Juan Ramón Jiménez

Encontro de duas mãos
que procuram estrelas,
nas entranhas da noite!
2 Juan Ramón Jiménez

Inflama-me, poente: faz-me perfume e chama;
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!
3 Juan Ramón Jiménez

Todas as rosas são a mesma rosa,
amor!, a única rosa;
e tudo está contido nela,
breve imagem do mundo,
amor!, a única rosa.
4 Juan Ramón Jiménez

Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.

Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.

E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.
5 Juan Ramón Jiménez

A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.
6 Juan Ramón Jiménez

Quando eu estiver com as raízes
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.
7 Juan Ramón Jiménez

A terra leva-nos por terra;
mas tu, mar,
levas-nos pelo céu.
8 Juan Ramón Jiménez

Está tão puro já meu coração,
que é o mesmo que morra
ou cante.
9 Juan Ramón Jiménez

Que acontece a uma música,
quando deixa de soar;
e a uma brisa que deixa
de voar,
e a uma luz que se apaga?
Morte, diz: que és tu, senão silêncio,
calma e sombra?
10 Juan Ramón Jiménez

A rosa:
tua nudez feita graça.
A fonte:
tua nudez feita água.

A estrela:
tua nudez feita alma.
11 Juan Ramón Jiménez

A VIAGEM DEFINITIVA

Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.

Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, corno esta tarde estão tocando,
Os sinos do companário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore

Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.

12 Juan Ramón Jiménez

La noche

El dormir es como un puente

que va del hoy al mañana.

Por debajo, como un sueño,

pasa el agua, pasa el alma.

13 Juan Ramón Jiménez

NÃO ROUBES

Não roubes
à tua pura solidão
teu ser calado e firme.
Evita o necessário
explicar-te a ti mesmo
contra quase toda gente.
Tu sozinho encherás
inteiramente o mundo.
14 Juan Ramón Jiménez

JOGO

(O dia e Robert Browning)

O verdelhão no choupo
- E que mais?
O choupo no céu azul
- E que mais?
O céu azul dentro dágua
- E que mais?
A água na folhinha nova
- E que mais?
A folha nova na rosa
- E que mais?
A rosa em meu coração
- E o meu coração no teu!

15 Juan Ramón Jiménez

UNIVERSO

Teu corpo: ciúmes do céu.
Minhalma: ciúmes do mar.
(Pensa minhalma outro céu.
Teu corpo sonha outro mar.)

16 Juan Ramón Jiménez

Álamo blanco

Arriba canta el pájaro

y abajo canta el agua.

(Arriba y abajo,

se me abre el alma).

¡Entre dos melodías,

la columna de plata!

Hoja, pájaro, estrella;

baja flor, raíz, agua.

¡Entre dos conmociones,

la columna de plata!

(¡Y tú, tronco ideal,

entre mi alma y mi alma!)

Mece a la estrella el trino,

la onda a la flor baja.

(Abajo y arriba,

me tiembla el alma).

17 Juan Ramón Jiménez

DE VOLTA

Devagar voltamos,
Com tudo já dito.
Tu me olhas ainda,
Eu já não te fito.

Tu tocas nas flores,
Eu vou beira-rio.
Que modo diverso
O de nós sorrirmos!

A grande lua branca
Em nosso caminho!
A ti ela aquece,
A mim me dá frio.

18 Juan Ramón Jiménez

VIRTUDE

Tem cuidado
Quando beijas o pão
Que te beija a mão!

19 Juan Ramón Jiménez

PAVILHÃO

Muros altos de teu corpo.
Não havia entrada em teu horto.

(Que onda de asas ascendia!
Oh o que ali se passaria!)

Céu claro ou turvo, que importa?
Não havia entrada em tua glória.

(Que aroma às vezes subia!
Oh em teus vergéis que haveria?)

Tornaste a ficar fechada.
Não havia em tua alma entrada!

20 Juan Ramón Jiménez
escritas.org