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WALT WHITMAN Onde não sou o primeiro, prefiro não ser nada, não estar lá, Onde não posso agir o primeiro, prefiro só ver agir os outros. Onde não posso mandar, antes quero nem obedecer. Excessivo na ânsia de tudo, tão excessivo que nem falo, E não falo, porque não tento. «Ou Tudo ou Nada» tem um sentido pessoal para mim. Mas ser universal — não o posso, porque sou particular. Não posso ser todos, porque sou Um, um só, só eu Não posso ser o primeiro em qualquer coisa, porque não há o primeiro. Prefiro por isso o nada de ser co-primeiro em ser nada. Quando é que parte o último comboio, Walt? Quero deixar esta cidade, a Terra, Quero emergir de vez deste país, Eu, Deixar o mundo com o que se comprova falido, Como um caixeiro viajante que vende navios a habitantes do interior. O fim a motores partidos! Que foi todo o meu ser? Uma grande ânsia inútil — Estéril realização com um destino impossível — Máquina de louco para realizar o motu continuo, Teorema de absurdo para a quadratura do círculo, Travessia a nado do Atlântico, falando na margem de cá Antes da entrada na água, só com eles e o cálculo, Atirar de pedras à lua Ânsia absurda do encontro dos paralelos Deus-vida. Megalomania dos nervos, Ânsia de elasticidade do corpo duro, Raiva de meu concreto ser por não ser o auge-eixo O carro da sensualidade de entusiasmo abstracto O vácuo dinâmico do mundo! Vamo-nos embora de Ser. Larguemos de vez, definitivamente, a aldeia-Vida O arrabalde-Mundo de Deus E entremos na cidade à aventura, ao rasgo Ao auge, loucamente ao Ir... Larguemos de vez. Quando parte, Walt, o último comboio p'ra aí? Que Deus fui para as minhas saudades serem estas ânsias? Talvez partindo regresse. Talvez acabando, chegue, Quem sabe? Qualquer hora é a hora. Partamos, Vamos! A estada tarda. Partir é ter ido. Partamos para onde se fique. Ó estrada para não-haver-estradas! Término no Não-Parar!
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Fernando Pessoa
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