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Sim, é o Estado Novo, e o povo Ouviu, leu e assentiu. Sim, isto é um Estado Novo Pois é um estado de coisas Que nunca antes se viu. Em tudo paira a alegria E, de tão íntima que é, Como Deus na Teologia Ela existe em toda a parte E em parte alguma se vê. Há estradas, e a grande Estrada Que a tradição ao porvir Liga, branca e orçamentada, E vai de onde ninguém parte Para onde ninguém quer ir. Há portos, e o porto-maca Onde vem doente o cais. Sim, mas nunca ali atraca O Paquete «Portugal» Pois tem calado de mais. Há esquadra... Só um tolo o cala, Que a inteligência, propícia A achar, sabe que, se fala, Desde logo encontra a esquadra: É uma esquadra de polícia. Visão grande! Ódio à minúscula! Nem para prová-la tal Tem alguém que ficar triste: União Nacional existe Mas não união nacional. E o Império? Vasto caminho Onde os que o poder despeja Conduzirão com carinho A civilização cristã, Que ninguém sabe o que seja. Com directrizes à arte Reata-se a tradição, E juntam-se Apolo e Marte No Teatro Nacional Que é onde era a inquisição. E a fé dos nossos maiores? Forma-a impoluta o consórcio Entre os padres e os doutores. Casados o Erro e a Fraude Já não pode haver divórcio. Que a fé seja sempre viva. Porque a esperança não é vã! A fome corporativa É derrotismo. Alegria! Hoje o almoço é amanhã. 1935
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Fernando Pessoa
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