Orides Fontela

A um passo


A um passo
do pássaro
res
piro.

Esfinge


Não há perguntas. Selvagem
o silêncio cresce, difícil.


Publicado no livro Rosácea (1986).

In: FONTELA, Orides. Trevo, 1969/1988. Il. Mira Schendel. São Paulo: Duas Cidades, 1988. (Claro enigma

A Estrela da Tarde


A estrela da tarde está
madura
e sem nenhum perfume

A estrela da tarde é
infecunda
e altíssima

Depois da estrela da tarde
so há:
o silêncio.

Cisne


Humanizar o cisne
é violentá-lo. Mas
também quem nos dirá
o arisco esplendor
- a presença do cisne?


Como dizê-lo? Densa
a palavra fere
o branco
expulsa a presença e - humana -
é esplendor memória
e sangue.


E
resta
não o cisne: a
palavra


- a palavra mesmo
cisne.


do livro Alba (1983)

Clima


Neste lugar marcado: campo onde
uma árvore única
se alteia


e o alongado
gesto
absorvendo
todo o silêncio - ascende e
imobiliza-se


(som antes da voz
pré-vivo
ou além da voz
e vida)


neste lugar marcado: campo
imoto
segredo cio cisma
o ser
celebra-se


- mudo eucalipto
elástico
e elíptico.


do livro Alba (1983)