Infante D. Pedro

Quarto filho de D. João I, foi-lhe por este concedido o título de duque de Coimbra no regresso da conquista de Ceuta. Ficou também conhecido como «Príncipe das Sete Partidas», pelas longas viagens que empreendeu pelo Oriente – com o intuito de visitar o Santo Sepulcro e de se internar pelas terras do Preste João das Índias – e pelo Ocidente, onde percorreu os reinos da Hungria, Inglaterra, Castela, a Flandres e as cidades italianas. Destas viagens deu conta Gomes de Santo Estêvão no Auto (ou Livro) do Infante D. Pedro de Portugal, o Qual Andou as Sete Partidas do Mundo, Feito por Gomes de Santo Estevão, Um dos Doze Que Foram na Sua Companhia (1544). Regressado a Portugal após doze anos de ausência, foi chamado a tomar parte activa na vida política portuguesa, como regente do Reino, durante a menoridade do seu sobrinho, o futuro D. Afonso V. Tendo partido um homem medieval, voltou um homem moderno, no dizer de Veiga Simões, procurando imprimir a todas as acções a visão internacionalista adquirida na multiplicidade dos seus contactos, com um espírito aberto às transformações que abalavam o mundo de então, uma inteligência aguda e um apurado sentido dos problemas e da realidade portugueses. Sob o seu governo alicerçou-se verdadeiramente o poder real com a publicação das Ordenações Afonsinas – o primeiro código civil português –, o País lançou-se abertamente na política de navegação e comércio, desviando se da conquista africana, e foi dado um grande passo na reforma do ensino universitário. Toda esta acção inovadora, que lesava os privilégios tradicionais da nobreza e se apoiava sobretudo no terceiro estado, suscitou uma rede de ódio e intriga que teve como consequência a inimizade do rei e finalmente o confronto armado em Alfarrobeira, onde o duque de Coimbra encontrou a morte. Muito dedicado ao estudo e à leitura, o infante D. Pedro foi poeta representado no Cancioneiro Geral de Resende e impulsionou a tradução de várias obras latinas, entre as quais se salienta De Beneficiis, de Séneca, que ele próprio traduziu, tendo sido completada e reformulada pelo seu confessor, Frei João da Verba, com o título de Virtuosa Benfeitoria. A descrição das suas viagens divulgou-se na forma de folheto, sendo uma das mais populares relações da chamada literatura de cordel. As Cartas que dele nos ficaram são de um grande interesse para o conhecimento do ambiente social e político do século XV.