Pantera
Jamais a vi verdadeira
— o hálito quente e o frio olhar —
para além das rijas barras
que mundo nenhum retém:
encontrei-a nas palavras
precisas, que são ferro e pedra,
sangue vivo, força oculta,
veludo quase matéria.
E eram tantas as panteras
nas diversas traduções
do mesmíssimo poema.
Em todas, o vulto negro
num silêncio ditirambo
com seus coturnos de seda.
Peixe
O peixe
e sua inquietação de faca
no rio
vivo corpo frágil
que ele
(já que viver é ferir)
a todo instante
ataca
o rio
banhado de sol
e seus reflexos
minúsculos pontos
de ouro e prata.
Gato
Leveza, pulo
um quase vôo
mas porém sem as asas
do que noutro instante comeu.
O sempre-alerta:
estar e não estar mais.
O lúcido instante
entre o eterno e o fugaz.
Mesmo em grave momento
de fome à beira do prato
bebe o leite à margem
da fuga, do salto.