31 online
Escritas.org
Autores
Poemas
Citações
ao Acaso
Portal
Login
Modo escuro
Português
Español
English
Login
pt
P
oSel
0
image
Yeti
Modal title
Download
Abrir
Copiar
Zoom In
Zoom out
Horizontal
Square
Vertical
Altere a posição
e formato do texto
Usa imagem tua como fundo.
Larga aqui a imagem ou clique para escolher.
Imagens com uma zona de uma só cor para destacar o texto, resultam melhor.
Seja o que for que esteja no centro do mundo, Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade, E quando digo «isto é real», mesmo de um sentimento, Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior, Vejo-o como uma visão qualquer fora e alheio a mim. Ser real quer dizer não estar dentro de mim. Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade. Sei que o mundo existe, mas não sei se existo. Estou mais certo da existência da minha casa branca Do que da existência interior do dono da casa branca. Creio mais no meu corpo do que na minha alma, Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade. Podendo ser visto por outros, Podendo tocar em outros, Podendo sentar-se e estar de pé, Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora. Existe para mim – nos momentos em que julgo que efectivamente existe – Por um empréstimo da realidade exterior do mundo. Se a alma é mais real Que o mundo exterior, como tu, filósofo, dizes, Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade? Se é mais certo eu sentir Do que existir a coisa que sinto – Para que sinto E para que surge essa coisa independentemente de mim Sem precisar de mim para existir, E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível? Para que me movo com os outros Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo? Se o mundo é um erro, é um erro de toda a gente. E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas. Coisa por coisa, o mundo é mais certo. Mas porque me interrogo, senão porque estou doente? Nos dias certos, nos dias exteriores da minha vida, Nos meus dias de perfeita lucidez natural, Sinto sem sentir que sinto, Vejo sem saber que vejo, E nunca o Universo é tão real como então, Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim, Mas) tão sublimemente não-meu. Quando digo «é evidente», quero acaso dizer «só eu é que o vejo»? Quando digo «é verdade», quero acaso dizer «é minha opinião»? Quando digo «ali está», quero acaso dizer «não está ali»? E se isto é assim na vida, porque será diferente na filosofia? Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos, E o primeiro facto merece ao menos a precedência e o culto. Sim, antes de sermos interior somos exterior. Por isso somos exterior essencialmente. Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo. Mas isto como pode ser materialismo se materialismo é uma filosofia, Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha, Se isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu? 24/10/1917
/script/IMAGE/frames/autores/Fernando Pessoa.jpg
/script/IMAGE/dyn/PT/130-47d4b520-2958-40c2-a51e-0bebf93b1074.jpg
/script/IMAGE/final/PT/130.jpg
Fernando Pessoa
130
Y