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Quem és tu, bárbara, que moras num poema que se estuda nas escolas e se lê em recitais, tu que te limitaste a ser amada por um poeta que, se calhar, mais não te deu em troca do amor do que esse poema que tu, se calhar, nunca chegaste a ouvir? Quem és, ó mulher mais real do que esse poeta que te cantou, e de cuja vida ninguém sabe nada - a não ser que te amou, e te deitou nesse poema em que ainda vives, e respiras, como no dia em que ele o escreveu lembrando-se do teu corpo, e dos teus lábios, e dos dias, ou noites, que contigo se passaram? Quem és, mulher real e sonhada que habitas todos os poemas que esse poema inspirou, e todos os sonhos que nessa bárbara encontraram uma imagem precisa e definitiva? Volta-te nesses versos, para que te vejamos o rosto, e diz-nos o teu nome - o nome autêntico, e não esse que o poeta inventou para te chamar num poema que de ti só guarda o segredo; e adormece, depois, esquecendo o que de ti disseram, e os comentários de que foste o pretexto, e as imagens em que, cada vez mais, foste perdendo a tua, e única, imagem.
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Nuno Júdice
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