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Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no Inverno os arvoredos, Nem pela Primavera Têm branco frio os campos. À noite, que entra, não pertence, Lídia, O mesmo ardor que o dia nos pedia. Com mais sossego amemos A nossa incerta vida. À lareira, cansados não da obra Mas porque a hora é a hora dos cansaços, Não puxemos a voz Acima de um segredo, E casuais, interrompidas sejam Nossas palavras de reminiscência (Não para mais nos serve A negra ida do sol). Pouco a pouco o passado recordemos E as histórias contadas no passado Agora duas vezes Histórias, que nos falem Das flores que na nossa infância ida Com outra consciência nós colhíamos E sob uma outra espécie De olhar lançado ao mundo. E assim, Lídia, à lareira, como estando, Deuses lares, ali na eternidade, Como quem compõe roupas O outrora compúnhamos Nesse desassossego que o descanso Nos traz às vidas quando só pensamos Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora. 30/07/1914
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Fernando Pessoa
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