Erik Axel Karlfeldt

ADEUS


Por que te ergues tão de súbito à minha frente,
ó bela imagem empalidecida?
Queres com um aceno trazer-me o consolo
na profundeza do outono
em que me enterrei e me perdi?
Uma vida humana separa
o ser e o ter sido.


Vim a saber que estavas mal
e corri à tua cabeceira,
mas recuei diante de tua palidez.
Estavas deitada, vestida para a viagem
e me saudaste alegremente: “Vês, inda estou viva;
chega-te para mim, não tenhas medo”.


Calmamente nos contemplamos e então me puxaste
a cabeça de encontro a teu regaço
e me deste o único beijo que trocamos,
rápido e ardente de febre.
Eu olhava a cruel primavera
que sorria à tua janela.

Alegre, como num dia habitual,
me deste o teu adeus,
e me disseste que sabias
que em breve morrerias.
E à medida que chegava a primavera
tua vida se fundia como a neve.

SERENATA


As glandes do pinheiro e a folhagem das bétulas
Cobriram teu telhado, onde a erva murchou.
Dorme em teu leito de palha, dorme feliz e tranquila
à sombra das nuvens que a noite semeou.

Quando o inverno vier bater à tua porta,
vestido de branco, tal qual um pretendente,
sonha então um sonho bom que te acalente
ao abrigo de tuas paredes de madeira.

Sonha com o vento do verão, a cantar e a brincar,
embora gema lá fora a tempestade.
Sonha que sob a verde abóbada das bétulas
Repousas adormecida nos meus braços.