.

(Do livro Abstratos poéticos)

Pranto oculto


Por suas estrelas,
a noite é linda,
e a escuridão que
não se vê
é pranto oculto,
latejante,
vulto
que dói profundo.

Escala o mundo
… em vão.

É a estrela mais distante,
entalada na memória
e no semblante.

É como verso acabado
de amor sem amantes.

E a que brilha
é como a velha música
em notas da trilha,
algo grande que antes havia
e não há mais.

Por todas elas 
a noite…
 
Às vezes escura,
às vezes bela.

É como a vida:
 - Eterna espera.

(Do livro Abstratos poéticos)

Quietude


Onde se abriga o silêncio
que tantos guardam?

Dizem até que o silêncio fala,
que talvez se expresse 
na voz do rio que corre,
no canto matinal dos passarinhos
e no vento assobiando, de mansinho.

Talvez o silêncio esteja
na música distante
ou no poema lírico engavetado.

Talvez se abrigue
nos segredos prometidos
ou no amor e seu gemidos.

Talvez até grite, 
mas não é ouvido.

- Existe o silêncio
ou o mundo 
está muito distante 
para ouvi-lo?
(Do livro Abstratos poéticos)

Química


A química é que faz
o vaga-lume brilhar
e a noite destaca a luz
no horizonte de trevas.

Vaga o luzente 
inocente  em seu voo,
num lume poético,
luzindo no infinito.

Iluminado, o mundo 
é bem mais bonito.

Luz é poesia.  


(Do livro Abstratos poéticos)

Recorrente


As reticências ainda dormem 
nas ruínas das destruições
do tempo estupido e visceral

Antenas anônimas captam 
ruídos ruidosos da rua e as
câmaras indolentes
filmam a metrópole aflita

Respingos de caos e sombras 
no muro baleado – imóvel -
grafitado de aflições efêmeras
ante os trilhos do destino

Só os egos não veem os fósseis
- Não só Judas, nem só Gení –
Empáfia máfia repugnante:
quem manda pode?

Rédeas


Seguro
as rédeas da vida
na penumbra
natural do anoitecer.

Amanheci faz tanto tempo…!

Léguas percorridas
marcaram o caminho.

inúteis mares navegados,
agora percebo:
- Nem toda onda é mar.

(Do livro Abstratos poéticos)

Relógios


Os relógios são severos
e, as sombras, escassas.

Diálogos sumiram,
amordaçados pela tecnologia.

Vivendo em si,
angustiado,
o homem se tornou isolado.

Distraído, distante.
com lobos
na alma.
(Do livro Abstratos poéticos)

Sentença


Sentenciei a noite,
apaguei as estrelas,
escureci a lua
e proibi lembranças.

O mundo virou trevas.

Dizer é mais forte,
sentir é menos,
muito menos.

Dizer enfurece alheios,
desperta dormidos
e azeda.

Sentir é solitário.

Silêncio não dá eco
e assim, calado,
quase dormente,
meu eu me invade,
docemente
adormeço 


- Há tanta suavidade em não ser!

(Do livro Abstratos poéticos)

Sobre mim


Pingos de chuva,
guarda-chuvas.

Réstias de sol,
guarda-sóis.

Rosas dos ventos,
pétalas se abrindo
de um girassol.

(Do livro Abstratos poéticos)

Solão


A pele arde
ao meio dia
a vida puxada pela copada
arrebenta-se ao meio

estrada de pó

solão

piedade!

Passos suspensos irrespiráveis 
olhar incrédulo e horrorizado 
do gado
faminto no potreiro
- O verde definha-

Sorte e azar


Melhor não pensar
O que tiver que nascer
nascerá.

E se pensar
melhor é calar
Se tiver que crescer
crescerá.

O tempo resolve
Pra lá ou pra cá
Nem toda falta de sorte 
é azar.

Sua vida


Sua vida 
é seu belo poema,
é sua mais perfeita 
obra de arte.

É sua canção predileta
e sua melhor peça teatral.

Sua vida é seu presente:
­- Viva-a  intensamente! 

Sorria feliz!

Use figurinos coloridos,
experimente novos sabores
e abrace, com carinho, 
seus amores.

A vida
é sua incontestável vitória.

Agradeça.
- É sua glória!
(Do livro Abstratos poéticos)

Tardezinha


Entardeceu,
o relógio soou.

A matriz emite o som 
e contempla a praça.

-  Para que servem as horas?

Gosto de ser feliz,
tanto, que sou!

Mas o tempo...

Se não passasse
haveria adeuses?

O presente, 
eu sei,
é todo meu.

O tempo…
só pode ser Deus.
(Do livro Abstratos poéticos)

Temporal


O horizonte escureceu,
o vento rapidamente se levantou,
o sol partiu fugitivo.

A abelha abandou a flor.

Quase em desespero,
o pássaro iniciou
um voo longínquo.

E o vento
parece começar a despir tudo.

O tempo…
 
O temporal
tem  força 
e nunca é igual.

Tão bruto,
descomunal,
arranca placas,
espalha latas,
arremessa papéis.

Galopa medos,
anseios,
olhos cheios.

E, quando passa,
ainda fica para trás.

(Do livro Abstratos poéticos)

Tempos e ventos


Viver é juntar pétalas 
Formar rosas
de tempos
e ventos

Fora isso,
tudo é depois

Exceto nós
que somos agora

Em nosso Jeito 
de não sermos.

Tinto


Vermelha uva
- Vinho -
Cacho sem espinhos
Ramos podados
Cipós sustentados
e o pássaro em volta

Um grão no papo,
outro no chão

O canto silvestre
de agradecimento
Se não fosse o pássaro
seria o vento.

Verdade


Somos tão grandes quanto a verdade,
na mesma proporção, 
em que somos tão pequenos.

A verdade é a chata da razão.

Viver é emoção.

sonhos é que fazem acontecer.

O resto é brutalidade.

O emotivo vive, sente e sonha.
O racional calcula o que não vive.

Velhos conflitos humanos:
- Eu sonho
e a verdade sonha comigo.

(Do livro Abstratos poéticos)

Viajante


No lado do carona,
a térmica na mateira

Da erva úmida,
o cheiro do mate

No rádio alguma música
regional

A paisagem bela
A serra
Os morros
A terra

Diante dos olhos
nuvens se movem
sem rosto

Dirigindo,
penso em Deus

Sou parte do mundo;
Sou tão pequeno!

Ligo as luzes,
Já é noite.

A estrada é solitária
- Sempre foi -
Reflexos luminosos
indicam sereno da madrugada

Peço a um anjo
que me guie

A vida não tem parada
Já, já
surgirá um novo dia.

Vida de adulto


Ao final da tarde penso em um poema,
mas me lembro de que não comprei leite
e corro até a padaria

Amanhã a conta da água
e depois a da energia
e sábado tem o aluguel

E domingo tem a fome
e segunda tem a fome
e sempre tem a fome

Em um dia o dinheiro some,
o poema falece,
os olhos tristes
veem outro dia amanhecer.

Visão


Deixei de ver o passado
Faltam-me olhos compridos

E na divisa
sentei-me à sombra
e a encolhi até meus pés

Risquei o chão
de limites

Asas me voam 

Sigo o caminho
Sou feito de corações.

Visão


Vi a lua
entre árvores,
entre montes,
entre névoas.

Tão alta!

Não há pontes,
só o horizonte
vazio.

Quisera poder alcançá-la
e deixar marcas de pés
para marcar o caminho.

Tão distante!

Mas a vejo
e tocá-la
é um devaneio,
nada mais do que 
um mero desejo. 
(Do livro Abstratos poéticos)

Vontades


De onde virão essas vontades,
que, vez ou outra, nos invadem,
misteriosamente? 

- Nesses instantes, o mundo muda.

Esses milagres,
(Meu Deus!)
nos fazem sensíveis
e frágeis. 

Até o egoísmo voltar,
a insensibilidade voltar
e tudo virar realidade. 

Voltamos a ser tudo,
menos gente. 
(Do livro Abstratos poéticos)