Vasko Popa

- No Final


Osso eu osso tu
Por que me engoliste
Não me vejo mais
O que tens
Tu é que me engoliste
Não me vejo a mim também
Onde estou agora
Agora não se sabe
Quem está onde quem é quem
Tudo é sonho horrível da poeira
Será que me ouves
Ouço a ti e a mim
O canto do galo canta em nós

- No começo


Agora ficou fácil
Salvamo-nos da carne
O que faremos agora
Diz algo
Talvez queiras ser
A espinha do raio
Diz algo mais
O que direi
O osso pélvico da tempestade
Diz outra coisa
Nada mais sei
Costela celeste
Não somos os ossos de ninguém
Diz uma terceira coisa

- Diante do final


Onde iremos agora
Onde a lugar algum
Onde poderiam ir dois ossos
O que faremos lá
Lá nos de há muito
Lá nos espera ansioso
Nada e sua mulher nada
De que lhes servimos nós
Envelheceram desossados
Seremos para eles como filhos

- Debaixo da terra


Músculo da treva músculo da carne
Isso dá no mesmo
E o que faremos agora
Convocaremos os ossos de todos os tempos
Subiremos até o sol
E então o que faremos
Cresceremos então limpos
Continuaremos crescendo à vontade
E depois o que faremos
Nada um vagar de cá para lá
Seremos um eterno ser ósseo
Espera só o bocejo da terra

- Depois do começo


O que faremos agora
Realmente o que faremos
Agora jantaremos a medula
Comemos a medula no almoço
Agora o oco dói em mim
Pois toquemos música
Gostamos de música
O que faremos quando os cães vierem
Eles gostam de ossos
Entalaremos em suas gargantas
E gozaremos