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O ANDAIME O tempo que eu hei sonhado Quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentida De um futuro imaginado! Aqui à beira do rio Sossego sem ter razão. Este seu correr vazio Figura, anónimo e frio, A vida vivida em vão. A sp'rança que pouco alcança! Que desejo vale o ensejo? E uma bola de criança Sobe mais que a minha sp'rança Rola mais que o meu desejo. Ondas do rio, tão leves Que não sois ondas sequer, Horas, dias, anos, breves Passam – verduras ou neves Que o mesmo sol faz morrer. Gastei tudo que não tinha Sou mais velho do que sou. A ilusão, que me mantinha, Só no palco era rainha: Despiu-se, e o reino acabou. Leve som das águas lentas, Gulosas da margem ida, Que lembranças sonolentas De esperanças nevoentas! Que sonhos o sonho e a vida! Que fiz de mim? Encontrei-me Quando estava já perdido. Impaciente deixei-me Como a um louco que teime No que lhe foi desmentido. Som morto das águas mansas Que correm por ter que ser, Leva não só as lembranças, Mas as mortas esperanças – Mortas, porque hão-de morrer. Sou já o morto futuro. Só um sonho me liga a mim – O sonho atrasado e obscuro Do que eu devera ser – muro Do meu deserto jardim. Ondas passadas, levai-me Para o olvido do mar! Ao que não serei legai-me, Que cerquei com um andaime A casa por fabricar. (Presença, nº 31-32, Junho de 1931)
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Fernando Pessoa
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