Francisco Mallmann

I


trago-lhe boas notícias
finalmente será demolida
a parede e instalarão
para mim uma janela
nem posso acreditar
depois do tanto
que insisti
agora verei a ponte
agora verei o caminho
que fizeste ao fugir
fernando a vida é terrível
mas disseram-me que
às vezes se descansa eu
daqui mal posso esperar

II


fernando chegou até mim a informação
de que você está decepcionado com minha
excursão pela poesia pois segundo consta
você considera meus materiais muito ruins
e segundo consta pela manuela você disse
que eu destinaria pouco ou nada ao mistério
e que segundo consta por quem não digo
você considera minha poesia imprestável pois
fernando me poupe foi você quem não soube
me reconhecer quando eu era o puro mistério
inteira misteriosa foi tu sim foi você não me
venha com esses arrependimentos serei
poeta acostume-se

V


esse é um exercício de morte
e vida esse é um exercício de
nascimento dentro e fora
do encerramento um
exercício de furar o tempo
esse é um exercício
de imaginar-me sem o
desgaste de ter que
me explicar porque eu
fernando na verdade
como já sabes sou essa
crueza tanto de perto
como de longe

IV


era então isso o que querias
me dizer ao ouvido fernando
a cantiga de morrer como um homem
viver como um homem querer amá-lo
num mesmo gesto desejar e desconfiar
de tudo o que leva consigo um nome
sei que me enxergas fernando
no entanto sei que não me vês

III


não te esquece hora alguma
fernando que estamos
em terra invadida
pisas em ossos e sangue
de gente minha fernando
não te esquece hora
alguma que foram os
teus quem te trouxeram
aqui eu nada tenho a
ver com isso só estou
fernando pegando o
que é meu e o desejo
de te ver morto
fernando é só
o início de uma
nova ordem
da visão