Kenneth Rexroth

Kenneth Rexroth
Kenneth Rexroth foi um poeta, tradutor e ensaísta crítico norte-americano. Foi um dos primeiros poetas norte-americanos a explorar em seu trabalho formas tradicionais da poesia japonesa. É considerado uma das figuras centrais do chamado Renascença de São Francisco, e um dos pais da Geração Beat. Serviu de inspiração à personagem Rheinhold Cacoethes de Brasil: Os Vagabundos Iluminados /Portugal: Os Vagabundos do Dharma (2000) ou Os Vagabundos da verdade (1965), romance de Jack Kerouac.
Nasceu a 22 Dezembro 1905 (South Bend)
Morreu em 06 Junho 1982 (Santa Bárbara)
Wikipedia Comentários Gostos Seguidores
Kenneth Rexroth nasceu em 1905, na pequena cidade de South Bend, no estado americano de Indiana. Começou a publicar na década de 20 e teve poemas incluídos no famoso número editado por Louis Zukofsky para a revistaPoetry, em 1931, que ficaria conhecido comothe Objectivist issue, mas Rexroth não se associaria ao grupo. No entanto, a ligação é interessante, pois, com estes e outros poetas surgidos na década de 30, como o já mencionado Zukofsky, mas também George Oppen ou Lorine Niedecker, seu trabalho entraria em óbvio conflito com a mentalidade crítica dominante de seu país, entre as décadas de 30 e 50, a doNew Criticism, o que acabaria lançando o trabalho destes poetas na obscuridade, até que foram valorizados e amplamente lidos pelos jovens poetas da década de 50 e 60, como osBeats, a Escola de Nova Iorque ou os poetas ligados à comunidade universitária em Black Mountain, como Robert Creeley e Charles Olson. Aos poucos, o trabalho destes poetas mostra-se cada vez mais incontornável para a historiografia literária e a prática poética norte-americana.


Não é sem uso o acaso de que tudo o que se sabe sobre Kenneth Rexroth no Brasil seja um dado contextual: em 1955 ele foi o mestre de cerimônias da primeira leitura pública de Howl, o uivo de Allen Ginsberg na Six Gallery para meia dúzia das melhores cabeças daquela geração, evento decisivo pro papel que viriam a ter as leituras públicas de poesia nos Estados Unidos da contracultura e marco inaugural da geração beat.

Não é sem uso, nos dá uma primeira imagem, a desta militância: a Kenneth Rexroth fazia sentido tudo o que significasse algo contra o conservadorismo bélico e geral da nação. Anarco-pacifista nos anos da I Guerra Mundial, budista leitor de Bakunin, à época da II Guerra declarou completa sua disaffiliation from the American capitalist state diante da prisão em massa de imigrantes e descendentes de japoneses. Professor de poesia na Universidade da Califórnia, mobilizador de protestos contra a Guerra do Vietnã. Ancestral adepto de orientalismos e do amor livre, místico mundano, ativista pela construção da alma humana universal.

Aí a imagem se desdobra e se redimensiona: a militância de Rexroth se dá na trincheira da linguagem. Interessado no potencial da comunicação de massa, pilotou programas de rádio por onde passaram Bob Kaufman, Amiri Baraka, Diane di Prima, Gary Snyder, Lawrence Ferlinghetti ou Philip Lamantia. Também um habitual polemista nas colunas de jornal que manteve a vida inteira, panfletário divulgador de poetas jovens tanto quanto um ferrenho opositor dos alto-modernistas. Tradutor dos gregos, de poesia clássica chinesa e japonesa, de Neruda, Lorca, Heine, Reverdy. Sessenta anos de escrita, 54 livros.

Começa a publicar na década de 1920, e livros como The art of worldly wisdom (1920-30), A prolegomenon to a theodicy (1925-27) ou The Phoenix and the Tortoise (1944) o aproximam das experiências estéticas de modernistas como Ezra Pound (com quem mantém correspondência nos anos 30, motivada pelo interesse comum pela poesia chinesa) e T. S. Eliot, William Carlos Williams e Louis Zukofsky. Mas a evidência da proximidade formal é posta em causa por desavenças radicais com os modernistas expatriados (e não só: seu entusiasmo pelos jovens beats não se estendia ao católico e nacionalista Jack Kerouac), e suas escolhas e recusas dentro da página são feitas sempre a partir de suas implicações para além dela. Exemplo disso é o abandono de experiências mais próximas do cubismo (como em The art of worldly wisdom), motivado pela desconfiança de serem legíveis apenas para poucos iniciados. A escrita de Rexroth se encaminha cada vez mais na direção dum despojamento, e mesmo seus ensaios em muitos casos são transcritos diretamente de gravações, composed on the tongue.

Despojamento de linguagem cujo fundo é político, mas que encontra munição nas leituras e traduções dos poetas gregos e latinos, e no envolvimento com o budismo e o taoísmo. Tudo isso apontando na direção de uma poesia experimentada como cosmovisão, pensamento, iluminação. Eixos de experiência e poética indissociáveis de seu erotismo vital, que dizia: erotic love is one of the highest forms of contemplation. Chamo atenção por fim para a convergência e síntese, em sua poesia, desses três princípios, o político, o erótico e o espiritual, a partir dos quais a escolha afetiva destes textos.

Reuben da Cunha Rocha