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I João telegrafista. Nunca mais que isso, estaçãozinha pobre havia mais árvores pássaros que pessoas. Só tinha coração urgente. Embora sem nenhuma promoção. A bater a bater sua única tecla. Elíptico, como todo telegrafista. Cortando flores preposições para encurtar palavras, para ser breve na necessidade. Conheceu Dalva uma Dalva não alva sequer matutina mas jambo, morena. Que um dia fugiu — único dia em que foi matutina — para ir morar cidade grande cheia luzes jóias. História viva, urgente. Ah, inutilidade alfabeto Morse nas mãos João telegrafista procurar procurar Dalva todo mundo servido telégrafo. Ah, quando envelhece, como é dolorosa urgência! João telegrafista nunca mais que isso, urgente. II Por suas mãos passou mundo, mundo que o fez urgente, elíptico, apressado, cifrado. Passou preço do café. Passou amor Eduardo VIII, hoje duque Windsor. Passou calma ingleses sob chuva de fogo. Passou sensação primeira bomba voadora. Passaram gafanhotos chineses, flores catástrofes. Mas, entre todas as coisas, passou notícia casamento Dalva com outro. João telegrafista o de coração urgente não disse palavra, apenas três andorinhas pretas (sem a mais mínima intenção simbólica) pousaram sobre seu soluço telegráfico. Um soluço sem endereço — Dalva — e urgente. Publicado no livro Poemas murais, 1947/1948 (1950). In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.517-51
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Cassiano Ricardo
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