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Vós que, crentes em Cristos e Marias, Turvais da minha fonte as claras águas Só para me dizerdes Que há águas de outra espécie Banhando prados com melhores horas, – Dessas outras regiões pra que falar-me Se estas águas e prados São de aqui e me agradam? Esta realidade os deuses deram E para bem real a deram externa. Que serão os meus sonhos Mais que a obra dos deuses? Deixai-me a Realidade do momento E os meus deuses tranquilos e imediatos Que não moram no Vago Mas nos campos e rios. Deixai-me a vida ir-se pagamente Acompanhada plas avenas ténues Com que os juncos das margens Se confessam de Pã. Vivei nos vossos sonhos e deixai-me O altar imortal onde é meu culto E a visível presença Dos meus próximos deuses. Inúteis Procos do melhor que a vida, Deixai a vida aos crentes mais antigos Que a Cristo e a sua cruz E Maria chorando. Ceres, dona dos campos, me console E Apolo e Vénus, e Urano antigo E os trovões, com o interesse De irem da mão de Jove. 09/08/1914
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Fernando Pessoa
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