MEU AVO SENTAVA
AO LADO DO FOGÃO
PICANDO O ROLO DE FUMO
NA MÃO
SEGURANDO A PALHA COM
A BOCA
A CHALEIRA QUASE ROUCA
CHIAVA NA CHAPA QUENTE
ENQUANTO A CHAMA ENVOLVENTE
VIRAVA LABAREDA
E POR SOBRE A MESA
O BULE DE CAFÉ
O BOLO DE FUBÁ
O PÃO FEITO NO FORNO
SEU ROSTO TINHA O CONTORNO
DA FELICIDADE
ENQUANTO LÁ FORA
AS VACAS PASTAVAM
O RIO CORRIA EM SEU LEITO
AS AVES VOAVAM
DEIXANDO HOJE EM MEU PEITO
UM NINHO DE SAUDADE
EU VI ENTRE AS LEMBRANÇAS
MINHA VÓ EM VOLTA DO FOGÃO
FAZENDO AQUELA COMIDA GOSTOSA
ENQUANTO O PERFUME DAS ROSAS
VINHAM AO SABOR DO VENTO
ENTRANDO CASA ADENTRO
FEITO ANJOS
PELA SALA A VOAR
TINHA O PÉ DE JABOTICABA
DA LARANJA QUE DAVA
QUASE O ANO INTEIRO
ENQUANTO NO TERREIRO
OS GALOS IMPONENTES
CISCAVAM PERTO DA GENTE
COMO SE FOSSE A TERRA ARAR
É PENA QUE TUDO ACABOU
QUE TUDO FICOU... PELO CAMINHO
E QUE HOJE EU ME SINTO SOZINHO
QUERENDO AO PASSADO VOLTAR.