Petra Correia

Improviso a dois


Somos destinos raros, alados e entrelaçados,
Conhecemos o mundo e o mundo conhece-nos a nós
Somos ambos destinos a desfazer os grandes nós.

Ali e acolá, acima e abaixo,
Constantes de duas vidas já fora do prazo.
Rotina melancólica, amor inquietante.
Palavras proferidas, guardadas na estante.

Desabafos


Momentos de fôlego instantâneo que me surgem pela boca acima e que despejo nos meus cadernos inacabados e rasgados, devido a instantes em que outrora me fizeram descarregar fúrias e revoltas comigo mesma, com os outros e com o mundo.

Mas no fundo, são apenas pensamentos, desabafos.
Nada verdadeiramente real no meu irreal.

Momento


Incapacidades inexplicáveis surgem à desfilada,
Momentos de pura agonia com um toque de alegria.
Palavras cruzadas sublinham o pensamento
Como um quebra-cabeças sem qualquer fundamento.
Vontade de gritar num histerismo (frenético),
Mas ao mesmo tempo a tal resignação para o que virá, para a verdade…
O futuro que se desconhece.
Músicas pairam num ar carregado de lembranças de momentos relevantes,
Aquele tentar não acreditar ou tentar não lembrar prevalece, 
E a paz de um coração é (sempre) em vão.

8 27 2007


Inesperadamente. Tão rápido e veemente, como se não houvesse amanhã. Vieste.
 
Mostraste-me o teu mundo, a tua vida, as pessoas que te rodeiam e o que te faz constantemente rodar. Ensinaste-me a soletrar os meus e teus pensamentos, sem erro, sem medo, tão dementemente correcto e digno.
Corri atrás do sol, vigiei a lua, contei as estrelas, desmantelei as ondas do mar e colhi conchas perdidas na areia, ao teu lado, somente. Indaguei os meus sentimentos, estavam certos, examinei o meu coração, estava mais que vivo, tudo evidentemente perdido por ti.
Assim vieste, assim foste, deixando para trás esperanças libertadas ao céu, aos pássaros, à terra, à pequena cabana da nossa vida. Foste. Foste decidido a não voltar, e eu tão decidida por ti, fiquei desamparada, estendida em profundas mágoas no aconchego de lágrimas de um rosto que parecia não voltar a mudar de expressão.

Inesperadamente. Tão rápido e intenso, como se não houvesse amanhã. Foste.
 
Para nunca mais voltar, eu sei.

Alma e Corpo


Pensamentos ocorrem numa cabeça fatigada, frustrada, (por vezes) reabilitada, mas extremamente baralhada. Essa cabeça ligada a um corpo que mal o seu suor suporta, pesa na alma, no sacrifício, na dor.

E a alma?

Essa deixou de reagir há bastante tempo, mas continua lá, como prisioneira numa cela em que as paredes se movem numa ilusão óptica porém na realidade (infelizmente) firmes e inquebráveis, onde o tempo passa cada segundo e debilita a sua capacidade de sobrevivência.

Uma Alma. Um Corpo.
Antagónicos