Francisco Alvim

Rapto da Lua


Incorporo a lua
a este escritório
já que não a vejo
de casa ou da rua

Untei-a de graxa
ampliei a janela:
ei-la sobre o arquivo
pálida, vazada —
astro corroído
dos vermes da sala

Tento subtraí-la
ao ar empestado
Talvez um abraço
à guisa de abrigo

Inútil: corrompe-se

(Nenhuma alquimia
retém a luzerna
que calma se evola
da mesa, da máquina
das cartas)


Publicado no livro Sol dos cegos (1968).

In: ALVIM, Francisco. Poesias reunidas, 1968/1988. Il. Pedro A. Alvim. São Paulo: Duas Cidades, 1988. p. 261. (Claro enigma