Paredra
Vênus pagã, olhos de sete-estrêlo,
A cabeleira rútila fulgindo...
Amei-te!... Amor, nos olhos tens fulgindo,
Volúpia; luz o sol de teu cabelo.
A luxúria findou. Astro maldito,
Rolei do azul aos pélagos hiantes...
Procurava a minha alma... Além, distantes,
Lótus colhi nos édens do Infinito.
Morreste. Ao val da Sombra, compungido,
Boa que foras para meus delírios,
Levei teu nobre coração partido.
Só então, osculando o altar de pedra,
À luz morrente de funéreos círios,
Tua alma ouvi... — a minha Irmã, Paredra.
No Reino Das Sombras
Plenilúnio. O luar molha as colunas dóricas...
junto ao pronaos medito, evocando o teu rosto,
Que saudade de ti, dessa tarde de agosto,
De tintas outonais e visões alegóricas!
Saudade!... O coração lembra idades históricas...
Na Atlântida eras tu pitonisa... Ao sol posto,
Dizias da alma irmã os arcanos... Teu rosto
Banhava-se na luz das estrelas simbólicas...
Tantas vezes perdida! Imerso em luz ou treva,
De vida em vida, à flor do céu, te procurava,
Na dor da solidão... E, quando a Lua eleva
A lâmpada votiva, eu te procuro ainda,
— Alma branca, alma irmã, alma em flor, alma eslava,
Na poeira de sóis da solitude infinda.