O Cisne
Sem rumor, sob o espelho em lagos fundos, calmos, O cisne impele a onda com as amplas palmas, E desliza. A penugem em seus flancos, tal Neves de abril tremendo ao sol de forma igual; Mas, rijo, branco mastro a vibrar pelo vento, Sua imensa asa o leva assim qual barco lento, Passa seu belo peito acima de umas plantas, Mergulha e sobre as águas o alonga, levanta, Arqueia-o gracioso qual perfil de acanto E guarda o negro bico em seu colo de encanto. Ora ao longo dos pinhos, lar de sombra e paz, Serpeia, deixando ervas espessas atrás Arrastando-se assim como uma cabeleira, E segue ele em suave e lânguida maneira. A gruta onde o poeta escuta o que ele sente E a fonte que lamenta um sempre eterno ausente Lhe prazem; Lá gira ele; e a folha de salgueiro Em silêncio caída, ao seu dorso se abeira. Quanto mais ele faz-se ao largo; a se afastar Do bosque escuro e, esplêndido, no azul reinar, Só elegeu para saudar o alvor que admira O lugar reluzente em onde o sol se mira. E depois quando as margens tornam-se confusas, Na hora onde toda forma é um espectro difuso, Onde reduz um horizonte em rubro risco, Enquanto nenhum junco ou espadana pisca, Com as rãs verdes a soar no sereno ar E quando o pirilampo refulge ao luar, A ave, no sombrio lago aonde se reflete O fulgor de uma noite láctea e violeta, Como um jarro de prata em meio a diamantes, Dorme, a cabeça entre asas e dois céus brilhantes.
tradução José Lino Grünewald
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