Eurico Gonçalves

Pintor, ilustrador, professor, poeta e ensaísta. Pintor que se reclama do surrealismo, como ele próprio afirma, nunca deixou de praticar o automatismo psíquico puro, assumindo-o até às suas mais extremas consequências. É também autor de alguns livros pedagógicos sobre a criatividade plástica infantil, onde a infância é mostrada como um estado em que tudo concorre para a posse eficaz e sem lacunas de nós mesmos e, ainda, como um período de criatividade que nada tem a ver com a imitação ou a trancrição das coisas, mas com o prazer ou o desprazer que provocam. Exactamente o contrário do que a pedagogia do «bom-senso» inculca. Narrativas de Sonhos e Textos Automáticos, o mais importante dos seus livros, segundo Ernesto Sampaio, é uma compilação de textos manuscritos e ilustrados em 1950-51, perdidos em 1991, parcialmente recuperados em 1994 e publicados em 1995 e que «constituem o início de uma aventura poética, inspirada no sonho e revelada através do automatismo psíquico» – palavras do autor. Claude Larendau, na sua tese de mestrado intitulada «Les Livres Illustrés des Surréalistes Portugais», diz que estes cadernos de textos e desenhos «desempenham um pouco o papel de um sismógrafo, ao registar fielmente emoções, sensações, sonhos, fantasmas sexuais ou outros, que se exteriorizam jogando constantemente [...] sobre o duplo registo do sinal escrito e do sinal puramente gráfico.» Em 1966-67, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, tendo trabalhado com o pintor Jean Degottex. Eurico tem participado em várias exposições colectivas e individuais e está representado em vários museus e galerias de arte. Ilustrou diversos livros e catálogos, dos quais se refere Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa, de Maria Aliete Galhoz. Tem publicado artigos de divulgação de Arte Contemporânea e estudos sobre o dadaísmo e a pintura-escrita. Foi distinguido com uma Menção Honrosa do Prémio da Crítica de Arte Portuguesa e com o Prémio de Pintura Almada Negreiros.