Lupe Cotrim Garaude

Ars Poética


Da desordem nunca
erguerei um verso.

Bem sei
que na bela superfície de um momento,
existe o alento
da Poesia.

Mas é do futuro,
é do instante que serve
a continuidade da vida
em sentimento,
que desejo o meu poema.

O Homem,
sofrido a prosseguir
na sua eternidade construída —
— eis o meu tema.

Ao Amor


O que desejas de mim
nunca o dará o lampejo de um momento,
a conquista de um dia da montanha.

Meu corpo — para ti somente —
deve emergir a cada gesto 1ímpido
e profundo deve ser meu futuro
para reter-te e recriar-te permanente.

Sei que em mim te estenderás, não mais disperso,
em desejo e em procura de teu filho
e que todo movimento de meu ser
será o rumo de teu universo.

E por isso temo. No meu sentimento
sofro por ti. Receio
ser larga a hesitação de meu caminho,
ser um mito a conquista da montanha,
ser pobre e fugaz o meu espaço
na extensão que reduz teu infinito.