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Não quero ir onde não há a luz, Do outro lado abóbada do solo, Ínfera imensa cripta, não mais ver As flores, nem o curso ao sol de rios, Nem onde as estações que se sucedem Mudam no campo o campo. Ali, no escuro, Só sombras múrmuras, êxuis de tudo, Salvo da saudade, eternas moram; Região aos mesmos íncolas incógnita, Dos naturais, se os tem, desconhecida. Ali talvez só lírios cor de cinza Surgirão pálidos da noite imota. Ali talvez só gelo com as águas, Como a cegos, serão, e o surdo curso, No côncavo sossego lamentoso, Se acaso à vista habituada aclare, Será como um cinzento tédio externo. Não quero o pátrio sol de toda a terra Deixar atrás, descendo, passo a passo, A escadaria cujos degraus são Sucessivos aumentos de negrume, Até ao extremo solo e noite inteira. Para que vim a esta clara vida? Para que vim, se um dia hei-de cair Da haste dela? Para que no solo Se abre o poço da ida? Porque não Será sem fim (...) 16/11/1932
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Fernando Pessoa
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