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Afastai nas janelas a cortina breve Que menos que à luz a vista só proscreve! Olhai o vasto campo, como jaz luminoso Sob o azul poderoso E limpo, e como aquece numa ardência leve Que na vista se inscreve! Já a noiva acordou. Ah como tremer sente O coração dormente! Os seios dela arrepanham-se por dentro numa frieza de medo Mais sentido por crescido nela, E que serão por outras mãos que não as suas tocados E terão lábios chupando os bicos em botão. Ah, ideia das mãos do noivo já A tocar lá onde as mãos dela tímidas mal tocam, E os pensamentos contraem-se-lhe até ser indistintos. Do corpo está consciente mas continua deitada. Vagamente deixa os olhos sentir que se abrem. Numa névoa franjada cada coisa Se ergue, e o dia actual é veramente claro Menos ao seu sentir de medo. Como mancha de cor a luz pousa na palpebrada vista E ela quase detesta a inescapável luz.
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Fernando Pessoa
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