Tédio
Tudo se acaba aos nossos olhos perto
Numa brancura que de ver nos cansa,
Como se então de névoas um deserto
Se abrisse assim sem luz nem esperança.
E nessa névoa que nos deixa incerto
E num abismo sem sentir nos lança,
Como se o olhar se visse então coberto
Sentimos se apagar nossa lembrança.
Sentimos um torpor indefinido,
Um vago sentimento adormecido
Como da morte as frias mãos felinas.
E nesse triste desalento infindo
De todo o céu sentimos ir fluindo
Neblinas e neblinas e neblinas...
Ser Humilde
Ser humilde e sentindo-se o primeiro,
Na penumbra ficar dessa grandeza;
Ser feliz e trazer essa tristeza
De sempre andar da vida forasteiro;
Ser humilde e viver no mundo inteiro,
Como um deus sobraçando a natureza;
Ser assim e ter máxima certeza
De ficar para sempre prisioneiro;
É ser da fé a lâmpada impoluta
Que claro marca do destino o norte
Abrindo as portas para nova luta.
É ser de Deus esse perfil sereno,
É andar na vida e já sonhar na morte,
É ser tão grande sendo tão pequeno.