Guillaume Apollinaire

A PONTE MIRABEAU


Sob esta ponte passa o rio Sena
e o nosso amor
lembrança tão pequena
sempre o prazer chegava após a pena

Chega a noite a
hora soa
vão-se os dias
vivo à toa

Mãos dadas nós fiquemos face a face
enquanto sob
a ponte dos braços passe
de eternas juras tédio que se enlace

Chega a noite a
hora soa
vão-se os dias
vivo à toa

E vai-se o amor como água corre atenta
e vai-se o amor
ai como a vida é tão lenta
e como só a esperança é violenta

Chega a noite a hora
soa
vão-se os dias vivo à
toa

Dias semanas passam à dezena
nem tempo volta
nem nosso amor nossa pena
sob esta ponte passa o rio Sena

Chega a noite a hora
soa
vão-se os dias vivo à
toa

LAÇOS


Cordas feitas de gritos

Sons de sinos através da Europa
Séculos enforcados
Carris que amarrais nações
Não somos mais que dois ou três homens
Livres de todas as peias
Vamos dar-nos as mãos

Violenta chuva que penteia os fumos
Cordas
Cordas tecidas
Cabos submarinos
Torres de Babel transformadas em pontes

Aranhas-Pontífices
Todos os apaixonados que um só laço enlaçou

Outros laços mais firmes
Brancas estrias de luz
Cordas e Concórdia

Escrevo apenas para vos celebrar
Ó sentido ó sentidos caros
Inimigos do recordar
Inimigos do desejar

Inimigos da saudade
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo o que eu amo ainda

Le chat


Le chat

Je souhaite dans ma maison :

Une femme ayant sa raison,

Un chat passant parmi les livres,

Des amis en toute saison

Sans lesquels je ne peux pas vivre.

Incerteza, oh, que deleite


Incerteza, oh, que deleite
Vós e eu nos vamos
Como se vão os caranguejos,
para trás, para trás.

É pela quantidade de trabalho


É pela quantidade de trabalho fornecida pelo artista que medimos o valor de uma obra de arte.