Charles Bukowski

Charles Bukowski

poeta, contista e romancista estadunidense

1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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9
27

Minha Tiete

fiz uma leitura no último sábado no
bosque para além de Santa Cruz
e estava a 3/4 do final
quando escutei um grito longo e desesperado
e uma jovem bastante
atraente veio correndo em minha direção
vestido longo & fogo divino nos olhos
e invadiu o palco
e gritou: “EU QUERO VOCÊ!
EU QUERO VOCÊ! ME LEVE! ME
LEVE!”
eu disse a ela: “olhe, fique longe
de mim”.
mas ela continuava agarrada às minhas
roupas e se esfregando em
mim.
“onde você estava”, eu lhe perguntei, “quando eu
vivia com apenas uma barra de doce por dia e
mandava meus contos para a
Atlantic Monthly?”
ela agarrou minhas bolas e quase
as arrancou. seus beijos
tinham gosto de sopa de merda.
2 mulheres subiram no palco
e
a carregaram para dentro do
bosque.
eu ainda podia ouvir seus gritos
quando comecei o poema seguinte.
talvez, pensei, eu devesse
tê-la possuído naquele palco na frente
de todos aqueles olhos.
mas alguém nunca pode ter certeza
se isso é boa poesia ou
ácido de má qualidade.

Fiquei dois dias sem ver Lydia, embora tenha dado um jeito de telefonar para ela umas sete ou oito vezes nesse período. Então o fim de semana chegou. Seu ex-marido, Gerald, costumava ficar com as crianças nos fins de semana.
Peguei o carro e fui até onde ela morava naquele sábado, às onze da manhã, e bati na porta. Ela estava com um jeans apertado, botas, blusa laranja. Seus olhos castanhos pareciam mais escuros do que nunca e, à luz do sol, ela abriu a porta, fazendo com que eu notasse um tom natural em seus cabelos escuros. Aquilo foi surpreendente. Me deixou beijá-la; então fechou a porta atrás de nós e fomos até o meu carro. A gente tinha decidido ir à praia – não para tomar banho –, pois era pleno inverno, mas só para fazer alguma coisa.
Seguimos. Era bom ter Lydia no carro comigo.
– Que festa aquela – ela disse. – Você chama aquilo de festa de colação? Aquilo era uma festa da copulação, isso sim. Uma festa da copulação!
Eu dirigia com uma das mãos, enquanto a outra descansava na parte interna da coxa de Lydia. Não conseguia evitar. Ela não parecia se importar. Eu ia dirigindo, e a mão escorregou por entre suas pernas. Ela continuou a conversar. De repente, ela disse:
– Tire a mão. Aí é a minha buceta!
– Desculpe – eu disse.
Nenhum de nós disse nada até chegarmos ao estacionamento em Venice Beach.
– Você quer um sanduíche e uma coca, algo assim? – perguntei.
– Beleza – ela disse.
Entramos num mercadinho judeu pra comprar as coisas e as levamos para um montinho gramado que dava para o mar. Tínhamos sanduíches, picles, batatas fritas e refrigerantes. A praia estava quase deserta e a comida estava com um gosto bom. Lydia não dizia nada. Fiquei espantado com a rapidez com que ela comia. Estraçalhava o sanduíche com selvageria, tomava grandes goles de coca, comia metade de um picles com uma só mordida e pegava enormes punhados de batata frita. Eu, ao contrário, como muito devagar.
Paixão, pensei, ela exalava paixão.
– Que tal esse sanduíche? – perguntei.
– Uma beleza. Eu estava com fome.
– Eles fazem sanduíches legais. Quer mais alguma coisa?
– Sim, queria um doce.
– De que tipo?
– Ah, qualquer um. Um que fosse gostoso.
Dei uma mordida no meu sanduíche, tomei um gole de Coca, larguei tudo e fui até o mercadinho. Comprei dois doces, assim ela poderia escolher. Na volta, vi que um negro alto se dirigia ate o montinho. Era um dia frio, mas o cara estava sem camisa e tinha um corpo bem musculoso. Parecia ter vinte e poucos anos. Andava devagar e ereto. Tinha um pescoço longo, magro, e um brinco de ouro pendurado na orelha esquerda. Passou na frente de Lydia, pela areia, entre ela e o mar. Subi no montinho e sentei ao lado de Lydia.
– Você viu aquele cara? – ela perguntou.
– Sim.
– Jesus, e eu estou com você, vinte anos mais velho do que eu. Podia pegar alguém como ele... O que há de errado comigo, afinal?
– Olhe. Trouxe dois doces. Pegue um.
Pegou um, rasgou o invólucro, deu uma mordida e ficou olhando o rapaz negro que se afastava ao longo da praia.
– Cansei da praia – ela disse –, vamos voltar para minha casa.
Ficamos uma semana sem nos ver. Então, certa tarde, lá estava eu na casa de Lydia, os dois na cama, nos beijando. Lydia se afastou.
– Você não entende nada de mulher, não é mesmo?
– Do que você está falando?
– Quero dizer, ao ler seus poemas e seus contos dá pra ver que você não entende nada de mulher.
– Me fale mais.
– Bem, é que para eu me interessar por um homem ele tem que chupar minha buceta. Você já chupou uma buceta?
– Não.
– Você tem mais de cinquenta anos e nunca chupou uma buceta?
– Não.
– Tarde demais.
– Por quê?
– Não dá pra ensinar truque novo pra cachorro velho.
– Claro que dá.
– Não, é tarde demais pra você.
– Sempre demorei pra arrancar na largada.
Lydia se levantou e foi até a sala. Voltou com um lápis e um pedaço de papel.
– Agora, veja bem, vou mostrar uma coisa pra você. – Começou a desenhar no papel. – Bem, isso é uma buceta, e aqui fica um negócio de que você provavelmente nunca ouviu falar: o clitóris. Aqui é o lugar onde estão as sensações. O clitóris se esconde, consegue ver, ele sai pra fora de vez em quando, é cor-de-rosa e muito sensível. Às vezes ele se esconde de você e é preciso achá-lo. Basta tocar nele com a ponta da língua...
– Ok – eu disse –, entendi tudo.
– Acho que você não vai conseguir. Já disse, não dá pra ensinar truque novo pra um cachorro velho.
– Vamos tirar a roupa e nos deitar.
A gente se despiu e se esticou na cama. Comecei a beijar Lydia. Desci dos lábios para o pescoço, e daí para os peitos. Depois, deslizei até o umbigo. Desci mais.
– Você não conseguirá – ela disse. – Sai sangue e urina daí; pense nisso, sangue e urina...
Fui lá embaixo e comecei a lamber. Ela fizera um desenho acurado para mim. Tudo estava onde devia estar. Ouvi sua respiração ficar pesada; depois gemidos. Aquilo me excitou. Fiquei de pau duro. O clitóris se revelou, mas não era exatamente rosado, era de um rosa-púrpura. Aticei o clitóris. Brotaram uns sucos que se misturaram com os pentelhos. Lydia gemia sem parar. Então escutei a porta da frente abrir e fechar. Ouvi passos. Ergui os olhos. Um negrinho de uns cinco anos estava ali parado, ao lado da cama.
– Mas que diabos você quer aqui? – perguntei.
– Tem alguma garrafa vazia? – perguntou.
– Não, não tenho nenhuma garrafa vazia – respondi.
Ele saiu do quarto para a sala, saiu pela porta da frente e se foi.
– Deus – disse Lydia –, achei que a porta da frente estava trancada. Era o garotinho da Bonnie.
Lydia se levantou e trancou a porta da frente. Voltou e se estendeu na cama. Eram umas quatro horas da tarde de sábado.
Voltei a mergulhar ali.
– Mulheres
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