Alguns Poemas

Já não confio em mim

Já não confio em mim.
Em tempos o meu maior confidente,
acreditava que cada risada
vinda do quarto do lado
pertencia a alguém com cara
e lábios e dentes e língua.

Hoje não sei, não posso saber
se é gente ou se é fantasmas
ou se eu próprio ri
e do que ri
e porque ri,
não tem piada...

Se a mim delego
tantas partes da minha vida,
que fazer, que fazer,
oh, toda uma vida nas mãos
de alguém em quem não confio,
alguém por quem tenho estima
mas não confiança.

Se na rua me decidir
a deixar o embalo dos peões
e a caminhar com os carros,
que será de mim, que será de mim,
ou se tomar os comprimidos errados
ou porventura mergulhar
num lago demasiado fundo
que será de mim que não sei nadar
mais que uma dúzia de metros,
que será de mim...

Que voz é esta que soa
ao piano contemporâneo
dos compositores malditos
e absurdos,
onde foi a minha,
ai onde foi a minha?
Não era uma voz doce
mas era minha
e eu aceitei-a...

Compreendo que eu seja eu.
O espelho é o espelho
e eu sou eu,
certo.

E compreendo que
quem deposita a confiança
é também o depósito,
certo.

Só me custa perceber
por que razão
as minhas pegadas
estão voltadas
para trás.
Para trás,
vejam lá!

E porque é que
quando baixo os braços
eles não pendem
parelelos ao corpo,
porque têm espasmos
que não mos deixam baixar
nem erguer verticalmente
ortogonalmente...

Não percebo o porquê
de de manhã
vomitar moscas,
sim,
moscas!,
antes de poder começar o dia,
um feixe de moscas ininterrupto
com todo o seu zumbido,
toda a sua asquerosidade,
e toda a sua falta de sonho
e de rumo na vida.

Tirem-me de mim! Tirem-me de mim!
Descarnem o meu corpo
da minha mente
e deixem-me ser sem ser.
Deixem-me só ser, sem ser...

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