Minha Senhora de Quê
Dona de quê
Se na paisagem onde se projectam
Pequenas asas deslumbrantes folhas
Nem eu me projectei
Se os versos apressados
Me nascem sempre urgentes:
Trabalhos de permeio refeições
Doendo a consciência inusitada
Dona de mim nem sou
Se sintaxes trocadas
O mais das vezes nem minha intenção
Se sentidos diversos ocultados
Nem do oculto nascem
(poética do Hades quem me dera!)
Dona de nada senhora nem
De mim: imitações de medo
Os meus infernos
Assim se Revisita o Coração
Só mal tocando as cordas
Da memória
Consegue o coração ressuscitar
Porque era este lugar
que eu precisava agora
como em deserto até
ao infinito,
e de repente,
uma gravidez imensa,
um cacto verde e limpo
Porque os olhos conhecem
estes sons
de dar à luz o vento
e são-lhe amantes
de tangível luz
Só mal tangendo as cordas
da memória
como estas flores
se tingem de alegria
Porque era neste azul
que eu me queria
como a rocha transpira
e se resolve
em marCriação Sonhada
Tanto
tempo a pensar
divino esforço
que adormecendo
deus sonhou consigo:
Sonhou braços e pernas
e cabeças,
sonhou paisagens
de mental pudor
conversas calmas
com o quase feito
E esforçado ficou
e exausto se quedou
ao ver-se assim traído
pela obra criada
Só em sonhoNavegações Doentes
Tenho os sintomas todos:
navegam-me fluídos
e o devaneio em barcos de desejo
os sons de trovoada
mesmo tapando ouvidos:
esclerótica paixão que não domino
tenho os sintomas todos
e assim me reconheço
acamada, incurável: na parede do fundo
navegantes os barcos
Pequenos Mosaicos
É agora - na pura ausência das coisas
e a madrugada por abrir. Um palco
a lua. Eu observada de fora da janela.
O terror de pensar: o pesadelo
de me sentir duas pela primeira vez
falado. é de amor este poema
e de visões: ondulantes cortinas
noutra que me é igual.
Porque no pesadelo e de repente
o futuro rasgou-se, as cortinas
soltaram-se. Na profecia
só ficaste tu.
E a tua falta mais que a tua
ausência em pequeno mosaico
se fechou. Entendo agora como uma cadeira
pode ser só esta cadeira porque
é tua.