Alguns Poemas

Do dia p’ra noite

A cada dia vou caindo na noite escura
como se ela fosse a eternidade.

Profundo é o sono que me espreita na claridade
solto-me do cansaço, como se eu fosse a cair
num poço de pétalas rubras.

A passagem do ontem vem
no que depois do durante sou.

A luz senta-se nos suspiros meus
outrora limites do tempo que não viveu.

Agora, deixei de ser ontem
nem quero ser hoje
nem quero ser amanhã.

As origens existências do meu eu
não querem marcar esta minha passagem
porque não sou o sonho realizado em mim
mas a força de o realizar um dia.

O caminho que é meu
não quero marcar
pois sou todos os caminhos
do meu imaginário
a minha presença satisfaz-me
num silêncio quase religioso de pecados meus.

A cada dia espero que a luz venha
iluminar cada noite de onde venho, para onde vou.

Todas as coisas que me esperam e não me falam
eu não digo a ninguém
apenas cheiro a luz do movimento que me embala a alma
e a alma traz o sorriso gigante que viaja pelo mundo.

Conheço cada cor de cada borboleta azul
e as minhas descobertas de paz
são paisagens que alcanço no meu respirar.

Reinvento-me a cada entardecer
enquanto meu caminhar vai de pés descalços
trago velas acesas nas delícias sentidas
e os aromas que recebo
são saudades dos tempos da infância.


os espirais são rubras rosas de fé
a criar minhas texturas dentro das minhas poesias
e a noite tem os temperos de cada abraço
que não dei durante o dia.

Meus sonhos são flores
minhas flores são rubras rosas
desfeitas em lágrimas
por cada andorinha morta.

Na noite vou e inspiro o beijo nos gestos de amor
enquanto os desejos são o sol da madrugada
que nunca deixou de ser
o meu recomeço.

Palavras são palavras
se não são escritas, voam com o vento
as palavras nunca recuam quando ditas
e o céu agarra-as para toda a vida
e guarnece todas as estrelas que nele cintilam.



                                                                por, Rosa Magalhães
                                                                        a 28 Out. 2009

O futuro não tem fim!

Rompem-se raias na fenece do teu corpo / acordo por não acudires-te a quando da aurora / estacas-te por aí acamado no degrau da escada e não ateias laços de poetas nem da canção de escárnio / o futuro nunca terá fim e há uma fogueira lá fora que arde de tédio nos teus olhos a cegar-te / a roda de açucenas é franzina / contas-te labirintos de adultos mal sarados que nada sabem senão o mal de afecto e foges / foges de ti enquanto podes fugir e nessa loucura amarrada entregas-te e omites / há protegidos de Deus há protegidos do diabo / serei o segundo a trazer cabelos castos e lume afogueado no teu ar azedo / declama-se bela prosa em formato de rosa que sustenta a minha calma / teus mares sem marés vivas estão sem fervor / faz-me um favor / voa-te / afora-te por aí como no dia em que ela te note / o degrau de escada está quebrado sem saber-te / já correste atrás do nada e o nada acarretaste / afinal nem olha teus dedos falidos de ataúde numa chama desgovernada que esfriada a obscuridade / não acalentas viva alma e o que sucede aos entusiastas é tormento sem cabeça e coração sem juízo / então adeus / vou-me para que não veja esse estado minguado rastejar por amor como fenece desvitalizado / vou para o lado que vai o vento / amanhã será cedo / vou dormir á correr para acordar a crescer / e lá vai o delinquente empurrado à berma da estrada que não diz nada / adeus vou para lá da porta / vou para lá da lua / lua gigante e iluminada / um céu perfeito onde minha tentação é meu amor amado a querer-me do mesmo jeito / homem com carácter que me leva pela mão e me agarra pelo coração até ao inferno se caso for certo / lá o amor é casto como meus cabelos longos / a sombra que me leve a deixar-me ir e a luz fosca que vejo por terra anda a cair / irei partir para despir todo o sentimento que vai longe / enquanto círios híbridos derretem bebo café sem trazer veneno / de ti vem coração que não ameno / pobre de amargo / insecto paradigma que se apoia noutro / e diz que é por engano como formiga tonta à deriva do pródigo abatimento.


                                                                por, Rosa Magalhães
                                                                        a 04 Nov. 2009

AMorrer de AmorPorTi !

Doutrina-me!
Ama-me!
Esquece-me da tua origem
em mim metade é amor, meu amor
bem sabes, que amor maior inexiste
menos ainda o amor é metade! J

ubiloso sentimento é festivo não triste
tristeza alegre não existe
nem dois corações instigados de coisa errada
nem dizeres ditos, como sina ou destino
o tempo rasga o vento que ensejo
o impulso, não tem abrigo
nem amor tem de ser desespero que peleja
nem náusea o afeiçoado.

Quero voar!
Voar rumo ao meu querer
semear abraços e beijos
para quê, se teu coração
anda a difundir minha alma!

Amor, silêncios mudos, nossa arte
na estrada há um trilho e o desígnio
que vereda vielas a ir ao imenso infinito.

Seremos cansaço?
Seremos o tédio?
Ou a fadiga da pressa!

Não! Não passes à azáfama da vida minha!
Doutrina-me, imploro!
Na ânsia perdida e afã
és quem me castiga o amor vão
entrega-me confidente, tua alma
que o busto desígnio da planície
a mim já não pertence.

Ama-me num intento qualificativo
sob alçada do meu domínio
penas e suplícios, tormentos
que bradam o gentil do teu nome.

Olhares por nós são distintos
cortês afável pesar, dor macula
é de novo sonhar-te!

És quimera guarnecida no meu cabelo
as noites são minhas fantasias
noites...
... minhas noites
ah minhas noites mal dormidas!
E um céu a cobrir-me pelas paredes do gelo.

Meu amor pode ser inquietação de inferno
sobressalto que te importuna, a querer-me
almejado amor, amor meu, meu desejo
ansiar é teu jeito, meu algemado
a fugir-te exutório!

Mera questão franzina, a seduzir-te
Doutrina-me! O amor pede mérito!
Amor não tem tamanho, tem mais valia!
Será grande desprovido a carecer carecido
se o apreço é estima
é afecto ou castigo e vai no peito.

Ai no peito
no peito, uma só pedra rubra
a nutrir batimento que remexe
vou a esquece-me de esquecer-te
alvoroço do perder-te
no peito vão plangentes os sentidos
lastimável quimera...
ai quem me dera, sorrir-te!

Quem me dera nunca ver a partir-te!
E nem um coração, ama sozinho
e amor, não se deita fora!

Ama-me!
Amor assim tão grande não pode fugir-te!
Doutrina-me
ou então, esquece-me da tua origem!
Vou a morrer-te, morrerei contigo
comigo nesta morte, vou a esquecer-te.


por,
Rosa Magalhães
a 27 Out. 2009

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